Capítulo 5: Reconciliação
— Hoje foi muito divertido, não é mamãe?
— Foi sim meu amor. Mas, eu tenho uma coisa para fazer agora à noite. Vamos ter que deixar o filme para mais tarde. Está bem?
— O que você vai fazer? — Diz Ethan, sim, eu descobri o nome dele e ele descobriu o meu.
— Meus agentes descobriram o paradeiro da minha irmã. Eu preciso conversar com ela.
— Eu tenho tia, mamãe? — Diz o pequeno.
— Meu amor, deixa eu conversar com o titio um pouquinho, depois eu converso com você. Eu prometo.
Jonny concorda e vai ao seu quarto. Ele é tão doce. A Sol iria adorar conhecer ele.
— Vai participar de uma operação agora? — Pergunta Ethan.
— Sim, eu preciso tirar algumas dúvidas com ela.
— Que dúvidas, vocês não conversam muito?
Não acho que faria mal eu contar a ele, pois ele é um ótimo ouvinte. O máximo que poderia acontecer é ele contar a alguém, mas sabe no que isso resultaria.
— Presta atenção, está bem?
— Sou todo ouvidos.
— Quando eu era mais nova, eu vivia com os meus pais e a minha irmã gêmea. Mas nós não somos nada parecidas, somos o oposto uma da outra. Eu sou mais parecida com o nosso pai. E ela é loira igual a nossa mãe. Somos gêmeas bivitelinas. E é claro que as personalidades também são diferentes. Nós éramos muito próximas, mas, numa noite aconteceu alguma coisa. Eu não consigo me lembrar do que. E quero saber o que era. Tenho certeza de que ela sabe. Só não sei se ela vai querer falar. — Faço uma pausa e respiro fundo — Depois daquela noite, eu nunca mais a vi ou falei com ela. Acordei em um orfanato. E quero saber o motivo desse abandono.
— Entendi. — Diz Ethan. A voz preocupada. — E essa é a primeira vez que você vai encontrá-la depois de tanto tempo?
— Não. Eu a encontrei outras vezes, mas ela disse que me odiava e tentou me matar uma ou duas vezes. As outras ela fugiu e não respondeu a nenhuma das minhas perguntas.
— Ela tentou te matar? — Pergunta, desacreditado. Não entendi sua surpresa, mas lembro que ele não teve nenhum contato com a minha irmã.
— Sim. — Respondo com a voz calma. Ele parece chocado. Sua expressão deixa tudo mais engraçado. E sem querer, deixo uma risada escapar.
— Do que você está rindo? — Pergunta Ethan, parecendo curioso.
— Sua cara! Meu Deus. — Paro de rir aos poucos. Mas ele começa a me fazer cócegas. Eu começo a rir incontrolavelmente sem muito tempo para respirar. Então ele para e segue fazendo cócegas em um certo garotinho que surgiu na sala.
Enquanto eles se divertiam, eu cogitava sair imediatamente. Perdi muito tempo explicando algo de que ele talvez nem se lembre daqui há algum tempo. Mas confesso que finalmente contar isso para alguém, tirou um peso gigantesco das minhas costas. Em pensar que o meu mau humor se dava por falta de conversa.
— Etha- Digo, ei, você!
— Sim, srta. Miller? — Responde rindo, mesmo que a maioria das armas da casa estejam apontadas para ele nesse momento. Quase falei seu nome, por Deus, quase o matei!
— Preciso que fique com Jonny aqui. Eu já estou saindo. Assistam a algum filme, tanto faz. E nada de se empanturrar de sorvete, viu mocinho!
— Sim senhora! — Jonny faz posição de "sentido" como um soldado.
Ethan ri e leva ele a outro cômodo — A cozinha, é claro —, enquanto eu estava apenas esperando uma equipe para me acompanhar. Eu seria uma sonsa se fosse sozinha. Mas, dessa vez preciso parecer que estou sozinha.
Só de pensar em como eu nunca ficava sozinha, me dói.
Depois de um tempo, a equipe chega e nós seguimos pela rota que nos levaria até a minha irmã. Paramos a um quarteirão de distância da casa localizada e enquanto eles se desvencilhavam e tentavam não serem vistos, eu ia andando pela calçada e parei na frente da casa. Sendo honesta, acho essa jogada um tanto quanto ousada, bem a minha cara. Toco a campainha. Ouve apenas o seu som, depois, apenas um silêncio bastante desconfortável. A porta se abre lentamente, o que é bem estranho. Tenho certeza de que dá para ver quem está batendo na porta. E se fosse minha irmã, ela não a abriria. Depois da porta ser aberta, surge a figura de uma senhora mais velha que dona Lurdes.
— Posso ajudar? — pergunta a mulher desconhecida.
— Eu posso falar com a sua superior? Eu preciso mesmo!
— Acho improvável que ela queira, vá embora. — Ela ia fechar a porta, mas eu aponto uma arma para ela e então ela paralisa.
— Eu pedi com educação. Não me faça fazer o que eu não quero.
— Sinto muito, mas ela não te quer aqui!
— Vou ter que explicar outra vez? Eu não quero te matar, minha senhora, sei que está tentando fazer o seu trabalho, mas a senhora não é nenhum cão de guarda. — Digo já perdendo a paciência. — Me dê licença.
Eu entro com a arma ainda apontada para a sua cabeça. Ela anda em frente, com as mãos para cima. Parte de mim sente pena. E outra, acha irônico. Quando entramos, Sola estava sentada na mesa de jantar terminando de degustar um delicioso pedaço de carne. Acompanhado de um gole de vinho. Pelo menos ela tem bom gosto para a comida.
— Que falta de respeito pelos mais velhos Lua. Não esperava menos. Vamos, pare com isso e deixe-a ir embora, ela não tem que assistir a essa conversa. — diz Sola. — Essa falta de respeito se deve ao quê? Só porque foi você quem foi para o orfanato? Ah, deve ter sido difícil lidar com o abandono. Me diga, como foi?
— Cala a boca Sola, você não sabe como foi e não pode tirar proveito de como eu me sinto para fazer brincadeiras.
— De como você se sente? Ainda sente? Achei que já tivesse superado. — Diz, com ironia e deboche. Sinto a raiva fluir pelas minhas veias junto ao meu sangue.
— Isso não te diz respeito, Sola. Eu só quero que responda as minhas antigas perguntas. E não me pergunte quais, por que você sabe muito bem do que eu estou falando. — Retruco, abaixando a arma, a velha mulher sai do cômodo e Sola coloca mais um pedaço de carne na boca.
Ela não fala mais nada. Apenas mastiga com calma.
— Não vai tentar me matar dessa vez? — Continuo, curiosa.
— Não. Hoje é nosso aniversário. Não acho que uma trégua temporária faria mal.
— Olha, eu sei que você é maluca, vai me matar logo ou não? — Falo com os olhos lacrimejantes, eu só queria por pressão mesmo. Mas acho que o plano teve reação inversa.
— Eu nunca quis matar você, Lua. Você é minha irmã. — Diz, após terminar de mastigar. Coloca os talheres no prato e se levanta olhando para o chão. — Eu não sou uma assassina, diferente de você.
— Diferente de mim? Você só pode ter enlouquecido! Você matou os nossos pais!
— Quer saber? Eu cansei de você continuar me acusando. Quer saber a verdade? Está bem. Eu nunca matei ninguém, a única pessoa que mata aqui, é você, princesa. E eu nunca te acusei de nada, essa foi a primeira vez. — Sua voz soa calma. Tem algo de errado, ela não está sorrindo, como nas outras vezes.
— Eu não matei os nossos pais, você matou os dois, e me abandonou logo depois! Por quê?
— Eu já disse que não matei ninguém! Você quer mesmo saber... ok. Mamãe era uma suicida. Ela teve depressão pós-parto e viveu com isso até aquela noite. Papai tinha ido embora uma semana antes. Ele conversou comigo e disse que não conseguia mais ficar lá em casa. Depois, encontraram o corpo dele pendurado na árvore da casa que ele havia alugado. Mamãe estava no seu limite, e quando soube da morte do papai, ela assimilou que aquilo foi a gota d'água. Ela encontrou uma antiga arma do vovô e... — Ela faz uma pausa. Eu também precisava dessa pausa. Estou muito surpresa, e o pior é que eu nunca fiquei sabendo de nada disso. — Eu tentei impedir, eu juro! Mas, ela atirou e, você acordou. E como você não sabia que mamãe era uma suicida, eu resolvi levar a culpa. E você me culpa até hoje, mesmo eu não tendo culpa nenhuma.
— Mentira... — digo, quase num sussurro. Mamãe era tão alegre e tão atenciosa. Como ela poderia ser a causa da própria morte?
— O que você disse? — Responde Sola, cobrando um tom de voz mais alto.
— Mentira!!! Mamãe nunca deu indícios de que era uma suicida. E se fosse, eu perceberia, não teria como não perceber!
— Todo mundo percebeu Luara! Você era a única que não queria ver. Mamãe estava doente, mas não queria a nossa ajuda... e ela ainda queria morrer pelas minhas mãos! Nós só tínhamos 16. Éramos novas de mais. Mas eu nunca entendi o porquê ela queria morrer pelas minhas mãos, por que as minhas mãos?
Um silêncio constrangedor surgiu. Foi quebrado apenas pelas tentativas falhas da Sol tentando parar de chorar. Era estranho, é a primeira vez que vejo ela chorar.
— Você estava alterada, e eu te desmaiei. Achei que fosse tentar o suicídio de novo, então eu apenas te deixei em uma casa de cuidados parentais para meninas e te observei de longe. Mas eu nunca matei ninguém! — Arregalei meus olhos, desacreditada.
— Eu tentei me matar!? — Perguntei assustada.
— Quando você pegou aquela arma e observou o corpo da mamãe no chão... quer saber, eu devia ter contado tudo desde o início. A culpa é minha, mesmo.
Ela se agachou no chão e começou a chorar ainda mais. Aquilo era uma surpresa para mim. Eu fiquei sem reação. Não sei o que fazer. Até que percebo que estou errada desde o começo da história. Por mais que eu goste de estar acima das pessoas, eu estava me sentindo uma tola, e estava gostando um pouco da sensação. O que é muito curioso. Me aproximo dela devagar.
— Sol, ei. Tudo bem. Eu não tinha como saber. E você está certa, eu sou uma assassina, não você. Eu... vou parar de te culpar, está bem? — Até porque não existe mais motivo para isso. Ajudei ela a se levantar e comecei a acariciar seus cabelos louros enquanto ela se aconchegava no meu abraço e tentava se acalmar. Ainda com a respiração desregulada, ela disse:
— Eu... estava com tanta... saudade de você Lua... — O choro não permitia que ela falasse a frase de uma forma fluida. Mas ela se acalmou por conta dos exercícios de respiração que provavelmente aprendeu na terapia. Eu também aprendi na terapia.
— Eu também estava com saudades do seu abraço, dos piqueniques, das danças, dos filmes, da sua risada... quer ir lá para a minha casa? — pergunto olhando em seus olhos, implorando para que ela aceitasse o convite.
— Ok, mas eu preciso terminar de arrumar a mesa pelo menos.
— Posso levar esse frango? — pergunto, apontando para a carne deliciosa que estava em cima da mesa de jantar.
— Isso é um bife. — Fala risonha.
— Tanto faz, posso levar? Vamos comemorar lá em casa!
— A gente mal terminou a conversa e você já quer me furtar? — pergunta, dando a risada sincera que eu adorava ouvir.
— Vamos, Sol. Por favor! — Digo, com aquele dom de todo irmão mais novo. Ela suspira. E suspira. Mais uma vez. E agora para, para pensar.
Ela suspira de novo. E me olha com o olhar de quem se dá por convencido.
— Pega, menina! E não esquece do vinho, que foi caro! — Pego a carne e entrego o vinho a ela. Ela se despede da senhora que atendeu a porta mais cedo. Eu me desculpo, óbvio. Estava morrendo de vergonha. E então saímos da casa.
Assim que fechamos a porta, várias pessoas armadas apontam armas para nós, eu olho de um jeito irônico e divertido para a situação, enquanto Sola levanta as mãos e as garrafas de vinho. Até que a cena estava engraçada. Eu abaixo suas mãos e sinalizo para que eles abaixem as armas.
— Looooonga história. Eu vou convocar vocês na minha sala amanhã e vou explicar a situação com detalhes.
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