Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Cultura

____🔱____

"O povo que subjuga outro forja suas próprias cadeias"

Certo tempo atrás eu vagava pelo bairro da liberdade pois estava encarregado de um despacho ali próximo e sempre passava por residências japonesas tradicionais. Numa dessas casas havia um espírito, era um kiumba mas possuía formas humanas, sua aparência era de uma vovó, enrugada, corcunda e pequena. Sua pequenez era apenas em tamanho pois tinha uma força descomunal. Ela vestia roupas tradicionais japonesa e possivelmente era uma anciã guardiã das tradições de seus antepassados. Ao passar pela encruzilhada ela me olhava e cochichava algo em sua língua natal. Eu não entendia seus murmúrios mas dava para saber que era algo racista.

"Para os humanos que nunca me viram, sim, eu sou negro, exu é negro porque nossos ancestrais eram negros e assim vamos permanecer durante todas as eras."

Aos que não sabem as primeiras ondas de imigrantes japoneses datam de 1908, devido a altos índices demográficos do país o governo japonês decidiu permitir a imigração de seus cidadãos para o novo mundo na tentativa de "esvaziar" um pouco aquela pequena ilha. Já o estado paulistano recebeu os imigrantes de braços abertos, pois São Paulo não dispensa mão de obra barata, por isso, os paraíbas sempre são bem vindos.

Mesmo que os nipônicos fossem considerados "menos dignos" que um estrangeiro europeu, segundo a opinião dos grandes aristocratas brasileiros, ainda assim os japoneses tinham a "pele clara" e serviam bem ao propósito deles de branquear a população brasiliense.

Aqui os japoneses foram trabalhar em suas pequenas porções de terras doadas pelo governo e rapidamente cresceram, prosperaram e também puderam preservar seus traços culturais.

Já meu povo que havia chegado ao Brasil 350 anos antes não pôde ter direito a terras do governo, nem receberam bonificações como os italianos, não puderam praticar suas crenças ou falar suas língua nativa nem sequer puderam ter seus traços genéticos preservados, já que até isso o estado queria alterar "branqueando" a pele do meu povo.

A coisa mais cruel sobre a colonização é ter que se afastar da religião, de suas entidades, de sua cultura. Os asiáticos sabiam muito bem disso e portanto preservavam seus templos e seus rituais, foi assim que sua cultura continuou sempre viva e hoje o bairro da liberdade parece ser um pedaço do Japão aqui no Brasil. Já nós, afrodescendentes, estamos em luta para reaver nossa cultura.

Certo dia fui abordado por Danjuba, meu companheiro de profissão, ele me cumprimentou dizendo:

Laroié! Saudoso amigo.
— Laroié Preto-velho_ respondi altivo.
— Vou direto ao ponto, eu preciso de tua ajuda... É demanda braba.
— Amigo, você tem sete subordinados...
— E tô em busca do oitavo... – diz ele me interrompendo_ Estou pagando bem.
— Eu não quero dinheiro. Não quero ser de terreiro, nem seu e nem de ninguém.
— Escuta, sabe aquela velha da encruzilhada no bairro dos japas?
— Sim, o que é que tem?
— É ela quem tenho que despachar.
— Hahaha! – Ri alto. – Você está brincando, não é?
— Não estou, não... Eu sei que ela é muito mais forte do que eu.
— Danjuba "quem não pode com demanda não carrega patuá" – citei um ditado antigo.
— Eu preciso da oferenda.
— Não é problema meu.
— Vou te falar da casa.
— Não quero ouvir!
— Mas eu quero falar! Escute, deixe de ser teimoso, respeite meus cabelos brancos...
— Cara, você é chato, porque eu ainda falo contigo...
— Escuta! – Bradou com raiva. – A velha está encrustrada na casa desde 1945. Ela veio junto com as primeiras embarcações e, após a sua morte ela continuou sendo adorada por seus parentes como uma forma de lembrá-los de suas origens e tradições. Dizem que ela era uma professora de etiqueta e também uma espécie de 'sacerdotisa' e conselheira.
— E daí?
— Para de me interromper. Tem um motivo nobre para eu querer esse despacho...
— Fala qual é, então.
— Então, não me interrompe. Cuzão do carai. Confirme o tempo foi passando a família dela foi se ocidentalizando e cada vez mais o espírito que antes era pacífico agora está infernizando todos da casa.
— Quando isso começou?
— Começou quando Hana, descendente em vida da linhagem dessa kiumba, se casou com Felipe o filho do terreiro de pai Quintana, ancestral de Usutu. O casal tem bastante ambição, Felipe é cozinheiro especialista em comida asiática e Hana é formada em administração. Após a morte do pai Felipe ganhou uma herança que foi suficiente para equipar a garagem da casa para abrirem um restaurante de comida japonesa mas o negócio não próspera porque a velha o empede. Em seguida eles tentaram engravidar e Hana teve quatro abortos espontâneos, agora ela está na quinta gestação e o casal espera ter o primeiro filho ainda. Eles vieram me pedir uma benção e proteção ao bebê, mas se velha kiumba ficar lá na casa deles o filho não vinga porque o bebê vindouro será de cor e a velha não aceita ter um bisneto preto.
— Velha miserável... Eu vou te ajudar.
— Na sexta agiremos, te vejo lá...
O preto-velho me dá as costas e desaparece.

Tive dois dias para observar meu inimigo. Dois dias era pouco tempo mas seria o suficiente para compreender o inimigo.

Normalmente uma alma assim continua apegada a matéria em dois casos. No primeiro caso é devido ao próprio pensamento materialista ou medo de ir para outra vida. No segundo caso é apego dos parentes a aquela alma, eu acredito que esse seja o caso. Pela idade dela da pra saber que aqueles que a nutriam com orações já morreram mas ainda assim ela continuou forte, então, provavelmente ainda rezam para ela. É normal que façam isso no dia de finados, mas ela deve estar sendo alimentada todos os dias, alguém a venera diariamente por um ritual chama butsudan.

Na cultura japonesa não há distinção entre espíritos bons ou maus, todos os kiumbas são considerados yokais, lógico que há yokai bom e mal mas não conseguiríamos, com o diálogo, convencê-la de que ela é um espírito maligno, pois na visão da anciã, ela apenas está "preservando" sua linhagem, então, sua atitude é benigna de acordo com sua própria moral.

Já que nunca poderemos purificar essa alma podre vamos acabar com a desgraçada na base da violência, mesmo. E para isso precisamos tirá-la de casa. A casa é o que dá energia para a velha, sendo assim, fora do território do kiumba teremos vantagem na batalha.

A sexta-feira chegou e junto dela veio Danjuba com seus companheiros e um deles me chamou a atenção. Era um exu que tinha uma aparência que eu nunca havia visto antes, mas já ouvira falar da boca dos mais velhos, era um exu Mirim uma entidade elemental. Sua pele era vermelha e cintilante como uma brasa que estava sempre a pegar fogo. Ele tinha quase dois metros de altura e aparentava pesar mais de 130 quilos, seu rosto não continha olhos ou boca, a criatura era apenas um contorno que imitava uma figura humanoide, provavelmente essa não era sua forma original. O curioso é que toda vez que se dirigia a palavra a ele a criatura grunia ou rugia algo ininteligível, algo que se assemelhava ao estalar de uma fornalha de fogo. No mundo espiritual sabe se que os exus dessa legião jamais foram encarnados, pois, eles são a própria força bruta da natureza.

Eu voltei meu olhar o portão da casa da velha e ela estava lá de pé e aparentemente não tinha medo nem de mim e nem do exu brasinha, confesso que a idosa teve fibra pois até eu fiquei assustado com o brutamontes avermelhado.

Era hora do nosso ataque, então, todos entramos na casa, mas brasinha decidiu ficar do lado de fora. Eu acompanhei todo o grupo, seguimos na direção do inimigo mas ela entrou dentro da casa na tentativa de se esconder, sem exitar, entramos. Ao atravessar o jardim percebi que a kiumba estava se espalhando por toda a casa, lhes juro que era a coisa mais feia que eu havia visto até então, porque, parte das vísceras dela ficavam a mostra se enroscando por toda parte, havia vísceras nas paredes, no teto, nas luzes ou nos móveis.

Eram bolas grandes de carne viva, como um tumor enorme e aparentava que em seu interior corria sangue ou plasma por entre os vasos. Algumas paredes estavam totalmente coberta por aquele tecido que pulsava e espelia uma espécie de mulco transparente e fedido.

A velha nos encarava em pé no corredor que dava para a cozinha e nós continuamos a marchar em direção a ela, então quando a senhora se sentiu ameaçada e mudou sua aparência transformando se em algo que mas lembraria uma planta carnívora. Sua boca cresceu até tomar conta de toda sua cabeça e seus dentes cresceram até o ponto de ficarem para fora da mandíbula. O corpo dela retorceu se em espiral e seus pés se fixaram no chão como raízes, pois, ela estava com medo de ser arrancada para fora de casa.

Estamos sete e ainda assim tivemos um trabalhão para tirá-la dali. Os dois mais corajosos correram a frente e foram chicoteados pelos braços da mulher que eram maleaves como um chicote. Ambos caíram com o impacto.

A velha fez o mesmo movimento de ataque na minha direção mas eu me interpus e segurei um dos braços dela. Foi aí que senti aquela pele enrugada e fria que expelida algo esquisito, acho que aquele lubrificante era uma defesa para que o braço dela escapasse, então, decidi perfurar o membro enfiando meus dedos dentro das carnes dela.

Danjuba toma a frente e a velha prepara outro golpe mas meu companheiro desvia para o lado direito e com sua força ele consegue segurar o outro membro da kiumba. Os outros dois exus que vinham atrás seguram a cabeça da idosa planta, um deles segura a boca dela com o famoso golpe mata-leão. A velha começa a se balançar em todas as direções possíveis e força o cara que a segura a soltar seus pés do chão, ele aproveita a oportunidade para reforçar o enlace com as pernas deixando-a bem presa. Os demais homens seguram o tronco da kiumba para puxá-la para fora. Nessa hora eu me surpreendi com a força de um exu destranca-rua pois ele segurou a kiumba pela base e a puxou de uma única vez. A velha saiu do chão junto com parte do subsolo que estavam presa em suas raízes. O destranca-rua colocou a velha no ombro e a arrastou para fora da casa.

Ao sairmos, brasinha entrou dentro da mansão. Poucos segundos depois tudo o que era resquícios da anciã dentro da casa começa a pegar fogo. Em resposta a kiumba rugiu de dor e desespero, enquanto todos nós a seguravamos ela se debatia e xingava-nos, com a voz embargada ela dizia:

— Seus pretos imundos, demônios. Vocês são as escórias deste mundo. Ladrões e assassinos, vocês são menos dignos do que um cachorro. Sua cor fede igual a merda.

Logo em seguida o brasinha retorna da casa. A velha estremeceu ao olhá-lo vir de longe. O exu olha em seus olhos e com apenas um toque todo o corpo dela fica em chamas e queima de dentro para fora até ela desaparecer.

Confesso que até eu fiquei em choque com aquilo tudo. O astral me surpreende até hoje.

______________

______________________

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro