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0. Amarelo

Não sei bem o que esperar da primeira semana de fevereiro, mas com certeza não é esse calor de quarenta graus que me obriga a deixar as janelas escancaradas e lutar contra os insetos infernais que insistem em ser meus inquilinos de graça.

Falando em inquilinos, não sei onde estava com a cabeça quando deixei os antigos pintarem as paredes com esse amarelo-cocô. Fico feliz que eles tenham saído.

Agora é minha vez de morar aqui de novo.

Na minha casa. Na casa que o vô deixou para mim.

Chega de alugar. Parecia tão impessoal ter estranhos morando no lugar onde eu cresci, mas sempre fui mais apegada às memórias do que preocupada em manter as coisas iguais no presente. Isso aqui nunca vai ser igual. Meu avô não está mais aqui, e ele deixou essa casa para mim.

Agora que voltei a São Paulo, faz sentido que eu volte a morar nela outra vez.

Sinto o suor pingar da minha testa e me cegar, e daria tudo por um banho agora se eu já tivesse conseguido instalar o chuveiro novo. Subestimei o trabalho braçal de desempacotar duas dúzias de caixas de mudança e prevejo que vou acordar amanhã com dores em músculos que ainda nem conheço.

É estranho estar de volta. Nessa casa e, principalmente, nessa cidade. Acho que não pertenço mais a isso aqui, e sinto como se estivesse me forçando a viver uma vida que já não sei como viver.

A próxima caixa que eu abro traz livros e mais livros que eu simplesmente não podia deixar em Louveira, apesar de já saber que carregá-los na mudança seria furada e eu teria dor nas costas.

Eu tiro eles das caixas aos montes e empilho em uma prateleira próxima, onde já os imagino organizados como eu gosto. Tem desde livros de ficção a conteúdos de faculdade que eu guardei e não me fazem mais sentido, mas ainda não consegui me desfazer.

Quando coloco o calhamaço "Estruturas do Imaginário; Arquitetura entre a Forma e a Fantasia" de Theo Montagner na prateleira empoeirada, um papel voa de dentro dele. Paira sobre o ar e cai virado para baixo no chão de madeira.

Eu largo o livro e me abaixo para ver o que é.

Me arrependo imediatamente.

É uma foto minha e do André ao que me parece uma década atrás. Meu Deus, como éramos duas crianças. Ele beija minha têmpora e eu sorrio para a foto. Embaixo, a inconfundível caligrafia dele me deixou um recado:


Eu sabia que conseguiria alcançar tudo o que deseja. Te amo, meu amor, e você vai ser uma arquiteta incrível! Parabéns por ter passado em primeiro lugar na UPI, e que todo o seu esforço seja convertido nas maravilhas que você merece.

Te espero no campus pra acompanhar mais uma etapa da sua vida,

Com carinho,

André.

03.03.2016


Ele guardou a foto no livro quando me deu. Eu esqueci completamente disso.

De repente, minhas mãos tremem, e eu aperto a foto sem perceber entre dedos furiosos com o rumo que a minha vida levou.

– Charli, onde quer que eu guarde sua-

Joana entra na sala e me vê limpando duas lágrimas frustradas.

Eu tento disfarçar mas, como eu já sabia, não ia funcionar com ela. Dobro a foto e a enfio outra vez dentro do livro, pensando se não deveria tê-la jogado fora a esse ponto.

Viro para a minha melhor amiga. Joana, com a pele morena e os cabelos em um coque já frisados com o calor de fevereiro, está tão suada quanto eu, mas não me deixa sozinha na mudança. A barriga de grávida de quatro meses é um empecilho pequeno para me ajudar a colocar a vida no lugar. Deve ser a única que sabe o que está acontecendo e, apesar de eu ter chegado ao fundo do poço de um dia para o outro, sei que ela está feliz por eu estar de volta à cidade.

– Está tudo bem, amiga? – ela pergunta.

Eu confirmo com a cabeça, mas o meu maldito nariz vermelho de choro já é uma marca característica indiscutível.

– Quer fazer uma pausa? – insiste.

– Não – falo, colocando as mãos no bolso dos shorts jeans. – Não, eu quero acabar isso antes do fim da semana.

Joana não discute, e é por isso que eu a amo. Se me cutucasse mais, eu ia desabar igual a um frágil castelinho de cartas.

Ela concorda e me deixa na sala de novo, sozinha, sem terminar a pergunta que começou.

Quando ela sai, respiro fundo e olho de novo para aquela parede amarelo-cocô horrível e continuo minha lista.

Amarelo:

Limão-siciliano

Meus brincos de argola

meu vestido favorito

os post-its que identificam as caixas da mudança

meu esmalte que precisa ser tirado urgentemente

essa parede horrível. Meu Deus. Eu preciso pintar isso.

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