Capítulo 19
Depois do forte gemido veio um breve silêncio. Regado de lágrimas e sorrisos. Todos em volta pareciam encantados com aquele ser inofensivo e angelical.
— É uma bela menina — disse a parteira assim que entregou a filha para a mãe.
Maite olhou da melhor maneira possível para aquela nova vida oriunda de suas entranhas. Eu estava muito emocionada com aquela cena e com a maternidade que se iniciava.
Posicionei-me bem ao seu lado para não perder nem um segundo sequer. O pequeno rosto carregava uma expressão tênue, ao mesmo tempo em que clamava por alimento. Sua mãe logo a posicionou em seu seio esquerdo e a menina o sugou com avidez.
— Ela é linda — retrucou Annie, chorosa.
— Meus parabéns, May. É perfeita! — Falei com os olhos mareados.
— Muito obrigada meninas — nos respondeu exausta — Adoro muito as duas. E Christian, onde está?
Antes que ela insistisse na pergunta, Mercedes aproximou-se de todas nós com as mãos cheias de panos limpos e quentes.
— A senhora precisa se limpar e arrumar-se. Em seguida chamamos seu esposo.
Ainda suja de sangue e líquidos estranhos ela não relutou. Afirmou com a cabeça e fomos ajudá-la durante todo o processo.
Após lavra-se, Maite optou por um belo vestido salmão, com um laço que prendia abaixo do busto e soltava no restante, deixando-o rodado. Arrumamos o seu bebê com um vestido amarelo, touca e sapatinhos. Todos de lã trazidas de algum país tradicional.
— Vou descer a visar aos homens que podem subir para vê-las.
Avisei antes de sair e procurá-los. Ao me aproximar da sala principal visualizei Christian de um lado ao outro, sem parar. Caminhava inquieto com uma expressão aflita, ao contrário de Alfonso e Christopher que permaneciam sentados e tranquilos.
Notando a minha presença, Christian correu até minha direção segurando quase que imediatamente os meus ombros.
— E então?!
— Pode ficar tranquilo. Sua menina nasceu muito bem — seu semblante atenuou — Elas o esperam.
O homem correu por entre os degraus para o tão esperado encontro sem olhar em volta. A respiração forte e inconsistente foi audível mesmo estando longe. Ele estava ansioso e agitado com motivo. Era sua primogênita e vinda da mulher que tanto amava e admirava. O relacionamento dos dois sempre me cativou. Ambos eram ligados de uma forma tremenda, e eu os compreendia plenamente, porque meus olhos naquele exato momento fitavam a figura masculina que me representava o mesmo.
Christopher se aproximou segurando minha cintura e Alfonso fez o mesmo com Anahí quando ela se juntou a nós três. Subimos juntos.
Novamente no quarto, observávamos Christian e Maite com ternura. Eles pareciam encantados a cada movimento que a bebê fazia. Era uma bela visão.
— Já pensou no nome dela, May?
— Não — se repreendeu assustada — Não pensei nisso. Meu amor, tem alguma sugestão? — perguntou olhando para Christian sentado ao seu lado.
— Quero um tão bonito quanto ela. Vejamos... — ele se pôs a pensar — Pode ser algo que lembre o seu ou o meu.
— Boa ideia. Pode ser... Perroni. O que acham? — sugeriu
— É um nome um tanto estranho — Opinou Christopher sem pudor.
— Christopher! — repreendi seu comentário.
— Meu anjo, eu só falei a verdade perante o que minha irmã solicitou — rebateu dando de ombros — Mas, não é tão feio.
Todos sorriram suavemente pelo comportamento nada incomum dos Casillas.
— Não dê ouvidos a seu irmão, Maite. Este nome é perfeito! — rebateu Anahí.
— Também concordo. Meu esposo só não aprendeu a moldar as palavras antes de lançá-las — Christian e Maite deram mais risadas com a minha explicação.
— Nem me diga. É meu irmão, Dulce, o conheço como ninguém.
— É uma mera impressão ou todos resolveram criar uma assembleia contra a minha pessoa?
Gargalhamos encerrando o assunto. Todos jaziam felizes pela chegada da nova integrante a família Casillas.
****
Decidimos sair do quarto para deixar que o casal descansasse. Anahí e Alfonso se despediram e foram para seu quarto, Christopher e eu fizemos o mesmo e fomos ao nosso.
— Que felicidade não é — ressaltou meu marido enquanto removia a camisa.
— Muita — concordei — Fico tão contente por Maite. Ela é uma pessoa que merece tudo o que tem, e é de um coração único.
Minha emoção fez uma lágrima se arrastar pelo meu rosto, que logo enxuguei.
— No que pensa? — insistiu ao notar meus olhos fixos no nada.
Encostei-me a beira da cama, analisando o belo ser que saia do banheiro com o peitoral despido.
— Já pensou em como será o nosso filho?
— Muitas vezes — respondeu aproximando-se de mim. Sua mão me acariciou o rosto com afeto — Quero que se pareça contigo. Seus olhos, seus cabelos...
Ruborizei permanecendo em silêncio com sua voz inebriante.
— Veja pelo lado bom — continuou — Nós temos que permanecer tentando.
Sua mão agarrou minha cintura com segurança, fazendo um movimento agressivo e excitante.
— Nunca deixa de ser ousado, não é?
— Somente espontâneo.
— Sei bem o quão espontâneo és, meu esposo — de surpresa ele me agarrou roubando um beijo.
Céus, eu nunca cansava deste homem. Era absurdo.
Nada podia se comparar aquilo. Éramos feitos para compartilhar nossos corpos de uma forma sobrenatural. Caminhamos juntos pelo quarto até a cama, e ele me jogou sobre ela fazendo-me sorrir ao lembrar que tínhamos compromissos mais tarde.
— Vamos nos aprontar — interrompi sua investida com humor — Quero que me leve até a cidade hoje. Tenho coisas pendentes.
— Prefiro ficar aqui deitado com você — resmungou.
— Você também precisa trabalhar, meu amor. — Seu olhar pareceu surpreso e animado.
— "Meu amor" — repetiu — Você nunca me chamou assim. Deve querer mesmo sair.
— Como é maldoso! Declarei-me a você ainda mais intensamente e uma simples frase o choca?
Imitei sua expressão cômica fingindo desgosto. Ele preparou suas mãos para uma seção de cócegas, que quase me fizeram perder o ar. Eu não segurei a montanha de risos que se confundiam com os dele. Christopher se divertia com o que estava fazendo em um momento tão descontraído. Ali o leviano estava a milhares de léguas.
Era prazeroso fazê-lo relaxar.
Prontos, chegamos até a carruagem que já nos aguardava na parte de fora da mansão para sermos transportados até a cidade.
****
Estávamos sentados frente um ao outro quando minha expressão reflexiva começou a incomodá-lo
— Você não me disse onde vai — questionou-me.
— Vou visitar minha mãe — ao me ouvir Christopher franziu o cenho, arqueando uma das sobrancelhas — Sei que é estranho, mas ela não deixa de ser minha mãe, e já faz muito tempo que não a vejo.
— Concordo. Deve ir vê-la. Gostaria de lhe acompanhar, mas tenho muito trabalho.
— Falando em ver os pais — pausei receosa, decidindo perguntar — Por que nunca me falou da sua mãe?
Ele fechou a expressão no mesmo instante, dando espaço a um olhar vazio e frívolo.
— Não há nada para falar sobre ela.
— Como não, Christopher. É sua mãe e eu gostaria de saber mais sobre ela — insisti empolgada — Como era fisicamente; seus trejeitos, personalidade. Nunca vi uma pintura dela pela casa.
Segurando meu braço com firmeza ele me interrompeu fitando-me. O susto me fez calar imediatamente.
— Não quero que fale mais esse assunto — o som parecia ranger por entre seus dentes.
Puxei meu braço em protesto e ele pareceu ceder.
— Você nunca vai mudar essas suas oscilações de humor? — Contestei — Perguntei por que acho ter esse direito, mas perdão, percebi que não tenho.
Virei o rosto pronta para ignorá-lo.
— Desculpe, me excedi um pouco — explicou-se pegando em meu braço agora de uma forma tranquila — Espero que compreenda que este não é um assunto agradável.
Aquilo me fez virar novamente para olhá-lo.
— Também não sou a melhor amiga da minha mãe ou de meu pai. Eles sempre tornaram minha vida um tanto complicada. Mercedes era a única que me protegia de tudo. Hoje posso dizer que a única coisa boa que eles me deram, foi à vida, e você. — soltei o ar aliviada — E acredito ser normal querer saber cada vez mais sobre o homem que amo.
— Você tem razão. Eu sou difícil e mesmo assim você sempre tenta entender meu lado.
— Imagino que o assunto pode te incomodar, mas sou sua esposa, amiga, confidente! Quero que consiga confiar em mim — Encostei minha mão em seu rosto com um beijo leve em suas maçãs dando por encerrado o assunto.
Abandonei a ideia de saber mais sobre aquilo até ele se sentir confortável para compartilhar sua vida. Tentei mudar de assunto e iniciar uma conversa voltada aos seus negócios. Christopher amava falar sobre a empresa, colaboradores, exportações e suas funções no trabalho, e mesmo que não compreendesse muito, sempre o escutava atentamente.
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