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04 ♪ Me conheça

Lentamente giro a maçaneta para abrir a porta. A cada passo meu, para dentro da sala, me deixa agoniada pelo som que o salto alto faz. Não estou acostumada a andar com eles. Jeno está parado apreciando as lindas flores do lado de fora na varanda. Sua silhueta, de costas para mim, consegue ser mais bonita à medida que me aproximo. Olhando para os lados posso reparar que estamos sozinhos, nem mesmo uma única câmera foi preparada para nós. É somente eu e ele. O garoto se vira para mim com sorriso brilhante e animador. Estende a mão, e automaticamente me aproximo para tocá-la. Porém Jeno se afasta propositalmente com olhar travesso.

— Primeiro você precisa dizer algo que sabe sobre mim.

Sorrio confiante. Estudei quase a noite inteira sobre ele!

No entanto minha voz não sai e minha cara é patética. A mão de Jeno se abaixa, e em poucos segundos sua expressão animada se torna tristonha. Ele parece estar quase que injuriado por eu não ter o que dizer. 

Mas, espera! Eu tenho! É só que...

— Eu...

— Esquece — diz ríspido. — Você não me conhece.

— Co-Conheço sim! 

— Não podemos ser amigos.

— Mas—

Voltando a encarar as belas flores, Jeno está de costas para mim mais uma vez. Meu salto fica preso no chão, mais precisamente a um chiclete. Não consigo sair do lugar e nem pronunciar uma única palavra. Meu desespero faz minha respiração se tornar dolorosa, como se a cada tentativa o ar rasgasse meus pulmões e ferisse minha garganta.

— Siyeon! Ei, Siyeon?!

Em um súbito me sento na cama.

Meu quarto desarrumado está da forma como o deixei na noite passada. Meu celular vibra por causa de uma ligação, na tela o número de Midoo. Quando a ligação cai, vejo pela aba de notificações dez ligações perdidas. Estou encrencada.

— Siyeon! Abre a porta! Ei!

Batidas bruscas me assustam. Eu ouvi uma voz, mas achei ser coisa da minha cabeça. 

Atordoada, e ainda de pijama, me levanto calçando somente uma das pantufas. Tropeço no tapete felpudo depois da minha cama e, pelo baque, ainda bato o pulso no braço do sofá. Deixo escapar um gemido dolorido, e torço para que a pessoa do lado de fora não tenha escutado.

— Você ainda estava dormindo? — Com braços cruzados, uma garota de cabelos esverdeados pergunta irritada.

Ela adentra ao quarto abrindo de uma vez a porta que deixei meio fechada. Dou um passo para trás a fim de não ser atingida por mais alguma coisa, e neste caso a porta.

— Não acredito que ainda estava dormindo — diz em uma risada se sentando no sofá. — Você nem é de dormir até tarde. O que aconteceu? Jeno mexeu tanto com o seu coração?

Atordoada com sua pergunta, cogito responder um "não", mas minha mente não corresponde com o meu coração.

— Ah, deixa pra lá. De qualquer forma preciso falar com você.

Quase que anestesiada, me sento sem sentir o sofá. Apesar de ficar longe dela, a garota é rápida em se aproximar até nossos braços se encostarem.

— Vou participar de uma live com vocês hoje! "Vocês" se pergunta? — Sim, eu me pergunto. — Você e o Jeno! — Apesar da empolgação, sua expressão rapidamente se fecha. — Mas tenho que te dizer pra ter cuidado com ele...

Enquanto permaneço atônita, ela continua:

— Eu fiquei sabendo que ele é um aproveitador de primeira. Sabia disso? — Automaticamente balanço a cabeça em negação. — Meu deus, você tá muito por fora! Escuta só. — Aproxima o seu rosto do meu, levemente levo o pescoço para longe. — Eu ouvi dizer que ele queria muito participar desse programa pra ficar mais famoso. Só que o jeito que escolheu é o caso. Ele tinha a ideia de fazer a coitadinha da pessoa que for o seu par, vulgo você, se apaixonar por ele e depois inventar um escândalo de namoro.

— Es-Escândalo de namoro? — Tudo é tão novo... Teria como ser menos inocente, Boyoung?!

— Exatamente, um escândalo de namoro. Por isso, minha querida melhor amiga, eu vim aqui lhe avisar e participar junto com você na live de hoje pra te deixar mais segura.

Minhas mãos começam a suar, até desencosto meu braço do dela e afasto nossos rostos. Eu não consigo imaginar estar ao vivo para um monte de pessoas que não conheço! Será que não dá pra cancelar essa missão?

— Ai, pobrezinha. Não fica assim! Eu disse que vou estar com você lá, não precisa ter medo! Agora por que você não vai se arrumar? Vamos ter que sair daqui... eu acho que... dez minutos.

A garota me levanta pelos ombros e me empurra até o closet escolhendo muitas roupas.

— O que acha de uma saia bem justinha? — pergunta entusiasmada. — Não, não. Acho que essa cor iria te valorizar.

Fico curiosa em saber o nome da garota, mas não posso nem pensar na possibilidade de perguntá-la. Pelo modo como entrou no quarto, como me trata informalmente e o jeito que pega todas as roupas de Siyeon deixa claro que as duas são íntimas. Se esse for o caso, por que Siyeon não contou a ela sobre as suas férias? Como melhor amiga, como a garota disse ser para mim, entenderia se Siyeon precisasse ficar um tempo afastada. Mas... será que sabe e está fingindo?

— Eu gostei, você está linda! — A garota sorri bastante empolgada e me incentiva a dar uma volta no mesmo lugar.

— Obrigada — respondo tímida ao seu elogio, e ainda não sei do quê chamá-la.

Animada e cantarolando uma canção, a garota se afasta e me dá espaço para me ver melhor no espelho. Uso uma saia amarela, pouco acima do joelho, que se sobressai por cima de uma blusa de manga comprida branca. É um visual bem básico para uma missão casual. Me disse desesperadamente que eu precisava usar salto para ficar legal na câmera, e não pude contestar. Youngjae me disse para confiar nos conselhos dos que estão à minha volta uma vez que esses conhecem o mundo "idolesco" muito mais do que imagino e sei.

— Você deveria dizer "obrigada, H'eart" — a garota diz sorridente.

H'eart? Esse é realmente o nome dela ou algum tipo de apelido?

— Obri-Obrigada, H'eart — repito sem graça.

. . .

Bastante apreensiva, nos encontramos com destino para o local da missão. A garota me impediu de dizer "oi" para Jeno sempre me lembrando que ele não é confiável. Mesmo que diga com tanta certeza, Jeno não me mostrou ser falso e muito menos aparentou ter uma personalidade ruim. Por outro lado H'eart é a melhor amiga de Siyeon e talvez não iria mentir sobre algo tão sério. Tento a todo momento me esquivar das carícias inesperadas da garota, que parece ter algum tipo de vício com isso, mas algumas vezes é difícil de escapar, é preciso ceder para que não suspeite.

— Aliás, Siyeon, você não me perguntou nada se as garotas estão com raiva — H'eart diz com olhar distante para fora da janela do carro. — Não está curiosa pra saber por que só eu voltei por você?

Pressiono minhas mãos em cima dos joelhos, faz muito tempo desde que eu me senti tão tensa como agora.

Olho de soslaio para H'eart e aceno positivamente com a cabeça quando a garota vira o rosto para me encarar, provavelmente pela demora em obter uma resposta.

— É porque eu amo muito você! — O seu sorriso parece fazer parte de todos os seus diálogos. — Elas são todas bobas por não ter aceitado o que disse, nem se preocupe com isso.

H'eart toca carinhosamente minhas mãos, arrancando de mim um longo arrepio. As integrantes não aceitaram algo que Siyeon disse... Será sobre as férias?

— Sua voz mudou. — Lentamente vira o rosto para janela a fim de continuar observando a paisagem. — Aconteceu alguma coisa?

— Não! — sou rápida em responder. — Quero dizer... acho que é falta de água. — Forço uma risada sem graça, mas felizmente H'eart me acompanha.

— Deve ser. 

Nossa conversa se finda.

Uma passarela de seguranças se revela assim que abrem a porta do carro. H'eart sai animada acenando para os fotógrafos e outras pessoas atrás de uma faixa vermelha. Há um tapete branco em direção à entrada de uma loja, no letreiro o nome "Cat Art". Pela demora em sair do carro, um segurança toma à frente e estende a mão para que eu saia. Sorrio educada para o homem trajado com um terno preto, mal consigo ver os seus olhos por usar óculos escuros; todos os seguranças estão vestidos da mesma forma.

As pessoas pronunciam eufóricas o nome de Siyeon e outras gritam palavras aleatórias. De todas as formas, seja também pelos flashes das muitas câmeras, me sinto extremamente desconfortável. Fico insegura com a roupa que uso e automaticamente olho para baixo andando o mais rápido até a porta do estabelecimento. A entrada contém uma porta dupla de vidro. Noto como as pessoas do lado de fora podem facilmente observar todo e qualquer movimento dentro do estabelecimento, o que me deixa cada vez mais nervosa. Não preciso fazer nenhum esforço, ou mesmo pensar, em abrir a porta uma vez que um membro da equipe do programa faz isso por mim e H'eart, a garota está muito alegre. Sou abordada por maquiadores pincelando minhas bochechas e delineando minhas sobrancelhas, de início mal consigo prestar atenção ao ambiente.

— Siyeon-shi? — A mesma mulher do jantar aparece sorridente me guiando até uma mesa nos fundos.

O estabelecimento é um restaurante de primeira classe que só os mais altos têm condições de pagar pela comida. À frente da cozinha, próximo onde os garçons levam os pedidos à mesa correspondente, foi improvisada uma cozinha para a gravação do reality. Há pratos, diversos recipientes com ingredientes coloridos e muitos utensílios que nos ajudarão a fazer alguma coisa na cozinha proposta por eles.

Diante de uma situação tão tensa, tal como a ideia de ter que cozinhar na frente de inúmeras pessoas ao vivo, surge Jeno detrás de algumas poucas pessoas da equipe. O garoto está tão... bonito... trajado com uma blusa de manga comprida listrada com as cores branca e amarela. O seu jeans é claro e o tênis de cor caramelo. Jeno sorri quando me tem em seu campo de visão, e se aproxima rapidamente.

— Estamos usando a mesma cor! — exclama sorridente. — Eu mesmo escolhi a minha roupa. Parece que pensamos igual.

— Na verdade...

Antes que eu possa explicar, H'eart toma a frente do meu corpo e estende a mão para Jeno.

— Eu escolhi pra ela!

Jeno a cumprimenta sem jeito, um pouco desconfiado, tentando manter um sorriso amigável. 

É estranho que H'eart tenha falado tão mal do garoto e agora o cumprimenta dessa forma. Talvez para não dar tanto na cara as coisas ruins que fala sobre ele? H'eart me disse para tomar cuidado. Porém em quê?

A equipe do reality entrega aventais brancos para cada um de nós e posiciona em nossas roupas uma lapela com microfone. Há três câmeras à nossa frente para gravar os mínimos detalhes, e também duas pequenas nas extremidades da mesa onde vamos preparar o possível prato. Engulo seco ao perceber que em todas uma luzinha vermelha acende. Porém neste mar de ondas tempestuosas, Jeno segura singelo minha mão disfarçando ao se aproximar. Meus olhos se abrem de uma vez pela surpresa, sinto minha respiração parar no mesmo segundo.

— Fica calma, vai dar tudo certo — diz com voz baixa.

— E-Eu tô calma. Gosto de lives. — Garanto deixando escapar um soluço.

Jeno afasta sua mão e o corpo com olhar confuso sobre mim.

— Você disse em uma entrevista que não gosta de lives — menciona. 

Siyeon já deve ter falado do que prefere e não gosta em milhares de portais de notícias. Não tive tempo para estudar sobre ela, mas posso usar os meus estudos em Jeno como uma forma de continuar o meu disfarce.

A equipe sinaliza que estamos ao vivo.

Jeno está no meio de nós duas, H'eart permanece sorridente para as câmeras enquanto eu tento forçar um sorriso de mesmo nível. Jeno não precisa fazer muita coisa e somente ser ele mesmo, sua postura impecável demonstra confiança sobre a situação.

— Olá, queridos fãs! — é o primeiro a falar. — Sou o Jeno do NCT Dream e ao meu lado estão Siyeon e H'eart, integrantes do LUVu. — Jeno age como um verdadeiro MC e aponta para nós duas ao mencionar nossos nomes.

H'eart faz uma rápida mensura, enquanto eu demoro mais de três segundos para me dar conta de que preciso fazer o mesmo.

— Devemos começar? — pergunta H'eart olhando para o roteiro atrás da câmera do meio.

A receita em questão é um suflê, um prato delicado que precisa de muita atenção. Comigo ajudando vai ser um verdadeiro desastre.... e precisamos escolher o sabor. Sem ideias, passo a vez para Jeno e H'eart. Cada um concorda em fazer uma parte da receita e o responsável pelo sabor do suflê, a H'eart, irá fazer uma surpresa por não nos contar o que decidiu colocar na massa. De forma inesperada, a mesa se divide em duas, deixando H'eart de costas para mim e Jeno.

Jeno é calmo em ler a receita e ouvir as minhas sugestões, bem mais do que esperava. Tento manter uma certa distância dele, com medo das coisas que ouvi de H'eart, mas o garoto sempre arruma um jeito de ficar perto.

— Você precisa derreter a margarina no fogo. — Entrego para ele o recipiente. — Mas deve ser em fogo médio — o alerto, rapidamente Jeno coloca na temperatura ideal. — Depois precisamos juntar a margarina à farinha e misturar por um minuto.

Com sutileza, Jeno espalha uma colher de margarina pela frigideira, suas mãos mexem de forma delicada o produto cremoso enquanto o mesmo derrete pelo calor.

— Você gosta de melancia, né? Seria legal se H'eart fizesse o suflê desse sabor...

— Andou lendo sobre mim? — Jeno demanda risonho.

Sim.

— Não! — respondo. — Sim, talvez... Mais ou menos — concluo.

— Você é fofa — diz em um sorriso. 

Fofa?! 

Ele disse pelo bem do programa... 

É claro. Pelo bem do programa.

— Mas, sim, eu gosto de melancia. Só acho que seria estranho se ela escolhesse esse sabor — acrescenta. — Os poucos que experimentei sempre foram de sabores neutros. O que eu preciso fazer agora?

Jeno se aproxima tocando seu ombro no meu. Está interessado na receita em minhas mãos enquanto o meu coração grita por socorro.

— Ah, precisamos de três gemas peneiradas. — Se afasta assim que tem a resposta de sua pergunta.

Me esqueço por alguns minutos que estou na frente de milhares de pessoas e que fazer esse tipo de expressão pode acabar gerando algum entendimento errado. 

Porém é esse o objetivo do programa: gerar entendimentos errados sobre duas pessoas. Então por que me incomodo com isso?

— Deixa que eu faço! — Acidentalmente seguro a peneira por cima de sua mão. 

Sinto meu rosto queimar no mesmo instante. Jeno me encara um pouco surpreso, e uma câmera se aproxima de nós dando close em nossas mãos juntas.

— D-Descul...

Desisto das desculpas ao me lembrar que o propósito aqui é fingir um relacionamento.

— O que mais sabe sobre mim, Siyeon-shi? — Distanciando nossas mãos, Jeno puxa assunto.

— Que é... A sua... cor favorita é... Gelo...?

— Quase acertou. É branco.

— Isso! Branco! — Repito levantando o meu tom de voz. 

E no mesmo instante me sinto envergonhada. 

Enquanto me concentro em peneirar as três gemas, Jeno mistura a massa por exato um minuto citado na receita. Em seguida, pega as claras dos três ovos e as incorpora em neve. É tão jeitoso como prepara cada coisa...

— Pronto! — H'eart se aproxima com um copo de quantidade desconhecida, por mim, com o líquido da fruta que escolheu para dar sabor ao suflê.

A cor alaranjada me traz boas lembranças do Fallin'ove, a cafeteria de Doyoung. Costumava servir bebidas  quentes feitas com café, mas algumas vezes, principalmente no clima quente, servimos deliciosos sucos de variadas cores. 

É estranho sentir falta do cansaço de servir os clientes durante todo o dia e desejar voltar para essa vida? 

Comovida pela boa lembrança, tenho em mãos uma colher de sopa e experimento o líquido alaranjado. Rapidamente me dou conta do sabor ácido e doce, típico de uma fruta cítrica. 

No entanto Jeno olha assustado para o líquido, talvez achando estranho como somente isso poderá dar sabor ao nosso prato. Eu também acho. O modo de preparo das coisas na cozinha são estranhas algumas vezes.

— H'eart isso... — Jeno aponta para o copo na mão da garota.

H'eart arregala os olhos e olha assustada para Jeno, ele espera paciente uma resposta parecendo não querer continuar o que ia dizer.

— O quê? — pergunto curiosa para os dois, sem entender suas reações.

— Siyeon-shi, você é alérgica à laranja — Jeno responde com tom de voz preocupado.

— Ai, meu deus! — exclama H'eart. — Eu não sabia! Tinha me esquecido!

— Você não sabia? Convive com ela por mais de quatro anos! — Nunca achei que Jeno poderia ser tão duro no seu tom de voz. Ao final de sua repreensão tem o olhar de volta para mim. — Siyeon-shi, você está bem?

Espera... Siyeon é alérgica à laranja? Youngjae somente disse que ela não gostava! 

A equipe de filmagem e direção param seus afazeres para prestar atenção à situação. A live é interrompida, as câmeras não mais sinalizam sua continuidade. É rápido como algumas pessoas da equipe se aproximam e ficam ao nosso redor. Jeno mantém a mesma expressão assustada e segura firme no meu ombro, sua outra mão permanece em meu antebraço. Sinto uma dor agonizante perto do meu coração, minha cabeça lateja e fortes dores agudas não me permitem continuar com a expressão calma. Tal ação deixa Jeno mais preocupado, conforme tensiono minha testa suas mãos me apertam.

É providenciado uma cadeira para que eu me sente, e rapidamente ligam para o hospital. Porém me recuso a sentar.

— Jeno-shi, eu...

— Não fale nada, por favor, se sente — pede me segurando, agora, nos dois ombros. — Fica calma que vai ficar tudo bem. Não vai acontecer como da última vez. Eu prometo.

— Eu tô... — Falho na tentativa de dizer que estou bem.

A mesma sensação agonizante parece tomar conta de todo o meu corpo.

Rapidamente sou bombardeada por lenços umedecidos e dois leques, segurados por diferentes pessoas, que me abanam velozmente. 

Eu não preciso disso. Não estou doente, não preciso de toda essa atenção!

Toco a mão de Jeno, por cima do meu ombro, e mesmo com a cabeça abaixada seguro firme em seu pulso procurando abrir caminho com meu corpo entre tantas pessoas da equipe. Ouço me chamarem pelo nome, sinto minha roupa ser puxada e minha mão livre tocada. Porém nada me faz cessar meus passos uma vez que me encontro na entrada do restaurante. Faço todo o caminho cerimonial de entrada, por correr sobre o tapete branco, e abrir a porta do carro puxando Jeno para dentro. Ignoro os muitos gritos histéricos, os seguranças parecem não entender o ocorrido.

— Siyeon-shi, o que—

— Jeno, eu preciso sair daqui — peço desesperada para o rapaz, que me encara boquiaberto. 

Permaneço segurando sua mão, a apertando com toda a minha força, e encaro aflita cada parte do rosto de Jeno.

O garoto olha para os lados parecendo estar bastante confuso, mas em um súbito se inclina para cima do meu corpo; sinto minhas costas deslizarem sobre o encosto do banco. 

Não entendo o que quer fazer. 

Ar escapa de uma vez dos meus pulmões e me sinto zonza. H'eart tinha razão. Ela tinha razão! 

Jeno centraliza o seu olhar em mim, o meu coração salta de uma vez para a cabeça, que continua a latejar mais e mais à medida que a situação embaraçosa continua. 

Ouço a porta do carro ser aberta, Jeno está com a mão esticada para abri-la. Ele é rápido em consertar nossos corpos e em um puxão, para o seu lado, me tem de volta ao normal. 

Espera... o quê? 

Ele sinaliza para que eu saia pela porta. Demoro alguns segundos para entender o que quer dizer e executar tal ação.

— O que você...

Do lado de fora, antes que eu possa terminar, Jeno fecha a porta do carro e me segura pelo pulso, olha para os lados, e para trás, antes de correr para o outro lado da rua.

— Jeno!

Mesmo o chamando, de forma informal, o garoto não tira os olhos do que tem à frente. É rápido em desviar das pessoas, árvores e arbustos quando entramos em um playground. Meu pé vira algumas vezes e isso atrapalha a nossa corrida, mas somos rápidos em recuperar a velocidade dos passos, boa parte pela ajuda de Jeno. Apesar da situação inusitada, o garoto está em câmera lenta. Seus cabelos voam com o vento, pela velocidade que corremos, e seu olhar rodeia por todo o ambiente; e eu não faço ideia de onde estamos. Sua mão não se afrouxa de segurar o meu pulso, e algumas vezes vira o rosto talvez verificando se estou bem. 

Corremos através de árvores em um parque aberto. Há crianças, pais e donos de animais passeando com seus filhotes. Jeno me segura pelos ombros, em um súbito, com olhar assustado, o que me preocupa nos primeiros segundos. Tenta  me esconder entre o largo tronco de uma das árvores, a mais afastada das pessoas no geral.

— Está tudo bem? — pergunta.

Sua respiração ofegante me deixa curiosa sobre ele, sobre a sua ação mais cedo. Porém Jeno não parece que irá falar de si ou do que aconteceu antes da minha resposta.

Balanço positivamente a cabeça, atônita demais para dizer alguma coisa. 

Jeno se afasta dois passos na tentativa de recuperar o fôlego, apoiando as mãos na cintura, mas sempre que pode tem olhar rápido sobre mim. Por um momento me esqueci que, também, preciso recuperar o fôlego.

— Por... quê? — demando depois de segundos em um silêncio desconfortável.

Jeno se aproxima dois passos, nossa diferença de altura nunca esteve tão visível.

— Eu quem te pergunto. Por que decidiu correr? 

— Eu...

— Não. Ao invés disso me responde se você está bem! Li que é muito alérgica à laranja. O que está sentindo? Estou sem o meu celular, mas podemos correr até um hospital, tem um aqui perto.

— Não. — Minha resposta dura arranca um olhar confuso e assustado de Jeno. — Realmente estou bem. Eu não... não tenho alergia à laranja...

Franzindo a testa, o garoto parece tentar a todo custo entender a situação. 

Abro a boca para continuar a explicação, talvez seja a hora de dizer tudo, mas hesito muitas vezes.

— A verdade é que—

— Por que mentiu pra mídia sobre a sua alergia? — sua pergunta me tira um olhar surpreso. — Quer tenha sido o seu gerente que te pediu pra não contar ou não, você não pode mentir dessa forma... mentir sobre essas coisas.

Algumas mechas de cabelo caem sobre a testa de Jeno quando o mesmo abaixa o rosto. Seu olhar está fixo no chão, sua respiração aos poucos volta ao normal. 

O cansaço da corrida até aqui vai embora. Por outro lado, o sentimento de culpa permanece dentro de mim. Eu não estou somente mentindo sobre uma alergia...

— Me desculpa... Você confiou em mim e... eu não deveria ter mentido... Eu... corri por medo do que... iriam me falar ou fazer quando descobrissem que eu não sou alérgica.

Jeno me encara com um olhar penoso.

— Por que você não puxou a H'eart em vez de mim?

Sua pergunta desperta um sentimento doloroso e ao mesmo tempo aconchegante. No meio do desespero não notei o quanto inconscientemente confiei em Jeno mais do que a minha companheira de grupo, e isso pode acabar totalmente com o meu disfarce.

— Quer saber — acrescenta —, ela queria o seu mal. Vocês convivem há muito tempo e é estranho ela não saber da sua verdadeira alergia, mas ainda sim como pôde simplesmente esquecer o que você tem? — diz em tom irritado, indignado com o fato. Até acho fofo como tensiona a testa e faz bico ao pensar sobre o assunto.

— Eu não faço ideia de como vamos voltar pra lá...

— Não precisamos — sua fala me preenche de ânimo. 

Jeno se senta na grama e me puxa pelo braço para que também me sente. Inspira fundo soltando o ar de uma vez só.

— Vamos aproveitar o pouco tempo aqui fora até eles nos acharem — diz com voz mansa tendo o olhar sobre mim.

Assinto com um sorriso de lábios me recostando sobre o tronco da árvore. Porém Jeno parece desconfortável por não achar um encosto. Me ajeito um pouco para o lado, e com o pé toco na perna dele para chamar a sua atenção. O garoto entende no mesmo segundo quando insinuo para que se encoste no mesmo tronco. Só não esperava que ficaríamos tão próximos, nossos ombros se apertam um contra o outro.

— Por que correu comigo? — demando receosa. — Poderia só ter se soltado da minha mão.

— Eu não sei — responde simplista. — Talvez eu também quisesse sair correndo. Não sei, eu... sei lá. Fiquei desesperado com o fato de você parar no hospital de novo por minha culpa.

— Mas não foi culpa sua.

— Eu poderia ter impedido assim que achei estranho. H'eart é realmente a sua melhor amiga?

Não respondo. 

Não quero mais mentir.

— Você nem sabe o que responder.

— Eu só não sei.

— Se você não pode confiar em suas companheiras de grupo, em quem você confia?

Mais uma vez ele não obtém resposta. Distancio meu olhar pressionando os lábios. 

Jeno suspira. 

Eu não sei que desculpa inventar, Siyeon parece ser tão lamentável... Como a sua melhor amiga poderia traí-la dessa forma? Será mesmo que esqueceu? H'eart estava sendo tão cuidadosa... Talvez realmente tenha esquecido da alergia.

— Confie em mim. Vamos nos conhecer melhor — Jeno diz com sorriso —, sem levar em conta as coisas da internet e o que falam de você e de mim. Vamos... fazer mais só do que ler fatos um do outro.

Sua proposta me enche de entusiasmo. Estou ansiosa para conhecê-lo. Ler seus muitos fatos durante à noite não me fez conhecedora dele. Quem poderia imaginar que correria comigo dessa forma?

— Tudo bem se eu começar? — ele pergunta, assinto com a cabeça. — Certo, pelo básico. Qual a sua cor preferida?

— Roxo — respondo quase que no mesmo segundo.

— Música preferida?

— It Will Rain, Bruno Mars.

— Prefere a noite ou dia?

— O dia!

— O seu hobby? 

— Ser barista.

— Qual o... Ser barista? 

A pergunta de Jeno me deixa sem ar. Deixei escapar algo importante...

— Ah, é que... eu... andei vendo uns vídeos no Youtube sobre isso...

— Legal! Nunca parei pra assistir algo assim.

Minha desculpa parece ter funcionado.

— É lindo como desenham no café! As misturas que fazem... Me pergunto como conseguem deixá-lo tão gostoso. Quando você experimenta a Latte Art é fantástico, uma sensação única. — Continuo empolgada com o assunto.

Fico surpresa em como Jeno presta atenção em cada palavra minha, nem mesmo Midoo, minha melhor amiga, consegue ficar tanto tempo me ouvindo. Ele faz algumas perguntas básicas como os tipos de misturas que existem, e eu mostro alguns truques de mistura com as mãos para fazer bem qualquer desenho.

— Desculpa, acho que falei demais...

— Não! Eu gosto! Você é bem curiosa — finaliza com um riso. — Não esperava que me contasse tantas coisas sobre a sua vida. E... estranhamente me sinto na mesma necessidade.

— Então me conte!

Jeno perde a timidez no pouco que conta sobre si. É adorável como evita contato visual algumas vezes, a ponta de sua orelha vermelha e a bochecha rosada, e em como o seu sorriso acaba com todas as minhas preocupações sobre as pessoas que passam próximas de nós dois. Todas as histórias de suas muitas aventuras com os seus amigos me dão mais e mais vontade de conhecê-los, talvez eu deva dar uma chance ao NCT, o grupo que ele pertence. 

Jeno e eu rimos de piadas sem graça, de casos estranhos envolvendo outros artistas e no quanto para ele estar nesse programa é estressante.

— Pensei que ia ser muito ruim, mas está sendo fácil de lidar com tantas câmeras em um clima tenso de... romance... graças a você. — Agradece com sorriso. 

— Posso dizer o mesmo. Eu nunca imaginei que poderia ser tão divertido. Sério sempre detestei esse programa porque tudo é falso. Antes do primeiro dia eu estava tão nervosa... 

— Você? Nervosa?

— Como nunca estive.

— É, acho que não devo confiar em tudo que vejo na internet.

— Ah... bom... — Preciso mudar de assunto! — Você me disse que também estava nervoso e ainda está um pouco, né? Vou te emprestar um livro que me ajudou a lidar com o estresse, o que acha?

— Um livro?

— Sim! Ele é um conto de um riacho solitário que não queria ir pro lado que nasceu para ir. Reflito muito em cada frase pensando no sentido da vida real. Será que somos da mesma forma? Podemos ir contra a correnteza imposta por outros?

Jeno pensa antes de responder:

— Que intrigante. Pelo menos ele acha uma solução plausível?

— Você vai descobrir se ler. — Sorrio, Jeno faz o mesmo virando o rosto para o lado.

O garoto encosta a cabeça no tronco, deixando seu corpo mais relaxado. Observo como seu rosto é delineado por uma beleza única. Seus olhos, quando não sorri, ainda conseguem ser bem pequenos e isso o deixa muito atraente. Ele inspira fundo e fixa o seu olhar no céu. Há poucas nuvens, o clima está agradável e, por conta disso, muitas pessoas perambulam pelas ruas.

— Será que irão demorar para nos encontrar? — pergunta pensativo.

— Eu espero que não — respondo com sorriso de lábios. — Estar com você está sendo mágico, uma das melhores sensações da minha vida.

Jeno vira lentamente o rosto para mim, me atento ao seu olhar na expectativa do que irá dizer:

— Não está exagerando?

— Não! Olha as coisas que fizemos! Eu nunca senti tanta adrenalina assim.

Ele sorri de canto. Talvez concordando com a minha afirmação?

— Tenho que admitir que realmente foi muito divertido. Mas não está preocupada com a bronca que vamos levar dos nossos gerentes?

Uma ponta de medo vagueia sobre o olhar de Jeno, lentamente o seu sorriso se esvai. Eu não sou uma idol. Desconheço todos os sentimentos de um. Não consigo saber o que está por trás do medo que sente, mas não posso apenas assistir.

Ajeito meu corpo a fim de ficar de frente para ele, Jeno acompanha meus movimentos com o olhar.

— Eu levo a culpa — digo com sorriso.

— Não, eu quem—

— Não se preocupe, Jeno.

Seja pela forma informal ou pela confiança na voz, minha fala o paralisa completamente. 

— Não vou deixar que você leve a culpa por um erro meu. Não quero estragar a sua reputação, você precisa dela muito mais do que eu preciso. — Sorrio ao final da frase.

Jeno parece não entender, seus olhos percorrem todo o meu rosto antes de se perderem à nossa volta.

De longe ouço uma comoção. Por imaginar a sua origem, não tiro minha atenção de Jeno na espera de alguma reação dele. Porém o garoto continua a se perder em seus próprios pensamentos. Me pergunto se o que eu disse o incomodou de alguma forma...

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