O portão se fechou em um estalo e um rangido quando ele atravessou, passeou pela ruela de pequenas pedras sem andar muito, estava tarde e sussurrou baixinho desejando que o encontro fosse findado o mais rápido possível, mas também desejava estar na companhia deles, era confuso, no entanto ainda eram inseparáveis, ele sentia isso nos ossos.

Atravessou a porta e logo sentiu cheiro de pães e café quente, era uma decepção que ainda estivesse ali.

— Min Yoongi Hyung — Jung Hoseok sorriu amplamente — Venha. Venha...

Ele meneou a cabeça pensando em correr, mas todos os olhares se dirigiram para ele e seria injusto com todos se, por ventura, desistisse.

— Boa noite.

Sibilou xoxo ao se aproximar sentado na última cadeira vazia disposta na roda do que formava um círculo defeituoso, ao lado do Jung Hoseok, enquanto ele se atrasou, os outros escolheram os melhores lugares; perto da mesa cheia de comida, próximo ao banheiro e o mais esperto com a cadeira da saída.

— Agora que estamos todos aqui, — Jung Hoseok olhou sincero e com olhos miudinhos ao seu redor — vamos continuar...

Aquela voz rouca, pacífica e doce entrou com tudo em seus ouvidos o fazendo olhar para o mais jovem, por dentro do capuz que lhe ocultava a face, tinha uma certa linha de um riso em um cantinho minúsculo do canto da boca.

— Hyung? — Chamou educadamente e sorriu doce ao notar que já era observado por Yoongi, relaxou os ombros prosseguindo — quer ser o primeiro?

O mais velho estalou a língua desconfortável, não queria falar, ao menos não sobre aquele assunto.

— Tudo bem, quem quer começar? — Sorriu gentilmente, passou os dedos nos fios escuros que sumiram por dentro da jaqueta grande — vamos, não se envergonhem...

— Eu quero — do outro lado, o mais esperto, na visão de Yoongi, falou abafado — eu gostaria...

Sua voz saiu baixinha atraindo os olhares de todos, os dele já estavam fixos, era sempre curioso, tinha tanta sede de entender porque estavam tão... assustados?

Hoseok assentiu, o "esperto" respirou algumas vezes se ajeitando na cadeira pensando por um momento.

— Ah! Enfim.

Ele riu escondido vendo o instante da indecisão e ansiedade vir a luz daquele rosto pálido, podia ver a saliva descendo pela goela e o medo vindo enquanto o córtex lhe sugeria detalhes, palavras que logo seriam ditas, ele, se sentou mais aconchegado e sorriu mais abertamente quando a criaturinha loira que começaria a narração ergueu os olhos e jogou o ar para fora.

Era delicioso, saboroso de um jeito doente, puxou o ar sentindo aquele cheiro impossível de resistir. Ficou excitado e empolgado cruzando as pernas desconcertado ao notar que era observado através de sombras e olhos perdidos pelo mais jovem, mas acabou se focando no loiro, que era o puro sabor de medo!

— Pode começar Jimin — acalentou suave Hoseok ao mais novo, desviando com dificuldade o olhar de Yoongi escondido no capuz.

Jimin pensou mais um pouco respirando e jogando medo pro ar.

— Tem sido... Bom, tenho passado por algumas situações bem estranhas — respirou fechando e abrindo os olhos pesadamente — eu sinto que estou sendo vigiado o tempo todo, como se perseguido e isso quisesse me engolir a cada segundo que estou no escuro.

Ele, não aguentou, olhando, sugando o ar quase rindo alto. Jimin prosseguiu mais seguro ao receber conforto dos que ali estavam, todos estavam atentos às suas palavras, sua expressão era honesta.

— Quando eu vou dormir deixo a luz acesa, não consigo nem fechar os olhos sem ver aquela coisa me consumindo... eu... não o vejo de fato, mas é uma lufada de ar, está em volta, me beija o pescoço, me empurra para onde quer, bafora em minha nuca, assobia para chamar a minha atenção, para que eu saiba que está perto e não vai a lugar algum...

Park Jimin deixou algumas lágrimas rolarem, Ele, emudeceu, o desejo de se levantar e arranhar sua bochecha provando o gosto daquela gota de água era terrível para suportar, sentia o cheiro vindo de cada uma daquelas cadeiras e era bom demais, tão confuso e tentador.

Medo!

O medo que reconhecia bem e não sentia mais estava logo ali em cada uma daquelas cabeças. Se ajeitou esticando as pernas e mais um dos presentes iniciou a fala após um erguer de mãos e o consentimento de Hoseok.

— Aish — suspirou — não sei muito bem o que falar — riu frágil, olhos meio esbugalhados e os cabelos no ombro se moviam com o pescoço que girava a cabeça olhando para todos.

— JK?!

Sorriu o outro com doçura fazendo o menino ficar tímido encolhendo os ombros:

— Eu ... eu não sei se é da mesma forma, mas eu sinto essa, enfim, eu estava com pressa hoje mesmo, e... bem, eu fiquei parado pensando que talvez estivesse esquecendo as chaves, voltei pra pegar, fui até a porta, estava trancada e percebi que tinha as chaves no bolso, segurei a maçaneta para me certificar e antes de soltar eu senti o olhar, como Jimin descreveu, estava ali vidrado em mim através do vidro da minha porta, ao mesmo tempo na minha nuca, com olhos enormes e curiosos... uma sensação de... não sei era só profundo — Os olhinhos encheram e os dentes apareceram em um riso estranho e quebrado — Eu... Ahh... eu simplesmente senti...

Ele, acabou sorrindo um pouco daquele que não tinha tanto medo, mas a confusão em seu rosto dizia mais sobre a capacidade daquela criatura em entender, perceber aquela sutileza, aquela obsessão do perseguidor que da ameaça em si.

— Então fui embora — Jungkook deu de ombros se calando satisfeito.

— Alguém mais? — olhou para Yoongi, novamente negou. — acho que é minha vez — riu fraco, mas gentil — querio conseguir entender que essa sensação é perfeitamente normal, todos nós passamos por muita coisa, fomos vistos, julgados, analisados, nos colocaram em um telão e fomos expostos praticamente nus — engoliu o ar de forma que seus ombros quase rangiam — mas estamos ainda aqui, somos uma família, somos unidos, estou aqui para vocês e sei que estão aqui para mim.

Ele, negou rindo, foi sutil e não houve nenhum olhar perdido em divagações em si, prestavam atenção nas palavras ditas pelo outro.

— Cada dia que acordamos e caminhamos é uma vitória, somos seres humanos frágeis, somos machucados, temos medo, nos arrependemos todos os dias, mas que se dane, — sete risos frágeis foram dados — não desistimos de brigar, nunca!

Jimin secou algumas lágrimas e sentiu uma mão grande em suas costas, fazendo um carinho bom. Era Kim Namjoon, ele estava magro, mas ainda era forte e sua presença era realmente apreciada naquele lugar.

Kim Seokjin e Kim Taehyung estavam juntinhos, as mãos de Jin passeavam pelos dedos do outro com gentileza ao mesmo tempo com dor, pois sabia que o mais jovem estava muito abalado e temia que não pudesse aguentar.

O silêncio ficou enorme após Jung Hoseok terminar, um eco mudo e ressecado. Os sete puderam sentir a ameaça bem ali grudada neles e se alimentando como um porco em meio a comida gordurosa.

Uma presença opressora que não se podia ver, mas estava lá, olhando, desejando, se movendo e encostando neles.

Min Yoongi olhou para Hoseok novamente, ele sorria com a boca fechada, tinha olhinhos apertadinhos e respirava devagar, sugando o ar, tremendo por baixo de toda aquela roupa, tinha um rosto fofo com pequenos volumes nas bochechas saltadas pela compressão labial, os cabelos estavam arrumados e parecia muito controlado.

Yoongi quase foi até ele, pois sua aparência era muito intrigante, o gosto daquela imagem explodia em toda em sua língua, era sensual e cheirava bem, além de tudo que gritava em silêncio na alma de Yoongi, ele sabia o quanto aquele rapaz cheirava bem.

Min Yoongi relaxou os dedos sentindo a atração em seu corpo, rotacionando em direção ao mais jovem, engoliu a saliva, passou a ponta da língua provando o ar gelado, a atmosfera fria em suas papilas o fez vibrar. Pousou a pontinha dela no meio do lábio superior, olhando para Hoseok que ainda permanecia paralisado, as mãos enfiadas no meio das pernas, uma curvatura pequena tentando se proteger de alguma forma. Viu o tremor crescer e em sua testa se forma uma linha fina, mesmo que se agarrasse a cadeira, a gravidade ainda existia e pesava muito, forçando sua coluna para baixo, empurrando sua cabeça para mais perto do peito, quase sussurrando em seus ouvidos que queria esmagá-lo, fodê-lo enquanto o prendia com as garras em sua garganta, Hoseok engoliu em seco e soltou o ar de forma que grunhiu de ansiedade e frustração.

Quando Min Yoongi tinha olhos vidrados no mais jovem, não podia sentir pena de sua imagem rendida e submissa. Gostava, pois era subjugado pelo constante desejo, deixava os olhos fixos e consumidores percorrerem sua pele, suas mãos tremiam, uma coisa feroz arranhando sua pele e queimando de forma que nem podia fechar a boca.

O melhor sabor era de Jung Hoseok, Min Yoongi mal podia suportar.

JK foi o primeiro a fugir daquele ar desconfortável ao se levantar, foi até a mesa em busca de café, estava tremendo quando levou o copo aos lábios, o líquido estava quente, aspirou profundamente aquele cheiro bom e o conforto do calor foi maravilhoso quando desceu pela goela.

Taehyung apertou a mão de Kim Seokjin.

— Hyung...

— Estou aqui, não vou a lugar algum. Estou aqui. Sou seu Hyung.

Assentiu e se aproximou tanto que a cadeira rangeu no piso.

Kim Namjoon suspirou, seus olhos permaneciam pesarosos sem dizer nenhuma palavra. Apenas não sabia se iria suportar mais...

Hoseok acompanhou JK que o serviu e logo os dois tomaram o líquido sem parar. Min Yoongi, embora sentisse tristeza ao ver o sofrimento de todos, podia apenas olhar para Hoseok e imaginar quanto mais ele iria sorrir fingindo não estar a ponto de se estilhaçar em um berro de terror.