Capítulo 4: Surpresa!
Acordei com uma dor de cabeça quase insuportável, mas não sei se foi dada por conta do despertador com barulho agudo, repetitivo e sem graça. Me sento na cama e bato no despertador, com propósito de fazer minha cabeça parar de martelar. Esfrego meus olhos com cuidado para que eles processem melhor a luz que adentrava por todo o meu quarto. Jonny estava ao meu lado, em um sono tão profundo quanto o de ontem à noite. Eu sempre acordei cedo. Especialmente em dias da semana, porém o domingo é o dia que eu descanso até o meio-dia. Mas hoje, acordei as 6:00 porque é simplesmente, terça-feira. Eu não sei como Jonny não acorda com esse despertador, é bastante alto na minha percepção. Mas ele continua dormindo. O que é bom, não quero que ele venha comigo por enquanto.
— Bom dia srta. Miller. Bem na hora. — Dona Lurdes entra no quarto, vestindo um uniforme de empregada. O que a deixa fofa. Ela é uma empregada da minha casa, sua altura não é muita, seu cabelo é castanho e seus olhos são verdes, como os de seu filho. É supersimpática e dócil em relação a mim. Deve ter em torno de uns 35 anos. Não deve ter chegado na casa dos 40, ainda.
— Por quê? Acordei atrasada para falar com ele? — Brinco. Mas realmente queria vê-lo, por mais que nunca admitiria.
— Devo supor que sim. Ele acordou chamando por você. — Fiquei surpresa com a afirmação. Achei que ele não faria nem falaria nada que tivesse envolvimento comigo. Não depois do que eu fiz. Ainda me sinto culpada, mesmo sem saber o porquê exatamente. Eu achei que não me importaria em atirar nele, então, por que esse sentimento de culpa?
— Ele ainda quer me ver? — Me levanto da cama e me espreguiço brevemente, enquanto dona Lurdes verifica meu despertador, para ter a certeza de que não o quebrei, como fiz com os outros sete, comprados ainda este ano.
— Vai com calma, você tem uma reunião daqui uma hora. Com o pessoal de Pequim, vindos diretamente da China. — Ela solta um suspiro de alívio, não o quebrei. Mas ela já comprou o reserva. Tenho certeza.
— Sobre qual assunto? — Pergunto enquanto separava algumas roupas para a reunião. Não sei se vai dar tempo de tomar café. Mas de qualquer jeito, pode esperar.
— Sobre isso, eu não fui informada, estou aqui apenas para te trazer lembretes. Me desculpe. — Ela se curva em minha direção. Eu admito que gosto de ser tratada com respeito, mas depende muito da pessoa, e Dona Lurdes, é uma das que eu não cobro tanto respeito quanto as outras pessoas. Eu tento impedi-la, mas ela se levanta rapidamente.
— Tudo bem, não precisa de tanta formalidade. — Ela se retira, com um sorriso tímido no rosto.
Algum tempo depois, eu estava pronta. Usava um vestido justo preto e meu cabelo se encontrava solto. E com um casaco jeans escuro. Olhei para o relógio, eram exatamente 6:50.
— Terminei em 40 minutos? — Aprecio minha aparência no espelho do meu quarto que ia do chão ao teto. — É parece que sim.
Me direciono para fora do meu quarto e fui para o meu escritório. Um espaço maior da minha casa que fica na entrada, assim, as pessoas não precisam passar por dentro do meu espaço pessoal para falarem comigo. Depois de mais 30 minutos, todos eles chegaram para começarmos a nos divertir. Com drinks e dinheiro. Nada melhor que isso.
Que reunião. O pessoal sempre fala em inglês para que nós possamos nos entender. Com essa reunião, mais 480 milhões de dólares vieram para dentro da minha casa. Me sentia mais poderosa a cada palavra deles. Eles têm medo de mim e eu me sinto bem com isso. Sempre que olhava para o chefe da máfia da China, ele me lançava um olhar inseguro, como se estivesse sendo perseguido. Bem-vindo ao meu mundo. Eu sou a caçadora e todos vocês são minha presa. Depois de um tempo, eles foram embora numa limusine preta. Coisa típica. Olhei para o relógio novamente, e eram aproximadamente 9 horas da manhã. Me dirigi ao quarto de número 88. Mas quando cheguei na porta, um rastro de sangue chamou minha atenção. Eu congelei. Minha respiração ficava mais pesada a cada segundo que passava. Crio coragem e abro a porta do quarto, ignorando para onde o rastro me levaria.
— Oi? Eu estou entrando. — Minhas palavras saíram trêmulas. E minhas mãos começaram a suar conforme eu afastava a porta, abrindo caminho.
Ninguém havia respondido, a sala estava completamente vazia. E o rastro de sangue começou da cama onde ele estava. Levaram ele? Mas quem? Minha expressão de desespero estava visível. Não havia seguranças por aquele local, mas o rastro de sangue, leva a algum lugar. Eu tenho certeza de que ele está lá.
Pego minha pistola, a destravo e começo a perseguir o rastro. Ele seguia pelo corredor. Cada vez mais longe. Até que cheguei no último quarto da casa. Era uma dispensa bastante espaçosa e extensa. Ninguém ousava chegar perto deste corredor, a não ser Dona Lurdes – claro -. Ao abrir a porta, vejo que o quarto está decorado com cactos enroscados em pisca-piscas. E balões vermelhos. O que?
— Surpresa! — Gritam todos ali dentro.
— O que significa isso? — Pergunto exigindo uma explicação plausível para não matar alguém lá dentro.
— Não acredito que quem seguiu o rastro de sangue falso foi você. Não esperava menos. — A pessoa me lança um olhar debochado.
— Você... — faço uma pausa para analisar e assimilar a situação. — Tá maluco? O que você está fazendo? Era para você estar na cama e de repouso.
— Não seja por isso. — Ele vem em minha direção com uma expressão que demonstrava afeto. Eu abro um mínimo sorriso. Foi bastante involuntário.
— Gostou da surpresa, Mamãe? — Diz um garotinho se aproximando de mim.
— Eu adorei meu amor! Mas, eu tenho duas perguntas. Quem teve essa ideia?
— Fui eu. — Diz o abençoado que deveria estar de repouso.
— Ok, eu quero conversar com você. E a segunda pergunta: Por que fizeram isso?
— Mamãe, hoje não é o dia do, do seu aniversário? — Diz o garotinho. É verdade, eu havia me esquecido. Hoje é meu aniversário. E o aniversário da minha irmã gêmea.
— Verdade meu amor. — Digo, com cautela. — Vocês podem me dar licença? Preciso conversar com o organizador da festinha.
Dona Lurdes pega o garotinho no colo e se retira do cômodo, meus seguranças se retiraram e fecharam a porta. Eu fiquei ali, de pé, pensando. Hoje seria mais um dia de festa ao lado da minha irmã, dos meus pais. Mas, essa data perde a graça quando lembro do porquê parei de comemorar.
— E aí, o que achou da decoração? — Pergunta o abençoado.
— Como sabia que eu gostava de cactos? — Respondo tocando em um dos espinhos de um dos cactos do quarto. Eu amo essas plantas.
— Não foi muito difícil. Tem por toda a sua casa. — Lembro-me de todas as plantas da minha casa. São todas cactos.
— Faz sentido... o que você quer? — digo, lembrando-me da minha postura.
— Retomar aquela nossa conversa. Você disse que falaria seu nome verdadeiro.
— Eu não falei sério. — Para quê falar meu nome? O que ele quer comigo? Eu não posso me apaixonar, não. Eu preciso parar. — Olha, a gente não pode ficar juntos.
— E por que não? Tudo que eu preciso saber, é o seu nome.
— E por quê? Tem de ter algum motivo específico!
— Por que eu não quero viver sem poder te proteger...
— Eu não preciso da sua proteção. Eu posso muito bem me cuidar sozinha e você sabe disso.
— Eu não disse em que sentido te protegeria. Sei que você sabe se cuidar, mas não tem ninguém para compartilhar e desfrutar os prazeres da vida, desde passear no parque até comer em um restaurante. E eu compartilharia minha vida inteira com você. Você é a luz que mais brilha em meio a escuridão. E é a luz mais reluzente que eu tenho a sorte de apreciar.
Eu me calo. Não sei o que responder. Eu sabia que precisava fazer alguma coisa. Só não sabia o que, exatamente. Essa frase não me soa estranha. Parece que eu já ouvi algo parecido. Mas, de quem?
— Ok... eu não tenho uma resposta para isso.
— Tudo bem, pode pensar à vontade, quer comer? — Diz com um sorriso no rosto.
— Quero.
— Antes, queria saber por que você não comemora seu aniversário.
— Vai continuar querendo saber. — Rimos e então fomos até a mesa improvisada no meio do cômodo.
Tudo correu super bem. Comemos algumas guloseimas e nos divertimos bastante. Evitei ao máximo falar o meu nome. Preciso manter o profissionalismo, não é? Depois, deixamos o quarto decorado com cactos e fomos à sala. São 10:40 da manhã. De repente Jonny chega na sala todo arrumadinho. Eu nem havia reparado. Está com uma calça jeans, uma blusa branca e a franja loura na frente de seus olhos está bagunçada. Está com um tênis preto e a correntinha de prata que eu dei de presente no seu último aniversário. Que inclusive é logo depois do meu.
— Oi mamãe! — diz o pequeno vindo em minha direção com um sorriso radiante.
— Oi, meu amor! — digo apertando suas bochechas. — Acordou cedo hoje, que bom! E está todo arrumadinho! Para onde você vai?
— Mamãe, você gostaria de, de sair para almoçar? Co, com direito a acompanhante! — diz mexendo seus fofos dedinhos, deixando claro sua timidez.
— Ô meu amor, claro! O titio aqui, pode ir? — Digo apontando para a pessoa que eu ainda vou descobrir o nome ao meu lado.
— Sim! E você, você pode, pode comprar sorvete de sobremesa? — diz o pequeno quase se perdendo no meio da frase.
— Claro campeão! Vamos todos comer sorvete até não caber mais nada! — Ele estende a mão e bagunça ainda mais a franja do meu garoto.
— Ei, não incentiva! — Reprovo sua afirmação. — Vamos comer sim, mas é para maneirar!
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