Capítulo 21
"Eu sabia, eu sempre soube. Então por que continuo me sentindo traída? Por que meu coração insiste em doer em meu peito? Por que..."
"Por que isso foi acontecer?"
Eleanor seguiu sorrindo, mas seus olhos vermelhos segurando as lágrimas logo entregou sua angústia, e Félix logo lhe encarou cheio de preocupação.
- Elê o que houve? - Ele colocou a mão em seu rosto e Eleanor fechou os olhos deixando as lágrimas caírem.
Não era culpa dele, nunca havia sido sua culpa. A culpa era totalmente dela por ter se entregado aquele sentimento. Sabia que não seria correspondida, mas insistiu nele sem hesitar, não pôde evitar quando se sentia tão perfeitamente bem em seus braços. Como naquele momento em que seu toque suave e seu olhar preocupado aquecia seu coração quebrantado.
Seu olhar apenas piorava tudo. Como ficar brava com esse homem? Não tinha o direito de fazer isso com ele.
- E-eu apenas... - Eleanor abre os olhos e sorri enquanto as lágrimas ainda caiam - Obrigada Félix. Minha mãe morreu quando ainda era criança...meu pai morreu recentemente...não tenho irmãos e a única família que tenho é minha tia Lívia que mora no bosque, ocupada cuidando de assuntos da fronteira com Annikra...
Félix franziu o cenho acariciando seu rosto enquanto a loira falava.
-...Não sabe como é importante para mim saber que ainda tenho uma família.
- Ah Gracinha - Félix a trouxe para si encostando sua cabeça em seu peito, apoiando seu queixo em sua cabeça - Sempre serei parte da sua família. Não sabe como sou grato por ter sido escolhido para servir no castelo entre os órfãos de minha província. Não conheci meus pais biológicos, cresci no orfanato e graças a sua mãe tive uma segunda chance. Pode contar comigo para tudo e qualquer coisa Elê.
Eleanor se separa dele limpando suas lágrimas com um sorriso fraco.
- Eu gostaria de pegar um ar fresco longe da multidão - Félix concorda oferecendo seu braço para acompanha-la, Eleanor sorri sem jeito - Sozinha.
Félix ergue as sobrancelha compreendendo.
- Irei ver como estão meus homens, deixa-los sozinhos com galões de cerveja é um problema - Brinca se retirando.
Eleanor sorri e acena enquanto ele anda para outra direção, como uma boa menina.
Andando sem rumo encarando as pedras da praça abaixo de seus pés, assim se encontrava a rainha de Bravença com o coração quebrado em seu peito tentando juntar seus pedaços para se recompor.
Pensamentos a mil.
Sentimentos a flor da pele.
Mas com um peso que mal sabia da existência, longe de seus ombros.
Querendo ou não, agora estava mais calma. Sem incertezas, sem ilusões. Poderia seguir seu caminho que por si só já era conturbado sendo rainha, sem dividir preocupações com um relacionamento que só existia em sua cabeça.
- Vossa graça - Eleanor ouve a voz de Gaspar e ergue a cabeça. Seu mordomo e amigo estava sentado em um banco mais afastado da praça, mal iluminado e com pouco acesso por estar atrás de uma das maiores barracas do festival.
- Gaspar? O que faz aqui sozinho?
- Eu ia lhe perguntar o mesmo majestade - Gaspar sorri fraco batendo no lugar vago ao seu lado.
Eleanor se senta e ambos ficam quietos encarando a noite chegando.
- Seu rosto está vermelho e seus olhos inchados, andou chorando? - Gaspar pergunta e Eleanor solta um suspiro cansado - Se não quiser conversar sobre me perdoe a indiscrição.
- Não Gaspar. Não é importante, não se preocupe. Não quero falar sobre isso no momento - Gaspar assente aceitando sua decisão e ficam quietos por um curto período de tempo - Eu fui tola em ter esperanças de ocupar um lugar a mais em seu coração, como ele ocupa no meu.
- Lorde Félix? - Eleanor começa a piscar diversas vezes o encarando e Gaspar sorri minimamente - Sim sabemos de seus sentimentos.
Eleanor desvia o olhar envergonhada por ser tão óbvio, menos para o dito cujo em questão.
- Nunca quis me casar, mesmo com Félix. Sempre mantive o pensamento que o casamento é um passo sério a ser tomado, que uma vez realizado é para uma vida toda. Muita responsabilidade e deixar sua liberdade de lado aos olhos de todos. Mas... - Disse com a voz baixa - Se um dia eu me submetesse ao matrimônio, em meus pensamentos ele era o único possível.
- Compreendo. É difícil controlar os sentimentos e emoções, ainda mais na juventude. Mas se ajuda em algo criança, é complicado para a outra pessoa também - Eleanor o encara confusa - Sirvo no castelo desde os meus trinta e sete anos. Vivi em Annikra por vinte e dois anos em situação precária com meus pais e seis irmãos, pastoreávamos ovelhas. Perdi três irmãos na Guerra Negra junto de meu pai. Vi Bravença ser fundada pelo seu bisavô, acabamos em território Bravence após a independência.
Eleanor o encarava atenta enquanto o senhor relembrava com um olhar distante.
- Mas os campos não eram os mesmos, a terra não produzia mais vegetação, não havia pasto para as ovelhas ou uma fonte de água, e em poucos anos não conseguíamos nos sustentar. Precisavam de servos no novo castelo Bravence, com o reino ainda sendo erguido. Consegui o serviço e confiei minha idosa mãe aos meus irmãos. Lembro-me de como fiquei contente com os resultados que meu trabalho resultava na vida da minha família. Havia apenas um problema no meu trabalho.
- Qual?
- Ter que vê-la todos os dias - Apoia os cotovelos nas pernas sorrindo perdido em pensamentos.
- Gaspar! Nunca me contou que gostou de uma mulher no castelo quando jovem! - Empurra ele levemente com os ombros deixando-o sem graça - Qual área ela servia? Qual era seu nome?
- A princesa Cecília era simplesmente a mulher mais bela que havia visto em toda a minha vida - Continuou dizendo e Eleanor arregala os olhos pasma.
- Minha avó Cecília?! - Gaspar ri de sua reação e Eleanor continuava com a boca aberta surpresa.
- Nutri sentimentos por ela mesmo sabendo ser impossível ser correspondido de fato. Ela era uma princesa, e eu apenas um pobre homem que servia ao seu pai. Mas não deixava de sentir o coração palpitar em meu peito sempre que me chamava para uma tarefa - Eleanor ouvia maravilhada, Gaspar era apaixonado por sua avó antigamente e se lembrava com carinho dela - Acabamos por nos tornarmos amigos, Cecília dizia a todos que eu era sua dama de companhia e isso me constrangia demasiadamente. Mas logo veio a Guerra Vermelha e o medo se instaurou novamente. O rei Frank morreu em batalha deixando a rainha e a princesa desprotegidas no castelo, sob ataque dos Annikranos.
- Me lembro dessa história - Eleanor diz tristemente sobre o que havia aprendido sobre o passado de Bravença - Sendo perseguidas e cercadas pelos inimigos, a rainha e a princesa acabaram por entrar no labirinto do jardim e foram encurraladas. Minha bisavó foi assassinada na frente da minha avó.
- Eu estava junto delas naquele dia, naquele labirinto fugindo - Revela angustiado - Mas a minha presença não era relevante. Me escondi em pânico no meio dos arbustos em vez de proteger minhas senhoras, a rainha morreu e eu continuei escondido, Cecília estava em perigo em frente ao inimigo paralisada por ver sua mãe morrer, e eu assistia escondido tremendo. O pior não ocorreu pois um guarda valente veio em nosso socorro. Cecília foi coroada rainha soberana de Bravença, ganhamos a guerra vermelha com seus planos de ataque a Annikra e voltamos a ter paz. Cecília...se casou com o soldado valente em segredo por não ser da realeza - Solta um suspiro pesado - Pediu desculpas por não poder corresponder meus sentimentos e disse que compreenderia caso pedisse para servir em outra área, longe do castelo, mas ficaria triste sem seu melhor amigo ao seu lado.
Eleanor segurou sua mão sentindo sua dor, de irmã mais nova para melhor amigo, sabia perfeitamente como se sentiu.
- Sinto muito Gaspar querido...
- Minha mãe morreu de velhice um ano antes, meu irmão morreu na guerra vermelha e o outro foi vitima de uma doença letal. Para onde mais iria? Optei por seguir ao seu lado, mesmo sendo como melhor amigo e mordomo. Fui leal ao rei George, que descanse em paz, era um bom homem. Os vi formando uma bela família, ajudei na criação de seus filhos e mais tarde fui designado especialmente para servir suas filhas, Lady Lívia e sua mãe Catarina. Nunca me arrependi de ter escolhido permanecer ao seu lado, Cecília estava feliz e isso bastava para mim. Vê-la acordar sorridente todos os dias e me dar bom dia chamando-me de dama de companhia. Entende onde quero chegar criança? Não era para ser eu, mas Deus tinha um propósito para cada um de nós, não estaria aqui se sua mãe não tivesse nascido, se seus avós não tivessem se conhecido. As vezes uma pessoa maravilhosa aparece em nossa vida e devemos ser gratos apenas pelo fato de termos conhecido essa pessoa. Sua avó foi uma grande companheira que deixa saudades e um buraco no peito desde que partiu. Aproveite o máximo de tempo ao lado dessa pessoa que te faz bem Eleanor, mesmo que não seja como desejava - Eleanor segurava as lágrimas enquanto o senhor a sua frente segurava firmemente sua mão - Estou com setenta e sete anos de vida, sirvo a sua família a quarenta anos. Passei vários anos me perguntando o que teria acontecido se tivesse tido coragem no labirinto e defendido sua avó, se eu teria conquistou um lugar em seu coração assim como seu avô conquistou naquele dia. Mas assim não conheceria sua mãe, não estaria lhe aconselhando hoje. Deus tem um propósito para cada um de nós, aguarde o seu minha menina.
- Encontrou o seu? - Pergunta apreensiva.
- Servir a sua família é o meu propósito.
- Mas...não amou novamente Gaspar? Tenho medo de nunca mis sentir o que sinto por Félix, por mais ninguém - Admite com a voz trêmula.
- Cecília sempre ocupará um lugar no meu coração, isso não tem como mudar. Não tive outro amor, mas também não foi por falta de tentativas. Sua avó sempre surgia com novas pretendentes para mim - Riu da lembrança e Eleanor sorri - Uma moça no castelo foi contratada para cuidar de Lady Lívia e sua mãe, ela começou a nutrir sentimentos por mim mas eu nunca lhe dei uma chance para se aproximar realmente. Comecei a ser mais cauteloso com respeito aos meus sentimentos, não queria me relacionar e sim focar em meu trabalho.
- Como ela era? - Perguntou a loira curiosa.
- Senhor Gaspar? Viram o senhor Gaspar?? - Eleanor ouve a voz da Madame Delaney próximo deles e Gaspar instantaneamente se abaixa ao seu lado, apreensivo.
O queixo de Eleanor cai ainda mais surpresa.
- Persistente, muito persistente - Gaspar diz parecendo cansado e Eleanor não evita uma risada ao ver o idoso se escondendo.
Gaspar sorri vendo que havia conseguido fazer sua menina rir.
Deus tinha um propósito para cada um e Félix não estava no seu pelo o que tudo indicava. Mas ainda estava em sua vida, era uma parte importante dela e não tinha como mudar esse fato.
Andava lentamente vendo as pessoas ao redor, cada uma delas era especial em sua vida. Seus súditos que tinha o prazer de liderar e cuidar.
Bela corria com as crianças de sua província.
Suas amigas filhas de duques, barões e outros membros da nobreza, dançavam ao som da música sendo entoada.
Avistou Melissa e Luiza conversando entretidas e Max ao lado delas tentando chamar a atenção das moças, que ignoravam sua existência por completo.
Félix com seus companheiros de trabalho erguendo copos de cerveja em um brinde animado festejando e rindo.
James com uma mulher aleatória em um flerte descarado em público.
"Por favor Deus me diga que esse traste não faz parte do meu propósito" Pede internamente se aproximando do ser sem senso.
Quando a moça a vê se aproximando os encarando fixamente parece entrar em desespero e dar um desculpa antes de sair as pressas. James estava de costas para ela não entendendo o motivo de sua companheira se retirar tão depressa.
- Aproveitando o festival querido? - James se vira dando de cara com uma Eleanor de cara feia e braços cruzados.
- Majestade que bom revê-la. E como estou! Deveria fazer o mesmo, parece tensa. O que houve? Seu amado Félix não lhe proporcionou o entretenimento que queria? De fato te ver girando vendada foi uma experiência única que todos irão se lembrar - James ergue seu cantil rindo debochadamente pronto para dar mais um gole em sua bebida. Eleanor toma o cantil de sua mão antes que o mesmo realizasse o ato - Ei eu ia beber isso.
Eleanor contrariando todas as suas expectativas vira o conteúdo em sua boca fazendo uma careta logo em seguida. O canto da boca de James se levanta em um meio sorriso achando graça da careta da puritana.
- Parabéns acabou com meu Rum. Apenas não fique bêbada pois não irei te carregar até seus aposentos garotinha - A loira range os dentes nervosa em sua direção.
- Como tem a audácia de cortejar outras mulheres sabendo que estou no mesmo recinto e em público?! Não me importo com quem se relaciona ou deixa de se relacionar, mas estamos noivos e eu tenho uma reputação a zelar! O que acha que irão pensar da rainha que não consegue segurar o próprio noivo?? Isso é humilhante! - Ergue a voz dizendo e James fecha a cara.
- Eu não reclamei quando o "senhor amigo de infância" pediu para ter um tempo ao seu lado majestade! Não é engraçado? - Eleanor não podia acreditar na comparação que ele havia feito.
- Mas Félix é mesmo um amigo de infância e nada além disso! - James faz uma careta desdenhosa.
- Ah por favor é nítido que é louca por aquele homem e não adianta negar! - Rebate deixando Eleanor mais nervosa.
- E do que adianta ser louca por aquele homem se para ele sou apenas uma irmã mais nova?! - Grita em resposta e depois olha em volta dando graças pelas pessoas terem se aglomerado em volta aos músicos, o local estava sem pessoas curiosas - Não vou negar, não ousaria fazer isso com você pois estamos noivos! Vamos nos casar! Não me importo se ficar com outras mulheres pois não temos nada mais que um acordo entre países, apenas peço que não me humilhe diante do meu povo e confie em mim! - Diz com a respiração acelerada - Afinal a única pessoa que eu já tive olhos deixou claro o que sente e mais ninguém é uma ameaça para você, senhor James.
Os dois ficaram quietos por um tempo antes de James quebrar o silêncio com uma risada baixa.
- Nossas vidas são uma catástrofe completa - Comenta ainda rindo e Eleanor assente rindo junto da situação deplorável que estavam.
- E teremos que enfrentar todos esses problemas que nos cercam. Juntos, para o nosso próprio bem - James a encara ouvindo atentamente - Estamos juntos nisso querendo ou não. Vamos nos casar afinal, seria bom se pelo menos pudéssemos contar um com o outro. Quero um acordo de paz entre nós.
- Um acordo de paz? - Repete com graça.
- Sem brigar por tudo e atacar um ao outro, estamos no mesmo barco. Iremos nos casar sem amor, mas eu iria amar pelo menos estar com um...amigo - Sorri estendendo a mão.
James encara sua mão estendida por um longo tempo, e a loira começava a pensar que iria lhe deixar assim com cara de idiota. Mas é surpreendida quando James a puxa bagunçando seu cabelo e depositando um soco fraco em seu ombro.
- Mas o que Diabos pensa que está fazendo?!
- É assim que trato meus amigos - Diz simplesmente antes de começar a andar.
- Eu sou uma dama! Uma rainha e sua noiva! Não pode me tratar assim! - Exclama o seguindo tentando alcançar seus passos.
- Uma garotinha mimada é isso que é - Provoca e Eleanor revira os olhos com um sorriso fraco no rosto.
Seguia curiosa para saber qual plano Deus tinha para ela e seu propósito. Mas de uma coisa estava certa, dessa vez cumpriria a promessa que fez a si mesma quando seu pai morreu.
Não iria deixar que a vissem chorando novamente.
Obrigada por lerem! Até o próximo e deixe seu voto.
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