Capítulo 2: Entre becos
— Você tem noção do que acabou de fazer? — o cano da pistola passeia devagar pela extensão de sua testa, enquanto observo-o de joelhos na minha frente. Parecia assustado o suficiente para chorar e gemer ao mesmo tempo. Me sentia bem com aquela cena, ele deve estar se sentindo humilhado, isso não tem valor para mim. Nunca teve.
— Eu presenciei um assassinato, está feliz? Vai me matar também? — ele altera o tom de voz, e isso me irrita. Odeio quando tentam se sentirem superiores a mim, especialmente em uma situação de vida ou morte. Para chegarem a este ponto, considero esses tipos de pessoas, corajosas, porém, idiotas. Eu sempre estive no topo, e não é agora que isso vai mudar. Ameacei atirar e ele se assusta. Um sorriso se forma em meus lábios, olho para ele com pena e desprezo, como olho para quase todo ser insignificante por quem já gastei inúmeras balas, e sentir o sangue respingando contra meu rosto, me faz sentir ainda mais no alto.
— Até que você é inteligente, acertou! Quais são as suas últimas palavras? — Me abaixo ficando cara a cara com a minha próxima vítima, mas nunca removendo a arma de seu rosto protuberante. O semblante de ódio presente em sua expressão, me fez sentir uma sensação muito boa de poder.
— Vá em frente, não tenho nada de interessante para falar, esses últimos 37 anos, que passei vagabundando pelo mundo, não serviram de nada para mim, nem para minha família. — Era incrível como alguém podia ser tão verdadeiro, ao ponto de se enxergar como um lixo, esquecido e abandonado, que é facilmente substituído. Dava para ver esta exata descrição pelo seu olhar. Se sentir desta forma deve ser horrível. Uma pena, já que faz tempo que não me sinto dessa forma.
— Você é absurdamente cansativo, tenho pena da sua família, você deve ser o fracassado que não se esforçou nem para tentar alcançar seus próprios sonhos, se é que tinha algum. — Puxo o gatilho, o barulho quase corroeu meus tímpanos, e como esperado, ele caiu no chão, junto a outro cadáver, enquanto da sua cabeça, eu conseguia ver o sangue fresco se espalhando pelo chão esburacado. Ele era fraco, em todos os sentidos e quesitos. Fisicamente e psicologicamente. Era ridículo e vergonhoso, como alguém pôde se tornar algo tão rebelde, ao ponto de ser esquecido pela própria família.
— Vamos embora. — Digo, e todos que se encontravam a minha volta (exceto meu guarda costas principal. Ele coloca um saco repleto de maletas com várias cédulas de milhões de dólares, dentro do meu carro. Dentro de um deles, sendo mais exata), dirigiram-se aos seus veículos, deram partida e foram embora. Eu continuei ali, de pé, observando o corpo daquele cadáver, que nem se quer implorou pela vida. Isso me encheu de raiva. Por mais que eu adorei ver seu corpo sem nenhum sinal de que estava respirando.
— Você não vem, senhorita Miller? — Meu guarda costas principal chama a minha atenção, eu o olho por alguns instantes. Precisava pôr um fim naqueles corpos, corpos de duas pessoas que faziam meu sangue ferver, por mais que eu não cheguei a conhecê-las. Um deles, era um subordinado meu, que incrivelmente, teve a cara de pau e (devo admitir) muita coragem, de tentar roubar 156 milhões de dólares. Faça a conta e veja quanto dinheiro esse filho da puta tentou pegar sem o meu consentimento e sem a minha permissão. É claro que eu não permitiria, mais se ele não tivesse tentado roubar, seu ato não teria comprometido sua vida. Por mais que não pareça, eu sou sim, misericordiosa. O outro, estava passando pelo beco, a procura de drogas, sempre encontrava traficantes por esse local, mas hoje, foi diferente. Eu atirei no peito do ladrãozinho, enquanto o aspirante a traficante entrava no beco e se assustou com o barulho, caiu de joelhos e logo foi explorado pelos meus capangas. Apenas mostrei a ele que não tenho medo de simplesmente puxar o gatilho. Chega a ser divertido.
— Estou indo, trate de se livrar desses desgraçados. Não quero ter que ver eles na minha frente outra vez, a não ser que estejam queimando. — Seria um show de felicidade explícita. Eu não tenho vergonha de admitir que gosto de fogo, ainda mais quando está reduzindo corpos a cinzas. Eu já vi isso muitas vezes, e não me importaria nem um pouco de assistir a isso outra vez.
— Sim, senhorita Miller. — Eu entro dentro do carro e espero ele colocar os corpos no porta-malas. As pessoas que realizam a limpeza dos meus carros, são muito bem pagas para que fechem o bico sobre o sangue encontrado neles. Nunca me incomodei com ninguém neste quesito. Cada um deles sabe o que acontece com quem se atreve a tentar me trair. Eu me sinto conformada com a morte de traidores. Garanto que não sou a única. Após ele terminar o trabalho, entra no carro ao meu lado, pronto para começar a dirigir. Ele coloca a chave na ignição e a gira, então o Mercedes Branco logo atende aos seus comandos.
— Então, senhorita Miller. Quero tratar de um assunto com você. — Ele me olha seriamente. Eu retribuo o olhar, confusa, porém curiosa.
— Diga, não temos tempo. — Eu passo a olhar para o celular, ao invés de olhar para ele. Depois, o enfio no bolso direito do meu casaco jeans preto.
— Tem um tempo que, acredito que você já tenha percebido, que eu te olho de um jeito diferente. — Ele coloca a mão direita na nuca e desviar o olhar. Percebo que ele cora levemente, enquanto suas palavras eram direcionadas. Faz tempo que ele trabalha para mim, cerca de alguns anos. Não me recordo de quanto tempo exatamente, mas não posso dizer que não sinto nada por ele. Eu também sou um ser humano e, consequentemente tenho sentimentos, então, será que é sobre esse assunto?
— O que está querendo dizer com isso? Seja direto, onde você quer chegar? — eu realmente sentia amizade em relação a ele. Uma amizade distante, distante o suficiente para que se ele morresse, eu não me encontraria chorando pelos cantos. Mas o que ele quer me dizer, estava me preocupando. Quem eu quero enganar? Eu gosto dele sim. Só não posso ficar com ele. E esse fato me preocupa muito! Se ele insistir, ele vai morrer, sendo diretamente por minha causa ou indiretamente por minha causa (o que eu quero dizer, é que ele pode ser morto caso esteja se encontrando comigo).
— Okay, vou ser objetivo. Eu quero você. Quero poder te amar. — Eu o olhei seriamente, e ele me olha assustado ao ver o cano da minha pistola no seu abdômen.
— Onde devo meter a bala? No seu peito... ou na sua cara?... Olha, não queria fazer isso. Mas eu preciso. Você nunca entenderia.
— Por quê?... — Eu ameaço atirar, e ele fecha os olhos por alguns instantes.
— Quero uma resposta. — Eu chego perto de seu rosto, quase tocando meus lábios nos dele, mas paro no meio do caminho. Droga, eu não posso.
— Quero que acabe rápido, por favor, me poupe do sofrimento. — Implora.
— Seu pedido, é uma ordem. — Me afasto, e direciono a arma contra sua testa lisa e macia. Era uma pena, eu realmente considerava-o. Hesito por um momento, não queria fazer isso. É claro que não quero. Quebrei a regra número 2. Sei que posso acabar com a vida dele, aqui e agora. Mas... algo em mim, diz que eu não devo, o que será isso? — Ah, que droga, sai! — sinalizo para que ele saia do carro e ele se dirige para fora do mesmo.
— Qual o motivo de tudo isso, srta. Miller? — Eu saio do carro e atiro nele. Um pouco abaixo do fígado, eu presumo. Ele continuou em silêncio. Eu não tenho medo de puxar o gatilho. Mas não queria que ele morresse. Por isso não atirei na cabeça. Mas tive que fazê-lo sofrer um pouco, mesmo não querendo que ele sofresse. Isso é muito confuso!
Arrastei ele para dentro do carro, enquanto ele sangrava. Entrei no carro, no banco do motorista. Minha expressão, continuava calma. Cheguei na minha casa em uns 25 minutos. Olhei para ele, e ele se encontrava inconsciente. Pedi para que meus seguranças o levassem para o quarto de número 88, um quarto separado para realização de cirurgias. Como transplantes e transfusão de sangue. Estava vazio. Vazio como meu coração. Mas, ele pode ser preenchido novamente?
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