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5. Branco

Dezembro de 2021

4 anos antes

Eu me formei na UPI em Arquitetura e Urbanismo como a primeira da classe em dezembro de dois mil e vinte um, de acordo com o ranking que primeiro me fez batalhar por um primeiro lugar.

Eu tinha vinte e três anos na época.

Optei por não ter uma festa de formatura, porque não queria gastar dinheiro com aquilo. Fui só à cerimônia de entrega dos diplomas e Dante foi o orador da turma. É claro.

Joana se formou comigo no mesmo ano. Alexandre ia pegar mais um ano na universidade e aí estaria livre, mas já estava começando com os cursos para ser piloto, e estava orgulhoso.

Naquela tarde, André e Alê foram nos prestigiar. Levantaram das cadeiras e bateram palmas quando eu e Joana pegamos nossos diplomas.

Eu lembro que sorri de orelha a orelha com o fim daquela tormenta.

Depois, chorei no banheiro, de tristeza e saudade, e me perguntei se meu vô estaria orgulhoso.

Lembro também de ter visto cópias de Dante Belmonte o cumprimentando na formatura. Parecia um pai e uma mãe e alguns irmãos ou primos, talvez. Tios? Já não sabia. Era uma família grande, e foi a primeira vez que o vi como um ser humano amado e não completamente desprezível. Ele devia ser um pouco mais agradável com seus parentes do que era comigo, tenho certeza.

Dante me viu o olhando no campus, depois da formatura, e pediu licença para sua família.

Eu caminhei até ele, ignorando um olhar de reprovação de André, que parecia odiá-lo tanto quanto eu.

Mas, mesmo assim, parecia que anos de intriga tinham chegado ao fim e precisávamos de um ponto final.

– A aluna de ouro – ele me chamou pelo meu apelido, que na boca dele não soava tão bem. – Terminou em primeiro lugar, Albernatti.

Eu sorri, convencida.

Ele cedeu um pouco, então eu também podia ceder.

– Mas, quem ficou com o estágio dos sonhos foi você, Belmonte.

Dante riu, parecendo surpreso com eu não ter tentado ofendê-lo. Era um dia feliz, e eu não estava com energias para bater de frente com ele.

– Trégua?

Ele balançou a cabeça, negando.

– Até parece, Charlotte. O mercado é pequeno. Não dá pra ter dois de nós.

– Você é ridículo.

Seu sorriso afiado ganhou palco outra vez. Ele se afastou.

– Nos vemos por aí, Albernatti.

E acho que foi a última vez que vi Dante Belmonte.

Até agora.


Março de 2025

Dias atuais

Fico esperando pela bronca que Pâmela vai me dar e penso todas as minhas justificativas possíveis, mas ela não o faz. Apenas me entrega um pano e me manda limpar o chão e a bagunça que eu fiz.

Tirar o caramelo do chão e das minhas roupas já é castigo o suficiente.

A ansiedade me ataca durante todo o resto do meu expediente, e eu me amaldiçoo por ter pulado a dose da fluoxetina hoje. Era um bom dia para eu estar dopada de drogas controladas que não me deixam surtar.

Quando dá seis horas, eu me ofereço a Pâmela para fechar a loja. Ela concorda.

– Charli? – Me chama, já apagando metade das luzes do café enquanto recolho as mesas.

– Hum? – Levanto a cabeça para ela.

Pâmela me olha torto, como se quisesse dizer algo, mas desiste.

– Só... Não me importo com o seu passado com ninguém. Cliente é cliente. Coloque-se no seu lugar.

Eu abaixo a cabeça e digo que sim, ela está certa.

Quando a porta se fecha e eu sou a única ali guardando as coisas, percebo o quanto odiei aquelas palavras.

Coloque-se no seu lugar.

Parecia que ela queria que eu tivesse certeza de o quão inferior a Dante eu era, pelo menos nesse momento. O que é ridículo, já que ela nem ao menos me conhece, e muito menos a ele.

De repente, estou nervosa. O relógio em meu punho me diz que são seis e vinte.

Nunca vou admitir a ninguém, mas arrumo tudo em tempo recorde e disparo para a farmácia mais próxima. Compro um batom, um perfume e um delineador e me arrumo no banheiro do centro comercial aqui do lado. Se Dante quiser pisar em mim, que eu esteja pelo menos apresentável para o evento.


Às sete e vinte, pego uma mesa no O Sobrado, um bar a um quarteirão de distância de onde eu trabalho. 

A noite já caiu para valer a esse ponto, e opto por me sentar na esplanada mesmo com a chuva a cair sem trégua. Eu sou daquelas pessoas que aprecia a chuva, principalmente quando não está debaixo dela. O toldo aberto cobre as mesas de madeira e uma iluminação amarelada sai de pequenas luzes na parede do estabelecimento.

Eu peço um chá gelado de limão e, por algum motivo, fico nervosa ao esperar dar sete e meia. Alcanço meu livro na mochila e abro a distopia que estou lendo, Olhos de Corvo. Tento mergulhar a cabeça na história, consolando-me com as tragédias na vida dos personagens, que são catastroficamente maiores que esses meus dias ruins.

Mas, é óbvio, minha cabeça não foca em nada.

Fico pensando em como Dante Belmonte vai me humilhar com seu emprego chique e sua vida provavelmente perfeita enquanto eu estou trabalhando meio período em um emprego que não usa nada da formação que eu lutei para conquistar.

Talvez ele nem venha, penso.

Talvez esteja só me zoando e queira me deixar plantada em um bar esperando por ele.

Eu olho no relógio em meu punho. São sete e trinta e três. Penso quanto tempo é válido eu esperar, e é quando o vejo.

Dante se senta na minha frente sem dizer nada, mas já está sorrindo, como se a minha cara o divertisse por si só.

– Está tomando chá? – ele pergunta. – Em um bar?

– Oi pra você também.

Eu fecho meu livro e o guardo na bolsa outra vez.

O garçom chega nesse meio tempo, e Dante pede uma cerveja.

– E você – ele me pergunta depois que o atendente vai embora –, vai ficar com a bebida de criança mesmo?

Me controlo para não revirar os olhos.

– Eu não bebo.

– É alguma promessa? Ou religião? Ou está no AA? Eu não conto pra ninguém.

Eu tento segurar a risada, mas essa escapa mesmo assim.

– É como uma promessa, eu acho.

Ele balança a cabeça em concordância, mas não pergunta mais, e eu agradeço mentalmente por isso. Não quero contar o porquê de eu não beber mais. Outra vez, acho que a única que sabe é Joana e a minha terapeuta.

Eu me encosto no assento da cadeira e giro a lata de chá na mesa.

– E então?

O garçom traz uma caneca de cerveja e põe na mesa, em frente a Dante, que agradece e me olha outra vez.

– Então o quê? – pergunta.

– Me chamou aqui pra saber quem ganhou?

– Quem ganhou o que, Albernatti?

– A guerra, Belmonte.

Ele dá risada e dá um gole em sua bebida.

– E que guerra seria essa?

Eu o olho com uma das sobrancelhas arqueadas.

– Não se faça de desentendido.

Dante sabe muito bem do que eu estou falando. Desde a primeira vez que conversamos, ele decretou guerra contra mim. Se eu publicava um artigo científico, ele desenvolvia um projeto premiado. Se eu era convidada para falar sobre meus trabalhos em um podcast renomado, ele arrancava de mim o meu sonho de estagiar na ArqVision. E aqui estamos, quase uma década depois. Ele de sobretudo e ar de importante, eu com caramelo na minha roupa inteira.

– Talvez, sim – ele concorda, enfim. – Quero saber quem ganhou a guerra.

Então, com toda a minha maturidade, engulo meu orgulho e o olho nos olhos. Tento soar sincera quando digo:

– Você ganhou, Belmonte.

Eu nunca o vi tão surpreso na vida. As duas sobrancelhas se arregalam e é a vez dele de se encostar no espaldar da cadeira.

– Como pode ter certeza disso, Albernatti?

– Ah, por favor. – Eu rio um riso amarelo. – Eu tenho vinte e sete anos e estou fazendo cafés e limpando o chão de uma cafeteria. Servindo gente como você.

– Se te consola – fala –, foi o melhor caramel latte que eu já tomei.

– Bom, foi a minha chefe que fez, lembra? O que eu fiz eu derrubei em mim inteirinha.

Ele joga a cabeça para trás e ri.

– Mas essa não é a Charlotte Albernatti que eu conheci.

– O que quer dizer?

Dante me olha com um meio sorriso.

– É isso que quer fazer pro resto da vida?

Eu olho para baixo, para as minhas mãos apoiadas no colo.

– É claro que não. Esse é o trabalho que paga as contas – conto – enquanto eu corro atrás do que eu quero.

– Algo na área da arquitetura?

Balanço a cabeça. Faço uma pausa, porque estou sendo sincera demais justo com ele.

Bom, essa é a conversa mais civilizada que já tivemos.

– Eu não aguento mais arquitetura, Belmonte – confesso.

Ele ri outra vez, e eu o acompanho, porque é bom tirar isso dos ombros.

– Achei que tivesse sido efetivada na Arkhé.

– E eu fui, mas eu... tive contratempos.

Dante concorda e, novamente, eu fico grata por ele não aprofundar no assunto.

O silêncio se prolonga um pouco, e eu procuro alguma coisa para falar.

Ele é mais rápido.

– Eu não ganhei porra nenhuma, Albernatti. – Seu sorriso também é sem graça quando ele fala. O vejo distraído com o copo de cerveja, como se não quisesse olhar para mim.

– Como assim?

Dante solta um suspiro carregado, e finalmente volta a me olhar. Vejo, então, que nem tudo foram flores em sua vida também. Ele olha para o lado e hesita antes de me contar:

– Eu conheci alguém assim que me formei na UPI.

– Quer dizer, uma garota?

– Sim.

– E então?

Dou um gole do meu chá, esperando para ver onde aquilo vai dar.

– Eu e Bruna namoramos um tempo e... logo depois ela engravidou.

Não consegui me conter quando engasguei com o chá. Pelo menos eu o faço rir.

– O que foi, Albernatti?

– Você tem um filho?

Ele tira o celular do bolso e me mostra o fundo de tela.

– Uma filha. O nome dela é Nina.

Nina é a coisa mais querida que eu já vi. Na foto, ela está abraçada ao pescoço de Dante, que tira uma selfie dos dois. Pelas minhas contas, não tem mais de cinco anos. Os cabelos loiros são finos e estão presos em um rabinho de cavalo no topo de sua cabeça.

– Ela é linda... – falo, deslumbrada. – Deve ter puxado a mãe.

Dante pega o celular de volta.

– Na verdade, elas são iguaizinhas. Na aparência.

Ele parece tenso.

– E... o que aconteceu?

O vejo dar um demorado gole de cerveja antes de me contar.

– Eu e a Bruna não demos certo. Ela era... eu sei o que parece, mas ela era realmente louca. Bom, você não precisa saber de tudo, mas o ponto é que eu peguei a custódia total da Nina. Com vinte e quatro anos eu era um pai solteiro.

Mordo o lábio. Não sei o que dizer.

– Isso não é o suficiente para perder a guerra, Belmonte.

Ele coça a nuca e suspira.

– Eu trabalho igual a um condenado em um emprego que não me paga bem e faço horas extras pra dar uma vida decente pra uma criança que eu crio sozinho, e eu não faço a menor ideia se o que eu estou fazendo é suficiente. Então, sim, Albernatti, não diria que estou bem sucedido.

Eu rio, sem graça.

– O que foi? – ele pergunta.

– Nada.

– Me fala.

– É só que... – Eu o encaro. – Não serviu pra nada, né?

– O que não serviu pra nada?

– Nós nos matamos na faculdade, tivemos as melhores notas, o melhor desempenho e, no fim... estamos fazendo o que não queremos e tentando sobreviver como dois bons jovens adultos.

Ele balança a cabeça.

– Não é o fim, Charlotte.

– Não me chame de Charlotte.

– E por que não? Não é seu nome?

– Albernatti. Me chame assim. Ou Charli. Sem Charlotte.

Dante revira os olhos.

– O ponto, Charlotte, é que não é o fim.

É minha vez de revirar os olhos.

– O que quer dizer?

Ele parece inquieto, mas vejo uma chama juvenil acender em seus olhos. Dante se acomoda na cadeira e apoia os braços sobre a mesa, chegando mais perto de mim.

– E se arrumarmos um jeito de decidir quem vence a nossa guerra?

Faço o mesmo que ele e me apoio na mesa também.

– Estou ouvindo.

– Ok. O que quer fazer da vida, se não vai ser arquiteta?

– Vou ser artista plástica – falo, sem medo.

Ele parece surpreso, mas não diz nada.

– Tudo bem. E qual a sua primeira meta pra ser uma artista plástica, Charlotte?

Merda, ele não vai parar com Charlotte.

Penso um pouco, mas já tenho a resposta na ponta da língua.

– Vou expor em alguma galeria.

Ele concorda.

– Certo. E eu estou batalhando por uma promoção, pro meu trabalho deixar de ser insuportável ou, pelo menos, me pagar melhor.

Eu espero, mas ele não conclui seu pensamento.

– E...?

– É isso. Vence quem conseguir primeiro. Você expor em uma galeria ou eu ganhar a minha promoção.

– Interessante – digo. – Mas como vou saber se não está a um dia de conseguir sua promoção?

– E como eu vou saber se não vai fechar um contrato com uma galeria de arte amanhã?

Franzo o cenho.

– Justo.

– Justo.

– Mas eu preciso de mais.

Ele cruza os braços, parecendo se divertir.

– O que mais?

– Bom, um ganha e um perde. E aí? O perdedor não tem que fazer nada?

– A vida já não te castigou o suficiente, Charlotte?

– Vá se foder.

Dante ri.

– O que tem em mente?

– Ainda não sei.

Eu o vejo morder o lábio, pensativo. Olho para fora, para a chuva, fazendo o mesmo.

Nada me vem à mente.

Quando já estamos em silêncio a algum tempo, ele me olha com um sorriso perverso.

– Eu tenho uma ideia.

– Me conta.

Ele gira o copo de cerveja já vazio sobre a mesa enquanto fala.

– O perdedor tem que fazer uma tatuagem. O vencedor escolhe qual.

– Nem fodendo.

Ele gargalha, e não me contenho a dar risada.

– Ah, qual é?

– Não vou topar.

– Então tem medo de perder?

– É claro que não!

– Charlotte. – Eu o fuzilo com o olhar, mas ele me ignora e continua: – Nós temos uma rixa ridícula há quase uma década.

– E?

– E então que, se vamos botar um ponto final nisso, vamos fazer direito.

– Com uma tatuagem, Belmonte? Você sabe que não sai, não é?

– É melhor me vencer, então.

Eu cogito. Não sei porque, mas cogito.

Acho que conquistei muita coisa na faculdade por causa dessa rixa ridícula. Era fácil me motivar sabendo que eu precisava ser melhor que ele. E eu consegui, não foi? Eu terminei em primeiro lugar na UPI. A vida deu suas cambalhotas cruéis, mas eu posso fazer isso de novo.

Mas que droga.

– Ok.

– Ok? – Ele arregala as sobrancelhas, espantado em me ver concordando.

– Eu espero que goste da minha cara, Belmonte, porque ela vai ficar linda quando tatuar nas suas costas.

Ele estende a mão para mim.

– Temos um acordo?

Eu aperto sua mão.

– Temos um acordo.

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