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Capítulo 10

As luzes do quarto estavam apagadas e a princesa dormia tranquilamente em sua cama. O dia mal havia clareado por completo e os guardas já rondavam os corredores trocando de turno, e servos da cozinha se colocavam de pé para fazer os preparativos para a refeição matinal da realeza. Porém o dia seria diferente dessa vez, a começar pela manhã.

As portas do seu quarto se abrem jogando um feixe de luz em seu rosto, uma sombra aumenta vindo em sua direção e os sons de saltos batendo contra o piso de madeira começam a despertar a jovem. Piscando várias vezes com a vista ainda embaçada por conta do sono, ela vê a figura parada em sua frente a encarando.

- Aaah! - Nesse momento as velas no candelabro da cômoda ao lado de sua cama são acesas uma por uma e Eleanor pode ver o rosto da rainha Maria de Annikra bem produzida ao seu lado - R-rainha Maria?

- Te acordei criança? Perdoe-me estou acostumada a acordar antes dos primeiros raios de Sol surgirem - Explica e Eleanor puxa sua coberta até a altura do pescoço cobrindo sua camisola. Um guarda aparece na porta meio constrangido e faz uma reverência breve.

- Sua majestade a rainha Maria de Annikra deseja uma conferencia com a alteza - Diz encabulado - Diz não poder esperar.

- Percebo... - Eleanor fala encarando a rainha ainda de modo confuso. Maria acena para ele se retirar e assim o faz - Que surpresa repentina rainha Maria, tinha voltado para Annikra logo após o noivado para resolver assuntos que requeriam sua presença. E agora está aqui...em meus aposentos...neste exato momento...

- Oh perdão pela invasão de privacidade, pensei que já estivesse acordada e disposta a essa hora. Temos muito o que fazer. Irá aprender comigo a como se portar como esposa consorte  - Maria sorri orgulhosa e Eleanor abre a boca pra dizer algo, porém a fecha novamente ainda surpresa - Antes de eu ser regente de Annikra meu pai era soberano, e minha mãe como esposa consorte me mostrou como uma dama nesse cargo deve se comportar. Auxiliando seu rei e também marido quando necessário. Absorva bem meus conselhos e será formidável.

- Mas...mas o padre nem tocou o primeiro sino e... - Terminando de pronunciar suas palavras o sino da igreja é soado e Maria sorri se levantando.

- Se vista, temos muito o que fazer se quisermos que você se torne uma rainha um dia. Ensinarei tudo o que sua mãe não teve tempo de te ensinar, isso eu garanto - Falando isso ela saí passando por Gaspar e Melissa que acabavam de adentrar no cômodo intrigados com a presença da rainha.

Fechando a porta Melissa corre e se senta ao seu lado da cama curiosa.

- O que a rainha de Annikra e sua futura sogra fazia a essa hora em seu quarto? - Indaga e Eleanor da de ombros ainda pensativa com a conversa entre as duas - Soube que ela acabou de chegar, pelo visto veio direto aos seus aposentos.

- De fato, parece que a rainha está interessada em conhecer a futura nora. É completamente normal, não se preocupe princesa - Gaspar lhe assegura vendo o seu olhar distante - De qualquer forma tem que se vestir para a missa da manhã, seus compromissos de hoje são resumidos a ir a missa e depois comparecer a uma reunião entre as duas famílias.

A jovem suspira.

- Bellarose e Leonel. Nunca pensei que um dia estaríamos juntos novamente depois de quarenta e cinco anos de independência, e agora ela vem a mim tentando me ensinar a como ser uma esposa consorte? Não passou em sua mente que como herdeira de Bravença eu poderia ser a regente e James o consorte?  Não sei o que esperar dessa reunião hoje. Cordeiros indo para o abate é isso que James e eu somos entre eles - Eleanor diz perdida em pensamentos, seu futuro sendo um deles.

Melissa segura sua mão e a acaricia levemente.

- Dará tudo certo, tenha fé - Eleanor sorri agradecendo Melissa - Agora está na hora da sua loirice real se vestir para missa e pedir perdão pelos seus pecados.

Eleanor a encara indignada com essa acusação.

- Pecados? Eu sou uma santa - Melissa ri com gosto e Eleanor lhe joga o travesseiro em resposta - Gaspar diga para ela que sou uma santa.

- Serei demitido se não dizer? - Pergunta achando graça da princesa chateada. Eleanor lhe joga um travesseiro também mas o mesmo o pega no ar.

- Ingratos eu sou ótima com os dois e é assim que me tratam? Terá volta! - Ameaça rindo.

Depois de ouvir várias palavras em latim proferidas pelo padre sem entender nada, a realeza se dirigiu para a biblioteca e fecharam as portas. Eleanor não queria mais uma reunião na sala de reuniões que até poucos meses mal frequentava e agora ia constantemente para irritantes reuniões sobre seu casamento. O clima acolhedor da biblioteca amenizava sua tensão, mas  os olhares lançados em sua direção pela rainha não era tão reconfortante.

- Com todos reunidos podemos tratar do assunto que mais importa depois do noivado, a data oficial do casamento - Eleanor suspira ouvindo as palavras de seu pai - Sabemos que a notícia voou pelos dois reinos e quanto mais rápido for realizado, mais rápido nos fortificaremos.

- Concordo plenamente. Forneceremos soldados como garantia da aliança de Annikra e Bravença, creio que o dote da princesa já está sendo tratado - Ricardo confirma e Maria coloca um pequeno sorriso no rosto - Irão nos ajudar nos prejuízos que fizeram ao nosso país na guerra.

- Bravença também foi muito afetada pela sede de sangue dos Annikranos majestade - Responde na mesma altura o rei Ricardo relembrando das guerras. Eleanor e James engolem em seco com o rumo que a conversa estava tomando.

- Suas tropas escassas depois da independência não souberam defender a própria nação contra nossos exércitos grandiosos, é realmente uma pena, muitas vidas teriam sido poupadas - Maria fala com empatia pela perda das vidas de Bravences, porém seus olhos não demonstravam o mesmo.

- Sim infelizmente. Muitos Annikranos tiveram a vida levada também...se pelo menos o rei Filipos não fosse tão ganancioso extorquindo cada tostão de seus súditos já falidos, o povo não teria se revoltado e encadeado uma revolução - Ricardo e Maria se olhavam fixamente, Louis desconfortável do lado da esposa, Eleanor com as mãos suadas de nervosismo e James quieto encarando a mesa.

- Só falta nos dizer que o grande salvador da pátria foi Frank Bellarose o patriarca da família de sua falecida esposa e fundador de Bravença que liderou os rebeldes rei Ricardo, ou devo ter entendido errado? - Ricardo percebe onde ela está querendo chegar e sorri amistoso se corrigindo.

- De forma alguma rainha Maria, perdoe-me se minhas palavras deram a entender desse modo - Eleanor solta o ar aliviada e parece que um peso saiu dos ombros de James ao seu lado - Sei que seu avô não teve culpa pelas centenas de mortes causadas pela guerra, e muito menos seu pai pelas crianças famintas em ambos os reinos depois de cancelar o acordo comercial de cereais entre os reinos.

A jovem sabia, sabia que isso não daria certo. As duas famílias sempre se odiaram depois da história entre elas e um casamento não seria capaz de mudar isso. Então, será que o casamento seria cancelado finalmente? A perspectiva dessa possibilidade enchia seu coração de alegria e esperança. Mas se o casamento fosse cancelado por esses motivos as chances de uma nova guerra ocorrer era imensa. Estaria ela disposta a sacrificar milhares de vidas de ambos os reinos em prol da sua felicidade?

Batidas na porta são ouvidas e Félix pede licença se curvando.

- Perdão interromper essa importante reunião política majestades, vim apenas informar ao rei Ricardo que eu e meus homens estamos gratos pela estadia nos dada no castelo e que iremos nos retirar para ir atrás do homem corrupto que está desviando dinheiro dos impostos - Eleanor se entristece com a notícia porém permanece calada, Ricardo assente.

- Rainha Maria e rei Louis, este é o Lorde Félix Cullbert, o maior caçador de recompensas da região. Leal a mim e com sangue Bravence correndo em suas veias, criamos ele no castelo junto de outros órfãos deixados pelas guerras - O apresenta e Maria da um breve aceno com a cabeça.

- Encantado - Félix diz - Espero reencontrar vossas graças novamente no casamento da princesa - O estômago da princesa se embrulha ao ouvir ele proferindo essas palavras.

- Claro Lorde, uma pessoa amigo da nobreza como o senhor de certo será convidado para a cerimônia - Uma criada entra trazendo vinho consigo para servi-los e coloca as taças na mesa depositando a bebida - Lorde Félix, por que não bebe um pouco conosco? Deve viajar bastante se de o prazer de um descanso - Sugere a rainha.

- Não sei se devo essa é uma reunião privada - Sorri Félix tímido.

- Eu insisto, nos faça companhia Félix - Ricardo diz puxando uma cadeira para ele e Félix acaba aceitando para a alegria de Eleanor.

- Proponho um brinde então - Félix diz erguendo sua taça prateada e dispensando a serva para servir o vinho pessoalmente a todos - Aos noivos e a uma nova era entre nossos povos, que o passado fique para trás e um futuro brilhante nos venha! - Entrega as taças de vinho aos reis que erguem as taças junto dele.

- Aos noivos e a nova era! - Repetem felizes e Eleanor e James brindam quietos diante daquele clima festivo.

- Estamos no início do verão em breve vamos ter nosso festival em comemoração a estação e a colheita, o casamento pode ser feito depois - Um arrepio passa por Eleanor amedrontada, tão rápido assim?

- M-mas pai, o senhor não tem uma reunião em Clareah para ir? - Lembra Eleanor de imediato e o rei parece se lembrar.

- Sim é verdade, passarei alguns dias em Clareah por conta disso e não terei tempo para o casamento - Ele toma um gole do vinho refletindo - No outono?

- O príncipe todo outono visita minha prima Amélia em sua fazenda ao sul de Annikra, um momento de descanso de suas responsabilidades como príncipe - Louis explica e Eleanor arqueia as sobrancelhas e esconde um sorrisinho sarcástico atrás de sua taça, que responsabilidades? James mal levava seu garfo a boca.

- Não poderia adiar para o próximo quando já estiverem casados? - Sugere Ricardo e James nega sem pensar duas vezes.

- Lamento mas não posso, é quase uma tradição familiar nossa. Todo outono passo um tempo na casa de meus primos para descansar - Maria revira os olhos e bebe do seu vinho, mas não contesta seu filho.

- O inverno então - A rainha já estava perdendo a paciência, o casamento tem que ocorrer rapidamente para o bem dos dois reinos.

- No inverno em Bravença neva e doamos mantimentos para as províncias poderem se manter já que a grande maioria trabalha na área da pescaria e agricultura, impossibilitados com a neve. Não seria uma boa época para esbanjar recursos em um casamento com tantos necessitados.

Eleanor concorda freneticamente.

-  A primavera seria a estação adequada então - Félix opina - Depois do festival de primavera. As chuvas nessa época são menos frequentes em comparação as outras estações e o clima é agradável para todos, tanto da nobreza quanto os plebeu convidados.

- Esplêndido! A estação do amor, melhor estação impossível - A rainha celebra - Terá o festival e o desfile entre as províncias, momento ideal para anunciar a data do casamento para o povo. Que será...

- No décimo quinto dia de primavera é uma boa data, terá passado o festival e o desfile mas o clima festivo ainda estará presente. Todos a favor? - O rei pergunta e James e Eleanor se entreolham esperando a confirmação de todos.

- Assim seja - Proferem os presentes levantando suas taças felizes. Uma aliança estava feita com a promessa o casamento.

- Os noivos estão quietos com a pronunciação do casamento, o que há James? Nunca o vi tão quieto perto de uma moça bonita como Eleanor - Brinca a rainha e os reis riem, Eleanor mexe quieta em seu vestido de baixo da mesa e James faz pequenos movimentos com o dedo na borda de sua taça.

- Décimo quinto dia da primavera então, se está tudo resolvido creio que a reunião tenha acabado - James diz se levantando e Eleanor faz o mesmo crendo que todos iriam se levantar junto deles.

- Verdade a reunião terminou -Confirma a rainha, Félix começa a se levantar também - Mas sendo uma reunião sobre um casamento seria bom terminarmos de  outra forma.

- Outra forma? - Repete James não entendendo o que sua mãe queria dizer, a rainha sorri de lado com sua reação.

- Beije sua noiva filho, que maneira melhor de terminar uma reunião de casamento do que um beijo entre os futuros cônjuges?  - O coração de Eleanor parou por um momento e acelerou rapidamente logo após, seu rosto ficando claramente vermelho - Não fique envergonhada pequena, está confirmado a data do casório. Em breve será propriedade de James, isso irá acontecer mais cedo ou mais tarde. Por que não neste momento?

- Beije a moça filho, que o casamento de vocês tragam muita felicidade para nossos reinos - Louis diz e James olha de Eleanor para a mãe que esperava uma ação.

- Vamos acabar logo com isso - James sussurra chegando perto de Eleanor e segurando seu rosto com delicadeza.  Eleanor não sabia o que fazer, estava apavorada. Só conseguia pensar em uma coisa enquanto James se aproximava devagar até seus lábios: "Félix está aqui, Félix está aqui, Félix irá ver, meu Félix irá ver!"

Com seus lábios quase se tocando Eleanor se encolhe e fecha os olhos temerosa, mas o beijo é interrompido por um barulho a fazendo abrir os olhos assustada e se separarem.

O rei estava caído no chão desmaiado.

- Ricardo! - Louis chama se agachando ao seu lado - Ricardo está me ouvindo?!

- Guardas acudam o rei! - Grita Maria para os guardas que esperavam do lado de fora da biblioteca. 

- O rei está desmaiado chamem um médico, já! - Félix diz na direção dos guardas e servos próximos.

- Pai! - Eleanor se ajoelha ao seu lado tremendo.













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