07 ♪ Despedida
Quem sabe no mundo realmente existam duas pessoas que se pareçam muito? Tive a sorte, ou o azar, de encontrar esse alguém, mas não tive tempo de conhecê-la. Gostaria de perguntar a ela se gosta das mesmas coisas que eu, se a sua cor preferida é rosa ou lilás. Saber dos seus gostos musicais e brincar quando fizermos menções sobre sermos iguais. Siyeon parecia tão triste quando nos encontramos pela primeira vez... como se não sorrisse já algum tempo. Seus olhos pediam desesperadamente por ajuda, e talvez seja por isso que eu decidi ajudá-la.
Eu não tive tempo.
De olhos fechados, consigo perceber uma forte iluminação. Algumas vezes a luz se esvai, como se algo cobrisse meus olhos, mas rapidamente o brilho retorna.
— Ei, acordou?
Abrir os olhos é uma tarefa difícil, são várias as tentativas. Porém uma voz bastante familiar consegue me puxar de um abismo profundo, e aos poucos, à medida que abro os olhos, reconheço a quem pertence.
— Se sente melhor?
O mesmo toque de antes...
Jeno está casualmente vestido com uma blusa de lã marrom de gola alta, consigo sentir o tecido suave quando ele segura uma das minhas mãos. Ele ajuda a levantar minhas costas para que me sente na cama, arrumando o travesseiro atrás mesmo que eu não peça. Jeno parece preocupado. Sua feição também entrega um pouco de aflição. E, em um relance, me recordo do que disse:
"— Eu conheço o seu segredo..."
Eu tenho tantas perguntas...
Sentado na beirada da cama, nossos corpos tão próximos, Jeno vira o corpo para o lado para pegar uma xícara na cômoda. De uma distância considerável, Jeno assopra o conteúdo quente do recipiente, e em seguida o direciona para mim.
— Beba enquanto ainda está quente — ele pede amável me ajudando a segurar a xícara com as duas mãos, elas se aquecem ao primeiro contato.
Percebo o quanto estou fraca. Se não fosse pela ajuda dele, o líquido teria derramado.
— Quem disse que você poderia ficar sem comer por tanto tempo? — ele demanda risonho. Apesar disso, é possível sentir certa preocupação em sua voz.
Realmente, me descuidei nesses últimos dias.
Minha garganta está seca, e é difícil voltar a falar. Falho nas primeiras tentativas.
— Não foi minha intenção... — respondo.
Em que momento pensei ser normal não comer?
Jeno ajeita o corpo, os ombros relaxados e o joelho em cima da cama.
Trocamos olhares por poucos segundos, me sinto envergonhada de tê-lo tão perto de mim. No entanto, apesar do constrangimento, sinto que preciso dele aqui, do meu lado, para ficar calma e principalmente para entender a situação.
O chá é amargo, não parece ter uma pitada de açúcar.
— Eu sei, é meio ruim. — Jeno faz careta, provavelmente ao me ver tensionando a testa por conta do gosto amargoso. — Provei antes de você, queria ter certeza que estava bom, mas...
— Não está. — Rio fraco.
Ele faz o mesmo.
Jeno deixa de me ajudar a segurar a xícara ao notar que consigo fazer sozinha. Não sou capaz de encará-lo, mas somente neste momento preciso me permitir dizer o que realmente sinto.
— Jeno...
— Escuta, Boyoung — Jeno pronuncia o meu nome pela segunda vez, o que me paralisa completamente. — Desculpe. Fale primeiro.
Balanço negativamente a cabeça. Meu coração acelera de uma vez.
— Youngjae saiu há alguns minutos. Disse que ia comprar alguma coisa doce pra te animar. Ele é muito cuidadoso com você — Jeno explica com voz baixa.
Ele é assim porque não me conhece, e temos um contrato...
— O seu gerente... não é desse jeito com você? — questiono.
— Não vai me perguntar como eu sei?
Sua pergunta me paralisa.
Quero muito saber, mas estou com medo. Youngjae provavelmente não sabe. Eu falhei em manter isso em segredo. Com certeza, em algum momento, deixei uma brecha e agora estraguei tudo.
Que vontade absurda de chorar...
— Eu não quero saber... — falo engolindo o choro. — Quero dizer... Eu quero saber, mas...
— Boyoung, está tudo bem — ele assegura com voz doce. — Quero que saiba que não tive intenção nenhuma de mentir pra você, em momento algum, mas... sim. Eu sabia o tempo todo que você não era a verdadeira Siyeon.
Sua fala soa lamentável, ele provavelmente pensou muito antes de confessar.
— A culpa foi minha, não é? Eu fiz alguma coisa que deixou nítido isso, eu sei. Me desculpa. Eu não quis mentir pra você, Jeno. — Sinto meus olhos se encherem de lágrimas, agora sou incapaz de olhar para ele. — Não quero que pense que não fui sincera ou que...
— Você foi mais sincera do que imagina. — A fala dele corta parte do meu desespero. — Lembra quando disse os seus gostos? Siyeon não gosta de R&B Contemporâneo, e uma das melhores sensações que teve foi quando foi para o Havaí. Além do fato de que ela não gosta de ler. Ela deixa isso claro em todas as entrevistas. Você foi muito sincera, e agradeço por isso.
Aperto minhas mãos contra a xícara. Ele... não está chateado por isso?
— Eu menti pra você. Basicamente fingi uma amizade... Não está com raiva? — pergunto.
Minha curiosidade na resposta dele me obriga a encará-lo.
— Então não somos amigos?
— Não é isso! Eu...
— Estou brincando, Boyoung. — Ele ri contido, o que me deixa um pouco menos tensa. — No primeiro dia, na filmagem do jantar, eu recebi no envelope uma mensagem bem diferente. Dizia: "Esta não é a Siyeon verdadeira, mas, por favor, trate ela como se fosse a Siyeon".
— O quê...?
— Eu quase entrei em pânico. Não sabia se acreditava, se achava uma piada ou se chamava alguém pra explicar. Nunca vi Siyeon de perto, mas pelas fotos é possível notar que vocês duas são idênticas. Então como poderia ser possível?
— Como... você teve certeza que isso era verdade?
— Vamos começar pelo fato que você estava muito perdida.
— Eu não sabia onde enfiar a cara naquele dia, foi desastroso...
Meu riso é abafado pelo recém gole do chá, sinto mais profundamente o cheiro amargo por estar com o rosto próximo da xícara.
Jeno me surpreende ao pegar a xícara das minhas mãos a colocando de lado, na cômoda. Ele mantém um semblante calmo junto a um pequeno sorriso de lábios. Ele não parece com raiva ou prestes a ter uma reação ruim sobre isso.
— Não foi tão ruim quanto pensa.
— E... o dia que estávamos cozinhando? Você agiu tão naturalmente... Até sabia da alergia de Siyeon que eu mal podia imaginar. Não posso acreditar que você sabia que eu não era ela. Fiz um papel de trouxa perto de você....
— Não precisa ser tão dura consigo, Boyoung. Não tinha como você saber, muito menos adivinhar. Se eu não soubesse que você não era a Siyeon, provavelmente não teria te ajudado a correr pra longe nesse dia. — Ele faz uma pausa antes de continuar. — Você parecia desesperada, sem saber o que fazer. Lembrei de mim mesmo quando comecei a carreira de músico. Eu era muito novo e estava na companhia dos meus amigos, então acredito que isso tenha me ajudado. Mas você enfrentou muita coisa sozinha. Não posso nem imaginar.
Meu estômago embrulha. Mesmo com as pernas esticadas sinto as duas tremerem. É alívio ou nervosismo?
Jeno suspira.
— Você foi muito forte — ele acrescenta.
As incontáveis vezes que chorei...
Jeno volta a segurar minha mão, talvez vendo meu desamparo. É como me sentir protegida novamente.
— Não precisa chorar. E se quiser muito, então chore comigo.
Não posso segurar por mais tempo minhas lágrimas. Saber que posso finalmente desabafar sobre a minha situação me tira qualquer peso e aflição.
— Sobre as filmagens ontem... desculpa. Eu acabei estragando tudo. — Limpo com as costas das mãos a umidade em minha bochecha.
— Boyoung, se mais uma vez se desculpar eu vou embora.
— Não!
Jeno ri, provável pela minha reação.
— Eu não vou embora mesmo que queira — ele assegura sendo carinhoso em deixar minhas bochechas secas.
Meu olhar se perde em nossas mãos, e como consequência sinto todo meu rosto queimar junto a uma grande vontade de me esconder entre os cabelos. Jeno não permite. Ele busca sorridente o meu olhar, me impedindo de fazer qualquer ação que nos distancie.
— Ainda temos uma entrevista mais tarde para finalizar o programa. Consegue fingir ser a Siyeon mais uma vez? — ele demanda adorável, seus olhos e seu sorriso se tornam um.
— Sim, eu preciso conseguir.
— Estarei bem do seu lado, não precisa passar por isso sozinha. Se sentir que não vai conseguir, então olhe fixamente para mim.
Essa sensação é tão quente e inebriante... Ficar ao lado dele me deixa longe de qualquer tristeza.
— Como todas as vezes que fiz quando me senti pressionada.
— Exatamente.
É como pétalas vermelhas caindo sobre os meus olhos. Jeno me proporciona um bem-estar inexplicável.
— Jeno, eu... deveria considerar essa a nossa despedida? — demando com voz baixa, com medo da resposta.
As pétalas secam e despedaçam. Este momento não será duradouro.
Jeno deixa ir o seu sorriso.
— Despedida? — Ele parece confuso.
Talvez tenha esquecido.
— Você disse que não vai embora mesmo que eu queira. Então, eu não quero.
— Não vou embora, Boyoung. — O sorriso dele surge mais uma vez, deve achar graça do meu pedido.
— Então, por favor, fique bem onde eu possa vê-lo. Não saia do meu campo de visão, pode ser?
— Confie em mim.
. . .
O céu está nublado, as pessoas perambulam trajadas com roupas quentes e fechadas. As árvores balançam pelo vento gélido, quase cortante. Em dias assim, o Fallin'ove se enche de clientes famintos, ou somente aqueles que preferem se reunir com as pessoas que gostam. É inevitável não sorrir ao me lembrar das vezes que quase não dei conta de tantos pedidos, onde alguns até foram confundidos. Doyoung nunca brigou comigo, achava engraçado o fato de eu mesma não entender a minha própria letra. Sinto muitas saudades disso... Será que ele está bem? Tanto ele quanto Midoo não me enviaram mensagens nesses três dias. Acredito que tenham desistido... Me prontifiquei em responder suas primeiras mensagens. Logo depois, Youngjae me alertou sobre não manter contato com nenhuma pessoa de fora.
Mesmo com todas as janelas do carro fechadas, minhas mãos estão congelando. Meu gerente, que preferiu me conduzir até o local das filmagens, não me perguntou nada sobre o que aconteceu no dia anterior, e isso me frustra. Com certeza ele sabe que Jeno confessou tudo. Afinal, ele ficou comigo a maior parte do tempo até que me recuperasse. Será que Youngjae não tem uma mínima curiosidade?
— Youngjae — mencionar o nome dele faz meu coração acelerar em ansiedade —, você tem notícias de Doyoung?
O gerente me encara confuso pelo retrovisor.
— Quem é Doyoung?
É claro. Como ele saberia?
— Siyeon, quero dizer Siyeon. Como ela está?
O gerente volta o olhar para a estrada.
— Ela está bem e pronta para voltar a sua vida normal — ele fala sorridente, parecendo ansioso com esse grande dia.
Youngjae é uma pessoa aberta e expressiva. Se a artista que ele é responsável fosse tão problemática, com certeza não ficaria tão animado ao falar do retorno dela.
— Como está o seu coração? Falta exatamente um dia pra tudo isso acabar! Não se preocupe, levarei você pra casa e cuidarei de tudo — ele garante.
Será muito bom poder voltar a normalidade sem ficar me preocupando em não coçar os olhos por causa da maquiagem.
— Youngjae, talvez seja um pouco pessoal, mas... O que falam de Siyeon é verdade? Todos os rumores ruins, os escândalos... É que, bom... Você parece animado com a volta dela.
A princípio, Youngjae não responde, as mãos dele apertam o volante.
— Tudo bem eu contar isso, você viveu muito como a Siyeon. — A voz dele soa insegura, também um pouco triste. — Siyeon é uma pessoa maravilhosa, nunca tive nenhum problema sendo o gerente dela. Super amável, respeitosa e bondosa. Mas, você sabe, a empresa precisa ter um Idol problemático pra ser reconhecida.
— Você quer dizer que ela faz um... personagem?
— Infelizmente. De todas no grupo, Siyeon precisa ser a Idol encrenqueira que não liga para o que os outros vão dizer. Mas cá entre nós? H'eart, que esteve com você, nem precisa fingir. Ela é grosseira e finge uma personalidade fofa na frente das câmeras. Ela bem que mereceu ser advertida depois do que aconteceu na cozinha com você essa semana. Acredito que ela até mesmo sairá do grupo, os fãs não irão perdoar.
O quanto Siyeon esteve sofrendo.
— Naquela noite quando Siyeon me ligou animada dizendo que tinha encontrado alguém igual a ela, eu não acreditei. — Ele conta risonho. — Ela estava ansiosa procurando alguma coisa que a pudesse tirar desse programa e encontrou você. De verdade, Boyoung, muito obrigado por aguentar esses sete dias. O descanso dela foi graças a você. Eu não poderia conseguir isso pra ela.
O desespero dela em trocar de vida é compreensível agora.
Não consigo agradecer Youngjae por isso, parece ser uma responsabilidade que não cumpri tão bem quanto poderia. No entanto, me sinto alegre de poder trazer alívio para outra pessoa.
— Espero que Siyeon esteja bem e preparada pra voltar.
— Eu também. Irei fazer o meu melhor para o bem-estar dela — Youngjae finaliza com um sorriso.
De longe é possível avistar o local das filmagens, mais precisamente o local da live. A produção achou que seria romântico uma entrevista em uma Galeria de Arte, apesar que eu acredito que qualquer lugar pode se tornar romântico ou divertido com a pessoa certa — é o que mais leio nos livros —, e que as pessoas gostariam de saber como os seus Idols preferidos, eu e Jeno, estamos nos saindo no programa. Porém a ideia de algo ao vivo é muito assustador. Se as coisas podem dar errado somente com a equipe presente no set de filmagem, quanto mais com milhares de pessoas nos assistindo.
Me aproximando um pouco mais da janela do carro, procuro ansiosa algum sinal de Jeno, estranhando meu comportamento logo em seguida, mas o que encontro são inúmeros seguranças e os muitos fãs histéricos, o mesmo ambiente de quando a missão era de cozinharmos juntos. Naquele dia, minhas pernas tremiam por pensar que tinha de enfrentar tantas câmeras e flashes, e agora sinto o mesmo.
Para o meu alívio, Youngjae segue um caminho diferente. O gerente direciona o carro para o estacionamento VIP com entrada pelos fundos, não há fila de carros e o local é bem iluminado.
— Vamos direto para o local da entrevista dessa vez, você não vai precisar se preocupar com um camarim. — Youngjae soa amigável, ele também parece estar satisfeito com a escolha.
Depois de estacionar em uma vaga exclusiva, Youngjae abre a porta do motorista para se dirigir a minha.
Mesmo no estacionamento, é possível sentir o vento gélido do ambiente.
Meu vestido vermelho de bolinhas e manga comprida foi feito com um tecido quente. Estou com uma meia-calça grossa de cor marrom escura. Disseram que queriam um visual antigo, anos sessenta, nostálgico que remetesse a inocência e pureza. Acho que conseguiram, mas gostaria de ter uma blusa de frio.
— Deixe suas coisas pessoais no carro — Youngjae pede antes de fechar a porta do carro.
— Por quê?
— Ouvi uma conversa estranha de alguns funcionários esses dias, mas não tenho certeza. Por isso decidi trazer você até a Galeria ao invés deles e pedi que não deixasse suas coisas no hotel. Como o carro é meu, ninguém vai mexer nas suas coisas e muito menos no seu celular. — Ele suspira com ar de cansaço. — Ainda bem que tudo isso está acabando...
Seguindo sua instrução, deixo minha bolsa carteira em cima do banco atrás do motorista. Youngjae fecha a porta em seguida.
O gerente sorri confirmando com o olhar se estou pronta para continuar.
Subimos as escadas para sair do estacionamento, Youngjae menciona que detesta elevadores. Quando as portas se abrem, andamos em direção a uma porta em um corredor pequeno. É possível ouvir diferentes vozes, o som cada vez mais alto à medida que andamos. Youngjae vai na frente. Ele disse que a entrevista será na presença de vários fãs. Decorei tudo o que o gerente passou e os fatos padrões de Jeno que estão pela internet à fora. No hotel, Youngjae também disse que caso, por qualquer coisa, me sinta desconfortável, não preciso responder a pergunta em questão, eles não podem me obrigar a responder. E o mesmo serve para Jeno.
Antes de abrir a porta para, enfim, entrar na Galeria de Arte, Youngjae confirma no meu olhar se estou preparada. Afirmo que sim. Aprecio a preocupação dele.
A iluminação do ambiente me cega nos primeiros segundos. Há um tapete vermelho que se estende desde a abertura da porta até o centro da Galeria de Arte, um hall muito grande e bonito, onde há três poltronas, provavelmente de veludo, na cor verde musgo.
Enquanto ando, observo as muitas câmeras direcionadas para as poltronas. Muitos fãs seguram cartazes com o meu nome e gritam enquanto ando pelo tapete vermelho. Eles esperam receber um "oi", e, dessa vez, não me escondo, tento acenar para a maioria dos fãs.
— Agora é com você. — Youngjae se afasta quando estou próxima das poltronas.
Sento sem demora, sentindo minhas pernas começarem a tremer. À frente de mim, há uma outra poltrona da mesma cor, provavelmente para a pessoa a nos entrevistar, e no centro uma pequena mesa redonda com três copos de vidro transparentes com, o que parece ser, um suco vermelho, sabe lá o sabor.
Há muita conversa alheia da equipe e dos fãs há três metros de distância, o barulho de vozes me incomoda. Logo surgem maquiadores a retocar minha sombra clara e meu batom rosado. Também tem cabeleireiros que consertam um único fio para cima do meu cabelo. Como sempre, todas as coisas precisam ser impecáveis.
No canto dos meus olhos, sou capaz de perceber a vinda de Jeno. Ele está adorável com uma camisa social branca abotoada até o pescoço. Não poderia imaginar que ele ficaria tão bem de suspensório preto, seguido de uma calça social preta. O seu cabelo está nitidamente com gel, deixando os fios para trás, mas nada que estrague a sua beleza natural.
— Cheguei — ele diz sorridente ao sentar na poltrona do meu lado. — Você está muito bonita. Essa moda caiu bem em você. — Reparo na pinta próxima ao olho dele, um charme e tanto para o seu visual.
Sorrio abaixando o olhar, não consigo evitar de me sentir envergonhada na frente dele.
— Obrigada. Você também está adorável.
Os fãs, tanto meus quanto de Jeno, reagem a nossa pequena conversa com gritos histéricos, mesmo que não consigam ouvir. É provável que a entrevista seja assim até o final.
— Siyeon — Jeno me chama, rapidamente viro meu rosto para ele —, sabe que não precisa responder tudo o que eles perguntarem, não é?
— Sei sim. — Balanço positivamente a cabeça. — Nem você. Estamos juntos nessa.
Ele corresponde com um sorriso.
— Seja você mesma. Esqueça os gostos de Siyeon e conte um pouco sobre si. Fale sempre a verdade.
— Até parece, Jeno. As pessoas não podem saber da verdade, você sabe.
— Às vezes dizer a verdade pode te salvar de uma situação perigosa. E, aliás, você é interessante. Se contar verdadeiramente sobre você, todos vão gostar.
Interessante?
— Acha isso?
— Claro! Você não se acha interessante?
— Eu te acho mais interessante do que eu.
— Por quê? Não tenho nada de especial a não ser um astro. — Ele se ajeita na poltrona deixando o corpo mais relaxado.
— O seu sorriso é cativante, o seu cabelo é bonito e quando sua bochecha cora é engraçado. Ah, eu também gosto dos seus assuntos e da sua voz. Seus olhos sorriem quando você sorri e isso é muito adorável.
Os olhos de Jeno se abrem além do normal e suas bochechas coram, o que me tira um sorriso divertido confirmando o quanto é cômico ver suas bochechas na cor vermelha.
Recordo de todos os momentos felizes que Jeno está sorrindo para mim. Na maioria das vezes, o seu cabelo está balançando e parece muito fofo ao toque.
— Mas não é como se você não soubesse — acrescento.
Porém percebo a mudança estranha no meu tom de voz: de repente muito doce e fino, e conserto em um pigarro; logo depois olhando para o lado oposto.
Após alguns segundos de silêncio, somente o som da inquietação dos fãs e da equipe do reality à nossa volta, eu olho disfarçadamente para Jeno. Noto que, de forma singela, ele tem um fino sorriso nos lábios.
Jeno foi muito bondoso e atencioso comigo. Não me sinto obrigada a retribuir o que fez por mim ou como me tratou. Naturalmente, sinto uma grande vontade de mimá-lo, dizer o quanto é bonito e garantir que tudo ficará bem. Certamente um sentimento afetivo. É normal sentir atração por alguém, mas é diferente de quando Doyoung é amigável comigo. Enquanto a maioria dos meus sorrisos perto dele são por simpatia, as minhas risadas ao lado de Jeno são do fundo do meu coração. Ele é capaz de puxar os sentimentos mais profundos, e eu consigo sentir isso. Quando tento evitar, me sinto envergonhada e triste, como se meu coração e mente pedissem mais e mais pela positividade que o dono de olhos sorridentes me proporciona.
— Oi, vocês estão prontos? — Uma voz meiga chama minha atenção, não somente a minha, mas a de Jeno também.
A entrevistadora senta na poltrona à frente e mantém um belo sorriso no rosto. Em suas mãos, unhas pintadas e os dedos cheio de anéis, ela segura cartões que são rascunhos do que precisa dizer, aprendi isso com Youngjae, e um tablet. Jeno e eu nos levantamos e fazemos uma mensura em educação pela chegada da mulher.
— Não precisa de formalidade! — Ela nega com as mãos.
O que permite que voltemos a nos sentar.
— Estou muito feliz de poder entrevistar vocês dois. Ambos são estrelas muito conhecidas e é uma honra estar aqui agora.
— O prazer é nosso, Senhorita Sunhee — Jeno diz educado, ele parece um pouco ansioso mexendo as duas mãos por cima dos joelhos.
Senhorita Sunhee olha para mim. É instantâneo, tenho um choque ansioso e não sei o que dizer. O olhar dela é assustador. Embora esteja sorrindo, sinto como se fosse capaz de arrancar qualquer informação de mim. Posso entender a inquietação de Jeno.
As luzes vermelhas das câmeras acendem. A equipe do reality orienta os fãs a evitarem se exaltarem durante a entrevista, só quando necessário. Me surpreende serem tão educados. Logo, o hall da Galeria de Arte fica em silêncio.
— Eu não poderia estar mais animada em poder entrevistar essas duas celebridades que estão bombando! — A entrevistadora inicia o roteiro demonstrando naturalidade. — Estamos com Jeno, membro do grupo de KPop NCT da sub-unit Dream, e Siyeon, membro do grupo de KPop LUVu. Soube que vocês dois foram convidados para esse reality em cima da hora, como se sentiram de início?
A primeira imagem que vem à mente é do rosto de Siyeon quando esbarrei nela naquela noite.
— Eu estava cansada quando recebi a proposta. Tinha acabado de sair do trabalho e estava indo pra casa. Mal podia acreditar — conto com um meio sorriso.
Olho para Jeno à espera de sua resposta, mas ele me encara penoso.
— Eu... não fui pego de surpresa. — Ele olha para a entrevistadora. — Sabia que me chamariam quando aquelas notícias saíram nos principais sites de música.
— É verdade. Você comentou em um vídeo no canal do YouTube do seu grupo que acharia legal participar de um reality com outra celebridade — concorda Senhorita Sunhee. — Porém acho que deve ter se assustado quando descobriu que iria participar junto com a Siyeon, não é? A gente se assusta com um Idol cheio de polêmicas.
Nem demorou para começar...
— Senti mais receio do programa do que pela Siyeon. Ela é uma pessoa incrível, deveriam extrair o que há de bom nela.
Os fãs exclamam um "awn" em coro.
Senhorita Sunhee sorri simpática, mas as suas intenções ao me encarar não parecem ser das melhores.
— Ele é tão simpático! Dá pra ver que vocês dois construíram uma relação ao longo desses sete dias no reality, confirmando que é possível gostar de alguém em uma semana. Não posso expor muito você, Siyeon, seus fãs podem querer me matar depois! — diz em uma risada traiçoeira. A Senhorita Sunhee abaixa os cartões com o roteiro que precisa seguir. — Mas não posso deixar de mencionar o que o mundo das fofocas anda falando sobre você, até porque tem a ver com o reality — ela acrescenta, continuando a me encarar com um sorriso astucioso. — É verdade que você não é a verdadeira Siyeon?
No mesmo momento, minha garganta seca. É possível ouvir cada batida do meu coração nos ouvidos. Sinto as breves olhadelas de Jeno e toda tensão e pressão das pessoas em cima de mim.
Eu não preciso responder a sua pergunta.
Os fãs riem em uníssono. Sim, tenho que agir como se fosse um absurdo.
— Não entendo o que quer dizer com isso.
Embora eu finja, poderia ter pensado em uma resposta melhor.
Percebo a expressão confusa nos rostos da equipe do reality. É provável que essa pergunta tenha saído totalmente do roteiro uma vez que, como Youngjae me disse, todo ele é analisado antes das coisas irem ao ar.
Senhorita Sunhee ri naturalmente. A entrevistadora deve fazer a vida das pessoas difícil todos os dias. Eu tinha mesmo que ser o seu alvo hoje?
— É claro, essa pergunta parece um absurdo. Porém encontramos uma foto que nem você vai acreditar. — Sunhee dá atenção ao tablet no seu colo, ligando e virando ele para mim e Jeno.
Sinto um assustador calafrio ir desde o pescoço até os meu pés.
Na foto, Doyoung está com um dos braços envolta do meu ombro, enquanto Midoo me abraça com os braços envolta da minha cintura. Os dois estão sorridentes, mas seus olhos estão borrados. Me lembro muito bem desse dia: a inauguração do Fallin'ove.
— Olhe como você está sorridente ao lado deles. Quem são? — ela pergunta.
Minha boca treme.
Eu não preciso responder... Eu não preciso responder...
— Eu sei quem são. — Jeno toma a frente da situação. — Não posso revelar muitos detalhes, mas nossa querida Siyeon está atuando em um drama.
Os fãs exclamam "oh!".
A jornalista sorri desconcertada colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.
— Um drama? Pode nos contar mais sobre isso, Siyeon? — ela pergunta após mudar o olhar para mim.
Sinto uma gota de suor escorrer pela lateral do meu rosto. Eu poderia contar as histórias que leio nos livros, mas podem facilmente serem reconhecidas por um amante de literatura como eu. O que eu deveria fazer?
Jeno também me encara, mas com um sorriso sincero e incentivador. Logo, me recordo de suas palavras:
"— Às vezes dizer a verdade pode te salvar de uma situação perigosa. E, aliás, você é interessante. Se contar verdadeiramente sobre você, todos vão gostar."
Será mesmo que ele está certo?
— Eu interpreto uma garota que trabalha em uma cafeteria em um bairro movimentado. Tenho um chefe gentil e bondoso, e até a irmã mais nova dele gosta de mim. Os clientes são adoráveis, e mesmo em dias chuvosos eu gosto de trabalhar lá. Às vezes a minha personagem chega muito cansada em casa, mas ao ler o seu conto favorito ela rapidamente recupera suas forças. — É inevitável que eu não sorria ao lembrar dos meus livros na estante do quarto. — Ela ama trabalhar nessa cafeteria. Se por um acaso tivesse de ficar longe, com certeza sentiria muita falta.
— Que interessante. A sua personagem não teria um par romântico? — Senhorita Sunhee demanda com expressão curiosa.
Meu sorriso aos poucos se esvai. Olho ansiosa para os lados em busca de uma resposta. No canto dos olhos, vejo Jeno mexer os lábios. Quando o encaro, ele está sorrindo.
— O meu par romântico é um cantor muito bonito. Ele, desde a sua primeira aparição, é um homem adorável e muito bondoso. Ele se preocupa em deixar a protagonista segura e age prontamente quando ela tem um problema. Ele... Ele sem dúvida é muito apaixonante...
A entrevistadora sorri satisfeita, tenho certeza pelo ânimo que se espalha pelo corpo dela.
Olho rapidamente para Jeno. O seu olhar surpreso me deixa atordoada, não consigo desviar o olhar tão facilmente.
— Tenho que confessar que amo clichês. Obrigada, Siyeon, pelo breve resumo do seu novo drama. Espero que dê tudo certo com as gravações. — Senhorita Sunhee deixa o tablet de lado, ainda no colo, e se preocupa em voltar para o roteiro nos cartões.
Posso respirar com calma. Meus pulmões agradecem por não inspirar tão pouco ar. Minhas bochechas queimam, mas as de Jeno continuam intactas. É tão bonito vê-lo com um singelo sorriso... Ele vira sua atenção para a entrevistadora quando ela chama o seu nome. O seu rosto é esculturado, o que me deixa mais e mais envergonhada por reparar tanto nele. Jeno fala tão bem, conversa tão naturalmente... Todas as suas palavras vão para si mesmo quando Senhorita Sunhee decide me colocar no meio.
— Agradeço pela conversa. Foi muito bom ter um momento tão agradável ao lado de vocês dois. — Com um sorriso, Senhorita Sunhee finaliza a entrevista.
Logo depois de se despedir apropriadamente, e nós — eu e Jeno — para os telespectadores da live, as luzes vermelhas das câmeras desligam. A equipe parece cansada.
— Você foi muito bem — Jeno me elogia com um sorriso de lábios.
— Obrigada. Você também.
— Não estava falando de mim, não é? — Ele ri momentaneamente.
Meu coração salta de um segundo para o outro.
— E se... eu disse que... sim? — Minha fala soa desengonçada pela falta de ar entre as palavras.
— Siyeon, precisamos conversar — Youngjae interrompe a conversa, quando Jeno estava prestes a me responder.
O gerente me segura pelos ombros, estando ao meu lado, a fim de me orientar para um canto mais isolado.
— Precisamos ir embora o mais rápido possível.
— Por-Por quê? O que aconteceu?
— Aquela foto. Eles provavelmente sabem sobre você e vão tentar desmascará-la.
— O quê? Como? Eu... Eu não falei nada, não dei a entender nada!
— Eu sei, mas essa foto já está por toda internet. Ela foi tirada do perfil de um dono de uma cafeteria no bairro onde você mora. A data não condiz com o fato de Siyeon estar lá. Alguém da equipe andou te observando e com certeza vão querer extrair informações de maquiadores e estilistas.
— Mas eles não podem provar nada. Tenho certeza que não deixei nenhuma pista.
— Você mesma disse que alguns deles notaram a diferença de peso, medida e cuidados. Além do fato de que a mecha azul do seu cabelo é falsa. Essas coisas não tem como esconder por muito tempo. Não se preocupe, eu vou resolver isso, mas precisamos ir antes que a foto espalhe pelos sites de notícias.
O gerente me orienta em direção à porta que entramos.
— Youngjae, espera... — Evito que ele continue me puxando para a saída. — Preciso falar uma coisa com Jeno.
— Não temos tempo.
— Por favor, me deixe só dizer uma coisa pra ele. Ele... O que vai acontecer com ele?
— Não é hora se preocupar com ele. O que vai acontecer com você se voltar pra lá?
— Mas eu não posso—
— Boyoung, não entendeu ainda? Você precisa desaparecer!
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