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Capítulo 13

- As cortinas vermelhas e pesadas no saguão estão penduradas, o tapete vermelho posto, os arranjos de rosas brancas nas mesas arrumados, músicos posicionados, o cardeal está presente para realizar a cerimônia, comes e bebes servidos, convidados chegando - Lillian vai confirmando enquanto passa pelo salão principal, Gaspar atrás dela anotando tudo o que estava pronto - Tudo dentre dos conformes para a coroação, falta apenas...

Lillian encara Gaspar com um ar cansado e Gaspar anota nitidamente sublinhando duas vezes a única coisa que faltava.

A princesa a ser coroada.

Dando duas batidinhas na porta Gaspar espera uma resposta, mas com o falatório das servas dentro de seus aposentos era quase impossível de ouvir algo.

- Princesa respire fundo, estamos quase conseguindo - Se ouve do quarto - Três, dois, um, respire fundo!

Resmungos de esforço são ouvidos junto de gemidos desapontados, Gaspar do outro lado da porta se perguntando se estavam torturando algum pobre coitado ali dentro.

- Puxa! Puxem mais! - Repetiam as moças lá dentro.

- Aaaiii! - A princesa grita parecendo estar com dor, assustando Gaspar.

- Princesa está... - Gaspar abre a porta do quarto alarmado e é recebido com um botão voador no meio de sua testa.

As meninas soltam uma exclamação surpresas e Melissa vai socorrer a vítima que permanecia estático com a mão na testa.

- Oh Gaspar tudo bem? - Pergunta preocupada a loira.

- S-sim princesa. Apenas não estava preparado para essa...recepção calorosa - Gaspar diz encarando o espelho e o circulo vermelho no meio de sua testa - Vim ver como estava sua arrumação para a coroação, falta apenas a senhorita. Porém ao chegar ouvi gritos e resmungos preocupantes.

- Estamos colocando o vestido - Melissa responde tranquilizando, mas Gaspar parece não compreender.

- Não compreendo, onde os gritos e resmungos entram neste processo? - Eleanor o encara com um sorriso paciente no rosto.

- Por um acaso já vestiu um espartilho Gaspar querido? A função dessa mísera peça de roupa é comprimir seus órgãos internos até finalmente se moldarem e estar no padrão de beleza feminina exigida pela sociedade - As moças se juntam novamente duas de cada lado atrás da divisória onde Eleanor estava, cada uma pegam uma ponta do laço e se preparam para puxar - E de uma coisa pode ter certeza Gaspar...

- Encolhe e respira alteza - Pedem puxando  com força. Gaspar assiste a silhueta de sua cintura afinar cada vez mais e arregala os olhos estupefato, Melissa coloca a mão no ombro dele acalentando o homem aterrorizado.

- Minha...primeira lei... - Diz ofegante com os olhos bem fechados e o rosto avermelhado - Definitivamente...

- Terminamos! - Comemoram depois de amarrar e abotoar todos os botões. Eleanor solta o ar e respira fundo com dificuldade.

- ...Será banir esses utensílios de tortura - Completa - Avise Lillian que estou quase pronta, isso é tudo.

Gaspar engole em seco e faz uma reverência se retirando. Agradecendo a Deus mentalmente por ter nascido homem.

Por mais que soubesse que o local estava barulhento pela a agitação no salão principal, tudo que conseguia ouvir parada encarando a imensa porta prestes a se abrir, eram as batidas descompassadas do seu coração. Melissa e Gaspar mexiam os lábios lhe encarando, pareciam estar falando com ela, porém Eleanor não escutava nenhuma palavra sendo proferida. Apenas o som das batidas do seu coração cada vez mais alto perto de seus ouvidos, aumentando cada vez mais, mais, e mais...

- Estarei sempre contigo ouviu? Na alegria ou no perigo - Sua mãe lhe diz apagando as luzes antes de dormir.

- Eleanor? Eleanor está me ouvindo?? - Repetia Melissa impaciente na sua frente.

Sua mãe estaria com ela onde quer que ela fosse, ajudando a se manter de pé e ser firme para aguentar todas as provações que teria que enfrentar como rainha. Rainha de Bravença. Sorri com o pensamento e ergue a cabeça para a coroa não cair.

- Estou pronta - Diz por fim.

Gaspar sorri encarando-a orgulhoso e bate duas vezes na porta dando o sinal para anunciarem sua entrada.

- Apresentamos sua alteza real Eleanor Bellarose de Bravença! - As trombetas soam e as portas se abrem lentamente.

A música clássica toca suavemente pelo salão e as pessoas dos dois lados em pé admiravam a jovem deslumbrante. Usava um vestido verde escuro cheio de detalhes em dourado, com mangas cumpridas e um decote generoso, com o espartilho não deixando vulgar. A cintura bem marcada com a saia com camadas combinaram perfeitamente, atrás a longa cauda rendada se arrastava pelo piso do salão enquanto passava, Melissa segurando o final dela acompanhando.

Parando em frente ao cardeal ela faz uma reverencia respeitosa e todos imitam educadamente.  Melissa solta a cauda do vestido e vai para o lado de Gaspar deixando a jovem nervosa diante do cardeal. O senhor sorri vendo seu nervosismo tentando tranquilizar a moça, de certo modo consegue.

Eleanor se ajoelha na almofada em sua frente e o cardeal retira sua coroa de princesa, entregando para um coroinha ao lado.  Erguendo a cabeça Eleanor lhe estende a mão, ele a pega e coloca em seu dedo o anel com o selo oficial de Bravença.

Melissa e Gaspar assistiam abraçados ambos a beira das lágrimas. 

O menino trás a almofada vermelha com o orbe, o cardeal o pega e o entrega para Eleanor que segura com a mão esquerda. O objeto dourado redondo pesava em sua mão, mas não ao ponto de incomodar. Era o peso da responsabilidade que estavam dando para ela naquele momento.

O cetro com o sol de Bravença em âmbar é dado para o cardeal. Sempre admirou o cetro de ouro e todas suas jóias brilhantes representando cada província de Bravença, e quando o cardeal lhe deu para segurar com suas próprias mãos sentiu-se grata por depositarem fé nela, em sua liderança. Sendo que ela mesma tremia pensando nas tantas decisões que teria que tomar regendo seu reino.

E por último veio a peça mais esperada.

A coroa.

Pegando cuidadosamente a coroa almofadada e recentemente polida para a ocasião, o cardeal a segura em sua frente sorrindo. Ela sorri para ele abaixando a cabeça em seguida. A coroa é posta em sua cabeça amassando alguns de seus cachos feitos para a ocasião, o peso comparado a coroa de princesa que usava era avassalador.

Se levantando com a coroa na cabeça, orbe na mão esquerda junto do anel e seu selo, e com o cetro na mão direita, Eleanor anda até o trono central e se senta olhando para os presentes.

- Longa vida a rainha Eleanor de Bravença! - Proferem felizes batendo palmas.

- Longa vida a rainha Eleanor de Bravença! - Os guardas tiram sua espada da bainha e a seguram em sua frente, se curvando diante Eleanor.

Todos se curvam e Eleanor fica entre sorrir feito boba e segurar as lágrimas de emoção. Percebendo que ninguém iria se levantar até que ordenasse, se levanta imediatamente para assim todos imitarem.

- Rainha permita-me - Gaspar diz pegando seu manto real e colocando sobre ela, os olhos brilhando ao encarar sua pequena Eleanor - Está radiante.

- Obrigada Gaspar.

A música clássica é trocada por uma música mais animada para se dançar e Lillian vem em sua direção extasiada.

- Parabéns alteza, ou melhor dizendo - Lillian balança a mão em  frente ao corpo antes de se curvar, fazendo todo aquele drama costumeiro dela - Majestade.

Eleanor sorri vendo que isso nunca iria mudar.

- Cumprimente os convidados que estão loucos para lhes dar as congratulações, após, a primeira dança será sua e...

- Desculpe-me Lillian, mas resolvi alterar um pouco seus planos - Começa dizendo delicadamente pois mesmo agora sendo rainha, contrariar um plano elaborado pela dama Lillian nunca era uma boa ideia.

Lillian a encara ainda sorrindo sem reação.

- Como disse?

- Não irei ficar para a festa, peça desculpas aos convidados em meu nome por favor - Explica e o sorriso de Lillian aos poucos se desfaz.

- M-majestade é sua coroação! Tem centenas de convidados, pessoas da alta corte, membros do clero, ansiosos para ter um minuto de sua atenção nesse grande dia! 

- São membros da alta nobreza e o clero, irão ter muito do meu tempo durante os próximos longos anos enquanto viver. Quero me apresentar ao meu povo.

- Este é o seu povo! - Retruca Lillian exasperada.

- Não não não, meu povo - Sorri se dirigindo para a entrada do salão ignorando Lillian e seus resmungos.

- Essa é a minha garotinha - Gaspar diz orgulhoso vendo Eleanor se afastando junto de Melissa. Lillian o encara nada feliz.

- A faça-me o favor! As pessoas mais importantes da corte presentes para receber a nova rainha e ela sai sem ao menos uma dança?? E Gaspar trate de cuidar desse furúnculo no meio de sua testa, está horrendo - Sai pisando forte irritada.

Gaspar fica confuso com as palavras da dama e não percebe James parado ao seu lado.

- Gaspar onde a rainha fora? - Pergunta com sua taça em mãos vendo Eleanor se retirar do salão.

- Alteza - Gaspar ia fazer uma reverencia mas James faz uma careta e nega impedindo - A rainha me avisou que iria conhecer seu povo, creio que irá visitar as províncias - Esclarece.

- Então ela irá se divertir longe dos limites do castelo enquanto fico tendo que suportar esses burgueses egocêntricos?? 

- Veja bem alteza... - James entrega sua taça prateada para Gaspar segurar e sai atrás da loira, deixando Gaspar novamente sozinho - Alte...

Vendo seu reflexo na taça percebe que sua testa ainda estava com um circulo vermelho por conta do botão, entendendo finalmente o que Lillian havia dito.

Parando na praça Liberté, as pessoas que por ali passavam encaravam a carruagem real com curiosidade. Apenas membros da mais alta nobreza teriam uma carruagem tão luxuosa, e mesmo assim não se comparava aquela que viam.

- Apresentando sua majestade real, Rainha Eleanor de Bravença - Anunciam os guardas que a escoltavam abrindo a carruagem para a jovem descer. Os rostos dos presentes estampavam surpresa e descrença. O que a recém coroada rainha fazia fora do castelo?

- E o príncipe James de Annikra - James chega cavalgando e para ao lado da carruagem chamando a atenção para si, Eleanor revira os olhos desacreditada que ele a seguiu - Sem formalidades por favor é uma honra conhecer a todos.

Descendo de seu cavalo e dando as rédeas para um dos guardas de Eleanor ele vai ao seu encontro.

- Realmente me segue aonde quer que eu vá não é possível - Reclama diante daquele sorriso irritante que sempre tinha no rosto.

- Com saudades amor? - Sua cara de repulsa responde por si só - Então ia me abandonar no meio daqueles esnobes enquanto passeava pelas províncias? Isso não se faz.

- Pensei que estaria bem em ficar com seus iguais príncipe James - Responde arisca caminhando até a estátua de seu bisavô.

- Afiada como sempre.

- Irritante como sempre. Se for para me acompanhar seja um bom James e não me atrapalhe certo? - Eleanor diz como se estivesse educando uma criança de quatro anos e James faz cara de tédio.

- Isso seria uma ordem direta da rainha de Bravença? - Ergue uma das sobrancelhas questionando.

- Pode apostar que sim.

Quando param em frente a estátua as poucas pessoas presentes param e se curvam.

- Por favor queiram se levantar, sou bravence e humana como vocês - Pede educadamente vendo os rostos se erguerem - Estou aqui hoje para celebrar minha coroação com vocês, meus súditos, os verdadeiros bravences que compõe nosso reino. Irei passar um tempo em  cada província e me ligar mais a cada um. Espero que me recebam em seu cotidiano, pois estou aqui para fazer meu melhor por esse reino.

Aplausos sãos entoados entusiasmados com a notícia.

- Pelo visto vamos visitar as quatro províncias de Bravença então. Por onde começamos? - Pergunta James e Eleanor sorri animada. Iria ver seus súditos pela primeira vez como rainha

Agora é real oficial, Rainha Eleanor de Bravença. Próximo capítulo, conhecendo um pouco as províncias! 💛👑











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