70
Se eu sonhei, não me recordava em detalhes do sonho. Contudo, com certeza Sebastian Johnson estava nele. Mesmo de olhos fechados, seu rosto ainda surgia em meus pensamentos e nos sonhos mais ínfimos do meu interior.
Talvez isso estivesse acontecendo porque eu ainda estava embriagada por seu perfume, o calor de sua pele e presença avassaladora.
Somente consegui dormir porque meu corpo estava completamente exausto, mesmo minha mente desejando manter-se consciente para não desgrudar os olhos do homem ao meu lado.
Acordei apenas porque meu corpo já tinha se habituado a acordar cedo. Mesmo tendo dormido a noite inteira, acordei um pouco cansada e o corpo dolorido em alguns pontos.
E, honestamente, se eu pudesse, teria ficado deitada naquela cama pelo resto do dia. Os lençóis macios acariciavam minha pele, trazendo-me conforto, e o colchão igualmente macio dava a sensação de estar dormindo sobre nuvens fofinhas — mesmo eu não sabendo como era dormir em nuvens.
Na verdade, parecia literalmente que eu estava nas nuvens. Ou ainda sonhando.
Quando abri meus olhos, deparei-me com o personagem dos meus sonhos, só que em proporções reais. E seu perfume foi à primeira coisa que me fez perceber o quanto estava próximo. Não fiquei surpresa quando deparei com ele observando-me. Seus olhos verdes estavam fixos em meu rosto, atento a cada detalhe e característica. Aquilo me causou desconforto, pois eu deveria estar terrível ao acordar.
Puxei a coberta para meu rosto, tentando me esconder. Escutei seu riso e ele puxou a coberta, obrigando-me a expor minha feição de recém acordada. Eu deveria estar descabelada e com o rosto inchado de alguém que acabou de acordar, mas isso não o desagradou. O sorriso em seus lábios aumentou assim que deixei visualizar minha feição.
— Bom dia — cumprimentou Sebastian, a voz rouca.
Eu estaria mentindo se dissesse que aquela voz rouca não tivesse surtido efeito em mim. Quis me estapear por estar pensando em coisas inapropriadas logo de manhã, mas era difícil com um homem como ele ao meu lado.
— Péssimo dia — resmunguei, esfregando os olhos e rezando para não ter remelas neles.
— Por quê? — indagou, surpreso pelo meu mau humor matinal.
— Porque eu odeio acordar cedo...
— É, isso eu já sei — riu ele, relembrando provavelmente a mesma coisa que eu, das vezes que fui chamada para ir ao seu escritório bem cedo, de manhã.
— Que horas são? — perguntei, recordando que era dia da semana e eu tinha minhas obrigações habituais.
— Provavelmente sete horas da manhã, um pouco menos ou mais. Não tenho certeza, mas sei que Rose já veio bater na porta estranhando o fato de eu não ter levantado e você muito menos estar na sua cama... — respondeu Sebastian.
Fiquei boquiaberta ao recordar da governanta Rose ou sobre o que ela pensaria se soubesse que eu estava deitada com o seu patrão.
— O que ela vai pensar de nós? De mim? Caramba... — Levei a mão aos cabelos, já sentindo a dor de cabeça que teria pelo constrangimento.
Sebastian segurou meu pulso, levando minha mão para beijar suavemente.
— Vai pensar nada... Ela sabe que você é minha namorada... — argumentou ele. Tive que conter um sorriso ao ouvir aquilo.
— De mentira — resmunguei.
— Que pode se tornar de verdade — contrapôs.
Arregalei os olhos, surpresa por aquela declaração logo cedo. Não soube como reagir. Sebastian, percebendo minha reação, tratou de se corrigir:
— Não q-quero que você s-se sinta na obrigação de aceitar... V-vou entender p-perfeitamente se não q-quiser entrar em um relacionamento... — gaguejou ele. Me senti mal por deixá-lo nervoso novamente.
— Não é isso... É que, talvez, eu não esteja preparada para namorar — menti. Ok, não era completamente mentira, pois havia um traço de verdade naquela frase.
Eu não poderia namorar ele — e mais ninguém — enquanto meu coração permanecesse indeciso. Seria injusto para a pessoa que eu escolhesse para ser meu namorado. Não era correto estar com um, enquanto pensava em outro.
— Entendo. Talvez eu tenha me apressado — compreendeu ele, a expressão um pouco séria.
Fiquei nervosa por ver seu humor mudando.
— Sebastian... — Levei minha mão ao seu rosto, temendo tê-lo magoado. Contudo, ele logo cobriu seu rosto com a máscara de um sorriso.
— Eu vou aceitar ser o que você quiser que eu seja, Melissa — falou, confiante. — Mesmo sabendo da concorrência que eu tenho.
Controlei a careta que quis cobrir meu rosto, sabendo que ele se referia a Tom Flanagan. Soltei uma risadinha, sem saber o que responder. Logo em seguida ele mudou de assunto, indo para outro completamente diferente e bem mais... Interessante.
— O que acha de tomarmos um banho? — propôs, um olhar indecente percorrendo meu corpo ainda coberto pelo lençol.
— Humm... — Enquanto fingia ponderar, Sebastian não deixou que respondesse, pois afastou os lençóis e pegou-me em seus braços fortes, carregando-me para onde pressupus ser o banheiro. — Me solta!
Até cogitei em espernear, mas não achei uma boa ideia sabendo do meu peso e que realmente poderia cair.
Fiquei surpresa pela sua força, pois eu sabia que não era uma pessoa leve. Mas Sebastian não demonstrou dificuldade em me carregar e colocar sentada sobre a bancada da pia do banheiro.
— Como você é forte! — soltei, sem pensar muito, até perceber o efeito que meu comentário causou no CEO. Um sorriso de satisfação se espalhou, exibindo seus dentes brancos. Havia agradado seu ego, percebi.
— Ah... Você acha? — provocou ele, deixando-me colocar a mão sobre seu peitoral definido. — Eu vou muito à academia... Para me distrair quando penso muito em você...
Revirei meus olhos pelo comentário, por sua gabação. Ele segurou meu queixo, pela minha expressão de deboche, e quando imaginei que fosse me beijar, suas mãos vieram até o meu pescoço, até o fecho do colar.
Eu sabia que estava usando o colar de Maria Antonieta aquele tempo inteiro, mas acabei esquecendo de retirar. Pensando bem, tinha sido um risco usá-lo durante todo aquele tempo, sabendo da responsabilidade.
Sebastian abriu o fecho e o retirou, observando por alguns segundos a joia:
— Acho que esse colar foi feito para você usar... Ele ficou mais bonito em seu pescoço — elogiou Sebastian, dessa vez massageando meu ego.
— Isso pode até ser verdade, mas não sei se quero usá-lo novamente. É muito arriscado usar um colar desse valor... — brinquei.
— Você não gostou? — perguntou ele, parecendo chateado. Não entendi o motivo de sua reação, mas tratei de explicar.
— Não é isso! Ele é lindo, mas... Mas não é algo que eu usaria... Por causa do valor e tudo mais... Quero dizer, o dinheiro foi seu, mas é muita responsabilidade usar um colar de dez milhões de dólares — justifiquei.
Sebastian Johnson ainda parecia magoado, mas assentiu, sendo compreensivo.
— Bom, eu comprei porque imaginei que você tivesse gostado... — disse, só me deixando confusa.
— E quando eu transpareci ter gostado?! — indaguei, não me recordando de ter dado a entender aquilo.
— Assim que viu o colar, você disse que o achava bonito... — Fiz uma expressão pensativa, até recordar realmente ter dito aquilo. Quando ponderei em dizer algo, para retrucá-lo, o mesmo colocou o dedo indicador sobre meus lábios. — Já é tarde, Melissa. Eu o comprei para você, e agora é seu.
O quê?! Como assim? Ele simplesmente achava que eu iria aceitar receber um colar daquele preço? Custava uma fortuna! Provavelmente o dinheiro que eu gastaria durante toda a minha vida — provavelmente se eu vivesse mais de cem anos, óbvio.
Eu quis argumentar, dizer que não iria aceitar o tal colar, mas ele não deixou que eu iniciasse uma discussão por causa daquilo. E, bem, nem quis, porque ele acabou me distraindo.
Sebastian deixou o colar de lado e puxou-me para o seu corpo. Envolvi minhas pernas ao redor de seus quadris e ele, apenas para exibir mais da sua força, me carregou até o box do chuveiro.
Fui colocada em pé, no chão, e levei as mãos aos meus cabelos apenas para soltar os fios ainda presos. Sebastian me ajudou, retirando os grampos das mexas com uma delicadeza surpreendente. Os fios se soltaram e meu cabelo ficou solto.
O CEO ligou o chuveiro e a água quente caiu sobre nós. Eu me encolhi inicialmente ao contato da água contra meu corpo, mas aos poucos meus músculos começaram a relaxar. Mas não por muito tempo, pois Sebastian enfiou sua mão sob minhas madeixas e me fez expor meu pescoço a ele. Enquanto a água caía sobre nosso corpo, sua boca tomava vagarosamente minha pele exposta. Sua língua foi ousada, percorrendo cada mínima parte, até chegar aos meus seios. Por lá, ele se deliciou em sugá-los e excitá-los.
Sorte a minha tê-lo segurando meu corpo — e por sua força —, senão teria caído no chão pelas minhas pernas amolecidas e fracas. Sebastian me sustentou, continuando com seus beijos pelos meus seios, depois pela minha barriga, até ficar de joelhos.
Eu sabia que tinha sido uma má ideia aceitar tomar banho com ele — certo, nem tive a oportunidade de realmente aceitar. Porém, não era de todo ruim.
Sebastian colocou minha perna esquerda sobre seu ombro, conseguindo a abertura — pior palavra que eu poderia usar para descrever — para depositar os beijos no interior de minha coxa. E, finalmente, seus lábios beijaram minha intimidade.
Não pude conter os gemidos que escaparam dos meus lábios. Sorte a minha estarmos em seu banheiro, que era grande o suficiente para conter os sons que eu produzia, impedindo que alguém nos ouvisse do lado de fora.
O CEO continuou a fazer o que fazia tão bem entre minhas pernas. Eu não demorei para sentir o orgasmo avassalador que me tomou minutos depois.
— Sebastian... — gemi, clamando seu nome em necessidade.
Minha boca foi coberta pela sua, obrigando-me a retribuir seu beijo. E pra mim não foi uma obrigação, mas sim uma satisfação.
Quando nos afastamos, fui observada por seus olhos em uma expressão divertida. Retribui seu sorriso, envergonhada por minha reação um pouco descontrolada.
Eu ainda estava trêmula pelo o que tinha acontecido ali, mas não cumprimos com a obrigação que tínhamos ido fazer no banheiro.
Sebastian pegou o sabonete líquido e colocou na esponja de banho, para depois esfregar minha pele. Fiquei em silêncio, observando seus movimentos, enquanto se concentrava no processo. Deixei que esfregasse meus braços, barriga, seios e até minhas costas. Controlei o riso, achando graça da sua expressão séria durante todo o tempo.
Me posicionou de costas para ele, que começou a esfregar meu cabelo com o seu shampoo — que, aliás, era muito cheiroso. Quando considerou que já estava bom, me colocou debaixo do chuveiro e deixei que a água levasse toda a espuma.
— Acho que você já está completamente limpa... — anunciou ele. Abri um pequeno sorriso e assenti, concordando. — Que tal ir se secar e se arrumar para o café da manhã?
— Você não quer que eu te ajude com o seu banho? — propus, em tom malicioso.
— Eu adoraria, mas temo que se ficarmos mais tempo aqui, vamos acabar nos atrasando para nossas obrigações do dia... Quem sabe em outro momento — disse Sebastian. Contive minha careta ao recordar que ainda deveria ir trabalhar, mas concordei.
Tive permissão para sair do chuveiro e peguei um roupão, vestindo-me com ele, assim como uma toalha para enrolar em meus cabelos úmidos.
— Te vejo daqui a pouco — despedi-me timidamente, com um simples aceno e saí do banheiro, sabendo que seus olhos verdes ainda estavam fixos em mim e acompanhavam meus movimentos.
Saí acalorada do banheiro, tentando não ficar pensando no homem nu que deixei lá dentro. Caramba... Como eu pude deixar que Sebastian Johnson surtisse esse efeito em mim?
Passei pelo quarto, evitando olhar a cama que dividimos durante a noite, além de vários momentos íntimos... Argh! Eu estava ferrada. Por que tinha sido tão bom? Por que ele era tão bom naquilo que fazia? Eu queria que Sebastian tivesse algum defeito... Como na sua aparência perfeita ou até na sua capacidade sexual, porém, ele parecia incansável... Certo, ele tinha muitos defeitos e havia cometido vários erros, mas tinha pedido desculpas. Assim como Tom, relembrei.
Passei a noite inteira, até aquela manhã, evitando pensar no meu chefe, mas sabia que uma hora ou outra teria que enfrentá-lo. E o que seria de mim? Ora, mais uma vez eu o tinha traído, agora com seu praticamente arqui-inimigo Sebastian Johnson.
Tom Flanagan tinha me pedido no dia anterior para escolhê-lo, mas como poderia fazer isso, sabendo que uma parte do meu coração desejava Sebastian Johnson? Ainda havia Alexander Hall, páreo naquela competição, mas provavelmente me odiando fervorosamente.
Eu queria ter a capacidade de ser egoísta e ficar com todos, mas eles eram seres humanos, assim como eu, e não mereciam ser enganados. Eles eram únicos e mereciam encontrar alguém que quisesse somente eles. E eu só poderia escolher somente um... Mas qual?
Depois que adentrei o quarto e vagava distraída pelo closet, me questionando onde estariam as roupas que usei na noite passada, subitamente a governanta Rose entrou. Ela tinha um sorriso largo em seu rosto.
— Bom dia, srta. Fontoura! Procurando roupas para usar? — indagou ela, cortês.
— Bom dia... Sim. — Eu estava completamente envergonhada, imaginando que a mesma já tivesse presumido o meu paradeiro ao não me encontrar na cama daquele quarto.
— Fique à vontade para usar uma das roupas de seu closet. Todas elas são do seu tamanho e compradas especialmente para você...
Estranhei sua oferta, ainda mais ao finalmente perceber que havia outras roupas espalhadas por ali além dos vestidos de gala.
— Eu posso? — Hesitei, observando as peças separadas por cor.
— Claro! — apenas disse a governanta, parada e me observando. — Precisa de ajuda para algo?
— Não, eu posso me virar sozinha... — Soltei um riso nervoso e selecionei a primeira roupa que considerei adequada a usar.
Uma blusa azul com detalhes em renda e uma calça social preta. A governanta balançou a cabeça, parecendo aprovar minha escolha.
— O café da manhã logo estará pronto. Irei me retirar para que fique mais à vontade — avisou a mulher, deixando-me sozinha.
O alívio perpassou meu corpo. Certo, eu estava receosa pelo o que ela poderia estar pensando de mim. Bem, não deveria me importar, mas certamente a governanta deveria saber que meu relacionamento com seu patrão era falso. Porém, era óbvio que ela não faria nada a respeito, mas e se ela pensasse mal de mim? Deixei esse pensamento de lado quando olhei as horas e me prontifiquei a vestir as roupas e terminar minha arrumação.
Não tive tempo para secar meus cabelos. Esfreguei a toalha nas mexas molhadas e penteei, deixando o mais arrumado possível. Vesti as roupas escolhidas e calcei os meus sapatos, que estavam do lado dos vários outros saltos elegantes. Minhas roupas que vim usando no dia anterior não achei em nenhum canto, mas pressupus que estivessem sendo lavadas.
Não passei nada no meu rosto além de um batom. E nem podia. O tempo estava ficando curto e tive que me apressar para sair. Não passei um batom vermelho, claro — mas bem que quis —, e sim um rosado, para deixar minha aparência sadia. Depois que considerei que estava apropriadamente arrumada, peguei minha bolsa e desci as escadas.
Eu estava nervosa. Nem parecia que estava com Sebastian Johnson há um pouco mais de dez minutos. Para minha surpresa, deparei-me com ele a mesa. Ele já estava vestindo seu habitual terno, dessa vez de cor cinza, e seus cabelos também estavam úmidos, mas bem arrumado em um belo topete.
Contive o sorriso bobo que quis tomar meu rosto logo após vê-lo. Ele, no entanto, não conteve o sorriso de satisfação e imediatamente ficou de pé, apenas para puxar a cadeira para que eu sentasse.
— Exagerado... — resmunguei, enquanto me sentava, mas dessa vez não contendo mais o sorriso.
Ele se sentou no seu lugar a ponta da mesa e manteve seus olhos verdes fixos em mim.
— Bom dia, srta. Fontoura — cumprimentou, como se não tivesse me visto mais cedo.
— Bom dia, sr. Johnson — retribui a provocação, apoiando a mão no queixo, e correspondendo seu olhar.
Ficamos daquela forma por alguns minutos, nada dizendo, apenas se olhando. E o que eu poderia dizer? Eu tinha dito tudo na noite passada, assim como ele.
Somente paramos de nos encarar quando a governanta Rose surgiu para servir o café da manhã.
— Vou querer o café bastante forte hoje, Rose, por favor, ao em vez do chá — pediu o CEO, para então justificar: — Para mim foi um sacrifício dormir essa noite.
— Ah, é? Eu dormi perfeitamente bem, acredita? — O olhei sugestivamente e adicionei: — Estava bastante cansada.
Sebastian não conteve o meio sorriso cheio de malícia que tomou seus lábios.
— Bom, eu também estava exausto, mas algo me distraiu... — justificou ele, indicando-me. Olhei-o boquiaberta, não acreditando que eu tinha sido a causa de sua insônia.
— E para você, senhorita? O que deseja beber? — perguntou a governanta, em tom agradável.
— Suco de laranja — respondi, sem me virar, ainda retribuindo o olhar do CEO.
Escutei a mulher mais velha se retirando do recinto, deixando-nos sozinhos.
— Eu te atrapalhei a dormir? — perguntei, permitindo que o receio viesse à tona. Não queria ter atrapalhado o sono do homem ao meu lado.
Estendi a mão para pegar uma das torradas na cesta. Passei manteiga e a enfiei na boca, sem cerimônias, porque estava faminta. Sebastian riu quando notou a expressão de satisfação em meu rosto ao estar finalmente comendo algo.
— Você não me atrapalhou, Melissa. Mas foi difícil pregar os olhos, sabendo que você estava deitada ao meu lado... — Juntei as sobrancelhas, ainda confusão pela sua resposta. Ele adicionou: —... Depois que eu esperei muito por esse momento, desejando que se tornasse real, e finalmente se tornou.
Minhas bochechas instantaneamente arderam, embasbacada por sua nova confissão. Estava prestes a dizer algo quando finalmente a governanta retornou com nossas bebidas, acompanhada da chef Evenlyn, que colocou os pratos de café da manhã diante de nós dois.
Agradeci e voltei para minha comida, enquanto o CEO fazia o mesmo. Tive que comer minha comida com pressa. Sebastian estranhou, mas justifiquei o motivo da minha rapidez, depois de ter mastigado e engolido minha comida:
— Já está dando meu horário... Não posso chegar atrasada!
Sebastian, percebendo meu receio em chegar atrasada, sinalizou algo para a governanta, que se retirou por alguns minutos.
Terminei minha comida e engoli em segundos o meu suco de laranja.
— Eu já vou indo... — comecei, levantando da cadeira e pegando minha bolsa.
Ele, que não tinha terminado seu café da manhã, também se levantou, pegando seu blazer e o vestindo.
— Não precisa ter pressa. Ainda temos tempo e faço questão de levá-la ao trabalho — prontificou-se o CEO.
— Não precisa... — tentei falar, mas ele segurou minha mão e me levou para o elevador.
— Eu quero acompanhá-la, Melissa — pediu. Não entendi quais eram suas intenções ao fazer isso, mas não rejeitei. Ir de carro seria mais fácil do que ir caminhando ou tentar pegar o metrô.
O CEO chamou o elevador e aguardamos a chegada. Todavia, a governanta retornou carregando uma caixa de veludo, que entregou a Sebastian. Reconheci a caixa e provavelmente seu conteúdo.
As portas se abriram e adentramos o elevador, enquanto me despedia da governanta, constrangida por imaginar a mesma encontrando meu vestido da noite anterior no quarto de seu patrão.
— O que é isso? — perguntei, mesmo já imaginando o que se tratava.
— Seu colar... — Ele estendeu a caixa de veludo para mim. Hesitei. — É seu, Melissa. Eu comprei de presente para você...
— Vou ter que rejeitar seu presente, Sebastian... — falei. A expressão de decepção cruzou seu rosto. Tratei de me corrigir: — Não é que eu não queira, mas não posso andar por aí carregando um colar desse valor... Entende?
Olhei para o rosto do CEO, esperando que seu humor mudasse e não ficasse chateado comigo.
— Entendo perfeitamente, Melissa. Se quiser usar o colar, você sabe onde encontrá-lo, pois estará comigo — concordou.
Sorri agradecida e notando nossa distância, estendi minha mão para pegar a sua. Sebastian pareceu aprovar minha atitude, pois encaixou seus dedos aos meus.
O elevador abriu suas portas no estacionamento subterrâneo e seguimos até sua BMW, em que o motorista já nos aguardava. Entrei primeiro no automóvel, mas não me afastei quando o CEO se sentou ao meu lado. Ele colocou o meu cinto antes de colocar o seu e tornou a pegar minha mão, segurando-a com as suas. Naquele momento eu deveria ter estranhado o desaparecimento da caixa de veludo com o colar, ou o motivo da minha bolsa ter ficado mais pesada, porém, ignorei. Sebastian me distraia de tudo e ainda estava embriagada por sua presença.
Eu gostei daquela proximidade. Antes eu considerava desconfortável estar ao seu lado, mas agora era tão bom, pensei. E Sebastian também aprovava, pois o sorriso que surgiu em seu rosto no momento que segurei sua mão permanecia em seus lábios.
Nós não ficamos em silêncio o percurso todo até meu trabalho, como no dia anterior quando ele foi me buscar. O CEO parecia querer conversar sobre algo, mas travava uma batalha interna tentando dizer o que desejava.
— Melissa... — chamou-me, mesmo eu estando ao seu lado. O olhei diretamente, aguardando suas palavras seguintes. —... Pensei bastante sobre o que conversamos ontem à noite...
— Sim? — incitei que continuasse, principalmente porque não recordava sobre qual assunto especificamente estava mencionando, pois conversamos sobre muitas coisas diferentes na noite anterior.
—... Sobre me reaproximar de Seth. — Imediatamente quando escutei o nome de seu meio-irmão, fiquei ansiosa, em expectativa sobre o que iria dizer. — Você pode estar comigo quando isso acontecer? Não acho que seja capaz de me encontrar sozinho com ele pela primeira vez.
Concordei imediatamente, afagando sua mão, demonstrando que teria minha companhia e apoio.
— Ótimo... Se importa de ser hoje?
— Hoje?! Claro! — tratei de aceitar, pois quanto mais pensava naquela reaproximação, mais ficava animada.
— Pode ser durante seu horário almoço? E-eu pedirei para a chef Evelyn preparar algo e podermos almoçar juntos, e então você poderá convidar Seth para vir — propôs ele.
— Claro, Sebastian — concordei prontamente, tentando conter o sorriso de felicidade que queria tomar meus lábios.
Estava ansiosa pelo reencontro dos irmãos, depois de tanto tempo se evitando e estranhando.
O percurso até o restaurante foi rápido e fiquei um pouco decepcionada, mas sabendo que logo reencontraria Sebastian, não me senti tão mal.
— É melhor eu ir... Até logo?
Sebastian não respondeu imediatamente, pois selou com o espaço entre nós e me beijou. Ignorei o fato de haver outra pessoa naquele carro e me entreguei a aquele beijo. Um beijo cheio de significado e ternura. Coisas que eu não esperava vindo do CEO. E, honestamente, eu gostava de ser surpreendida por ele. Nos afastamos e ele se despediu:
— Até logo... Estarei contando as horas para revê-la!
Saí do carro, finalmente recobrando minha consciência e lembrando da vida real. Dei um último aceno a Sebastian e fechei a porta, virando-me para o restaurante Flanagan Garden.
A cada passo que eu dava, após entrar pela entrada de funcionários, ter batido meu cartão, passado pelos corredores e subido de elevador até o andar que eu trabalhava, maior ficava o peso em meus ombros. Odiava a sensação de mal-estar que me preenchia, mas era merecida. Não olhei para a porta do escritório do chef de cozinha, temendo a qualquer momento que ele surgisse. Não que eu não quisesse ver Tom Flanagan, mas não queria ver a mesma expressão de decepção em seu rosto como quando me viu sendo beijada pelo CEO.
Se ele soubesse do que havia acontecido entre mim e Sebastian Johnson, certamente ficaria furioso. E talvez assim conseguisse conquistar seu ódio definitivo.
Eu não sabia o que estava fazendo da minha vida. Cada vez mais me encrencando, tomando decisões inconsequentes, mas nunca as certas. Eu queria estar com Sebastian, e assim o fiz. Eu queria me entregar a Tom Flanagan, e assim o fiz. Eu queria a segurança de Alex, e assim o fiz. Contudo, cada vez que eu tomava uma decisão para estar com eles, mais eu me confundia sobre qual seria minha decisão final.
E quanto mais eu pensava nisso, sabia que a única coisa que me neguei a fazer iria acontecer: alguém sairia de coração partido. Se não fosse um deles, seria eu. E mesmo eu escolhendo um clichê para ficar, meu coração sairia machucado por saber que teria machucado o coração de outra pessoa.
Naquele momento a única coisa que tentei focar era no meu propósito atual: a reaproximação de Seth e Sebastian.
Assim que cheguei ao escritório, cumprimentei minhas duas colegas de trabalho. Recebi elogios de Grace, que havia dito ter visto fotos minhas na premiação da noite anteior. Agradeci aos seus elogios, mas preferi não falar muito sobre o assunto. A festa em si não tinha sido boa.
Enquanto iniciava meu trabalho, enviei uma mensagem a Seth, sabendo que não teria tempo para fazer uma ligação a ele.
''Sebastian aceitou encontrar você para um almoço. Se realmente quiser revê-lo, o almoço será ao meio-dia, no apartamento dele. Aceita?''
Seth Johnson não demorou a responder à mensagem.
''Com certeza! Caramba, Melissa, não acredito que você conseguiu convencê-lo! Me envie o endereço, que estarei no horário marcado lá. Prometo não atrasar!''
Sorri para sua mensagem de texto, contente pela animação demonstrada. Eu esperava que as intenções de Seth fossem genuínas com seu meio-irmão. Seria terrível se ele agisse de maneira ruim e deixasse Sebastian magoado. E no final das contas eu seria a culpada por isso.
Sabendo da história de Sebastian, me sentia mais solidarizada por ele — além dos meus sentimentos complexos — e achava a oportunidade de reestabelecer a relação entre irmãos algo bom. O CEO cresceu sua vida sem um familiar, somente tendo a avó ao seu lado, que faleceu. Como deveria ser seus feriados? Os Natais, as Páscoas e Ações de Graça? Para mim era uma tortura estar longe da minha família, mas ao menos tinha meus amigos para essas datas. E aparentemente nem amigos o CEO tinha.
Não, eu não queria ter a perspectiva de um homem solitário. Certo, se eu me tornasse mais que uma falsa namorada e o escolhesse, poderia ser eu a estar ao seu lado nessas datas. Mas como não tinha certeza de nada, preferia ajudar a reestabelecer o tempo perdido entre irmãos.
E as horas antes do almoço seguiram-se assim, lentamente, como uma tortura. Tive que rejeitar o convite para o almoço de Grace, dizendo que iria almoçar com Sebastian. Ambas minhas colegas de trabalho saíram primeiro para fazer seus horários de almoço e eu aguardei seus retornos.
Obviamente, foi pior ficar sozinha. Quando estava quase na hora delas voltarem, recebi uma mensagem do CEO:
''Estou aqui embaixo te aguardando.''
Respondi que logo iria, que estava apenas aguardando o retorno das minhas colegas de trabalho.
Quando ambas retornarem, mal as cumprimentei e já peguei minha bolsa, despedindo-me e saindo porta a fora, em direção ao elevador.
Assim que entrei, apertei o botão para o térreo. E eu não estava somente ansiosa para reencontrar Sebastian, mas com receio de encontrar com Tom e em como ele me olharia. No entanto, minha fuga foi mal sucedida. Eu não saberia como lidar com ele, o que dizer, mas assim que as portas do elevador começaram a fechar, alguém interceptou e impediu que as mesmas se fechassem. As portas se abriram e me deparei com o chef de cozinha ali.
Ele adentrou, parando ao meu lado em completo silêncio. Quando as portas se fecharam e eu já ansiava que se abrissem no térreo, Tom apertou o botão para que o mesmo parasse. Sendo assim, o elevador parou completamente, não descendo e nem subindo.
— O que você está fazendo? — perguntei, aterrorizada. Agora não estava mais com receio dele e sim que o elevador despencasse. Eu tinha um pavor inconsciente com elevadores, relembrei.
— Quero conversar com você, Melissa, a sós — disse Tom, virando-se para mim.
Como eu imaginei, o chef de cozinha estava sério e havia um sentimento contido em seus olhos.
— Diga o quer conversar — incitei, corajosamente.
— Está tentando me evitar? — perguntou ele, notando minha hesitação. Tratei de negar imediatamente. — Então, por que está agindo como se não quisesse ficar perto de mim? Se encolhendo dessa forma, no canto...
Percebi que estava parada no canto oposto a ele, as mãos segurando as barras com firmeza, como se tentasse me manter firme e em pé — que era justamente o que estava tentando fazer.
— E-eu... — tentei iniciar, gaguejando como Sebastian.
— Você está escondendo algo de mim, não? — observou ele, atento. Cerrei meus lábios, desgostosa por ser facilmente lida.
— Não, Tom — neguei, fracamente.
O chef de cozinha passou a mão em seu cabelo, parecendo angustiado por algo que o corroía por dentro. Ele falou novamente, mas sua voz estava embargada:
— Isso tem alguma coisa a ver com Sebastian Johnson? — pressionou-me ele. Notando que eu não tinha nem negado ou afirmado, a ficha de Tom finalmente caiu, e o meu coração se despedaçou quando a expressão de dor cruzou seu rosto. — Eu imaginei que isso viria a acontecer...
Não entendi o que ele quis dizer com aquilo. Imaginava? Ele imaginava o quê?
— Imaginou o quê? — questionei, receosa pela sua resposta.
Tom Flanagan encarou meu rosto com firmeza. Não havia ali o olhar de admiração e carinho que me dava. Somente um vazio frio.
— Que você o escolheria... Mas que mulher em seu lugar não o escolheria, certo? E eu pedi a você ontem para me escolher, mas decidiu por ele... — enunciou, a voz rígida e elevada.
— Eu não o escolhi — me defendi. Mas eu não tinha argumentos para aquela discussão, porque mesmo que eu negasse, Tom Flanagan estava certo.
— Mesmo você dizendo que não o escolheu, ainda assim fez sua escolha, Melissa. Escolheu estar ao lado dele e o confortá-lo, ao vez de decidir ficar comigo ontem à noite — conjecturou Tom, jogando a verdade em minha cara.
Tom não deixou que eu me defendesse, mesmo eu não sabendo como fazer isso. Ele apertou o botão e o elevador se movimentou. Suas portas se abriram no térreo e o chef de cozinha se virou, saindo e não me olhando sequer uma última vez.
E mais uma vez eu estava certa, enquanto via o homem se distanciando e me deixando para trás. Aquilo aconteceu mais cedo do que eu esperava, percebi. Alguém tinha ficado de coração partido e esse alguém era Tom Flanagan. Eu tinha partido seu coração ao ter ido atrás de Sebastian Johnson.
Mas... Mas o que ele esperava? Sebastian estava sofrendo ontem à noite... Não poderia simplesmente deixá-lo de lado para ficar com Tom. Eu queria, mas não poderia. Na noite anterior eu era Melissa, a namorada — falsa — de Sebastian Johnson. Contudo, talvez eu tivesse entrado demais na personagem, atribuindo sentimentos reais pelo CEO. Sentimentos esses que vieram à tona, que mais me machucavam naquele momento do que me traziam alívio.
E ter escolhido ficar com Sebastian causou sofrimento a Tom. Não conseguia nem imaginar o quanto ele tinha sofrido ao ter me visto sendo beijada pelo CEO ou indo atrás dele...
Eu merecia suas palavras duras e sua raiva. Eu merecia a raiva de Tom, que tinha me dado uma segunda chance, e a de Alex, que já tinha desistido de mim há algum tempo.
Quando sai do restaurante e encontrei com o CEO me esperando do lado de fora, ansioso, percebi que ele era o que me restava...
Tom havia dito que me respeitaria, mas que queria ser escolhido. Alex tinha dito que queria estar comigo e mais ninguém, e Sebastian... Ele havia dito que aceitaria ser o que eu quisesse que fosse para mim.
E talvez eu estivesse deixando-me ser levada pelos meus sentimentos, mas e se Sebastian Johnson fosse o certo a ser escolhido?
Não! Eu não poderia fazer aquela escolha, ainda. Minha cabeça doía pela angústia que corroía meu coração. Uma parte do meu coração tinha se quebrado em pedaços minúsculos e para unir todos aqueles pedaços seria complicado, mas eu precisaria fazê-lo. Seria difícil superar Tom Flanagan, uma pessoa tão importante em minha vida.
Mas quando ele me deixou sozinha no elevador, com o olhar vazio, foi o momento que percebi que ele jamais iria me querer, mesmo eu o querendo.
— Você está bem, Melissa? — questionou Sebastian ao notar minha expressão perdida. Porém, seus olhos verdes se desviaram de mim para algo a minhas costas. — Por que ele está vindo aqui?!
Não entendi sua pergunta, mas só fui entender a quem ele se referia quando Tom passou ao meu lado, ignorando minha presença e indo até Sebastian.
Eu estava no meio do caminho, em direção ao carro, mas atravessei correndo a calçada quando entendi o motivo da pressa do chef de cozinha. Ele estava indo até o CEO com toda a fúria contida em si, querendo vir à tona.
Tom pegou Sebastian pelo colarinho do blazer e o empurrou contra o carro. Ouvi o impacto forte do corpo do CEO, que soou alto. A expressão de dor cruzou o rosto do meu falso namorado, enquanto meu chefe encarava o outro homem com ódio fervente transbordando seus olhos.
Temi pelo o que viria a seguir, por isso decidi me interpor entre eles.
— Tom, não! Não faça isso, por favor! — supliquei, colocando a minha mão em seu braço, que estava tenso sobre meu toque, enquanto segurava com firmeza o CEO.
O CEO, ao contrário do chef de cozinha, cobriu a expressão de dor por uma de cinismo. Ele arqueou as sobrancelhas, ignorando a minha presença assim como Tom.
— O que você está esperando, Tom? Finalmente você conseguiu me pegar, e sei que está com muita raiva de mim... — provocou Sebastian.
— Como ousa... — rosnou Tom a provocação do outro homem. — Você se acha por que consegue tudo o que quer, não?
— Eu não consigo tudo o que eu quero, porque, senão, você nunca teria encostado um dedo em Melissa... — argumentou o CEO.
Me doía saber que era a causadora daquela confusão. Me doía saber que a dor na feição do chef de cozinha era por minha causa.
Porém, quando Tom planejou erguer seu punho para acerta o rosto de Sebastian, não teve oportunidade para isso, pois foi imediatamente afastado. Eu não vi de onde os seguranças surgiram, mas poderia apostar que estavam ali o tempo todo, aguardando para fazer seu trabalho caso fosse necessário.
Dois seguranças grandes conseguiram arrancar Tom Flanagan de cima de Sebastian Johnson. O chef de cozinha se afastou, rosnando de raiva, os olhos avermelhados pelo nervosismo.
— Você tem sorte por eu não denunciá-lo por agressão... Mas irei fazer isso por Melissa — considerou Sebastian, ajeitando o terno amassado. E ao ver o estrago que o outro homem fez em seu blazer, comentou, mal-humorado: — E você ainda amassou meu terno!
Tom não respondeu a provocação de Sebastian. Os seguranças o largaram, se interpondo entre os dois, caso o outro decidisse atacar o CEO novamente.
O pior daquela situação não era a quase briga, mas sim as pessoas que passavam pela rua, calçadas ou saiam do restaurante, terem parado para assistir a cena. Eu quis me esconder, sabendo que meu nome estava no meio daquilo, ainda mais sendo a causadora daquela confusão.
— Entre, Melissa — pediu Sebastian, indicando a porta aberta do carro.
Meus olhos ainda estavam fixos em Tom, sentindo toda a frustração que o envolvia por ver eu e Sebastian juntos. Eu tinha que tomar uma nova decisão naquele momento. Entrar com Sebastian no carro ou ficar para tranquilizar Tom.
Mas fiquei com medo, pois a expressão de raiva não se dissipou do rosto do chef de cozinha. E se ele estava com raiva de Sebastian, sua raiva por mim deveria ser maior. Sabia que ambos tinham um passado, que Tom guardava certas mágoas. De uma amizade rompida. Tom não gostava de ter sido trocado... Novamente. Antes, Sebastian o tinha trocado e agora eu havia escolhido o CEO a ele.
Desviei meu olhar dos olhos de íris azuis e encarei os olhos verdes ao meu lado. E tomei mais uma decisão, talvez inconsequente, talvez certa. Mas quando entrei no carro, mantive-me focada no meu real propósito ali. Para Tom, eu tinha escolhido Sebastian Johnson, mas para mim, eu tinha feito uma escolha completamente diferente.
Sebastian entrou o carro e permitiu que o motorista partisse.
Eu me sentia muito mal. Meu coração batia tão rápido que suas batidas soavam em minha cabeça. O CEO se compadeceu com a minha situação, mesmo eu desaprovando seus dizeres durante a discussão. Eu não aprovava ele ter agido despretensiosamente, inabalável, agora sabendo a verdade ao seu respeito.
— Eu sinto muito, Melissa, não queria que você passasse por uma situação como essa... — disse ele. Mas eu nada disse, pois não tinha nada a dizer. Sebastian se afligiu pelo meu silêncio. — Por favor, não fique com raiva de mim. Não agora, que finalmente podemos ficar juntos...
Finalmente o olhei, comovida por sua súplica. Suas mãos seguraram as minhas e o olhar de necessidade era expresso em suas íris verdes. Ele não queria ser afastado por mim. Assim como Tom não queria ser trocado por ele.
— Eu não estou com raiva de você — falei, baixinho.
Porque, no final das contas, eu só sentia raiva de mim. Porque eu era a real culpada pelo enfrentamento dos dois homens, da raiva entre eles ter se intensificado. Por eu ter partido o coração de Tom Flanagan. E por ter meu coração quebrado em minúsculas partes.
Eu não sabia o que faria a seguir. Como lidaria com Tom Flanagan se retornasse para o trabalho ou com os olhares julgadores dos outros funcionários. Precisaria pensar em algo... No entanto, a única coisa que passava em minha cabeça era pedir demissão. Não poderia continuar dividindo o mesmo espaço com Tom Flanagan, sabendo de seu ódio por mim.
Decidi deixar aquele sofrimento temporariamente de lado. Lidaria com ele depois, provavelmente em uma noite insone e me remexendo na cama. Era assim que eu me torturava com meus pensamentos em situações como aquela.
Não demoramos a chegar ao prédio do apartamento do CEO. Aquele almoço seria um bom momento para me distrair das minhas preocupações. Percebi que Sebastian estava ansioso. Suas mãos suavam contra as minhas, mas ele preferiu não largá-las.
Prometi que estaria ao seu lado naquele momento e me recusei a quebrar aquela promessa. Ao menos isso eu faria corretamente, pensei.
Assim que adentramos o apartamento, fomos recebidos pela governanta Rose. Ela pegou minha bolsa e disse que iria guardar em meu quarto. A chef Evelyn avisou que o almoço já estava pronto, mas Sebastian decidiu aguardar pela chegada de Seth.
Fiquei sentada ao sofá, observando o CEO transitando pela sala, de um lado para o outro, inquieto. Pelos minutos que passaram, ele me olhava e perguntava se Seth tinha mudado de ideia e não viria para o almoço. Eu verificava as mensagens e não havia nada novo por lá.
Até que finalmente a governanta Rose surgiu com uma notícia:
— Sua visita acabou de chegar, sr. Johnson. Permiti a entrada dele.
O rosto de Sebastian ficou instantaneamente pálido, como se desacreditasse no que tinha acabado de ouvir.
— Que bom! Finalmente! — falei, tentando soar animada.
Fiquei de pé e fui até Sebastian, tornando a segurar suas mãos. Ele me olhou, a expressão aflita e receosa.
— Vai dar tudo certo... — eu o confortei. Os olhos verdes dele fixaram em meu rosto e antes que eu percebesse, ele me beijou cheio de urgência. Fui pega desprevenida, mas retribui.
Desde a primeira vez que beijei Sebastian Johnson, tinha a sensação que seus beijos transmitiam vários significados contidos. Agora que eu sabia uma parcela da sua real personalidade, percebia o desejo evidente, em um misto de ansiedade.
Retribui o beijo, mesmo com o coração cheio de culpa. Não era justo a forma em que o pedaço do meu coração que pertencia a Sebastian pesasse tanto. Mas ao mesmo tempo eu era incapaz de controlar meus sentimentos. Somente um questionamento rondava minha mente: como me permiti chegar a isso?
Como me permiti envolver com homens diferentes e agora ser responsável de seus corações partidos? Alex e Tom me odiavam, e eu não poderia fazer o mesmo com Sebastian.
Afastamo-nos quando ouvimos o som que indicava o elevador ter chegado ao andar. Não permiti que o CEO hesitasse e o puxei pela mão, levando-o para receber Seth.
E lá estava seu meio-irmão, usando vestes completamente diferentes de seu habitual. O rapaz usava uma camisa social, que cobria suas tatuagens, e calça jeans. Seu cabelo estava bem arrumado em um topete. E, honestamente, ele nunca esteve tão parecido com seu irmão mais velho. Sebastian estava sem o blazer — que tinha ficado amarrotado —, por isso a similaridade entre eles foi ainda maior.
— Olá, Seth! — o cumprimentei, como se fôssemos amigos, tentando deixar o clima menos tenso.
— Oi, Melissa. — Nós demos um abraço desajeitado. Contudo, Seth nem sequer olhou direito para mim, pois logo que seus olhos encontraram Sebastian, se fixaram nele. Dei espaço para que ambos aproximassem. Seth estendeu a mão e disse: — Olá, Sebastian, como vai?
Sebastian aceitou pegar a mão do irmão e retribuiu o cumprimento:
— Olá, Seth... Vou perfeitamente bem e você?
— Excelente! — respondeu o rapaz.
Ambos se afastaram e ao mesmo tempo colocaram as mãos nos bolsos de suas próprias calças, completamente sem jeito sobre como agir. Aguardei que dissessem alguma coisa, mas ficaram em completo silêncio.
Eles se entreolharam, como se processassem o fato de serem irmãos.
Pigarreei, desconcertada pelo silêncio e por estar faminta, então propus:
— O que acha de irmos almoçar? Eu estou com muita fome! — Soei exagerada, mas consegui atrair a atenção deles. Os dois homens concordaram imediatamente e seguimos para o recinto seguinte, para a mesa posta para nós.
Sebastian foi cortês mais uma vez e afastou a cadeira para que eu me sentasse. Seth sentou-se no lado oposto, ainda assim perto do outro homem.
— Belo apartamento — comentou o rapaz, observando o ambiente.
— Obrigado — o CEO agradeceu, soando um pouco faustoso.
Depois daquelas poucas palavras, novamente o silêncio retornou. Percebi que precisaria criar o assunto para que ambos conversassem e entendi minha real necessidade de estar presente durante aquele almoço, pois se dependesse deles, ficariam calados o tempo inteiro.
Inicialmente não precisei dizer nada, pois a governanta Rose e a chef Evelyn surgiram com nossos pratos. Assim que se retiraram, nos dando privacidade, não me demorei para começar a comer.
Sebastian dava pequenas garfadas, comendo lentamente, aparentemente sem muita fome. Seth, por outro lado, comia em ritmo normal, mas não parava de levar o copo de água aos lábios, bebendo um copo inteiro em questão de minutos.
Percebi que teria que pensar logo em algo para conversarmos...
— E, então, Seth, por que você não fala um pouco para Sebastian sobre... — Travei quando os dois homens me olharam, esperando que concluísse a frase. — Sobre...
Tentei concluir, imaginando qual assunto seria bom para que ambos conversassem.
— A faculdade?! — pressupôs o rapaz, tão sem jeito quanto eu.
Virei-me para o CEO e disse:
— Como você sabe, eu conheci Seth em uma festa de fraternidade... — Dei um risinho nervoso ao ver a expressão séria de Sebastian em reação a aquele assunto e continuei: — E ele estuda na Universidade de Nova Iorque.
— Você faz parte de uma fraternidade? — foi à primeira pergunta a ser feita pelo CEO, que me deixou constrangida. Ok, tinham outras coisas que ele poderia perguntar. Ainda assim, Seth respondeu prontamente.
— Sim, o nome da nossa fraternidade é Kappa Alpha. É considerada uma das melhores... — Seth parou de falar assim que notou a expressão ainda séria de Sebastian, aparentemente não achando tão interessante aquele assunto.
— E vocês fazem muitas festas? — Seth assentiu em concordância a pergunta do irmão mais velho, agora não tão animado para continuar falando sobre a fraternidade.
— Fazem, muitas, mas não é para isso que servem fraternidades? — comentei, rindo, para aliviar o clima. Seth retribuiu o sorriso, porém, nervoso.
— E o que você estuda mesmo? — perguntou Sebastian, levando uma garfada de sua comida a boca.
Seth foi em buscar de beber mais um gole de água, até perceber que já tinha bebido todo o conteúdo do copo.
— Eu estudo administração e economia — respondeu o jovem, olhando para o irmão para ver sua reação.
— Foi você quem decidiu cursar essas áreas? — A perguntou pegou Seth desprevenido. Ele deu de ombros inicialmente, ainda pensando sobre o que responder.
— Honestamente, não. Eu não tinha nada em mente quando conclui o colegial, mas sempre fui bom em números. Por isso, meus pais... — Seth subitamente travou ao perceber que entrava em um assunto complexo ao mencionar seus pais.
Sebastian mantinha a expressão inabalável, que já estava me aborrecendo. Caramba, por que ambos não poderiam conversar sobre coisas banais... Como, qual sua cor favorita?
Porém, decidi relevar. Eu e minhas irmãs conversávamos sobre coisas banais e eles nunca tiveram a oportunidade de fazer isso, portanto, era justo estarem se estranhando no início.
— Eles te pressionaram a estudar isso? — Seth concordou com um aceno. — E você já está estagiando em alguma empresa?
— Ainda não... Eu até enviei meu currículo para algumas, mas não obtive nenhuma resposta, nem para uma entrevista. — O rapaz sorriu constrangido ao admitir seu fracasso.
Um sentimento passou nos olhos de Sebastian. Foi algo breve, mas consegui interpretar como sendo empatia...?
O CEO pigarreou e disse:
— Se você quiser, pode enviar seu currículo para a minha empresa. Nós estamos em busca de alguns estagiários e talvez você se encaixe em alguma vaga. — A oferta causou deslumbrante em Seth, que abriu um sorriso largo em agradecimento.
Sem que eu percebesse, conclui minha refeição, enquanto ambos ainda estavam nem na metade.
— Muito obrigado! Caramba, eu... Eu não tenho palavras para descrever o quanto estou feliz por sua oferta! — Sebastian conteve o sorriso e apenas acenou com a cabeça, como se seu gesto não fosse nada.
Fiquei feliz por ambos começarem a se entender. Seth estagiar na empresa de Sebastian seria bom para a aproximação dos dois, pensei.
O rapaz, depois de toda a animação, retornou à atenção para o seu prato de comida. Sebastian fez o mesmo. Enquanto mastigava, me lançou um olhar e eu sorri em aprovação por sua atitude.
O silêncio retornou, mas agora não estava tão desagradável. Ambos concluíram suas refeições e a governanta retornou para pegar nossos pratos e servir a sobremesa. E eu não sabia que teríamos sobremesa, mas me permiti ficar feliz com esse pequeno prazer.
Contudo, Seth, ainda calado, olhou para a minha mão esquerda e notou o ferimento que se curava, causado por ter socado o rosto de Jacob García — algo que eu evitava pensar, pois toda vez que eu imaginava ser usada por outro homem para uma aposta, sentia o repúdio fomentando em meu interior.
Ele, sem graça, soltou:
— Aliás, eu ainda sinto muitíssimo pelo o que aconteceu com Melissa. E eu decidi não aceitar Jacob na fraternidade... — Lancei um olhar de alerta a Seth, desejando que ele se calasse.
Porém, quando o rapaz se calou, o assunto não passou despercebido por Sebastian.
— Como assim? Sobre o que você está falando? — O CEO aguardou que seu meio-irmão falasse, mas o mesmo se calou, o rosto corado por ter dito o que não devia. Ele se virou para mim e aguardou que eu respondesse. — O que você não me contou, Melissa?
Coloquei minha mão esquerda, que escondi sob a mesa, em seu campo de visão. Ela já estava praticamente curada, mas a lesão ainda era perceptível. E nem mais dor eu sentia — na verdade, os analgésicos fizeram o papel de mascarar qualquer traço de dor, para minha felicidade.
— Eu me machuquei, no domingo... — confessei.
— E o que Seth tem a ver com isso? — observou Sebastian, soando grosseiro. Tive o receio de que ele ficasse furioso com seu meio-irmão, pois o rapaz estava metido nisso.
— Ele não tem nada a ver com isso! — o defendi. — Mas... — Hesitei, desagradada por ter que tocar naquele assunto. — Um garoto da fraternidade que Seth é líder foi desafiado a... A fazer sexo comigo.
A expressão de desconforto cruzou as feições dos dois homens a mesa. Todavia, a raiva logo se tornou perceptível nos olhos verdes do CEO.
— Quem é esse maldito garoto? E como você permitiu que fizessem esse tipo de aposta contra ela? — Dessa vez ele se dirigiu a Seth, que se encolheu ao tom raivoso do irmão mais velho.
— Seth não tem culpa disso! Não é ele quem decide o que esses garotos vão fazer para entrar na fraternidade, é algo unânime, todos que fazem parte concordam. E eles concordaram com isso! — continuei a defender Seth, não querendo permitir que Sebastian ficasse com raiva do rapaz.
— E foi esse rapaz que fez isso contra você?! — grunhiu Sebastian, apontando para minha mão machucada.
Olhei do ferimento para o CEO e neguei.
— Não! Na verdade... — Hesitei mais uma vez, sabendo que o ferimento era somente a consequência do meu ato impulsivo. — Eu soquei o rosto desse garoto, assim que Seth me contou a verdade. E ele somente me contou isso porque não queria que eu fosse enganada por alguém que considerava amigo.
Eu e Seth olhamos para o homem sentado a ponta da mesa, esperando que minhas palavras mudassem sua percepção a respeito do rapaz.
— Espera aí! Você deu um soco na cara do garoto? — Fiz uma careta, mas concordei. A expressão de Sebastian Johnson foi coberta por seu riso. Eu e Seth estranhamos, mas abrimos nossos sorrisos, em expectativa ao o que aquela reação indicava. — Melissa... — Ele ainda ria, mas disse: — E eu pensando que você precisava ser protegida... Na verdade, são as pessoas que precisam ser protegidas de você.
Tive que rir também. Bem, deveria admitir que tinha um traço de verdade naquela frase.
No entanto, se o desdobrar daquele acontecimento iria fazer o CEO esquecer do motivo que me resultou em fazer aquilo, estava enganada.
— Qual é o nome desse garoto? — perguntou ele, voltando a ficar sério.
Comecei a dizer algo, negando-me a revelar o nome de meu ex-aluno. Temia que Sebastian fizesse algo contra ele.
— O nome dele é Jacob García — soltou Seth, pouco importando sobre o que Sebastian poderia fazer contra o rapaz.
Olhei irritada para o rapaz, e ele deu de ombros, como se o que tivesse feito não fosse nada de mais.
— Sebastian, você não vai fazer nada contra ele, certo? Por favor, não quero que o machuque! — pedi, preocupada. Mesmo que estivesse com raiva de Jacob, não desejava que algo ruim acontecesse com ele. Eu já tinha dado o que ele merecia.
O CEO pareceu ponderar sobre meu pedido.
— Não posso prometer nada... Ninguém o mandou mexer com a minha namorada. — Odiei quando os dois homens riram. Se fosse em um momento diferente, teria ficado feliz em vê-los se entendendo, mas não as minhas custas.
— Sebastian! — grunhi, chamando a atenção do homem. Ele me olhou e notou minha expressão séria, desagrada por seu divertimento desnecessário.
Ele parou de rir e Seth só ficou observando a cena.
— Tudo bem, não farei nada contra esse seu amigo — aceitou o CEO, desgostoso.
Seth ficou boquiaberto por eu ter conseguido controlar o CEO, e teve que conter uma risadinha.
Voltei a comer minha sobremesa, farta daquele assunto. Os dois homens fizeram o mesmo. Fiquei satisfeita pelo silêncio, pouco importando se estava desconfortável ou não.
Porém, não permanecemos assim por muito tempo, pois a governanta Rose surgiu, acompanhada de um homem. Eu não conhecia o sujeito, mas Sebastian sim, pois o traço de bom humor que tinha em seu rosto se dissipou completamente.
— Sr. Johnson, o sr. Ramirez deseja falar com o senhor e é sobre um assunto importante — anunciou a governanta.
O recém-chegado acenou em cumprimento para todos e esperou alguma atitude do CEO.
Sem alternativa, Sebastian jogou seu guardanapo sobre a mesa e se levantou da cadeira.
— Com licença... Logo retorno — avisou meu, até então, falso namorado.
Obviamente estranhei a presença daquele homem, completamente desconhecido para mim.
— Vamos ao meu escritório — chamou Sebastian e o homem o seguiu para o andar de cima.
Eu e Seth ficamos a sós, se entreolhando.
— Você acha que estou indo bem até agora? — indagou o rapaz, curioso sobre minha percepção a respeito de seu desempenho.
— Bem, tirando a parte que você falou mais do que deveria sobre Jacob... Acho que sim. — Seth riu ainda pelo meu mau-humor pelo assunto anteriormente tocado. — Mas não se preocupe, Sebastian está motivado a te dar uma oportunidade.
— Muito obrigado, Melissa. Realmente, se não fosse por você, eu jamais poderia me imaginar aqui, almoçando com Sebastian — agradeceu o rapaz, com um meio sorriso. — Aliás, você poderia me ajudar com mais uma coisa...
Arqueei a sobrancelha, aguardando pelo seu próximo pedido.
— Qual seria o melhor lugar para eu levar Lilly a um encontro? Quero dizer... Eu quero levá-la a um lugar que combine com ela, para que perceba que minhas intenções são mais do que somente uma relação passageira... — pediu Seth. E seu pedido somente serviu para afligir meu coração.
Controlei a expressão de pena, principalmente por me recordar de Lilly dizendo que considerava Seth um romance de uma noite, enquanto o mesmo demonstrava querer mais do que isso.
Como não respondi imediatamente, o rapaz estranhou.
— E-eu... Diria que ela gostaria de ir jantar. Lilly gosta muito de comida japonesa — respondi, gaguejando. Esperava que meu nervosismo não entregasse o fato de que Lilly não queria nada com ele.
Eu lembrava das palavras de minha amiga, e eram até mesmo plausíveis. Mas eu queria que ela fosse capaz de ouvir o que Seth tinha me dito. Suas intenções eram mais do que somente uma relação passageira... Ele queria levar sua relação com Lilly a sério. No entanto, minha amiga já demonstrava o mesmo interesse por Luke Strawford. E eu poderia julgá-la? Ela estava certa em buscar segurança e conforto em alguém como Luke, um homem maduro que havia demonstrado de imediato suas reais intenções. Ao contrário de Seth, que tinha sido uma diversão de uma noite. E Will... Bem, o mesmo tinha sido deixado completamente de lado naquela situação. Lilly estava focada em superá-lo e, para ela, Luke era o homem ideal para isso.
Como o clima ficou estranho para mim, enquanto Seth parecia pensativo sobre onde levaria Lilly a um encontro, percebi que aquele almoço estava durando demais para mim. Portanto, percebi que já tinha dado o meu horário de voltar ao trabalho. E talvez devesse deixar Seth e Sebastian a sós para se conhecerem melhor, pois ambos tinham tempo para isso.
Certo, eu sabia que meu nome deveria estar manchado. Tom Flanagan me odiava, mas eu não queria parecer ingrata. A culpa ainda permanecia em meu interior e ao menos um pedido de desculpas eu devia ao chef de cozinha por ter... Por ter escolhido Sebastian.
— Já está no meu horário de retornar ao trabalho e não posso me atrasar — justifiquei, me levantando da cadeira. Seth ficou receoso, aparentemente pensando sobre ficar a sós com Sebastian. — Tente ser você mesmo e evite falar sobre... Bem, não fale sobre seus pais. A não ser que ele pergunte, mas seja preciso na resposta.
Após orientar Seth, deixei-o com uma expressão confusa a mesa e subi para o andar de cima, recordando que a governanta Rose tinha guardado minha bolsa no quarto.
E lá realmente estava. A peguei e verifiquei as horas em meu celular, percebendo que já estava atrasada. Saí do quarto com pressa, mas meus pés me pararam antes de descer as escadas. Talvez eu devesse avisar Sebastian...? Mas não foi por esse motivo que me impedi de ir e sim porque minha curiosidade se aflorou ao imaginar o motivo daquele homem ter vindo até ali, naquele horário, ter uma conversa importante com o CEO.
Virei-me e retornei pelo corredor, seguindo em direção ao o escritório de Sebastian. A porta estava fechada, o que deixava a conversa que tinham por lá abafada, mas também não impedia que eu ouvisse o que diziam. Cogitei em bater, para anunciar minha presença e avisar a Sebastian minha partida, mas tive que controlar minha mão quando escutei meu nome.
— Se isso que você está me dizendo for verdade, isso quer dizer que Melissa precisará de muito mais segurança... — disse Sebastian. Sua voz estava tensa, em um misto de receio e preocupação.
O homem, o tal do sr. Ramirez, respondeu:
— Estou dizendo a verdade, sr. Johnson. Eu consegui tirar informações do homem que atropelou sua namorada, assim como me pediu, e ele admitiu que foi pago para fazer isso.
Meu corpo ficou gelado instantaneamente ao entender o conteúdo daquela conversa e por que me envolvia.
— Você sabe o endereço e nome dele? — indagou Sebastian, obsessivo.
— Sim, senhor.
— Então mandarei meus homens irem atrás dele... Para encontrar o maldito que o pagou para fazer isso...
— Sinto muito, senhor, mas ele diz que não sabe o nome e nem quem o mandou fazer isso. Ele somente aceitou pelo dinheiro e aparentemente a pessoa que o pagou não é o verdadeiro mandante — informou o sr. Ramirez.
— Mesmo assim, ele pode ter informações sobre o paradeiro da pessoa que o pagou. Se conseguirmos encontrá-lo, podemos encontrar o verdadeiro culpado — proferiu o CEO. Não reconheci o homem que dizia aquelas palavras. Não se parecia com Sebastian, mesmo sendo. Ele soava de maneira fria e vazia, focado em seu objetivo.
— O senhor irá querer mesmo fazer isso? — Não escutei a resposta de Sebastian, mas o homem completou: — Este é o endereço.
Não pude saber qual era o endereço, muito menos sobre como tinha sido passado para o CEO. Eles ficaram em silêncio por um tempo.
— Sr. Ramirez, essa conversa não pode sair daqui, desse escritório. Peço que continue com suas investigações. Preciso de provas viáveis para incriminar o mandante do acidente contra... — Sebastian hesitou antes de mencionar meu nome. —... Melissa. Se isso não der certo, precisarei de sua discrição para o que irei fazer contra essa maldita pessoa, que não seguirá os princípios legais.
A ameaça de Sebastian pesou contra mim, porque finalmente toda a conversa fez sentido.
As pessoas estavam certas. Os sites de notícias e programas de fofocas. E Tom Flanagan. Os rumores não eram apenas rumores. Eram fatos. Alguém tinha tentando me matar causando aquele acidente e Sebastian Johnson estava tentando descobrir. Alguém queria minha morte apenas... Apenas para machucar o CEO?
Antes isso não fazia sentido para mim, mas agora as coisas se conectavam em minha mente. Se imaginei que Sebastian não se abalaria caso algo acontecesse contra mim, estava enganada. Ele havia admitido ter sentimentos por mim e alguém queria deixar o CEO desestruturado apenas... Apenas para o quê?
Eu não sabia qual era a intenção e nem o verdadeiro culpado pelo acidente, que me martirizei por tanto tempo como sendo minha culpa. Mas alguém realmente tinha tentando tirar minha vida... Somente porque eu era namorada do CEO Sebastian Johnson.
Poderia ser tolice para algumas pessoas. Mas Sebastian tinha mentido para mim. Logo ele, que refutou os dizeres de Tom Flanagan e me jurou que não passavam de tolos rumores. Com ele, que pensei estar segura, estava sendo um mentiroso e me causando mais insegurança.
Não percebi quando a porta do escritório se abriu e me deparei com os dois homens em minha frente. Sebastian Johnson, no entanto, percebeu que minha presença ali não era completamente aleatória. Que eu tinha escutado sua conversa.
Eu estava encolhida a parede, segurando com firmeza minha bolsa, como se fosse à única coisa que pudesse me manter presa a terra.
— Melissa... — Sebastian me chamou, seus olhos temerosos pela minha reação. Ele começou, tentando justificar o que eu tinha escutado: — Eu posso explicar...
— Não! – impedi que ele desse mais justificativas. — Eu entendi o que escutei! Que eu quase morri por sua causa!
Minhas palavras o atingiram como um soco no estômago. Ele abriu os lábios em mais uma tentativa de dizer algo, mas sua gagueira não permitiu que formulasse uma palavra de maneira compreensiva.
— M-melissa, e-eu...
— Sebastian, não quero ouvir suas desculpas! Só quero ficar o mais longe o possível de você, já que é um risco para minha vida!
Não fiquei no mesmo lugar. Não quis escutar suas tentativas frustradas de dizer algo. Eu não queria ficar mais perto dele e muito menos poderia.
Desci os degraus da escada e corri para o elevador, apertando várias vezes o botão para chamá-lo. Escutei meu nome sendo chamado mais uma vez, mas ignorei.
Seth surgiu, talvez por ter escutado minha gritaria, ou estranhado a correria. Vi Sebastian descendo as escadas, mas adentrei o elevador e apertei o botão para que as portas se fechassem rapidamente. Quando o CEO chegou ao andar de baixo, não conseguiu me encontrar, pois eu já estava distante dele atrás das portas do elevador.
Apertei o botão para o térreo e aguardei que finalmente chegasse. Meu corpo inteiro estava trêmulo. Minhas pernas estavam em situação pior, mas usei toda a força que tinha para me manter em pé.
Quando finalmente saí do elevador, atravessei o salão de entrada do prédio e consegui sair.
Expirei o ar com força quando me encontrei na calçada, as mãos apoiadas nos joelhos, tentando recuperar minhas forças.
Minha cabeça girava e as coisas, pessoas, carros, rodavam ao meu redor. Assim como o lado direito da minha cabeça, que tinha sido atingido quando caí ao chão. Aquela dor era uma lembrança do acidente, recordei. Uma lembrança que eu não queria recordar, mas que carregaria comigo. Um acidente que poderia me fazer levar sequelas para o resto da minha vida ou até mesmo a morte. Não sabia qual era pior, mas certamente era Sebastian ter mentido para mim.
Os seguranças nada tinham a ver com me manter segura dos paparazzi e sim sobre me manter segura de quem quer que estivesse tentando me matar.
O medo açoitava meu coração. A ideia de haver alguém por aí, querendo me machucar, me deixava completamente aterrorizada. E paralisada. E eu estava assim naquele momento. Não conseguia mover minhas pernas. Desejava somente me esconder em algum lugar, onde nunca mais precisasse sair.
Ainda assim, permanecer parada em uma calçada movimentada não era a melhor opção no momento. Acenei minha mão, ainda sem fôlego, para um táxi que passava. Adentrei-o imediatamente, assim que parou ao meu lado. Informei o endereço e fechei os olhos, completamente nauseada pela sensação de medo que ainda me corroía.
Eu não voltei para o trabalho, e nem poderia. Eu não tinha nenhum controle em meu corpo, até perceber que eu estava tendo uma crise de ansiedade. Meu corpo reagia a sintomas familiares. Minhas pernas não me forneciam a segurança que eu queria, meu coração não se acalmava, e meu rosto transmitia meus sentimentos não interiorizados. Não pude controlar as lágrimas que escapavam dos meus olhos. O taxista notou meu choro, mas nada disse, e fiquei grata por isso.
Senti meu celular tocando e quando visualizei a tela, notei o nome de Sebastian brilhando no visor quebrado por causa do acidente. E sabia que ele estava me ligando em uma tentativa frustrada de justificar o que eu tinha ouvido, mas nada que eu ouvisse seria o suficiente.
Desliguei meu celular, ignorando-o completamente e pouco importando com sua preocupação.
Me machucava saber que ele tinha mentido para mim. Mas o pior era saber que estar ao seu lado colocava minha vida em risco. Sebastian tinha inimigos, ele mesmo havia falado, mas não dessa forma... Bom, era o que também tinha dito. Porém, aquilo não passava de mais uma mentira. Ele tinha inimigos que fariam qualquer coisa para atingi-lo, até mesmo machucar alguém que importasse.
E Sebastian Johnson não se importava com ninguém... Além de mim.
Eu não poderia me sentir feliz ou abençoada por saber que ele se importava comigo. Não quando alguém queria exterminar minha vida por ser a queridinha do CEO.
Naquele momento meus sentimentos por Sebastian não valiam de nada, não quando minha vida valia mais do que qualquer coisa. Não era a ele que queriam machucar, mas sim a mim.
Fiquei aliviada quando o taxista estacionou o carro diante do meu prédio, no Brooklyn. O paguei e saí imediatamente do veículo, atravessando rapidamente as escadas e corredores até chegar ao apartamento. Adentrei como um furação, tranquei a porta, joguei minha bolsa dentro do armário de casacos e corri para o meu quarto. Verifiquei se as janelas estavam fechadas e fiz o mesmo no quarto de Lilly.
Minha amiga não estava ali, pois estava trabalhando. Porém, talvez eu devesse contar a ela sobre o que tinha ouvido... Ou não? Não queria deixar Lilly amedrontada. Mas e se a vida dela também estivesse em risco? O medo me afligiu mais, em imaginar uma Lilly insegura retornando para casa de metrô... Sem a companhia de ninguém. E se o mesmo acontecesse com ela? E se Lilly... Morresse?
Joguei-me sobre minha cama, após retornar ao meu quarto, aos prantos. As lágrimas caíram dos meus olhos em uma torrente, como a chuva em plena tempestade. Chorei em desespero, sem saber o que fazer, para onde ir, sem alternativas que me beneficiassem. E grande parte dos meus problemas tinham sido causados por mim e a ninguém poderia culpar.
E nem em busca de conforto eu poderia ir. Tom Flanagan, que tinha me alertado, agora me repudiava e provavelmente nem desejava me ver pintada de ouro. Alexander Hall muito menos, e isso foi comprovado por falta de notícias suas pelos dias que passaram. E não poderia confiar em Sebastian Johnson, pois ele havia mentido para mim uma vez. Estar ao seu lado agora não me traria confiança, mas sim mais insegurança.
E contar aos meus amigos em nada valeria. Ou ir até a polícia. Do que valeria, se nem provas eu tinha de que o acidente havia sido com intenção de me matar?
Deixaria meus amigos aterrorizados e talvez deixá-los ignorantes a tudo isso seria benéfico, pois talvez não fossem um alvo. Talvez somente eu fosse.
Naquele momento eu não queria ter que lidar com nada. Nunca me imaginei em uma situação com aquela.
As mocinhas dos livros sempre eram protegidas pelos mocinhos, e relevavam o que eles faziam. Mas eu não conseguia fazer isso. Eu não podia relevar que quase havia morrido somente por fingir ser namorada de Sebastian Johnson.
Por isso, a melhor coisa que poderia fazer era me esconder em meu apartamento, com a porta fechada, as janelas trancadas, segura sob as cobertas e o rosto escondido contra o travesseiro.
E chorei, sem me importar que meu rosto ficasse inchado, parecendo com uma lua. Ou que meus olhos ficassem vermelhos. Pouco importava minha aparência. Meus sentimentos eram os únicos que importavam e estavam completamente abalados.
Eu queria ser capaz de catá-los e guardar em seus respectivos lugares, mas eram tantos, que agora não tinha controle sobre nenhum. Então deixei que se misturassem, deixando minha mente embaralhada e minha cabeça dolorida.
Chorei. Chorei tanto que, por fim, consegui dormir pela exaustão que consumiu meu corpo. No entanto, minha mente não se aquietou.
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