Capítulo 15
Parada em frente ao seu reflexo no espelho, Eleanor analisava copiosamente procurando alguma falha em seu traje. Insistia que não estava bom o suficiente, queria dar o seu melhor em seu primeiro dia como rainha. E isso incluía o traje perfeito para esse dia. Escovando seu cabelo vinha em sua mente os sons das vaias do dia anterior.
"O que fiz para que me detestassem?" Se pergunta. As respostas mais óbvias era por ter nascido "privilegiada" com a coroa, ou...não, não queria crer na outra opção.
- Majestade - Melissa adentra no quarto, trazendo a loira para a realidade do presente - Se arrumou sem minha ajuda ou das outras meninas essa manhã, está tudo bem?
Eleanor sorri colocando a escova sob a cômoda.
- Está sim. Apenas refleti que... - Ela se vira para encarar sua amiga e segura seus ombros olhando em seus olhos - Uma rainha que não consegue ao menos se vestir sozinha, não conseguirá reger um reino inteiro.
Melissa a encara calada e depois diz com um sorriso apreensivo:
- Isto significaria minha demissão..? - Pergunta fazendo Eleanor rir. O trabalho de uma dama de companhia era exatamente esse, auxiliar sua senhora em tudo que pudesse.
- Tenho muito trabalho para a senhorita ainda minha cara Melissa, uma delas é me dar conselhos sinceros e não o que quero ouvir apenas para me agradar - Brinca se virando para o espelho - Como estou?
Melissa olha seu traje. Um belo vestido amarelo acentuado no busto com o decote quadrado, a saia não era bufante, mas o tecido leve deixava equilibrado entre o simples e sofisticado. Usava o colar que lhe deram em seu aniversário, o Sol de Bravença. E a coroa dourada reluzente.
- Digna de uma verdadeira rainha - Confessa acalmando-a de suas incertezas. Respira fundo encarando a grande porta para começar oficialmente seu primeiro dia como rainha.
- Estou pronta para reger. Não deve ser tão difícil como aparenta ser, eu dou conta - Melissa afirma as palavras.
- Eleanor problemas a vista! - Gaspar entra nos aposentos afobado assustando as meninas que estavam a encarar a porta - Sinto muito por entrar desse modo, porém é importante.
- Deus Gaspar! O que houve??
- Ontem, quando voltou do passeio entre as províncias, avisaram-lhe sobre a reunião do conselho essa manhã? - Pergunta e a jovem franze o cenho.
- Não não me informaram, haverá uma reunião com o conselho privado essa manhã? - Nenhum de seus informantes lhe contataram quando voltou.
- Não haverá, está havendo neste exato momento! O conselho privado está reunido na sala de reuniões, juntamente com os membros do clero e os barões de cada província.
O olhar de Eleanor era de pura descrença. Como podem convocar uma reunião sem sua rainha desse modo? Seria possível que todos aqueles homens teriam esquecido da sua coroação ou até mesmo da sua presença? Mas então porquê não solicitaram sua presença após se reunirem na sala?
A menos que sua presença não estivesse sendo requisitada. Cerrando os punhos nervosa ela anda em direção a porta a passos duros, rumo a sala de reuniões.
Os guardas que avistavam sua passada em direção a sala de reuniões encaravam temerosos sua rainha, mas ignorando todos aqueles olhares continua andando virando o próximo corredor do terceiro andar do castelo.
- M-majestade o-oque faz aqui? - Um dos guardas pergunta claramente nervoso com sua presença. Bloqueando sua passagem à uma sala de distancia do seu destino.
- Pelo visto esqueceram de me convocar para uma reunião com o conselho, se me der licença... - Eleanor se desvia do guarda em seu posto, mas ele coloca a lança em sua frente impedindo novamente sua passagem.
- Mas o que pensa que está fazendo guarda?? - Indaga furiosa.
- D-desculpe majestade! Estou cumprindo ordens - Responde firme, mas se encolhe com o olhar ameaçador que Eleanor lança em sua direção.
Chegando próximo do rosto do sujeito audacioso, Eleanor o encara severamente.
- Eu sou sua rainha. É a mim que deve sua lealdade. Agora saia da minha frente e deixe-me passar - As palavras secas saem de sua boca amedrontando o guarda perdido em um conflito interno.
Por fim ele tira a lança da frente e libera a passagem. Gaspar e Melissa se entreolham a seguindo.
- Todos concordamos que uma mulher regendo novamente o trono de Bravença é um ultraje! - Eleanor para antes de abrir a porta, ouvindo o assunto sendo debatido na reunião.
- Sim está claro - Concordam alguns homens.
- Nossa linhagem de herdeiros ao trono só cai em desgraça desde o rei Frank. Nem um único herdeiro homem para assumir o trono e liderar nosso país com a honra e o respeito devido. Entre os reinos vizinhos somos uma vergonha e motivo de piada! - Continua dizendo o homem - Liderados por uma frágil e delicada mulher mais uma vez, dessa vez pior, uma garota!
- Uma garota de dezoito anos não está pronta para governar um país. O certo seria esperar até o casamento acontecer para ser coroada regente, com um marido ao seu lado colocando ordem, estaria cumprindo seu papel perfeitamente. James regeria por fim como superior dos dois reinos e, se dermos sorte, o próximo herdeiro nascerá homem!
- Pondo um fim nessa maldição de linhagem e com a vergonha de nosso país. Até o dia chegar, nossa rainha apenas terá que se manter sentada no trono pacientemente enquanto lidamos com os assuntos políticos de fato. O que mais iria querer? Fazemos o trabalho pesado enquanto ela fica sentada e comportada como uma boa dama.
Eleanor encarava a porta com os olhos arregalados e o coração acelerado, a mão parada estendida para a maçaneta da porta parecia tão distante agora...Passou a noite pensando antes de dormir o que fizera de errado para ter recebido uma vaia, e naquele momento entendeu tudo perfeitamente.
Era nítido! O problema não era em si ela.
O problema estava em ser mulher. Uma mulher que lidera uma nação.
- Mas veja bem... - Uma voz mais jovem fala dentro da sala fechada - As rainhas mesmo passando por dificuldades e traumas, lidaram com elas e nos levaram até a Bravença que conhecemos hoje. A rainha Cecília por exemplo, viu sua mãe ser assassinada em sua frente quando foram encurraladas no labirinto pelo inimigo, e tudo aconteceu depois de saber da morte do rei no campo de batalha. Mesmo assim seguiu firme pois precisávamos de esperança para continuar lutando. Tivemos a rainha Catarina - O jovem continua dizendo - Seu decreto de acolher dez crianças de cada orfanato todos os anos para servirem no castelo depois das guerras, ajudou muitas crianças que perderam os pais vítimas das guerras e diminuiu a lotação dos orfanatos nas províncias...
- Onde quer chegar com esse raciocínio? - Pergunta o homem impaciente.
- Quero dizer que...Por mais que sejam mulheres...mantiveram Bravença forte. Os de fora podem zombar de nós como quiserem, mas nunca saberão o suor e lágrimas que nossas rainhas derramaram para manter nosso povo.
"Ainda havia esperança" pensou Eleanor ao ouvir o jovem dizer indo contra os homens que as rebaixavam. E não permitiria que degradassem as memórias de sua mãe e de sua avó daquele jeito. Não sob o seu reinado.
- Desculpe meu atraso, esqueceram de me convocar para esta conferencia repentina em meu castelo - Eleanor diz escancarando as portas da sala de reuniões, os homens se assustam com sua presença repentina e se calam encarando sua majestade desconfortavelmente - Oh não se acanhem com a minha presença, continuem o assunto debatido. Não foi para isso que estamos reunidos?
- M-Majestade - Eleanor encara o homem baixo e pomposo, reconhecendo como uma das vozes que falavam dela - Sua presença aqui nos...nos ilumina grandiosamente.
Eleanor o encara com desdém. Sentia nojo do ser cínico a sua frente. Ela estende sua mão para o homem que se posiciona par beija-la, mas no ultimo momento ela recolhe sua mão e anda até a cadeira do regente na cabeceira da mesa.
- Fingem que não estou aqui, afinal de contas mulheres são apenas utensílios de enfeites, frágeis e estúpidas. Não concordam com meu ponto de vista Barão Damiano, Lorde Lucas e Sir John? - Cita os nomes daqueles que conversavam antes dela chegar. Os mesmos ficaram pálidos e o resto parecia doente os encarando.
A rainha cruza as mãos sob a mesa os encarando desafiadora para cada homem ali presente, esperando ver qual deles teria a coragem de se pronunciar
- Minha rainha, n-não diga tolices, como poderíamos concordar com tal opinião... - Se manifestou o barão de Zapheri em pânico e todos os demais concordam imediatamente.
- É impressionante como os homens falam das mulheres serem frágeis e estúpidas para liderar, quando diante de uma mulher que lidera abaixam a cabeça temerosos por suas vidas deploráveis. Covardes hipócritas, são isso que são! - Diz batendo a mão na mesa e ficando de pé - Deviam ter vergonha de sua atitudes, estão neste mundo por que uma mulher os colocou aqui. Arriscou sua vida para os criar e educa-los para estarem onde estão hoje, ingratos desleais! E eu tenho orgulho de dizer que vou reger assim como minha avó e minha mãe regeram, pois é com as lutas que elas venceram que eu irei vencer a minha.
Todos os presentes encaravam Eleanor pasmos. Essa era a princesa que fugia de responsabilidades, fugia das aulas obrigatórias e saia escondida do castelo para se divertir? Seu olhar duro parecia em chamas.
- E é por esses e demais motivos que estão expulsos de seus cargos - Se senta calmamente vendo as expressões no rosto dos homens.
- Não pode fazer isso! - Esbraveja o barão Damiano.
- Sim eu posso, está vendo essa coroa sob a minha cabeça? Ela me da esse poder. Juntamente com o sangue que corre em minhas veias.
- Nós erguemos Bravença ao lado de seu pai, somos influenciadores do povo! Se nos substituir deixará de ter o apoio dos nobres que sustentam Bravença. A senhorita chegou agora no poder e pensa que por conta de um enfeite na cabeça pode mandar e desmandar? Sem nosso apoio e decisões não passa de uma garotinha mimada e fútil! - O barão perde o controle gritando com ela que pacientemente o encara fazendo pouco caso.
- Guardas! - Chama e os guardas aparecem de prontidão - Levem esses traidores da minha presença, ordenem a remoção de suas terras e títulos, estão banidos do castelo até segunda ordem.
- Sim majestade - Os guardas os seguram os escoltando para fora da sala a contra gosto.
- Praga! Nunca será uma verdadeira rainha! - O Barão grita sendo empurrado pelos guardas
- Deveria me agradecer por não manda-lo para a masmorra ou diretamente para a forca - Por fim eles saem e as portas são fechadas - Mais alguém?
Todos permanecem quietos sem nem ao menos a olhar em seus olhos.
- Maravilha, podemos continuar com a reunião - Sorri docemente - Sim e u sou mulher, e sim eu sou rainha, e me provarei digna de reger Bravença sem ser questionada. Quem não demonstrar lealdade a mim a partir desse momento não será apenas removido da corte, será levado ao calabouço. Zapheri neste momento está sem um barão, deixando um assento vago no conselho privado - Eleanor olha ao redor vendo cada rosto em sua volta, até parar os olhos em um jovem não muito mais novo que ela - Você. Qual seu nome?
- Killian majestade - Diz nervosamente e era só o que Eleanor precisava ouvir, sua voz. A voz que defendeu as mulheres de sua família.
- Perante o conselho privado eu te nomeio o mais novo barão de Bravença - Todos a encaram desacreditados com a decisão repentina sem nem ao menos ter sido discutida.
- Vossa graça esse jovem, é meu aprendiz - Se manifesta o arcebispo apontando para o garoto loiro.
- Vejo nele um grande potencial que sei que é raro se encontrar. Gostaria humildemente que lidera-se Zapheri como barão - Eleanor sorri para ele vendo seu olhos aos poucos se enchendo de lágrimas, o jovem apenas assente emocionado e Eleanor murmura um obrigada.
Assuntos são discutidos, como a quantidade de guardas nas províncias, os impostos, as colheitas de cereais, e debatidos agora na presença da mais nova rainha que prestava atenção a cada detalhe. No fim, Eleanor dispensa a todos que se retiram lentamente.
- Vossa graça, poderíamos conversar a sós? - O bispo pede quando a sala se esvazia por completo. Eleanor aponta para a cadeira ao seu lado pedindo que se sente e assim o homem com a bata o faz.
- Diga-me.
- Venho aqui pela vontade de Deus e do Papa que reside no vaticano, sendo Bravença um reino católico que ajuda nos ajuda fervorosamente, gostaria de discutir o dízimo - Fala diretamente e Eleanor fica pensativa.
- Mas o nosso dízimo foi recolhido há alguns dia bispo, teve algum problema há caminho do vaticano? - Pergunta preocupada, ladrões poderiam ter saqueado a carruagem com o ouro do vaticano.
- Oh de forma alguma, apenas...como posso lhe explicar... - O bispo parecia escolher as palavras a serem ditas - Seu pai o rei contribuía com uma generosa quantia em ouro para o vaticano...santificar seu reinado e Deus apoiar suas decisões.
- Espera o senhor...o meu pai ele... - As peças se encaixavam na mente de Eleanor, mas não queria acreditar nisso - O vaticano pedia suborno para garantir seu apoio a Bravença, e meu pai aceitava?! - Se levanta enojada.
- Majestade acalme-se, seu pai era apenas um homem generoso que demonstrava sua fé por meio de presentes ao vaticano e...
- Então por que vem até mim exigindo a mesma "demonstração fervorosa de fé"? Eu não acredito!
- Bravença não é o único reino católico que nos presenteia se isso ajuda a tomar-lhe uma decisão - Eleanor o encara como se a resposta estivesse óbvia nessa altura.
- Não preciso saber dos outros reinos para tomar minha decisão, não irei contribuir com essa atitude pecaminosa debaixo da casa que se diz de Deus - O bispo muda sua expressão calma e pacifica para uma ameaçadora lançando-lhe um olhar repreensivo em sua direção.
- Sua majestade real sei que pensa que o poder investido a ti por meio da monarquia lhe faz soberana sobre a nação, mas pense bem antes de rejeitar nossa generosa oferta. Pois uma coroa em sua cabeça não se compara aos santos que falam por Deus, ir contra o vaticano no começo de seu poder é uma péssima decisão. Seu pai compreendia bem.
- Eu não sou meu pai - Diz pausadamente se mantendo firme em sua decisão e o bispo presta uma reverencia antes de se retirar.
Totalmente sozinha, ela se joga na cadeira estressada. Esse foi apenas o primeiro dia de muitos que viriam nesta nova posição. Realmente não seria fácil.
- Pelo seu rosto o dia não está sendo tão agradável hein princesinha - James diz entrando sem formalidades na sala de reuniões, Eleanor solta o ar pesadamente e passa os dedos sobre sua têmpora.
- James por favor agora não - Pede exausta.
- Desculpe, pelo visto não irá aceitar mesmo que te chame de princesinha majestade - James fala pensativo - E que tal garotinha?
Eleanor o encara com ódio no olhar. Todos pensavam que ela era apenas uma garotinha frágil que precisava se comportar e acatar ordens de homens egoístas. Olhando James ela só conseguia o enxergar como uma ameaça, uma ameaça ao seu poder, uma ameaça ao seu trono. Não importa o que fizer, quando estiver casada sua palavra terá perdido o efeito e James comandaria ambos os reinos. Isso não poderia acontecer, não iria perder para eles.
- Esse casamento não pode acontecer... - Murmura Eleanor e James a encara intrigado.
- Doce e ingênua Eleanor, não conversamos sobre isto no labirinto naquela noite? - Diz sarcástico.
- Naquela noite eu era uma princesa, agora sou rainha - Diz destemida o encarando. O olhar de James parecia ter um novo brilho agora.
- Então isso significa... - James diz com um sorriso travesso no rosto.
- ...Vamos impedir esse casamento - Foram as palavras da rainha de Bravença com um sorriso torto nos lábios.
E a rainha chegou mostrando como se reina! Espero que tenham gostado. Até o próximo, não se esqueçam de comentar e votar.
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