Capítulo 08
Após longos dias havia chegado o tão esperado baile organizado para os mais novos hóspedes da família Galavar. Todos os integrantes, inclusive eu, nos aprontávamos com cuidado aos detalhes. Christopher obviamente por ter nascido homem não precisou de muito tempo para ficar pronto. Ele já nascera pronto.
Mercedes me auxiliava com o bendito espartilho enquanto meu marido terminava abotoar seu próprio colete. Percebendo a falta de força da mulher, e a dificuldade em fechar o acessório, ele se aproximou e a pediu para se afastar.
- Quer ajuda? - A pergunta generosa me fez balançar a cabeça afirmativa. Com certeza ele se sairia melhor.
Christopher puxou os fios com bastante força tornando a minha respiração menos confortável. Suspirei profundamente e deixei que meus pulmões se adaptassem ao novo espaço encurtado. Não existia mulher no mundo capaz de se acostumar com aquilo, mas era indispensável.
- Você realmente precisa disso? - Questionou incomodado com a minha tímida agoniação.
- Claro que sim! Você quer sair com uma mulher mal acinturada? - Ele soltou um sorriso bobo.
- Você já nasceu linda. Essas coisas não fazem tanta diferença.
- Não entende nada de mulheres, Sr. Galavar? Embora ache ruim esta peça é fundamental.
Mercedes, mesmo camuflada no canto do quarto não escondeu seu sorriso. Realmente nossa mais atual relação deixava todos confortáveis ao nosso redor. Quando Christopher terminou de encaixar o último fio e dar o laço eu me virei para ele. O encarei breve e ajustei a gravata desalinhada em seu pescoço.
- Pronto - Finalizei empolgada.
Nós dois estávamos mesmo em sintonia naquele dia.
- Te espero lá em baixo - Pronunciou dando um beijo em minha testa - Vou receber o casal. Eles já chegaram.
Disfarcei a pontada de raiva que senti ao saber que ele ia descer, mas confiei no fato do marido estar ao lado da tal mulher. Ela teria que se conter. Antes de fazer o mesmo que ele caminhei até a cama apenas de peças intimas e fui abrir a caixa com o vestido que Christopher havia me dado. Assim que estirei o tecido foi inevitável não o vislumbrar sem encanto.
Era mesmo uma peça exclusivamente feita para mim.
O vestido era cor de vinho, com uma fina alça de renda, bem marcado na cintura e rodado em muitas camadas. Todas na medida certa. Não era extravagante ou vulgar, muito menos mal costurado. Eu não o tinha visto até então a pedido dele.
- Oh céus! É divino, menina! - Mercedes deu as caras, bem do meu lado elogiando ao me vestir.
- Christopher tem mesmo um bom gosto. É inegável - gratifiquei feliz pela regalia, calçando as luvas negras que iam até os cotovelos.
Já pintada e vestida, prendi o cabelo no alto deixando os fios ondulados caírem sobre os meus ombros e busto, finalizando com a tiara de diamantes.
****
Cheguei na sala de visitas ao mesmo tempo em que minha querida irmã, mas as nossas reações foram bem diferentes. Então tive que ouvir as declarações de ambos.
- Christian! - Gritou ela correndo na direção do marido lhe arrancando um abraçando eufórico e cheio de beijos.
Ambos pareciam desacreditados do próprio rosto. Decidi que não me envolveria na conversa. Naquele momento eles precisavam se apreciar um pouco mais em privacidade.
- Meu amor! Estava morrendo de saudades suas!
- Onde se vestiu? - Perguntou intrigada, notando que ele estava a caráter, mas que havia acabado de descer da carruagem.
- Os outros e eu nos aprontamos no meio do caminho. Cada um em suas carruagens, mesmo naquele espaço minúsculo. Acredite, meu amor, foi uma bela aventura – Explicou-se - Sabíamos de um possível atraso.
- Imagino você sendo assim, tão alto, obrigado a se comprimir para pôr as peças por etapas árduas - Riu.
Christian não parecia dar atenção ao comentário da mulher. Ele a observava de maneira saudosa.
- Você está linda - Concluiu me decifrando sua feição anterior.
- Que bom que gostou. Dulce que me ajudou a escolher.
E então a conversa chegou até mim. Eles automaticamente pareciam ter me notado na hora em que o nome da minha esposa surgiu naquela sala.
- Isso mesmo. Christopher. Onde está sua esposa? Seu pai me falou bastante dela.
- Imagino os comentários dele.
- Não foram ruins - enfatizou.
- Eu sei que não, mas também sei que ele só lhe disse o que ganhamos com todo o acordo.
- Inegável - confirmou Christian - Não era segredo os nossos reais interesses comercias com aquela união, porém, ele disse que ela é muito bonita e que não foi nem um sacrifício.
- Linda mesmo - completou Maitê.
Rolei os olhos para os dois que se entreolhavam como dois adolescentes unindo outro casal e mudei de assunto.
- Ela ainda não está pronta, mas logo vai descer e você irá conhecê-la.
- Você vai adora-la, Christian.
Em meio as últimas falas de Maitê ouviram-se vozes e passos agitados na direção do nosso cômodo. A única voz que reconheci foi a de timbre feminino, a final, aquela era uma voz difícil de esquecer.
Os mais novos hóspedes entraram na sala e Anahí foi a única a se locomover com naturalidade. A mulher estava muito bem vestida, e convenhamos, ela era uma bela mulher. Sua beleza era imutável. Tinha sua cintura acomodada em um vestido azul marinho.
Com o mesmo sorriso atrevido de sempre ela se soltou dos braços de seu marido caminhando na minha direção e agarrando-me em um abraço ousado sem dar muito valor a aparência dele para os demais. O homem tinha um semblante sério, sem nem um sorriso e não parecia feliz. Quem ficaria naquela situação? Mas, eu odiava ser encarado de forma superior e ele estava fazendo isso.
Respondi a intensidade do olhar a altura e revidei a antipatia dele com dureza. Eu não era alguém de muitos amigos. Talvez aquele não fosse se tornar um.
- Christopher! Quanto tempo! - Anahí interrompeu nossa troca com sua energia e fala autêntica - Está mais bonito que da última vez que o vi.
- Gentil como sempre - Ela era sem limites, imprudente, mas parecia mais amadurecida.
Eu queria acreditar nisso, porque não era um bom momento para conflitos. Entretanto, um fato não me passou desapercebido. Mesmo dizendo essas coisas na frente do marido ele claramente não parecia se importar. Tentei compará-lo a mim quando pensei que se a situação fosse com Dulce, aconteceria o oposto.
- Como você está? - Perguntei, afastando o próprio pensamento.
- Pode-se dizer que bem - sua expressão não combinava com a resposta - ah, desculpe, este é meu marido.
Ele se endureceu quando ela nos apresentou formalmente apertando a minha mão com certo confronto. Eu não me importei novamente. Um sujeito estranho a mais ou a menos não faria diferença naquela casa.
Anahí olhou para todos os lados, insinuando sua busca, até voltar a vista para mim com ar de deboche.
- E sua esposa, não vai descer? Quero conhecer essa mulher tão famosa - ela enfatizou sem medo.
- Acho que vou dar uma olhada lá em cima para saber se ela já está pronta, estamos muito atrasados agora - Ao me mover para subir, fui interrompido pela fala autoconfiante de Dulce que chamou a atenção de todos.
- Não é necessário, meu amor, já estou aqui.
****
Aqueles degraus foram como o caminho do meu trinfo. Desci cada um deles bem devagar e com a elegância que o vestido exigia. O meu olhar era fixo e unicamente direcionado a Christopher, e ele fazia o mesmo, sem disfarçar o fato de estar deslumbrado comigo. Seu sorriso era orgulhoso, satisfeito, típicos de um homem que sabia o valor de um belo par de curvas. Galavar era um apreciador do sexo oposto. Pela primeira vez aquilo me agradou, porque era por mim que ele se deleitava atualmente. Fiquei rubra pela situação e pela certeza dos pensamentos luxuriosos que deviam pairar naquela mente leviana.
Depois de sofrer os efeitos do meu marido movimentei a vista e percebi que todos me observavam. Fui reparando de um por um sem desfazer o sorriso cortês. Minha cunhada estava ao lado de um homem bonito, loiro e alto, que na mesma hora reconheci como Christian. Continuei me direcionei até notar uma mulher que também não tirava os olhos de mim. Lógico que aquela era Anahí. Minhas pernas quase tremeram de raiva pelos elogios feitos a ela não serem exagerados. A maldita era mesmo muito bonita, até mais do que minha imaginação pudesse esboçar. Ela tinha longos cabelos loiros como fios de trigo e era magra como o próprio caule.
Naquele minuto eu me imaginei de várias formas, de muitas maneiras, mas em nem uma delas conseguiria prever aquela fatalidade.
O último olhar, o último seguimento da minha atenção foi para o derradeiro recém-chegado. Eu ainda estava na metade da gigante escadaria quando meus olhos cruzaram com um homem e o sorriso em minha face morreu. Petrifiquei de uma maneira horrenda. O que Alfonso estava fazendo ali? Aquela pergunta não fazia sentido porque nada em mim queria acreditar. Era uma ilusão ou uma peça da vida, mas nada soava bom.
Olhei para Christopher imediatamente notando que ele estava com o semblante confuso e pelo desespero comecei a me sentir fraca demais, tanto que nem pude me apoiar nas próprias pernas. Elas estavam hesitantes, bambas. Minha vista começou a embaçar e eu previ o desfalecimento de meu corpo. Tentei me segurar no vão da escada enquanto a movimentação das pessoas se tornava atordoada.
- Dulce! - Gritou Christopher bem a minha frente.
Ele me pegou pela cintura e em alguns segundos fui parar em seus braços.
- Venha comigo, Mercedes. Traga água para o quarto!
Mesmo com todo o peso, Christopher conseguiu subir as escadas numa rapidez ágil. Assim que chegamos ele me sentou na cama e me encarou angustiado.
Embora que quisesse chorar, o meu choque não permitiu mais nem uma reação além das muitas perguntas em meus pensamentos. - Não podia ser ele. Não agora. Não podia - Meu nervosismo foi o culpado do quase desmaio.
Eles estavam um do lado do outro sem saber o perigo disso. Se Galavar descobrisse a identidade de Alfonso seria uma tragédia. Uma com fim desastroso.
Ele cometeria um crime.
- Como se sente? - A voz do meu marido me deixou ainda mais deprimida.
Ele pegou o copo de água e o colou sobre o criado mudo, voltando a atenção para mim.
- Já me sinto melhor - menti - Deve ter sido o espartilho. Ele estava bem apertado.
- Eu lhe disse para não usar essas coisas.
- Me desculpe pela gafe.
- Não diga isso, meu anjo. O importante é que está bem. A última coisa que me importa agora é a sua etiqueta.
- Estou melhor, não se preocupe - Afirmei pegando em seu rosto e o olhando a fundo.
O que vou fazer?
- Se você não estiver disposta, nós podemos ficar. Eu me desculpo com os convidados e ficamos aqui a noite toda - Eu queria tanto ficar. Nem que fosse para fugir por algumas horas, mas eu havia prometido a Maitê que iria participar.
Aquilo era muito importante para ela, além das muitas especulações que poderiam surgir.
- Não. Eu já disse que estou bem. Não podemos fazer isso com as visitas - me levantei pegando em seu braço, respirei bem fundo, e tentei manter as emoções intactas.
Aquela noite seria longa.
Antes de sairmos do quarto, meu marido me analisou e sorriu mais uma vez.
- A propósito. Você está lindíssima.
Retornamos para a entrada da mansão, enlaçados como um verdadeiro casal. Maitê, preocupada veio às pressas para perto de mim assim que me viu.
- Dulce, O que houve?
- Não se preocupe, foi apenas um mal-estar comum - Justifiquei mantendo a mentira - Peço desculpas a todos pelo acontecido - busquei pôr firmeza na voz.
Eu tinha que ignorá-lo, porque ao menor sinal Christopher poderia desconfiar de algo e eu não queria pensar nisso.
- Acredito que todos já sabem quem sou. Me chamo Dulce Monttier Galavar, esposa de Christopher - me apresentei - Você deve ser Christian? - insinuei direcionada ao loiro.
- Eu mesmo. Prazer Sra. Galavar.
- Somente Dulce, por favor.
- Olá! É um prazer enfim conhecê-la! - A mulher se meteu entre nós e me deu um abraço, sorrindo de canto com implicação. Aquilo era forçado demais, ignorei - E este é meu marido.
Na tacada final, ela o apresentou e as coisas se encaixaram. Alfonso se aproximou de mim sem desviar a vista por nem um milímetro sequer. Segurando na minha mão ele a beijou lentamente, cordial como um lorde.
- Prazer. Senhora.
- Vamos todos, já estamos em cima da hora - Rebati desesperada. Puxando meu braço rapidamente.
Christopher segurou minha cintura outra vez me colocando ao seu lado. Andamos até as carruagens em direção ao salão e por algum tempo me senti aliviada pelos minutos ganhos sem sufoco. Aquilo era um falso conforto. Logo a tensão iria voltar.
Os presentes saudaram a nossa chegada sob o anuncio do anfitrião, com uma salva de palmas singela. As pessoas pareciam idolatrar os Galavar. Em todos as pequenas e grandes cidades das redondezas, inclusive eu, sabíamos que eles eram uma das famílias mais ricas e bem-sucedidas do país. Isso não era novo. Mas até então eu nunca tinha presenciado à proporção daquele fato.
Sem pudor, enquanto eu tentava manter a postura para não olhar Miguel, ele não fazia o menor esforço de agir igual. Não tirava os olhos de mim e nem de cada movimento que eu dava, e aquilo começou a mexer comigo de uma maneira particular.
Nós nos sentamos em uma bela mesa redonda, exclusivamente selecionada. William e Maitê não se soltavam. Pareciam um recém casal apaixonado, felizes e empolgados. Diferente de Alfonso e Anahí. Eles não pareciam ter afinidade alguma. Christopher e eu, estávamos de mãos dadas sobre a mesa, bem próximos e joviais.
- Então. Estão gostando do baile?
- Cunhado, está uma beleza! Eu havia esquecido como os Galavar são luxuosos e sabem dar uma festa - rebateu comovido - Isso é o de menos comparado a presença da minha, rosa perfumada.
Rosa perfumada? Eu quase ri da infantilidade daquela expressão. Eles eram bem melosos juntos.
- Estamos de acordo, amor meu. Por que me sinto igual!
- Quanta asneira - Repeliu Anahí, dando um gole voraz na sua taça - Deixem de criancice. Ainda vai ficar muito tempo ao lado do meu irmão.
- Anahí, quando se ama alguém de verdade nunca é cansativo demonstrar esse sentimento - Alfonso deu seu parecer fazendo o mesmo que sua esposa, mas ao contrário dela, ele bateu com o copo na mesa, bruto e um pouco embriagado.
Meu sangue ferveu.
Enquanto os três discutiam e o meu conhecido mandava indiretas, o organizador da grande festa chamou a família toda para se direcionar ao salão principal. Alfonso e a esposa foram então apresentados a alta sociedade que estava presente. - Enfim casados. Os convidados aplaudiam a união e a dança foi anunciada. Cada um dos casais pegou o seu par e foram dançar. Christopher sempre muito bem instruído em tudo o que fazia realizou cada movimento com desenvoltura. Nós dois nos destacávamos no meio salão, chamando a atenção sem intenção. Os olhares admirados com a nossa sincronia. Exalávamos afinidade.
- Você está se sentindo bem mesmo, meu anjo?
- E porque não haveria de estar?
- Te sinto estranha. Acuada, pensativa, nervosa. Aprendi a conhecê-la muito bem, Dulce. Inclusive... -ele pegou o meu braço, me girou, e fez meu corpo retornar para a sua frente, continuando - que não sabe mentir.
Fiquei atônica. Tinha que ser mais discreta. Christopher não podia idealizar nada.
- Você que me deixa nervosa - Falei encostando seu lábio ao meu para calar a sua fala.
Foi à única maneira de fazê-lo esquecer por um minuto esse assunto.
- Controle-se, ou eu não serei capaz de me controlar no meio dessas pessoas. Vai ser um show e tanto, não acha? - Eu tinha esquecido da chama infinita que aquele homem tinha no meu das pernas. Ruborizei pela ideia desesperada.
- Parei. Não está mais presente a dama que o beijou - nós dois rimos.
O tempo parecia pausar quando estávamos juntos. Isso me fez esquecer o drama que me cercava.
Inegavelmente me senti vulnerável ao ver Miguel. Uma sensação de aperto no peito, de perda. Ele estava tão perto de mim outra vez, mas ao mesmo tempo longe. Eu me preocupava com ele, queria saber da sua saúde, da sua vida, e agora ele estava lá, bem perto diante de mim.
Meus pensamentos só foram interrompidos quando a presença e a voz intensa de Anahí nos interromperam.
- Desculpe, Dulce, querida - Ela estava agarrada no braço de Alfonso e ele agora estava a minha frente com a mesma reação - Podemos trocar os casais? - Meus olhos se arregalaram na hora que ouvi aquilo. Ela estava louca?
Não respondi porque minha voz sumiu.
- Não se preocupe, meu anjo, é só uma dança - Christopher sussurrou ou meu ouvido, jurando que aquela uma reação de ciúmes, mas ele mal poderia imaginar que última coisa que senti naquele momento foi aquilo.
Anahí não me deixou agir a tempo, ela saiu arrastando Christopher pelos braços como se ele fosse um brinde de Natal. Agora sim, o ciúme me consumiu. Já nem me importei de Alfonso estar ali, parado. Analisando o meu olhar exclusivo ao meu marido ele se posicionou e me pegou rápido.
- Vamos dançar - Sua mão segurou a minha com força, e iniciamos os passos.
Agora sim fui obrigada a dar atenção unicamente a ele
- Como anda seu casamento, meu amor?
- Não devia fazer ironias.
- Sinto muito, mas para alguém que o odiava tanto você está até bem próxima dele, não acha? Até o beija com ternura na frente de todos.
- Christopher é meu marido, Alfonso. O que queria que eu fizesse? Que o ignorasse para sempre? Isso era impossível e a minha seria vida um inferno.
- E você acha que a minha vida não é um inferno? - Rebateu irado - Aquele homem que está lá, agarrado a cintura da minha esposa é o culpado de estarmos separados. Será que não entende?
- Isso não é totalmente verdade. Ele não teve culpa, não pediu para se casar comigo. Foi um acordo das nossas famílias.
- Deixe de ser ingênua, Dulce. Você é linda, atraente, inteligente, mas não consegue perceber como todas as mulheres ao seu redor te olham com inveja e os homens com desejo - aquelas palavras soaram tão ofensivas e ridículas, que me indignei por virem dele.
- Ninguém se casa só pela beleza de uma mulher. Tanto eu quanto você o conhecemos. Galavar pode ter qualquer uma.
- Olhe de quem estamos falando. Você não é qualquer uma! Ele não passa de um homem inconsequente, sem valores e que quer você como brinde por uma vida promíscua.
- Chega - Gritei, ciente de que o som abafaria tudo para que apenas ele me ouvisse - Já basta, Alfonso. Está passando dos limites.
- Veja...
- Você me insulta, mas eu não o vejo em uma situação tão diferente da minha – interrompi - Também está casado e agindo de uma forma que sinceramente é de alguém que eu não reconheço mais.
- Não é a única a pensar assim, Dulce. Eu também não a reconheço.
Insegura. Sua voz se tornou deplorável ao invés de irritada e Alfonso quase errou o passo simples da música serena.
- Eu te amo, e é difícil me deparar com o que vi entre vocês. Eu cheguei aqui acreditando que o destino nos pôs frente a frente de novo como uma nova oportunidade, mas parece que você esqueceu dos nossos beijos, das nossas lembranças e da nossa noite.
Meu coração acelerou e então senti seu toque se amenizar. Ele me olhava com desespero. Fiquei assustada demais e com o psicológico afetado e enfraquecido.
****
- Sempre foi perfeito com dança, meu querido - Anahí parecia uma mariposa leve e destrutiva com aqueles galanteios seguidos - Está se saindo muito bem
- Gentileza sua.
- Você sempre diz apenas que sou gentil. Não tem mais nada no seu livro de palavras?
- Não quero parecer ousado com você.
- E quem está reclamando se for?
- Anahí.
- Christopher! Não nos vemos a tanto tempo. A sua recepção não podia ter sido mais frívola.
- Você está casada.
- Sim, estou, e ele é indiferente. Embora seja muito bonito, nunca se importa com nada que faço. Ciúmes? Acho que ele nem conhece essa sensação.
- Você está muito infeliz?
- Você deve me entender. Não é nada agradável ter um casamento destinado ao fracassado onde as relações são sempre uma troca de interesses, porém, não deixei de ser mulher. Quero carícias, atenção.
- Entendo. Deveria dizer isso a ele e talvez possam tentar se entender. Nunca se sabe - Ela me olhou em análise, indiscreta, parecendo incrédula.
- Vejo que alguém está muito mudado, mas isso não importa. O importante é que agora tenho você e seus braços e que essa carência vai sumir.
- Eu também sou casado agora. Vamos viver na mesma casa e seria bom não criarmos problemas, Anahí.
- E desde quando liga para matrimônio ou em criar problemas? Mulheres casadas sempre foram interessantes para você.
- Nunca nem uma delas morou no mesmo teto que eu - A mulher bufou, fazendo bico como sempre. Era um pouco mimada, mas sempre fui bom em lidar com ela.
Quando me distraí de Anahí, minha vista foi certeira aonde Dulce e o tal homem dançavam. Eles conversavam de uma maneira estranha. Pareciam estar alterados. Aquilo me intrigou tanto que larguei a mulher e caminhei até eles.
- Algum problema? - Perguntei interrompendo a dança e segurando a cintura da minha esposa com uma das mãos.
- Nem um, Christopher. Só estávamos aproveitando a dança, inclusive, quero parabenizar pela habilidade da sua esposa - Ele parecia desconfortável, mas encaixou o braço de Anahí, que havia me seguido, ao seu e saiu distanciando-se de nós.
****
Christopher de alguma maneira parecia muito irritado com a proximidade que Miguel teve de mim durante aquela dança. Eu devia ter pensado no fato dele estar me observando de longe, mas foi tanta tensão que não tive como me atentar a todos os detalhes. Só desfrutei do alivio que a saída do casal me proporcionou.
- Vamos sentar, já chega de dança por hoje - falou segurando possessivamente meus quadris.
Chegamos na mesa quase ao mesmo tempo, parecia combinado. Christian que era muito alegre e engraçado, levantou-se puxando uma taça e iniciando um brinde de confraternização. Nos servimos, demos alguns goles, e continuamos as conversas rotineiras. Eu me mantive concentrada em Christopher por todo o tempo, mesmo com o desejo de sumir dali, totalmente sufocada com a situação. Maitê se levantou percebendo de alguma forma a minha ansiedade.
- Dulce, pode me acompanhar ao toalete?"
- Claro - Respondi de imediato.
Nos levantamos e fomos em direção ao nosso destino, porém, quando chegamos bem na frente do lugar Maitê me puxou para o lado e me levou para a área de fora da festa. Aos jardins. Havia poucas pessoas transitando ali e o lugar era praticamente deserto.
- O que estamos fazendo aqui?
- Dulce, eu sou sua amiga, não é?
- Claro que sim. Porque está perguntando isso?
- Porque conheço você o bastante para perceber que tem algo estranho acontecendo. O que houve? - Eu me senti tentada a me abrir para ela, pois precisava muito falar com alguém, mas Maitê era irmã de Christopher e isso estava fora de cogitação.
- Não foi nada. E apenas uma impressão sua - desmenti descaradamente com o coração despedaçado.
Mas não foi suficiente para convencê-la. Ela ficou me olhando com o semblante triste, mas nada insistente.
- Se não quiser contar eu entendo. Você tem direito. Mas saiba que pode contar comigo Dulce, seja lá o que for.
Ao ouvi-la se expressar daquela forma depois da minha conversa dilacerante com Miguel, não contive as lágrimas e me agarrei aos braços de minha cunhada, totalmente fragilizada. Via-me num poço escuro sem saída com uma bomba prestes a estourar a qualquer momento causando caos a todos em sua volta.
- Eu queria contar, mas não consigo. Não posso. Me desculpe - repeti aflita.
- Meu irmão voltou a te machucar?"
- Oh, Não!
- Então, vamos fazer assim. Você se acalma, se recompõe, e amanhã saímos para cavalgar e conversar melhor. Tudo bem?
- Não quero interferir na sua comemoração com seu marido, Maitê.
- Dulce, Christian ficará comigo agora e nós vamos ter muito tempo juntos. Vai ficar tudo bem - Por um instante me senti mais tranquila.
Ela tinha esse poder de acalmar, de me fazer sentir menos sozinha. Mas eu precisava mesmo ver se era uma boa ideia compartilhar aquele fato.
Depois do conforto, retornamos até a mesa e eu permaneci ao lado de Christopher até irmos embora.
Na mansão, eu estava exausta, com os pés doloridos e a cabeça pulsante. Todos foram até seus quartos, inclusive nós. De frente o espelho eu tentei desamarrar o meu vestido esticando os braços. Foi um processo difícil até meu marido decidir me ajudar e tornar as coisas ainda mais complicadas.
- Deixe que eu te ajude.
Ele foi soltando cada pedaço da minha roupa, bem devagar, se atrevendo a beijar o meu ombro, pescoço, e apertar os meus braços. Os meus olhos fecharam, e eu já estava anestesiada. Foi então que a minha cabeça começou a projetar imagens da minha primeira noite citadas por Alfonso.
Abri os olhos em susto e afastei-me dele.
- Pare!
- O que aconteceu? - Questionou assustado.
Eu sabia que ele estava percebendo os acontecimentos daquela noite.
- Nada. Só estou cansada e prefiro dormir.
- Você nunca cansou antes.
- Mas hoje estou.
Corri, para o banheiro, às pressas e fechei a porta me encostando nela. Deus, o que está acontecendo? Meus sentimentos por Alfonso brotaram como uma flor? Eu não sabia o que sentia de verdade por Christopher, e agora ele havia surgido, do nada, e bagunçado a minha cabeça e o meu coração.
Não podia ser assim, não devia ser. Alfonso estava casado. Sempre foi impossível. Como eu sairia pela manhã? Como eu ia conseguir conviver com ele todos os dias na mesma casa? Perguntas aleatórias que quase me deixaram louca.
Realmente estava perdida.
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