Capítulo 16
*Versão narrada
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Desde a sua entrada pelos portões de ferro na grande mansão até por fim alcançar a porta da frente da casa, Christopher batia os pés, apressados, tentando controlar sua ansiedade. Sentimentos estrangeiros e incógnitos já nem eram mais algo para ele se importar de sentir, já que desde que Dulce havia entrado em sua vida, um turbilhão de sensações novas brotava diariamente.
Assim que desceu da carruagem, o homem ouviu o som alto e familiar da voz de sua irmã ecoando como uma sirene. Ele não pôde impedir de se alegrar e deixar brotar um breve sorriso.
- Você veio mesmo, meu irmão! - Maitê correu em sua direção, eufórica, pegando-o em seus braços. Sua barriga era bem protuberante, e foi neste momento que caiu em si uma sensação de tempo.
Muito tempo se passou. Pensou ele.
- Eu disse que viria – pontuou para dissipar o sentimento de tristeza que já nascia sorrateiramente - Não podia perder o nascimento do nosso herdeiro.
Ela sorriu para ele orgulhosa da sua maternidade. Christopher estava cansado de ouvir as incontáveis vezes em que sua irmã lhe contava sobre seu sonho infantil "quero casar e povoar essa casa com muitos filhos". Vê-la realizar tudo aquilo o deixava feliz e satisfeito. Mas diferente dela, ele apenas almejava sobreviver o maior tempo possível e o casamento nunca foi uma realidade em sua vida. Mesmo após casar-se com Dulce, e provar a sensação do amor, ele entendia porque sua alma rejeitava tanto aqueles sentimentos. Era difícil amar alguém estando naquela condição.
E o fato dele estar naquele lugar, naquele exato momento, se sentindo como um forasteiro só confirmava ainda mais isso.
Seus olhos se inclinaram para a escadaria ao perceber os passos apressados da mulher loira. Anahí estava acompanhada por Alfonso, a quem ele preferiu não fixar os olhos. Ela abriu um largo sorriso e disse:
- Então vai ter que ficar por mais um tempo.
- Ficar?
- Para aproveitar a oportunidade de conhecer o próximo morador, ou moradora, desta casa – Respondeu acariciando seu ventre com satisfação.
- Você também está gravida? - Indagou surpreso enquanto ela afirmava com a cabeça - Meus parabéns.
Anahí o abraçou com profundidade, feliz. Christopher decidiu que iria corresponder ao seu afago. Naquele momento foi impossível não encarar Alfonso com um olhar analista. Ele queria ter certeza de que o homem compartilhava da felicidade de sua esposa, mas ele não parecia estar ali. Seu olhar era distante, porém de certo modo seu inconveniente inimigo parecia orgulhoso pela gravidez da mulher.
- Como andam as coisas em Madri? - Christian perguntou interrompendo os seus pensamentos assim que soltou Anahí.
- Vão bem – respondeu erguendo-se para ver se mais alguém chegaria ali, contudo, no fundo sabia que ninguém além dos empregados iria vir - Desculpem-me, mas estou um pouco cansado.
Era evidente que todos ali sabiam a quem Christopher buscava a cada segundo com os olhos, seguido de uma decepção compreensível.
- Ótimo – disse Maitê - Vá descansar. Vamos ter muitos momentos juntos.
Sem muitas delongas ele andou para o quarto principal, tirando o casaco enquanto Sebastião terminava de guardar as bagagens no lugar de origem. Com aparência cansada ele liberou o homem e andou até o banheiro. A viagem havia sido mais longa do que ele esperava, e as inúmeras situações durante o trajeto o deixaram com uma sensação de exaustão. Imerso na banheira e em seus pensamentos conflituosos, lavou o corpo devagar, dolorido e contrito.
O Estresse, as lembranças e os sentimento maçantes de tudo o que poderia ocorrer nos dias posteriores deixavam Christopher apreensivo. Estar de volta aquele ambiente era perturbador demais. A Espanha não tinha cheiro e nem cor, mas tudo ali lembrava Dulce. O aroma do lugar, os sais de banho, os produtos sobre a estante, a decoração.
Decidido a não nutrir tudo novamente ele se levantou com pressa tomando em suas mãos o tecido que usava para se enxugar, utilizando-o apenas para tirar o excesso de água nos cabelos. Caminhando para fora do banheiro e esfregando as madeixas com atenção, só se deu conta do que havia acontecido quando o som dos objetos ecoou no ambiente ao caírem no chão.
Christopher elevou a vista e percebeu que não permanecia sozinho. Dulce estava sentada no sofá, bordando, quando ele entrou no lugar sem roupas segurando um pedaço de tecido. Ela estava ruborizada, com o olhar incrédulo, estarrecida ao vê-lo. A mulher respirou fundo e começou a juntar as agulhas e linhas que haviam caído.
Ele não pretendia constrangê-la mais. Em silêncio, cobriu-se e foi vestir algo confortável, retornando ao quarto assim que o fez. Os olhares deles se encontraram novamente, mas para Christopher era como se ainda estivesse nu. Aquela mulher o encarava como se pudesse vê-lo por dentro. Dulce não havia mudado em nada. Para ele a sua face angelical, serena e rubra permanecia imutável. Os cabelos ondulados como fogo naquele momento estavam sendo banhados de luz pelo fio de sol que escapava da fresta da janela.
- Me perdoe - Ela disse como em um suspiro, envergonhada, interrompendo o devaneio dele - Não sabia que estava aqui.
- Eu que peço, desculpas. Devido ao costume, acabei mandando Sebastião colocar minhas coisas em nosso quarto... – após pronunciar aquilo, Christopher não sentiu que eles ainda tivessem algo para compartilhar - Não se preocupe, em instantes me reorganizo no quarto de hóspedes.
- Não é necessário. Este quarto também é seu.
Dulce não parecia se sentir como ele sobre eles compartilharem coisas juntos. Seu coração pareceu mais satisfeito e tranquilo. Christopher não queria sair, apenas respeitar o que sua presença pudesse lhe causar.
- Gostaria de conversar com você noutro momento, agora estou cansado demais e gostaria dormir um pouco - disse posicionando-se na cama.
Ela estava de pé, sem crer que aquele homem conseguiria cair no sono depois de tudo o que havia acabado de acontecer. Christopher sempre demonstrou controle quase absoluto na presença dela. Em poucos minutos ele já não estava mais consciente, adormecendo quase que de imediato após deitar-se.
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