5. Próximos de mais
Papai estava desconfiado, ele perguntou como tinha sido a aula de piano muito ansiosamente, ele queria perguntar sobre uma certa pessoa, mas não o fez. Só me observou durante o café da manhã no outro dia, eu não teria o que falar, já que Augusto não apareceu durante minha aula no dia anterior. Papai não fez nenhuma pergunta, e o café da manhã seguiu em paz.
Hoje no Colégio, teve uma aula muito interessante sobre patentes e nós também marchamos pelo pátio. Com luvas brancas eu puxei as cordinhas fazendo a bandeira do país subir e balançar no alto com o vento. Eu me sentia bem com essas atividades, me sentia bem neste colégio, mas ainda não sabia se era isso que eu queria para minha vida.
Minha turma teve aula de natação, então todos fomos nos trocar, meninas de um lado e meninos de outro. As meninas conversaram com seus grupos enquanto andavam de roupa íntima pelo banheiro, Yanna, Rachel e eu observavamos caladas. Parece que todas tomaram alguma coisa para os hormônios no final de ano, menos nós três. Não tínhamos nada pra exibir igual elas, parece que só crescemos no tamanho - Yanna e eu, pelo menos- desde o fundamental. Tudo bem, no ensino médio ganhamos um pouco de busto e um pouco de bumbum, mas nada comparado a estas garotas. Nós três trocamos olhares, pelas expressões pensávamos as mesmas coisas. No último ano do ensino médio nenhuma de nós teve um glow up, meu único ponto forte foi ter tirado o aparelho no segundo ano e Yanna que trocou os óculos fundo de garrafa pelas lentes de grau.
Entramos na piscina, todas de maiô iguais, do colégio. Eu sabia nadar, aprendera aqui mesmo, nesta piscina, e me sentia muito bem com essa atividade. Ao chegar na outra borda, eu reparei que as meninas se exibiam para os garotos, demorando a entrar. Os meninos não podiam entrar junto com a gente, então isso dava tempo para elas desfilarem até a professora assoprar o apito e fazer cara feia.
Reparei Brandon, não tinha como não reparar, ele era mesmo muito bonito, e até ele ganhou muito corpo do ano passado pra cá, exibia sua barriga bronzeada com gosto enquanto reparava nas meninas. Atravessei a piscina de novo e saí para as outras entrarem, Yanna e Rachel foi nesse grupo. Do lado de fora eu peguei alguns dos meninos olhando o grupo que saiu, inclusive eu. Menos Brandon, não que eu quisesse isso, na verdade eu me sentia envergonhada com isso, mas era curioso, considerando que praticamente todos da turma falavam comigo nem que fosse pra dar um aceno com a mão, menos ele.
Eu digo ser estranho porque essa atenção mínima, digamos, que recebo é devido ao meu status na sociedade sendo filha de quem sou. Mas ele não, eu nunca me interessei sentimentalmente por ele, mas o sentimento dele por mim era menos que isso, menos que amigos de sala, como todos éramos. Eu já o encarei várias vezes, costumava fazer isso com as pessoas, era divertido vê-los ficarem sem graça e desviar os olhos, mas ele quando me pagava fazendo isso, não ficava sem jeito, só demonstrava desinteresse ao olhar pra outro lugar. Bom, na verdade a única pessoa que descobri nos dias de hoje que eu não poderia e nem conseguia encarar até ficar sem graça era Augusto, a verdade era que acontecia o contrário. Ele que me deixava sem graça com aqueles olhos âmbar e sorriso que parecia que cometia muitos pecados.
No meu closet, em casa, eu escolhia a roupa que usaria na aula de hoje, já tinha tomado banho e estava de lingerie e em dúvida, estava muito calor para colocar suéter. Peguei o cabide onde tinha uma blusa folgada e nova que eu nunca tinha usado, coloquei uma saia que era um pouco mais coloda do que as de pregas que eu usava habitualmente, mas nada indecente, eu nem poderia ter roupas indecentes sendo uma pessoa pública.
Fui ensinada isso desde sempre, sendo acostumada com isso, eu considerava roupas curtas e muito decotadas algo vulgar. Calcei um sapato e desci calmante até o carro que já me esperava, novamente pedi ao novo motorista para ir mais rápido, alegando estar atrasada, mas eu não estava. Assim que a Sra. Dickinson abriu a porta eu vasculhei atrás dela se via mais alguém, ela me cumprimentou e me deixou entrar. No pequeno caminho até o salão meus olhos varreram cada canto, mas por alí não tinha nenhum sorriso zombeteiro.
— Joana, você já está bem habituada a tocar Experience de Ludovico Einaudi, certo? — a Senhora Dickinson estava em pé ao lado do piano de cauda, com a mão sobre ele. Eu já estava sentada, sabia essa música de olhos fechados.
— Sim, Senhora.
— Muito bem, eu quero ouvir você tocar hoje de novo, para ver se está bem afinada e quero que treine em casa também, se possível. Eu arrumei um conserto para você tocar.
— O quê?! — quase pulei da cadeira, cheguei o corpo pra frente para ouvir melhor, achei que a Senhora Dickinson não estava muito bem da mente. Só artistas de nome tocavam em consertos, eu nunca tinha tocado para uma plateia dessas antes. Só tocava em casa, em algum restaurante renomada quando a gente viajava pra fora do país ou até nas ONGs beneficentes. Porém nem se compara!
— Você ouviu bem! — ela abriu um sorriso diante da minha cara e logo voltou a ficar séria e a falar como minha professora de música. — Eu disse que você já tinha experiência e pedi o favor, eles aceitaram, você vai tocar apenas uma música, tudo bem?
— É claro! Meu Deus! — eu não estava acreditando ainda.
– Eu escolhi "Experience" porque você sabe tocar essa como ninguém, além de ser uma linda obra de arte, certo? — ela voltou a sorrir, sempre dizia que a música era uma obra de arte, eu concordo com ela.
— Eu amei a escolha — digo contente, com um sorriso que não queria mais deixar meu rosto. Neste momento um Augusto muito cheiroso entra no salão com uma bandeja contendo três copos de suco.
— Trouxe uma bebida para a artista. — sorria, mas parecia tão falso, ele não tinha cara de que fazia a linha garçom.
— Ah, você é tão prestativo, meu filho. — a Senhora Dickinson que parecia ter 1m perto dele sorria com as mãos juntas.
— Obrigada. — eu peguei o copo que ele me oferecia, pelo visto a notícia já tinha chegado a ele antes de mim.
— A Senhora pode ir descansar, eu tenho bons ouvidos e posso ficar para ouvir Joana enquanto ela ensaia. — Augusto falou meu nome como se fosse um conhecido de tempos. A Sra. Dickinson pareceu confusa, mas logo abriu um sorriso grande para ele e concordou saindo sala e pedindo para ele cuidar de mim.
Como assim a professora deixa sua aluna num momento importante como esse ?
— Você tem mesmo bom ouvido? Eu preciso que as notas estejam perfeitas para a apresentação. – olho para ele, duvidando da sua palavra.
— Acha que não entendo só porque morei a vida inteira em um internato? — ele me olhava sério, arregalei os olhos me sentindo a pior pessoa do mundo.
— NÃO! CLARO QUE NÃO!
— Calma, meu Deus, não precisa gritar — ele jogou a cabeça para trás rindo de mim. Fiquei apaixonada pela gargalhada dele, era tão espontânea. Mas estava chateada pela brincadeira e comigo mesma por perder o controle ao praticamente gritar, isso era antiético, e se minha professora de etiqueta estivesse aqui eu levaria uma bronca.
— Já acabou? Eu preciso ensaiar.
— Desculpa pela brincando, por favor, comece. Eu vou observar você.
Essas palavras dele me deixaram com vergonha, não precisava me observar, so precisava ouvir. Respirei fundo e comecei a tocar acompanhando a partitura, ele ficou bem quieto me olhando, de começo estava com aquele sorriso zombeteiro, depois foi ficando com uma cara de admiração e balançando a cabeça como aprovação. Me deixou mais otimista, eu repeti a música três vezes e ele ouviu pacientemente.
— Você toca algo? — perguntei assim que parei meus dedos. Um pequeno sorriso começou a se formar em seus lábios, eu não entendi.
— Nunca faça essa pergunta para outro homem, estamos certo? — ele sorria daquele jeito. Sua resposta me fez pensar alguns minutos até entender. Que droga! Senti o rosto esquentar.
—Você toca algum instrumento musical? — reformulei a pergunta decidindo ignorar a piada dele, ele não podia fingir que não cometi uma gafe? Que falta de cavalheirismo!
— Eu toco piano —ele disse sentando rápido ao meu lado, me afastei um pouco porque estávamos totalmente grudados no pequeno banco. Então ele levou um dedo à última tecla e o som de Dó ré mi fá sol lá si, si lá sol fá mi ré dó, foi-se ouvido. Ele olhou para mim. — Viu?
—Engraçadinho.
— Não, eu não sei tocar nenhum instrumento musical. — ele ficou um pouco de lado e olhou para as minhas pernas pouco expostas.
— Ah, sim — puxo a saia pra baixo disfarçadamente, mas seus olhos de abutre não saem de cima de mim e me deixam desconfortável. — Esse banco está pequeno para nós dois.
— Você está cheirosa, Joaninha. — ele diz ao se aproximar um pouco o rosto de mim. Joaninha? Que apelido... fofo? Vindo dele podia considerar infantil, mas eu não ligo para o apelido agora porque não tô achando certo ele estar tão próximo. No entanto meus olhos estudam seu rosto e ele é tão bonito, um bonito másculo, não como Brandon, mas ainda assim hipinotizante.
— Ah, obrigada, eu acho — eu me levanto, intimidada por ele. Eu nunca tive um namorado, não sabia flertar, ele parecia estar flertando comigo, mas seu jeito era muito intenso, ao mesmo tempo que sentia borboletas no estômago eu sentia que ele era um problema.
— Você já vai? Posso te acompanhar até em casa. — ele diz ao se levantar, sem tirar os olhos de mim, ele passou os olhos rápidos pelas minhas roupas e voltou a me encarar, parecia estar se divertindo.
–O quê? Não, você sabe, um carro vem me buscar. Na verdade deve estar me esperando já. — eu vou andando em direção a saída do salão e ele vem atrás de mim.
— Tem planos para o fim de semana? — uma enrascada, era só o que eu precisava. Mesmo que não tivesse, meu pai nunca deixaria eu sair com ele, além dele me deixar um pouco intimidada, a Senhora Dickinson podia até confiar nele, mas eu não tinha certeza se podia confiar, ele me olhava de um jeito safado, era isso mesmo.
— Por que? — tá, louca, Joana? Meu subconsciente me indagou. Augusto deu uma risada curta.
— Talvez eu queira te convidar para sair.
— Está em dúvida? — eu alcancei a porta e olhei pra ele rápido antes de abrir.
— Eu estou, você não tem cara de quem sabe se divertir.
— Você pode estar certo. — abri a porta e saí rápido sem deixar ele ter chance de responder. Sr. George abriu a porta traseira e eu entrei apressadamente. Tive medo de olhar, mas a curiosidade era maior, então eu olhei para a porta da mansão e encontrei um Augusto confuso e... decepcionado?
Não era como se todo fim de semana tivéssemos mil coisas pra fazer, mas em alguns tínhamos momentos em família, como almoçar fora, ir em algum evento ou festa de algum amigo da família ou de negócios. Também tinha alguns encontros com Yanna ou Rachel, nada de balada, só passeios mesmo que íamos das famílias uma das outras. Esse fim de semana a agenda da família estava vazia, então eu tirei meu tempo para estudar, algumas vezes eu tirava um tempo para ler a bíblia também. Não éramos uma família de religiosos, mas quando minha avó era viva, ela me contou que devíamos saber mais sobre o que se passava nesse livro interessante, me fez ter o gosto e meus pais não se opuseram.
Hoje estava fazendo sol, então após estudar eu fui para a piscina que ficava nos fundo da mansão, mandei mensagem para minhas duas amigas, mas sabia que Yanna tinha compromisso. Rachel respondeu um: "Graças a Deus vou sair dessa casa!" E em pouco tempo alguém a trouxe até aqui, Rachel era bolsista, então o status da sua família não era como o da Yanna ou o meu, mas pra gente isso não fazia diferença, nós três nos tornamos amigas na mesma época e passamos a andar juntas por nos entendermos bem.
— Você não sabe quem eu vi passando de carro pela sua vizinhança! — Rachel vinha empolgada de biquíni e uma toalha nos ombros. — Brandon! Caramba, ele estava com um carro lindo conversível, de óculos escuros na cabeça, um verdadeiro Deus grego!
— Sim, ele mora nesse bairro, nunca o vi por aí, pra falar a verdade.
— Caramba, sorte sua, se fosse eu morando aqui, ia viver andando por aí para dar de cara com ele. — ela riu e se sentou ao meu lado na espreguiçadeira.
— Você gosta do cara, ou só um desejo pelo corpo dele como a maioria das meninas? — todas as meninas suspirava pelo Bradon na colégio, até minhas amigas, mas elas nunca disseram realmente estar apaixonadas ou que queriam sair ou namorar com ele.
— Ah, sei lá, ele é lindo e todos falam que ele é galinha, mas eu acho que só conheceria de verdade se conversasse, a gente nunca trocou nada mais que um "oi" — comigo nem isso, pensei.
— Os meus pais meio que tem negócios com a família dele, o que você acha da gente ligar e convidar ele pra vir aqui? —eu sempre quis saber por quê esse cara nunca falava comigo, mas convidar ele aqui seria loucura. Por algum motivo ter Rachel aqui como apoio e desculpa me deu confiança para dizer isso.
– COMO, JOANA?? — minha amiga sentou na cadeira com os olhos esbugalhados, sem acreditar.
— Bem, eu encontrei uma papelada do meu pai uma vez, vi que tinha informações do pai do Brandon, então peguei o número.
— Tá esperando o que? Sua coragem me deu coragem também! — ela ria mas estávamos meio incertas sobre isso, dava pra sentir.
Lá dentro, encontrei meus pais saindo arrumados, claro que eu meio que tive essa ideia louca tendo quase a certeza que eles não deixariam um menino vir nadar comigo aqui, então minha loucura podia até ser revertida por esse fato.
— Estamos saindo pra almoçar, já que você tem companhia. Tudo bem, princesa? — meu pai acariciou meu rosto e minha mãe deu um beijo em nossas cabeças. — Vamos a algumas lojas também, você precisa de algo?
— Não, obrigada. Queria saber se posso convidar alguns amigos do colégio pra piscina com a gente. — senti um servosimo sem igual, as únicas que vinham aqui eram Yanna e Rachel, e alguns amigos não era bem a verdade.
Vi papai ponderar por alguns segundos, digamos que 60 segundos se passou até que ele concordou. Isso é real ou estou em um filme? Produção? Apareçam!
— Se comportem e não é uma festa na piscina, hein? — ele nos lembrou, mamãe quase nunca discordava do que eu pedia, então ela sempre deixava meu pai decidir. E tinha tantos empregados na casa, que agora eu entendo melhor por que ele realmente deixou essa façanha.
— Combiando, senhor Prado! - Rachel lhe deu um sorriso enorme. Meu pai retribuiu e assim que eles saíram eu corri para pegar o número no meu quarto e desci para ligar.
Rachel não se continha quieta, desejei que Yanna estivesse aqui, ela também desejava Brandon, mas acho que era mais uma coisa pelo físico dele, ela não parava de falar em outro carinha que morava ao lado de sua casa. O telefone da casa de Brandon tocou duas vezes, até que uma voz masculina atendeu.
— Oi, aqui é Joana, gostaria de falar com Brandon, estudamos juntos.
— Joana Prado? —ele parecia surpreso.
— Sim, desculpa se estiver incomodando.
— Não, que isso, minha querida, não é nenhum incômodo. Como seus pais estão? — ele parecia realmente feliz com a ligação.
— Estão bem, obrigada, acabaram de sair. Eu queria saber se Brandon gostaria de vir, convidei alguns amigos pra piscina. — meu nervosismo era notável na minha voz.
— Ah ele vai, não está fazendo nada, acabou de chegar aqui. Eu vou comunicá-lo. Manda um abraço para o seus pais e obrigada pela ligação. Tchau, Joana.
Ele desligou e eu fiquei de boca aberta, como assim ele confirmou que Brandon viria sem nem perguntar ao filho? Com certeza ele negaria, nem somos íntimos. Vendo minha amiga eufórica e perguntando "e aí, e aí ?" Sem parar, eu falei pausadamente para ela:
— O pai dele disse que ele vem! — Nós duas gritamos e pulamos, eu estava mais feliz por ela, que vai ter finalmente uma chance com o carinha que gosta.
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