10. Entre beijos e ódio
Na quarta-feira, já na aula de piano, eu estava prestes a terminar quando a professora de Augusto chegou, vi eles passarem pelo salão onde eu estava, ele nem se quer olhou e a gente não tinha se visto desde o quase beijo no sofá. Ou ele estava me evitando quando eu estava na casa dele – acho que pode se dizer assim – ou ele não estava mesmo em casa.
Quando minha aula terminou, eu perguntei se podia ficar até a aula de Augusto terminar com a desculpa de que queria falar ele, mas eu so queria bisbilhotar mesmo. A Sra. Dickinson pareceu feliz em ouvir isso e pediu licença por me deixar sozinha, mas que tinha que deitar e descansar. Eu sabia que ela sempre ia descansar depois que eu ia embora, então me dava a vantagem de bisbilhotar o ensaio do bendito sem que eu fosse pega. Fingi que ia esperar na sala, mas assim que ela saiu de vista, eu fui procurar o som de alguma música, andei um correr grande inteiro até encontrar a sala, a porta estava aberta, então dava pra ouvir eles falando.
— Agora vamos tentar lambada de novo, como daquele primeiro dia sabe? Acho que você consegue. — ouvi Michaely dizer escondida na parede perto da porta.
— Claro. – ouvi a resposta dele, parecia indiferente, coloquei a cabeça devagar para frente até meus olhos enxergarem dentro da sala, tentando desesperadamente não ser pega.
Vi Augusto no meio do salão acompanhando sua professora com os olhos enquanto ela ia até o som e colocava a música para tocar. Michaely tinha um corpo de dar inveja, tudo lhe caía bem, hoje ela estava com um vestido vermelho extremamente curto que da cintura para baixo era saltinho e os tecidos dessa região eram de tamanhos diferentes. Assim que a música começou a tocar e ela foi para a frente dele — colocando a mão em seu ombro, a outra pegando em sua mão e ele colocou a mão esquerda na cintura fina dela — senti um desgosto subir pelas entranhas.
Peguei meu celular e gravei a música, meu celular logo encontrou e aparecia o nome "Sad Girlz Suv Money" na tela, aquela música tinha alguns palavrões. Guardei o celular e observei quando ela deu um passo devagar para frente, sem tirar os olhos dele, essa dança era muito sensual. Eu sabia dançar, em todos os meus anos de vida eu aprendera a dançar muitos estilos e alguns instrumentos também, eu nunca tinha ficado sem fazer alguma atividade desde que me entendo por gente, desde o ballet aos 5 anos de idade, para ser exata.
Ela começou a mexer a cintura enquanto o conduzia pelo salão, ele conseguiu acompanhar ela, errando poucos passos, e por algum motivo eu estava hipnotizada. Eles pareciam ter alguma química, não tirava os olhos um do outro, a menos que ele errasse algum passo; e mesmo assim ela não parava e voltava tudo de novo, ela ignorava e continuava a dança. Aquela dança era sensual e o ritmo da música também, em certas partes seus corpos ficavam bem grudados na altura da cintura e no final da música ela cruzou uma perna na cintura dele e eu fiquei vermelha. Um misto de sentimento me cobria enquanto a música dava seus dois últimos toques, foi quando ela o soltou sorrindo, então me mexi na porta e ela me viu, Augusto se afastou mais e parecia desconcertado e com vergonha.
— Ah, oi! Joana, certo? — ela veio até mim, que só queria me jogar de uma ponte por ter sido pega. Ela fez algo que só me fez querer me jogar duas vezes pra ter certeza que nunca mais teria que olhar para eles: pegou minha mão e me puxou para dentro do salão. Que merda era aquela? Ela não parecia se importar nem um pouco que eu estava bisbilhotando, me colocou na frente de Augusto e eu olhei para a cara dele, sentindo a minha mais quente que forno ligado a 180° assando um bolo. Ele estava sério, parecia zangado por eu interromper sua aula mas eu não tinha certeza se era isso mesmo, ele não fez mais nenhuma expressão a não ser me olhar sério.
— Oi. — eu disse. E Michaely voltou a falar antes que ele respondesse, se é que ele falaria algo.
— Você sabe dançar lambada, Joana?
— Sei dançar tango, valsa, lambada, ballet clássico, dança contemporânea...
— Que ótimo! — ela bateu palmas. Eu respondi por estar distraída, não fazia ideia do que diria a seguir. — Você vai dançar essa música que estava tocando com ele, ok? Ele me disse que vocês se encontram em eventos as vezes, então é bom que vocês já criam essa intimidade na dança juntos e dão um show para todos.
Como assim ele tinha falado de mim para ela? Eles eram tão íntimos assim? E por que falar de mim? Eu olhei para ele novamente e ele desviou os olhos. Vendo que não tínhamos feito nenhum movimento, Micaely pegou minha mão e colocou no ombro dele e pegou uma de suas mãos e colocou na minha cintura.
— Não fica nervosa. — ele disse, percebendo a minha tensão e pegou minha outra mão, segurando meus dedos. Olhei para seus olhos e ele não estava com o sorriso zombeteiro costumeiro, parecia estar nervoso também, com medo de fazer algo errado.
— Não estou. — menti.
Eu já tinha dançado várias vezes com muitos rapazes em festas, eventos, no meu aniversário de 15 anos, mas ninguém que me deixasse tão nervoso quanto ele. Ele deixava quente a parte em que sua mão segurava minha cintura, mas eu estava começando a sentir um calor pelo corpo todo, subindo até o pescoço e tinha certeza de que minhas bochechas estavam vermelhas.
Michaely apertou o play e a música começou a tocar, dei um passo pra frente como ela tinha feito e ele deu um passo pra trás, me olhando nos olhos. Ouvi a professora dizer que estávamos muito distantes, então aproveitando a deixa, Augusto puxou minha cintura colando meu corpo ao dele, meus lábios se abriram de surpresa. Continuamos os movimentos e eu podia sentir cada parte do corpo dele movimentando com o meu, agora eu não era mais uma espectadora, eu era parte da coisa, e isso estava me deixando cada vez mais nervosa.
— Está errando, Joana, fijam que não estou aqui, vou colocar a música de novo. — tudo de novo? Eu pensei, sentindo a mão molhada e soltando da dele para secar na minha saia.
Merda, porque eu não estava usando short por baixo da saia hoje! Me xinguei mentalmente e voltei a segurar sua mão.
Voltamos a dança, dessa vez não errando mais quase nenhum passo, estávamos em sincronia, seus olhos estavam no meu assim como quando ele estava dançado com Micaely, mas eu vi desejo neles, engoli em seco e contuamos a rodopiar, sua mão tocando em várias partes do meu corpo e deixando uma sensação boa e quente, parecíamos que estávamos realmente sozinhos. Reparei ele olhando várias vezes para o meu cabelo também, assim como quando eu entrei no salão. E chegou ao final da música, eu levantei a perna para por na cintura dele assim como a professora tinha feito e ele me inclinou para trás, sua boca abriu e seus olhos ficaram pequenos quando sentiu pela minha perna que eu não estava de short, seus dedos seguravam firme a minha coxa.
— Merda. — ele falou bem baixinho e ouvi ele engolindo em seco. Não sei quanto tempo se passou, mas quando desci minha perna e olhei em volta constrangida, não vi a professora dele em nenhum lugar. Olhei para Augusto e ele passou a mão nos cabelos que caíam na testa, aquele movimento que demonstrava o quanto ele estava nervoso e que eu ficava louca. — Você está.... merda!
— O quê? — eu perguntei, ainda sentido o corpo eletrizado e querendo o calor de seu perto do meu novamente.
— Você não devia estar de short? — ele falou mais como se fosse algo que era óbvio e não como uma pergunta, ele apontou para minha saia e de novo passou a mão nos cabelos e virou de costas.
— Eu não vim aqui para dançar. — de alguma forma a inquietação dele pelo fato de eu não estar de short estava me deixando com uma sensação boa e uma excitação que eu nunca havia sentindo antes com tanta intensidade como agora.
— Jesus! — ele olhou pro alto quando disse e colocou a mão na cintura. —Eu não sei se posso me segurar com você aqui. Podia, por favor, esperar lá fora?
Eu achei divertido vê-lo assim e não todo confiante como sempre, como ele continuava de costas, eu me movi e andei até ficar na frente dele, bem perto de seu rosto. Ele olhou pra mim, esbravejou um xingamentos e me agarrou pelos cabelos e cintura, levando sua boca e mão com intensidade. Eu arfei e ele também, não nos soltamos, eu acho que iria cair se soltasse as mãos que segurava forte os lados de sua camisa. Ele deu alguns passo comigo e então estávamos encostados na parede de um dos cantos da sala, seus lábios deixaram os meus dormente e foram passeando pela minha bochecha até chegar no meu pescoço, ele beijou e passou a língua naquela área onde antes ele havia sentido a pulsação. Uma de suas mãos estavam segurando os cabelos da minha nuca e meu corpo todo tinha uma sensação de torpor, minha região entre as pernas estavam como uma piscina.
Augusto subiu a mão por baixo da minha saia e segurou minha cintura bem onde estava o elástico da calcinha, ele me puxou pra si e pude sentir o quanto seu corpo estava sem controle como o meu, eu acho que era aquilo que ele queria me mostrar, como ele estava. Meus olhos estavam um pouco arregalados por sentir sua dureza, eu parecia não ter mais controle de nada em mim enquanto ele beijava meu pescoço, quase o devorando.
— Não se preocupa, jamais marcaria você. — a voz dele estava rouca, o que quase me fez chegar ao ápice, sabia do que ele estava falando por ter lido nos livros, eu queria sentir a sensação de como seria, mas não queria ter nenhuma consequência daquilo depois, então o agradeci mentalmente. — Joana...
— Oi. — beijo sua boca quando ele voltou o rosto pro meu, eu queria chamá-lo de meu, queria que ele me pegasse no colo e me levasse para o seu quarto, somente para ter mais privacidade, mas não queria chegar aos finalmentes, não me sentia preparada ainda.
— Você precisa me fazer parar. — ele colou a testa na minha, mas suas mãos ainda apertavam minha cintura com força, as duas mãos, enquanto meu corpo apertava contra ele. Seus olhos tinham um misto de desejo e súplica.
— Por que? Eu estou gostando disso. – lhe beijei a bochecha e o queixo, sentindo o áspero da barba querendo crescer de novo.
— Não posso perder o controle. Não com você. – suas palavras poderiam ter me magoado, lá no fundo eu senti, mas deixei por lá, não tinha problema se ele podia perder o controle com outra pessoa, agora ele estava comigo, e talvez depois de hoje ele não iria querer estar com ninguém assim como eu me sentia. Não queria mais ninguém além dele.
— Vamos para o seu quarto. – lá podíamos conversar melhor.
— O quê?! — ele se afastou rápido e me olhou incrédulo. — Não, não podemos.
— Calma, não é para isso que você está pensando, é só por privacidade caso alguém apareça. – ajeitei a saia e arrumei o cabelo, sentindo vontade de trazê-lo de volta para uma beijo, sua boca estava vermelha e o cabelo bagunçado onde eu tinha puxado.
— Você acha que eu teria todo esse controle com você na minha cama? Meu Deus, você não sabe mesmo como os homens são.
— Eu sei que você não faria nada que eu não quisesse. – ou pelo menos eu esperava isso.
— Sim, mas... — ele pensou um pouco e suspirou. — Não é como se a gente pudesse ficar juntos, somos de mundos diferentes.
— Como? – eu não estava acreditando no que ele estava falando.
— É, você é toda mimada e nasceu em berço de ouro, eu não me adaptaria ao seus gostos exuberantes e nem a sua vidinha de madame rica. – suas palavras foram como um soco no peito e seus olhos voltaram a ficar como antes, ele me olhou com desdém e como se eu fosse desinteressante.
— Eu odeio você. – eu vociferei as palavras bem devagar e corri sentindo os olhos arderem com as lágrimas que vinham. Ele não veio atrás de mim, ele tinha me magoado e não fez o esforço de vir atrás. Chorei no carro no caminho para casa, me senti mal por ter deixado ele me tocar tão intimamente, me senti usada e esse sentimento era esmagador.
Não desci para o jantar com a desculpa de que estava me sentindo mal e com dor de cabeça, quando meu pai foi no quarto eu fingi estar dormindo, quando ele saiu eu voltei a chorar até dormir.
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