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Apoiei minhas mãos sobre os joelhos, respirando fundo e tentando controlar meu coração acelerado. Minhas pernas tinham ficado trêmulas pelo turbilhão de emoções que eu havia passado em pouco tempo. Um bombardeio de emoções rondava minha mente, intoxicando-me de diversos pensamentos, uns atrás de outros, tornando tudo uma coisa confusa de ser compreendida. Mas somente uma coisa era certa dentre tudo isso: eu era uma idiota.

E somente eu poderia ser considerada culpada por tudo isso. Se talvez eu não tivesse beijado Lee, naquela praça, na véspera de sua partida, talvez meu coração não tivesse se partido a ponto de nunca mais se recuperar. Se não tivéssemos mantido contato ou admitido nossos sentimentos, eu não estaria ali me punindo mentalmente por ter feito o contrário, e por estar com mais raiva de Lee e com ciúmes de sua amizade com SunHee.

E por consequência disso, se eu não tivesse lido tantos livros de romance, não teria feito sete malditos pedidos de aniversário, que me levaram a ficar indecisa por duas pessoas tão importantes e maravilhosas. Que agora, possivelmente me odiavam e eu tinha feito justamente o que havia prometido não fazer: partir seus corações.

Agora meu coração e os deles estavam partidos. E novamente eu era a única culpada por isso.

E também havia esse problema de Sebastian, que também me afetava. A dor em seu olhar era difícil de ser encarada. Eu não sabia pelo o que ele tinha passado para chegar a ter se tornado esse homem rígido, frio e sério. Que se escondia por trás de barreiras mentais, tentando se manter inabalável e intocável.

Sebastian Johnson tinha muitos defeitos. Sua ignorância e orgulho sendo as principais, mas nenhum ser humano merecia guardar tanto sofrimento dentro de si. Seth muito menos merecia a aspereza de seu irmão mais velho. Ambos, aparentemente, cresceram sem receber o devido amor. E talvez se eles tentassem uma aproximação, poderiam ser as únicas pessoas a contarem um com o outro.

Honestamente, eu sabia o que realmente me perturbava não era somente seu olhar de sofrimento tempestuoso. O que me impedia de retornar para festa e tomar minha decisão. Mais cedo eu poderia simplesmente ter me encontrado com Alex e Tom e dizer que queria manter um relacionamento com um deles. Seria simples. Porém, agora nem isso poderia fazer, pois os dois homens deveriam me repudiar.

Não. Eu não poderia fazer isso enquanto meu coração tentava se decidir sobre como se sentia em relação a Sebastian Johnson. Sim, agora eu tinha percebido que havia um terceiro pedaço, que se igualava aos outros dois, igualmente pesado e preenchido. E eu nem sabia como havia conseguido desenvolver sentimentos por... Por Sebastian.

Ele era um erro. Eu estava me contradizendo, depois de tanto tempo, negando e repudiando aquele CEO, que tinha um comportamento completamente inverso ao meu, justamente sendo o tipo que eu evitava.

Justamente quando pensei nisso, corri para a janela mais próxima, e visualizei a rua do Brooklyn, tentando avistar de alguma forma Sebastian, desejando que ele ainda não fosse embora. O observei ali, adentrando seu carro e partindo, sem sequer olhar para trás ou aguardar que eu fosse atrás dele.

Meu peito doeu um pouquinho, por se sentir mal pela possibilidade de eu ter sentimentos por alguém que não sentiria o mesmo, enquanto havia dois homens dentro daquele apartamento, que tinham afirmado estarem apaixonados por mim.

Peguei meu celular, somente para me torturar mais um pouco, e apertei em seu nome, tentando ligar para ele. A ligação chamou, tocando várias vezes, persistente, aguardando ser aceita. Eu tentei, mas não fui atendida.

Poderia tentar novamente, mas não haviam motivos para que ele aceitasse receber minha ligação. Para ele, eu o tinha atraído até ali para se encontrar com seu irmão, que o repudiava. Sebastian acreditava que as intenções de Seth não eram boas, justamente pelo histórico que ele tinha e também por permanecer ao lado de seu pai, que o CEO também repudiava.

Eu não sabia o que fazer. Mas uma coisa era certa, eu não queria permanecer ali, naquela festa. Comecei a caminhar em direção ao elevador, ponderando sobre o que faria. Seria arriscado demais retornar para casa sozinha, caminhando? Sabia que eu tinha tentado fazer o mesmo há algum tempo atrás, e por isso acabei me acidentando. No entanto, eu poderia chamar um táxi. Somente desejava ficar sozinha, me martirizando e punindo pelas decisões erradas que tomei.

Apertei o botão para chamar o elevador e aguardei que o mesmo chegasse até o andar em que eu estava. Eu estava tão focada em mim, ocupada sentindo minha dor merecida, que não percebi uma aproximação.

— Melissa?! — a pessoa me chamou, fazendo com que me virasse e encarasse o indivíduo que prontificou a me perturbar. Obviamente me arrependi de ter olhado, pois SunHee estava se aproximando. — Já está indo embora?

Eu não devia satisfações a ela, obviamente, mas já estava cansada de agir como uma idiota.

— Sim — respondi, brevemente, não querendo lhe justificar mais nada.

— Isso é uma pena! Seus amigos sabem disso? — Neguei, mantendo ainda a expressão séria. Ela, percebendo que eu não diria nada, perguntou, curiosa: — Aquele homem que agora pouco saiu da festa, por acaso ele era seu namorado?

Assenti mais uma vez, sem lhe dar mais justificativas.

— Uau! Até eu tenho que admitir que ele é um gato... — SunHee deu uma risadinha, achando graça de seu próprio comentário. Não reagi a suas palavras. Sim, ela estava certa, mas Sebastian Johnson não era meu namorado de verdade. E mesmo que fosse, provavelmente nosso relacionamento teria acabado hoje, após aquele ocorrido. SunHee soltou um suspiro, percebendo que eu mantinha minha seriedade. — Antes de você ir, pode me emprestar seu celular?

A olhei com hesitação, unindo as sobrancelhas em confusão.

— Por quê? — perguntei, com expressão de poucos amigos.

— Eu preciso ligar para minha namorada e avisar que vou chegar tarde em casa, mas infelizmente meu celular acabou a bateria. Por favor? — SunHee até fez beicinho e seus olhos escuros vieram até meu celular, que eu estava em mãos. Estendi o aparelho a ela, que o pegou. — Não vou demorar muito!

Ela se distanciou para fazer a ligação e eu me virei para o elevador, que abria a portas, parando no andar em que eu estava. Porém, não entrei, pois tive que aguardar SunHee fazer o uso do celular.

Ignorei sua conversa ao telefone, pouco me importando se sua namorada brigaria com ela por chegar tarde em casa. Sinceramente, eu só queria sair dali e me isolar, com meu próprio sofrimento. Mas mal sabia eu que o pior ainda viria a acontecer.

Dessa vez escutei SunHee se aproximar e me virei para receber o celular de volta.

— Muito obrigada, você salvou minha vida. — Dei de ombros para o seu agradecimento, como se não fosse nada. No entanto, quando peguei o aparelho de suas mãos, ela segurou com firmeza a minha, os olhos fixos em meu rosto. Agora não havia um sorriso em seu rosto, nem a sombra de seu bom humor. SunHee abriu os lábios e disse, em tom sério: — Eu sei que você vai me odiar por isso, mas eu salvei o número do telefone de Lee em seu celular. Não sei o que aconteceu entre vocês, mas sei de tudo o que ele disse sobre você, e sei que talvez vocês dois mereçam uma ligação, para tentar resolver qualquer empecilho que ficou... Mas somente você, Melissa, pode decidir se vai fazer isso. Não vou falar que vi ou conversei com você. Deixarei essa decisão em suas mãos!

SunHee afastou seu aperto e deixou que eu entrasse no elevador. Apertei o botão para o térreo com urgência, desejando não continuar recebendo os olhares de SunHee. As portas se fecharam e agora eu me encontrava sozinha, com o aparelho celular em mãos.

Talvez SunHee estivesse mentindo, pensei. Ou não... Somente se olhasse meus contatos, poderia saber se ela estava dizendo a verdade.

Desbloqueei o aparelho e fui até a minha lista de contatos. Fui passando meus olhos por cada nome salvo ali, até parar nos nomes com letra L.

E, realmente, bem ali estava o contado salvo no nome de Lee.

Aquilo foi a gota d'água para mim, que preencheu o copo e fez com que a água espalhasse por todo lugar. Saí do elevador, apressando meus passos para respirar o ar da noite, que ajudaria para acalmar meu coração.

Minhas pernas, mais fracas do que antes, fizeram-me sentar nos degraus da escada diante do prédio. Respirei fundo, processando o que tinha acabado de acontecer.

Depois de oito anos sem notícias dele, sem ter como entrar em contato com ele, eu poderia simplesmente apertar sobre aquele nome e esperar ser atendida por Lee. Era tão simples, mas tão simples, que chegava a ser ridículo.

SunHee estava certa, somente eu poderia tomar aquela decisão. Levei meu dedo sobre a tela e ponderei sobre tomar a decisão de excluir aquele contato. Seria fácil e rápido, como se nunca tivesse existido. No entanto, eu saberia da verdade, assim como SunHee. Eu não poderia fazer aquela ligação, muito menos queria, não depois de tudo que me ocorreu em pouco tempo, ou sobre como eu me encontrava. E muito menos suportaria escutar a voz de Lee do outro lado da ligação.

Eu me encontrava em conflito comigo. Tinha muitas decisões que deveria tomar, que recaíram sobre meus ombros, mas eu não estava preparada para fazê-las. Muito menos queria.

Por isso, ainda tentando aquietar os batimentos acelerados do meu coração, permaneci sentada ali, na escada.

Meus olhos observavam, desfocados, o movimento das pessoas. Algumas passando ao meu lado e ignorando minha existência, adentrando no prédio para a festa de Louis Turner. Outras passavam pela calçada e lançavam breves olhares em minha direção, estranhando a presença de alguém sentada ao chão.

Eu, por outro lado, as ignorava também. Meus pensamentos não estavam vazios. Continuavam incessantes, mas não poderia defini-los. Deixei que passassem pela minha mente, um seguido do outro. Não poderia controlá-los. E muito menos controlei as lágrimas que saíram dos meus olhos.

Chorei em silêncio, sem deixar que os soluços saíssem da minha garganta. Eu odiava o peso sobre meus ombros, as consequências dos meus atos. Novamente eu estava me odiando. E nem sabia ao certo o que fazer.

Uma parte minha desejava ir até o apartamento de Sebastian... Mas o que eu faria quando ficasse diante dele? Eu queria voltar para a festa e... E fazer o quê? Nem mesmo eu sabia.

Também nem poderia encarar novamente os olhos de SunHee. Nunca mais queria vê-la outra vez. E muito menos poderia fazer aquela ligação.

Subitamente segurei com firmeza o celular, com o impulso de jogá-lo com força no chão, como uma forma de descontar a raiva sobre mim e para apagar qualquer vestígio de Lee sobre a minha vida.

Eu tinha sete opções de homens com quem poderia ficar, e somente três eram os que realmente causavam alguma reação em mim. E Lee era somente um empecilho. Era o que havia sido durante anos em minha vida. Mas por que me perturbava tanto a possibilidade de tê-lo novamente em minha vida?

A resposta era simples: se Lee retornasse, se nossa relação voltasse a ser como era, meus sentimentos por ele voltariam à tona, até porque nunca tinham desaparecido... E eu sabia que não poderia tê-lo, pela vida que levava, sobre vivermos em países completamente diferentes.

SunHee havia dito que ele em nada tinha mudado, assim como eu... Será que ela tinha dito a verdade? Eu tinha motivos para duvidar de SunHee?

Nós não éramos amigas, nem nada, e não tinha motivos para gentileza por parte dela. E eu muito menos sabia porque ela estava tentando me reaproximar dele... Ou seria somente a mesma SunHee, rude e popular, querendo brincar com meus sentimentos?

Era fato de que eu tinha motivos para duvidar dela, assim como não tinha motivos para desacreditar nela. E eu preferi continuar ignorando aquele contato em meu celular, pelo menos por enquanto, até que eu conseguisse uma remessa de coragem para ligar. E eu muito menos sabia se Lee desejava falar comigo, pensei.

Talvez, assim como eu, ele tinha motivos para me odiar e nunca querer saber da minha existência. Mas quais seriam esses motivos?

Enquanto eu tentava aquietar minha mente e ponderar sobre as possibilidades que teriam levado Lee a nunca me responder ou entrar em contato, mais um dos convidados subiu a escada para o interior do prédio, provavelmente para a festa de Louis Turner.

No entanto, diferente dos outros, esse convidado não me ignorou. Ele parou, provavelmente me observando. Eu o ignorei. Certamente não o conhecia e não iria perder meu tempo conversando com um estranho.

Porém, quem eu considerava estranho até então me conhecia.

— Melissa? O que está fazendo sentada aqui fora, sozinha? — Obviamente reconheci aquela voz imediatamente.

Levantei meu rosto e encarei o conhecido recém-chegado.

— D-doutor Charles, oi! — Minha voz ficou fraquinha e tratei de imediatamente secar as lágrimas que ainda molhavam meu rosto. — Só estava observando o movimento!

Eu preferi mentir, pois havia tantas justificativas para eu estar ali. O médico olhou em volta, observando o movimento que eu havia mencionado. Seu olhar voltou para mim e ele abriu um de seus belos sorrisos gentis.

— Posso me sentar com você? — Sem saber como reagir, apenas permiti que ele se sentasse ao meu lado. — Também quero observar o movimento.

Estranhei sua súbita decisão de se sentar ao meu lado, mas nada disse, dando espaço para ele.

E ao em vez de observar o movimento da cidade, meus olhos quiseram observar Vincent Charles. Aparentemente ele também havia sido convidado por Louis Turner para a festa de inauguração. Preferi nem pensar sobre como Louis havia conseguido entrar em contato com o médico, mas ele poderia conseguir qualquer coisa, percebi. Até mesmo entrar em contato com Sebastian Johnson se passando por mim, pensei. Depois, em outro momento, eu tiraria aquilo a limpo com o escritor.

Vincent estava diferente de seu habitual, usando calça jeans, camisa de flanela de botões e uma jaqueta escura. Completamente despojado, percebi, aprovando sua aparência. Ele também parecia mais descansado. As olheiras abaixo de seus olhos pareciam mais atenuadas e seu cabelo ruivo estava bem aparado e arrumado. Seus olhos verdes estavam mais escuros, pela pouca iluminação, que omitia a verdadeira beleza de suas íris.

Uma parte minha, egoísta, desejou por um momento que eu tivesse conhecido Vincent Charles em outro momento da minha vida, antes — talvez — que todos aqueles pedidos se realizassem e ele não fosse somente mais um dos clichês enfeitiçados. E eu queria que seus sentimentos fossem reais por mim, se ao menos existissem tais sentimentos.

— Como você está se sentindo? — perguntou ele, subitamente, fazendo com que eu me surpreendesse, pois seus olhos vieram diretamente para mim, me pegando o observando.

Desviei os olhos e engoli em seco.

— Estou bem... Melhor — menti. Sobre minha saúde física, eu estava melhor, mas sobre como encontrava-se minha saúde mental, não poderia dizer o mesmo. — Juro que não bebi álcool!

Tentei aliviar o clima pesado que nos envolvia, fazendo o médico rir.

— Que bom, Melissa, fico feliz em saber que segue as orientações médicas. — Também tive que acompanhar seu riso. Porém, que logo se dissiparam, o silêncio pairando sobre nós novamente. — Imagino que o motivo de estar aqui fora não seja para observar o movimento, certo?

Assenti, sentindo seu olhar atento sobre mim. Aparentemente eu não era a única observadora por ali, notei.

— Eu... Não consegui ficar lá dentro, porque tem muita coisa naquela festa que não tenho coragem para lidar no momento — admiti, a voz embargada.

Pelo canto do olho consegui perceber o doutor Charles balançando a cabeça, como se me entendesse.

— Acho que sou a pior pessoa para dizer a você para enfrentar seus medos e problemas — começou Vincent, a voz estável. — Mas como seu médico, posso dizer que você só vai conseguir revolver o que está lhe afligindo se decidir lidar com isso.

Tive que abrir um sorriso ao ouvi-lo dizendo ser meu médico, o que não deixava de ser verdade.

— Só que é muita coisa e talvez eu não esteja preparada... — confessei, contendo um soluço.

— Então não se martirize e se dê um tempo — aconselhou ele. Escutei-o pigarreando, como se preparasse para dizer algo. Virei-me para olhá-lo, em expectativa. — Você me perguntou há algum tempo se eu estava bem, se aconteceu algo comigo... Eu não lhe contei porque seria antiético ter esse tipo de conversa com uma paciente... — Assenti, aguardando pelo o que ele viria a dizer. —... Mas você estava certa em se preocupar, de certa forma. Eu estava me punindo, por me sentir estúpido, por ter colocado todas as minhas expectativas sobre outra pessoa, por ter acreditado que essa outra pessoa seria como eu, que sentia o mesmo por mim... Porém, eu me enganei. Descobri que a minha namorada tinha me traído com um colega de trabalho. Pra mim aquilo foi o limite, mas continuei me desgastando, me punindo e preferindo a evitar a situação que me encontrava.

Vincent parou por um momento, apenas para respirar, com o olhar perdido diante de si, como se enquanto me contava tais fatos, recordasse em detalhes da traição da namorada.

— Eu não vou entrar em detalhes sobre como descobri a traição. Eu só descobri e foi como uma... — Ele tentou encontrar palavras para descrever, até voltar seus olhos para mim e dizer, com um pequeno sorriso. —... Concussão. Você sabe como é ter esse tipo lesão. Dói muito. Você tenta mascarar com medicamentos, mantendo-se em descanso, fazendo qualquer coisa que alivie essa dor, rezando para que ela não retorne. Era o que eu fazia, usando meu trabalho para mascarar a dor da traição. Até que eu a encontrei com ele em uma festa no trabalho e percebi que teria que lidar com o que aconteceu. Eu poderia enfrentá-los e acusá-los de serem pessoas repulsivas, mas de nada me valeria, se eu não lidasse com o que sentia. Por isso, percebi que se ela não me valorizasse, eu me valorizaria...

Sorri fracamente, pensando sobre o que o médico tinha acabado de contar. Eu estava certa sobre minhas suposições, pois realmente ele tinha sido traído pela namorada. No entanto, ele também não deixava de estar certo sobre seus dizeres.

Subitamente senti seu toque sobre minha mão, chamando minha atenção, fazendo-me olhá-lo novamente.

— Mas, Melissa, você tem todo o direito de tentar fugir, de não querer lidar com seus problemas, assim como decidir enfrentá-los... Você só vai saber o que fazer corretamente, se pensar bem sobre o que deve ser feito. Às vezes faz bem pararmos para pensar antes de tomar uma decisão que possa ser inconsequente.

Sim, mais uma vez Vincent Charles estava certo. E durante toda a minha vida eu agi ao contrário. Eu nunca pensei, sempre agi impulsivamente. Como estava agindo novamente.

Subitamente fiquei em pé — talvez agindo impulsivamente outa vez — e virei para o médico, ainda sentado no degrau da escada.

— Você está completamente certo, doutor Charles. Acho que nunca ouvi palavras tão sabias em minha vida — comentei, passando a mão sobre meu vestido, ajeitando-o de um possível amarrotado. — Eu não sei o que vou fazer, se irei lidar com os meus problemas ou ignorá-los. Nesse exato momento não quero ter que retornar para essa festa. Portanto, acho que vou ignorar, mas amanhã é um novo dia, certo? Por isso, acho que irei para casa, que é a única coisa que desejo fazer.

— Mas já vai embora? — Ele ficou de pé, parecendo chateado pela minha precoce partida.

— Sim, já basta em como minha mente está bagunçada, seria pior se eu retornasse para essa festa barulhenta. Mas eu indico que você vá se divertir. Tem comida e bebida de graça, portanto, indico que aproveite. — Vincent abriu um sorriso, se divertindo com o meu comentário. — Não se preocupe comigo, vou ficar bem. Obrigada pelo seu conselho!

— Tenha uma boa noite, Melissa. E se precisar de algo, saiba que pode contar comigo! — Eu assenti, ainda sorrindo, e acenei em despedida.

— Boa noite, Vincent! — falei, dando as costas e me afastando de onde o médico estava.

Eu estava fugindo, claro. Não que eu não quisesse estar com ele ou que sua presença me incomodasse. Eu estava justamente fazendo o que ele tinha me dito. Ignorar ou lidar? Agora era tarde demais para que eu lidasse com os meus problemas, portanto, ignorá-los era a melhor opção. Afinal, naquela festa, contando com Vincent Charles, estavam seis dos meus sete clichês.

Eu não sabia quem tinha planejado chamar todos eles. Somente Lilly sabia sobre os pedidos, será que tinha o dedo dela? Ou teria tido a ajuda de Louis? Preferi ignorar no momento tais cogitações.

Porque, honestamente, sabia que ainda precisaria lidar com sete pedidos. Que eu estava enganada quando pensei que precisaria escolher entre Alex e Tom — que possivelmente nem queriam me ver pintada de ouro —, pois ainda havia Sebastian no jogo. Eu nem sabia se o CEO tinha sentimentos por mim, mas se ele realmente fosse um dos clichês, certamente teria.

Por isso, eu fugi. Não literalmente, mas desisti de uma festa que deveria ser possivelmente a virada do jogo de minha vida. Atravessei a rua, caminhando por um percurso conhecido por mim. Eu estava agindo errado por estar circulando sozinha, ainda mais tarde da noite, principalmente depois do acidente que sofri.

Mas eu não estava completamente incapacitada. Segui meu instinto e parei na primeira loja de conveniência que encontrei pelo percurso. Lá, gastei meu dinheiro comprando porcarias, qualquer coisa que sanasse minha fome e me ajudasse a afundar em meus problemas, como uma forma de me distrair para não lidar com eles. Não esqueci de comprar um pote de sorvete de chocolate. Assim que paguei as compras, continuei com meu percurso para o meu prédio.

Não fui incomodada por ninguém, ainda mais porque eu sabia, de alguma forma, que eu estava sendo observadz. Havia um familiar carro escuro, que ficava diariamente diante do prédio de meu apartamento. Eu sabia que eram os seguranças de Sebastian Johnson, pois vez ou outra um deles saía do carro, usando o fatídico terno preto. Eles não me incomodaram, supervisionando todo o meu percurso até eu chegar ao meu prédio.

Adentrei e quando cheguei até o andar do meu apartamento, olhei pela janela, vendo o mesmo carro estacionando diante da calçada. No final das contas eu realmente estava certa, percebi.

Fui para meu apartamento, decidida a lidar com os meus problemas como a maioria das mocinhas dos livros. Com uma boa dose de sorvete e outras besteiras.

Arranquei o vestido, trocando por um pijama confortável, retirei toda a maquiagem e fui para a sala, pegando uma colher e meu pote de sorvete. Por lá coloquei meus pés sobre a mesinha de centro, peguei meu celular e enviei uma mensagem para Lilly e Will, para que ambos não se preocupassem, avisando que me encontrava perfeitamente bem e segura no apartamento. Deixei o celular de lado e para espairecer a mente, selecionei para assistir um dos meus vários filmes favoritos. Certamente uma comédia romântica, como você deve ter imaginado.

Assisti o tal filme, me conformando que a história que eu estava vivendo poderia ser como um filme de comédia romântica, mas com certeza estava sendo bem mais complexo

Quando Lilly chegou em casa eu já estava dormindo. Ou ao menos fingindo que estava dormindo. Não queria ter que lidar com seus questionamentos. Sabia que ela perguntaria sobre o motivo da minha fuga, sobre o que tinha acontecido com Sebastian. Ou se eu sabia sobre o CEO ser irmão de Seth.

Para não ter que lidar com aqueles questionamentos tão cedo, decidi tomar dois comprimidos de calmantes, que me ajudariam a adormecer. E foi assim que eu apaguei completamente, em um sono sem sonhos, completamente envolvida pela escuridão.

Quando finalmente acordei, sem que o despertador tocasse, com alguém balançando meus ombros de forma incessante, deparei-me com a luminosidade do dia adentrando meu quarto pelas janelas.

Levei as mãos aos olhos, protegendo-os do desconforto causado pela sensibilidade e tentei encontrar a pessoa culpada por me acordar de meu descanso solene.

— Finalmente a bela adormecida acordou! — disse Lilly, se afastando da minha cama e indo terminar de abrir as persianas.

— Não! — grunhi, cobrindo minha cabeça com a coberta.

— Melissa, já são quase três horas da tarde! Eu pensei que você estava morta pelo tanto de tempo que ficou dormindo! — brigou minha amiga, voltando-se para mim e arrancando a coberta das minhas mãos. — Levante-se ao menos para comer algo!

Ela saiu do quarto, deixando a porta aberta e uma Melissa — no caso eu — ainda morta de exaustão e só querendo continuar a dormir. No entanto, preferi levantar, pois assim como estava com sono, também estava faminta.

Me arrastei para o banheiro, lavei o rosto, escovei os dentes e arrumei meu cabelo. Depois segui para a cozinha, onde me deparei com Will e Lilly.

— Bom dia — resmunguei, me sentando diante do balcão, ao lado de Will.

— Boa tarde — brincou meu amigo, com um sorriso zombeteiro. — Está com fome?

Dei de ombros, tentando manter meus olhos abertos, lutando contra o resquício de sono em meu corpo.

— Acabamos de pedir comida para nós. Logo deve chegar — avisou Lilly, se prontificando a arrumar a mesa com os pratos e talheres.

— Você veio para casa cedo, ontem — observou William, provavelmente com a pretensão de entrar em um assunto que eu não desejava conversar. Notei meus amigos trocando olhares, esperando minha resposta.

— Minha cabeça estava doendo por causa da música alta — menti, dando de ombros novamente.

Escutei Lilly soltando um suspiro e batendo com força o copo sobre a bancada da cozinha.

— Nós sabemos muito bem que esse não foi o motivo! — reclamou ela, olhando-me aborrecida.

Sentei-me reta e encarei minha amiga.

— Ah, é? Então se você sabe, me diga o motivo! — contradisse, desgostosa pela ousadia dela me enfrentar.

— Garotas... — Will levantou as mãos, tentando de alguma forma intervir na possível discussão que iniciaria ali.

— Você estava fugindo, Melissa, mais uma vez! — Lilly ignorou a tentativa de Will em manter a calma. Olhei-a com uma expressão de choque, mostrando que não a compreendia. — Isso mesmo! Assim que ouviu o que a SunHee disse, não hesitou em cair fora!

— Eu só não queria ter que ficar ouvindo-a falar sobre a vida perfeita que tem! Nunca fui amiga dela!

— Você sabe muito bem que não é sobre isso que estou me referindo! — Lilly apontou o dedo para mim, os olhos expressando aborrecimento. Me encolhi sob sua acusação e controlei a expressão de raiva que tentou tomar meu rosto. Minha amiga também tentou se controlar, respirando fundo e abaixando o dedo. — Você não suportou ouvi-la falar sobre Lee!

Aquilo foi à gota d'água para mim. Já bastava ter que ouvir SunHee me dizendo que eu era a única que poderia decidir e resolver o que havia entre mim e Lee, e agora ali estava Lilly me acusando de ser uma... Fujona.

Fiquei de pé, os olhos ardendo pelas lágrimas que queriam escapar.

— E por que eu deveria ter ficado lá, ouvindo-a falar sobre alguém que nunca fez questão de saber meu paradeiro? — Lilly abriu a boca para dizer algo, mas quem respondeu foi Will, em sua voz tranquila.

— Melissa, nós acreditamos que talvez você tenha se enganado... — Virei meu rosto para ele e o encarei com firmeza. —... Que talvez a relação de vocês não tenha acabado como você imaginou. Que tudo não passou de um mal entendido. SunHee nos disse...

Subitamente levantei minha mão direita, impedindo que William continuasse a falar.

— Eu não quero saber o que a SunHee disse. Eu ouvi, assim como vocês, e pra mim já basta desse assunto! — exclamei, dando as costas, e saindo de perto dos meus dois amigos.

Eu estava tentando ignorar a existência de Lee e o fato de ter seu contato salvo em meu celular. No momento, eu precisava lidar com outros aspectos da minha vida, em que Lee não fazia parte.

Não queria ter que ficar mais um minuto na presença de William e Elizabeth, tendo que ouvir seus discursos, tentando me convencer a mudar de ideia em relação a Lee.

Por isso, agi impulsivamente mais uma vez, peguei as primeiras peças de roupas que vi pela frente e as vesti, também pegando minha carteira e celular, e saindo do quarto em poucos minutos, passando pela sala e ignorando os questionamentos dos meus amigos.

— Melissa, para onde você vai?! — perguntou Will, em uma tentativa frustrada de conseguir informações.

— Voltei aqui agora, Meli! — chamou-me Lilly, que também foi ignorada.

Para conseguir escapar deles tranquei a porta e corri rapidamente para fora do prédio. Em segundos, a passos rápidos, atravessei dois quarteirões, até parar para descansar. Quando olhei sobre meu ombro não visualizei meus amigos, mas meu celular tocava no bolso de meu casaco. Coloquei-o no silencioso, ignorando as ligações.

O que iria fazer agora? Minha fuga tinha sido bem sucedida, mas eu não tinha um destino para o qual seguir. Mas uma coisa era fato, minha barriga roncava, desejando por ser alimentada. Para a minha sorte notei um carrinho de cachorro quente e me prontifiquei a comprar dois. Os devorei em questão de minutos, ainda parada na calçada, ponderando sobre aonde eu iria.

Parei diante de uma vitrine, olhando distraidamente o que era exposto ali. Continuei caminhando, observando vitrine atrás de vitrine, até parar em frente a uma livraria. Instantaneamente uma pessoa veio em minha mente. Louis Turner.

Terminei de comer meu cachorro-quente e dei meia-volta, seguindo para o prédio do escritor.

Louis Turner me devia satisfações. Dentre as quais envolvia o motivo de ter convidado Sebastian Johnson para sua festa. Eu estava de coração partido por sua atitude na noite anterior, sem entender a real finalidade por trás delas. Por isso, não hesitei em atravessar os quarteirões que restavam até sua moradia.

Quando cheguei ao seu prédio, subi de elevador até seu andar e segui pelo corredor, que estava uma bagunça por sinal. Não sabia quem ajudaria o escritor a limpar aquela bagunça, mas certamente seu apartamento deveria estar pior.

Bati na porta de madeira verde e aguardei ser recebida. Não sabia se o escritor estava, mas persisti com mais algumas batidas até ser atendida.

— Quem é? — resmungou Louis ao atender a porta, o cabelo completamente bagunçado e as roupas amassadas, demonstrando que tinha acabado de acordar. Assim que notou que se tratava de mim, abriu um meio sorriso cansado. — Melissa, ao que devo a honra de sua visita?

Ele se apoiou na porta, em uma tentativa de ser manter em pé. Passei por ele, adentrando o loft e observando a bagunça que se encontrava. Eu estava certa, no final das contas. Haviam copos e taças espalhados pelo recinto, assim como restos de comidas sobre a bancada e louças sujas na pia. Também tinha uma boa quantidade de garrafas de bebidas espalhadas pelo chão, como em uma coleção da quantidade de álcool ingerido na noite passada.

Fiz uma careta quando Louis passou por mim e senti o odor de álcool em suas roupas.

— Eu sei! Eu sei que está tudo uma bagunça, mas eu ia arrumar — justificou ele, agora se apoiando na bancada.

— Eu não disse nada — falei, me sentando em sua frente. Louis arqueou a sobrancelha, tentando interpretar minha expressão séria.

— Bom... Fico feliz por não brigar comigo pela bagunça, mas... Posso saber o motivo de ter vindo tão cedo ao meu apartamento? — O escritor esfregou os olhos, em uma tentativa de mantê-los abertos.

Cocei o queixo, em uma expressão reflexiva, como se pensasse ainda sobre o que iria dizer.

— Eu acho que você me deve uma justificativa — acusei, fazendo-o expressar confusão em seu rosto cansado. — Preciso saber por qual motivo você convidou Sebastian Johnson para sua festa ontem.

Louis apoiou a mão em sua bochecha, também fingindo estar pensativo. Logo em seguida ele deu a volta, indo em direção a garrafa de uísque e enchendo um copo com o líquido, para depois colocá-los em seus lábios e tomar um grande gole. Tentei não expressar o estranhamento a ele por estar bebendo álcool tão cedo, naquele dia, mas aparentemente para Louis aquilo era como beber água.

— Ora, eu o convidei porque ele é o seu namorado... — justificou, contendo um sorriso.

— Você o convidou se passando por mim! — retruquei, controlando o aborrecimento em minha voz.

— Ele não aceitaria vir à festa se eu o convidasse, já você... — Ele me indiciou com o copo.

— O que você está sugerindo?

— Estou sugerindo, Melissa, que minha impressão a respeito de Sebastian Johnson estava certa... — Quando abri os lábios para questioná-lo a respeito daquele assunto, fomos interrompidos.

Duas mulheres saíram do quarto do escritor, trajando provavelmente as mesmas roupas que usavam na noite passada, com as maquiagens borradas e os cabelos desarrumados. Controlei a expressão de choque, ainda mais pela ousadia do escritor em parecer natural com aquela situação.

— Acho melhor irmos... — disse uma delas, se retirando com a outra do apartamento. — Até breve, Louis!

O escritor lançou uma piscadela para as jovens e, após a porta ter se fechado, voltou-se para mim com um meio sorriso zombeteiro.

— O que foi? São só umas amigas — justificou ele, como se o fato de duas mulheres saindo de seu quarto não fosse grande coisa.

Engoli em seco, constrangida com sua ousadia e privilégio de ser homem.

— Não me importo com isso, só quero que vá direto ao ponto. Sobre o que você estava certo a respeito de Sebastian Johnson? — Louis não me respondeu imediatamente.

Antes ele bebeu todo o conteúdo de seu copo e o depositou sobre a bancada, mantendo os olhos fixos em mim.

— Que ele se envolveu muito nesse fingimento... Que, na verdade, ele a vê mais do que uma namorada de mentira... — Desviei meus olhos ao ouvir suas palavras, pois, de certa forma, eu pensei também nisso. Mas o pior foi sua observação seguinte. —... E você também.

— Como pode ter tanta certeza disso?! — o confrontei, não gostando de suas ousadas adivinhações. Até eu me negava a isso ainda. A essa ideia absurda de tornar o fingimento em verdade. Em possivelmente ter sentimentos pelo CEO.

— Melissa, há algum tempo tenho a observado e notei muitas coisas ao seu respeito... — Louis saiu de trás da bancada, passando para o meu lado e ficando cara a cara comigo. Deixei-o que continuasse a falar, tentando saber até onde ele iria. — E minha ficha caiu no dia do seu acidente, mais especificamente no dia seguinte, quando ficamos sabendo que você tinha recobrado a consciência depois de vinte e quatro horas em coma... Foi um momento angustiante para todos nós... — Juntei as sobrancelhas, sentindo um vinco se formar entre elas, tentando processar a quem e a quantas pessoas se referia. Mais um sorrisinho malicioso brotou em seus lábios. — Sim, Melissa, eu sei o seu segredo.

Eu hesitei, sem entender como Louis tinha descoberto. Somente Lilly sabia a verdade, que soava absurda até mesmo para mim, será que ela tinha tido a ousadia de contar isso para ele?

— Meu segredo? — Fingi confusão, tentando mostrar que em nada seu comentário me abalava.

— Sim... E pode continuar ignorando os fatos, mas queira você ou não, eu sei que aqueles homens gostam de você. — Meu coração gelou. Por um instante meu corpo ficou frio de dentro para fora, como se eu tivesse tomado um sorvete bem gelado, que deixava o cérebro congelado.

— Não sei do que você está falando — refutei, ainda negando as possibilidades de Louis saber a verdade sobre os... Clichês.

— Melissa, por favor, não tente negar! Talvez soe confuso até mesmo para você, mas naquele dia em que você recobrou a consciência, eu não era o único homem naquele quarto que foi com a pretensão de saber notícias suas. Ainda haviam outros cinco... Isso, tirando o médico, que certamente poderia estar ali a trabalho, se eu não percebesse a forma em que ele a atendia e tratava. Muito mais do que a gentileza de um médico com uma paciente. — Engoli em seco, porque, no final das contas, Louis estava certo. Com seu olhar observador, ele observou tudo aquilo, percebendo tão mais rápido do que eu os fatos.

— Onde você quer chegar com isso, Louis? — perguntei, tentando ainda entender o ponto de vista do escritor.

— Eu quero chegar na parte em que você diz que estou certo — confessou ele, com um sorriso maroto.

Pisquei, sem entender sua real pretensão.

— Só isso?

— Sim!

Tamborilei os dedos sobre meu joelho, ainda processando suas observações. Ele estava certo, mas o que lhe traria se eu afirmasse? Pisquei, subitamente percebendo que talvez Louis tivesse confessado também fazer parte. Também ter sentimentos por mim, talvez de forma disfarçada e indireta.

— Você também se inclui nisso? — indaguei, mas ele pareceu não entender meu questionamento. — Você também é um dos homens que gosta de mim? Assim como os outros, você estava lá, igualmente preocupado e aflito. Devo interpretar que você também faça parte desse grupo?

Eu acertei um ponto sensível no escritor, pois ele desviou os olhos e hesitou em responder.

— Eu só a vejo como uma boa amiga, Melissa, e que admiro seu trabalho como escritora. — Boa desculpa, pensei, notando que Louis ainda evitava me olhar nos olhos.

Sim, você está certo. — Louis se surpreendeu com a minha resposta, finalmente voltando a me olhar. Fiquei de pé, ponderando que talvez estivesse na hora de ir. — Porém, eu não vou entrar em detalhes, mas alguns deles confessaram ter sentimentos por mim. E eu sempre fui o tipo de pessoa que desejou viver um romance como os dos seus livros... — Tive que rir ao admitir aquilo para o meu escritor favorito. — Mas ninguém avisou que fosse tão complicado.

Virei-me, concluindo o que queria dizer ao escritor. Porém, ele não pareceu satisfeito pela minha breve resposta.

— O que quer dizer com isso?

Abri a porta e, antes de sair, respondi:

— Vamos dizer que eu fantasiei muito em ser como a mocinha dos livros de romance... Até eu perceber que na vida real isso é muito mais difícil de conquistar. — Olhei sobre meu ombro, notando a confusão perpassando pelo rosto do escritor. — Vamos dizer, de uma forma mais poética, que não há amor em Manhattan.

Eu nem sabia por que tinha dito aquilo, mas soou bem em minha mente. Não esperei por mais questionamento de Louis e o deixei para trás, já entendendo o real motivo dele por ter convidado Sebastian Johnson para sua festa.

No entanto, sua tentativa não foi bem sucedida, pois ele não esperava que a presença de Seth interferisse para que eu ficasse no ambiente com os meus sete clichês.

Louis não sabia sobre os pedidos de aniversários, mas com o seu olhar atento e observador conseguiu perceber em como os outros homens se comportavam em minha presença. E até mesmo conseguiu ler em Sebastian Johnson os seus sentimentos omitidos por mim atrás das suas várias barreiras.

Nesse momento o CEO provavelmente me odiava e eu não sabia de nenhuma forma de restaurar a paz entre nós dois. Contudo, uma parte minha ainda recusava essa divergência que havia entre ele e seu meio-irmão Seth.

Por causa disso, percebi que Sebastian era como eu, que tinha dificuldade para lidar com os seus problemas, preferindo a ignorá-los. E eu, notando a oportunidade que tinha, não permitiria que isso acontecesse.

Assim que saí do prédio do apartamento de Louis, peguei minha carteira e procurei o cartão de visita que Seth havia me dado. Disquei o número de telefone contido ali e coloquei o aparelho celular próximo à orelha. O telefonema demorou para ser atendido, mas após alguns toques escutei a voz familiar e o sotaque britânico do outro lado da ligação.

— Alô?

— Alô, Seth, sou eu, a Melissa, podemos nos encontrar? — O rapaz hesitou ao ouvir quem se tratava, mas não demorou em responder.

— Melissa, que surpresa em receber sua ligação! Podemos nos encontrar sim. Nesse momento estou ocupado organizando as coisas para uma festa que vai haver na minha fraternidade, mas você é muito bem-vinda para comparecer aqui agora e, quem sabe, ficar para se divertir conosco — respondeu ele, em tom divertido.

— Tudo bem, estou indo aí e sei o endereço! — Desliguei a ligação e acenei para um táxi que passava a rua, que estacionou assim que viu meu chamado. Adentrei o carro e dei o endereço para o motorista.

O carro partiu e foquei em observar o percurso, pensando sobre como poderia ajudar na reaproximação de dois irmãos.

O táxi não demorou para ser estacionado diante do prédio em que encontrava a fraternidade de Seth Johnson, em Manhattan.

Não tive dificuldades para adentrar o prédio e seguir até o elevador, apertando o botão para o respectivo andar que ficava o apartamento da fraternidade.

Sabia que aquela deveria ser uma zona que eu deveria evitar, ainda mais pelas memórias que me trazia pelo o que havia acontecido por lá — sim, estou me referindo a ter beijado Jacob García em um dos quartos. Porém, deveria aceitar que aquele acontecimento fazia parte do meu passado e permaneceria lá.

Segui pelo corredor assim que as portas do elevador se abriram e fui em direção ao apartamento. Bati a porta mais de uma vez, mas não fui atendida, provavelmente pela música alta que já tocava por ali naquela hora do dia. Toquei a campainha insistentemente, até finalmente uma alma viva decidir me atender.

Para minha surpresa, quem fez isso foi meu ex-aluno Jacob García.

— Melissa, o que você está fazendo aqui? — Ele se surpreendeu pela minha presença, olhando-me com uma expressão receosa.

Sorri, feliz por revê-lo, pois na noite passada não tive tempo de trocar mais do que poucas palavras com ele.

— Eu que deveria perguntar o motivo de você estar aqui a essa hora do dia. Está fazendo oficialmente parte dessa fraternidade? — Jacob tombou a cabeça, sem jeito.

— Ainda não... — Ele desviou os olhos, parecendo constrangido. Porém, um meio sorriso cobriu seu rosto. — Quer entrar?

Assenti e adentrei assim que ele me deu passagem.

— Estou à procura de seu amigo Seth — informei, observando o recinto ocupado por alguns rapazes.

Obviamente fiquei tensa, notando que só haviam homens por ali e todos olhavam para a minha direção. Contudo, pouco tempo depois voltaram com o que faziam.

— Seth? Uau, não sabia que vocês tinham ficado próximos... — observou meu ex-aluno, aparentando estar levemente enciumado.

— Seth é meio-irmão do meu namorado, Jacob — justifiquei, surpreendendo o rapaz novamente. O mais estranho para mim não foi ter contado aquilo a Jacob, mas sim pela naturalidade que me referi a Sebastian como meu namorado. Ok, eu precisava me recordar que ainda éramos falsos namorados.

— Isso eu não sabia! — Riu ele, nervosamente. — Bem, você pode encontrar Seth ou em seu quarto, ou provavelmente na sala de jogos. Como ele é o líder da fraternidade, só se ocupa em conseguir as bebidas e deixa o resto da organização com a gente.

Percebi que Jacob se referia aos outros rapazes. Assenti, compreendendo.

— Pode me dizer onde fica a sala de jogos ou o quarto dele?

— Siga por aquele corredor, e vai ser a segunda porta a sua direita. Se não o encontrá-lo por lá, deve seguir mais adiante pelo corredor e haverá uma placa com o nome dele em uma das portas. Será lá! — Atentei-me a orientações de Jacob e agradeci. Mas antes que eu fosse, ele me puxou para dizer: — Aliás, Melissa, se quiser ficar para a festa, que vai começar daqui a pouco, tenho certeza que vai ser bem divertido. E eu prometo que não vou sair do seu lado!

Um sorriso brincalhão cobriu o rosto jovem e bonito de Jacob. O retribui e balancei a cabeça em afirmação.

— Vou pensar sobre isso... — Lancei lhe uma piscadela, apenas para provocá-lo, mas não surtiu o efeito que eu esperava. Honestamente, pressupus que ele interpretou de outro modo. E me arrependi por ter feito aquilo, pois sabia que Jacob tinha sentimentos por mim, estes não correspondidos.

O deixei para trás, indo em busca de Seth e ponderando sobre qual teria sido o motivo de meu ex-aluno ter se interessado por mim. Eu sempre o tratei com gentileza e o ajudei nos estudos, principalmente porque eu era paga para fazer isso. Talvez, em algum momento, dei a entender que também gostava dele? Certo, aquele beijo que tivemos poderia ser muito mal interpretado, mas havia uma boa dose de álcool em meu sangue e isso era uma justificativa por não ter controlado meu desejo carnal. Ora, Jacob era jovem e muito bonito! E isso era um bom motivo para beijá-lo, pensei. Bom, aquilo não se repetiria, obviamente, ainda mais depois de sua reação exagerada após tê-lo rejeitado.

Foquei no objetivo de estar ali e encontrei a tal sala de jogos. E Seth Johnson estava lá, acompanhado de outros rapazes de sua idade, jogando sinuca.

Bati levemente na porta, chamando atenção e não querendo parecer rude ao entrar no recinto sem permissão. Toda atenção veio para mim. Seth abriu seu típico sorriso divertido e indicou para que eu entrasse.

— Olá — falei, constrangida ainda pelos olhares sobre mim.

— Pessoal, esta é a minha cunhada. Já falei dela para vocês, a namorada do meu irmão! — Os outros rapazes pareceram me reconhecer.

Eu, no entanto, também reconheci dois rostos daquele grupo. Demorei poucos segundos para recordar de onde os tinha visto, até lembrar que tinha sido na festa em que vim naquele mesmo apartamento. Eram dois amigos de Jacob, nos quais não tinha gostado muito pelos seus olhares.

Apesar da minha memória ser ruim, consegui recordar seus nomes: Daniel e Peter. Porém, eu me recordava com mais avidez de Peter e seus olhos escuros, assim como o sorriso de malícia que direcionava a mim assim que me reconheceu. Será que Jacob havia contado sobre ter me beijado a aqueles rapazes? Bem, esperava que não, pois seria uma falta de respeito.

— Vocês podem nos deixar a sós, por favor? — Os outros rapazes pareceram não aprovar o pedido do líder, mas o obedeceram, deixando seus tacos de sinuca e se retirando do recinto. — Fechem a porta ao sair!

A porta foi fechada e ficamos somente nós dois na sala de jogos. E realmente era uma sala de jogos, com duas mesas de sinuca, uma de ping-pong e uma máquina de pinball. Também havia uma gigante televisão de tela plana conectada em um videogame. Me surpreendi por tudo que continha naquela sala, demonstrando que aquela fraternidade só era frequentada por rapazes de boa condição financeira.

— Sabe jogar sinuca, Melissa? — perguntou o rapaz, indicando a mesa.

— Não — neguei, ainda observando o ambiente.

— Ah, que pena, eu ia convidá-la para jogar. Eu poderia até te ensinar, mas se Sebastian soubesse que toquei um dedo em você, ele certamente mandaria arrancar minha cabeça — caçoou Seth. Percebi que ele ainda tentava fazer piada com a sua situação, mas que omitia a mágoa por trás de suas palavras. — Sente-se.

Me sentei no sofá de couro disposto ali, e Seth sentou-se ao meu lado. O rapaz parecia incomodado com a minha presença ali, aguardando que eu manifestasse e dissesse o real motivo por ter vindo ao seu encontro.

— Por favor, esse silêncio seu está me matando. Pode ir direto ao ponto e me dizer por que queria me encontrar? — Dei uma risadinha, me divertindo com a inquietude de Seth. Contudo, o rosto do rapaz ficou pálido. — Sua presença aqui tem algo a ver com o que aconteceu ontem à noite? Ele quer me encontrar?

Me senti mal pela expectativa contida na voz dele. Seth parecia ansioso pela simples ideia de ficar cara a cara com o irmão.

— Não — respondi, a voz fraquinha, envergonhada por esse não ser o motivo de ter vindo até ali. — Na verdade, acho que você percebeu a forma em que ele reagiu assim que te viu.

— Sim, eu percebi... Agora ele nem tenta esconder o quanto minha presença é indesejável. Quando éramos mais jovens e nos víamos nas reuniões de família, ao menos ele conseguia ficar no mesmo lugar comigo por algum tempo — comentou Seth, como se recordasse do momento em que a relação entre ele e o irmão era menos turbulenta. — Acho que ele só fazia isso porque vovó o convencia. Agora, no entanto, ele ao menos pode me evitar sem culpa...

Segurei para conter minha mão, que desejava pegar a sua para confortá-lo. Enquanto observava Seth, notei a mesma dor que tinha visto no rosto de Sebastian. Ambos passavam pela mesma angustia. Seth, por desejar se reaproximar do irmão, mas ser evitado, e Sebastian por repudiar a existência do irmão mais novo e não suportar revê-lo, pois se recordava da infância tortuosa causada pela ausência e maldade do pai.

— Não diga isso. Eu não sei nem metade do que ele passou nas mãos de seu pai, ou pelo o que você passou. Mas, Seth, preciso que você seja sincero comigo... Suas intenções com Sebastian são genuínas? Você realmente quer se reaproximar dele? — Por um momento Seth pareceu ficar ofendido com meus questionamentos, mas não hesitou em responder.

— Claro que sim, Melissa. Eu sei que pode parecer que estou tentando me aproximar com intenções ruins, mas desde criança quis a companhia do meu irmão mais velho, quis conhecê-lo mais, no entanto, meus pais não deixavam. Meu pai fomentava ideias em minha cabeça, dizendo que Sebastian tinha inveja de mim por eu ter meu pai e minha mãe, e que ele poderia tentar me machucar, e sempre me convenceu a tentar me aproximar de vovó, para me tornar o neto favorito. Mas esse lugar sempre foi de Sebastian e eu não queria roubar uma das poucas coisas que ele tinha... — confessou o rapaz.

Me senti mal ao ouvir sobre como o pai deles estimulava essa inimizade entre os irmãos. Portanto, fazia sentido Sebastian se manter distante da família. Motivos não faltavam.

— Eu posso te ajudar com isso — falei, sem pensar muito. Ok, eu tinha um plano, não era um dos melhores, mas era uma tentativa. Eu não tinha algo a perder, tinha?

Os olhos azuis de Seth me encararam com firmeza, em expectativa do que eu viria a dizer.

— Bem, não posso te afirmar com certeza que Sebastian vai querer te aceitar na vida dele, mas talvez com uma boa conversa posso convencê-lo a se encontrar com você, para talvez um almoço... Mas já vou avisando que não é fácil convencê-lo! Ainda mais depois de ontem, quando ele acreditou que te convidei de propósito para ir à festa...

— Eu não deveria ter ido a aquela festa. Com certeza deixei a situação complicada para você... — conjecturou ele, parecendo chateado consigo mesmo.

— Bom, a situação já estava complicada para mim de qualquer forma... Na verdade, você me ajudou a ver coisas que eu não tinha percebido antes — confessei, pensando no quanto significava a presença de Sebastian Johnson naquela festa.

Que mesmo depois de termos brigado em seu escritório por causa de Tom Flanagan, ele compareceu à festa. Com qual finalidade? Ora, não havia paparazzi para nos fotografar juntos, muito menos algum repórter. Sim, Louis estava certo. Sebastian tinha sido convencido a ir, acreditando que eu o tinha convidado, pois queria se encontrar comigo.

— Por nada, então — brincou ele, provocando-me.

Revirei os olhos para Seth, tendo-me esquecido que ele era diferente de Sebastian em alguns aspectos, principalmente em seus comentários bem humorados e sorrisos sedutores.

— Mudando de assunto, você explicou a Lilly o que aconteceu? Ela lhe questionou algo em relação à Sebastian? Eu não tive tempo de conversar com ela hoje — perguntei. Seth coçou a cabeça, expressando desconforto sobre o assunto.

— Ela me perguntou sim, e eu respondi. Ela pareceu não acreditar em mim, até recordar sobre Sebastian realmente ter um irmão. E como você mesma disse, ela era secretária dele, portanto, ao menos um pouco sobre a vida dele deveria saber. Depois disso, ela me deu as costas e me ignorou o resto da festa... Eu pensei em ir embora, mas não poderia deixar Jacob sozinho, pois ele já estava completamente alcoolizado — concluiu Seth, parecendo mal pela forma como sua relação com Elizabeth tinha terminado.

— Não me diga que você estava gostando de Lilly?

Seth riu, suas bochechas ficando levemente avermelhadas pelo assunto tocado.

— Sua amiga tem muitas características positivas, além de ser muito divertida e, obviamente, bonita.

— Rá! É assim que você a descreve? Honestamente, acho que você está tentando esconder, mas dá pra ver claramente que Lilly mexe com você! — Após meu comentário o rosto de Seth ficou vermelho, completamente envergonhado pela minha observação direta.

— E-eu... — ele gaguejou, pensando em algo para dizer.

Me levantei do sofá, já concluindo com o que tinha ido fazer ali.

— Bom, era só isso que eu queria conversar com você. Espere meu contato. Irei convencer Sebastian, mas se não for bem sucedida, já peço para você não gerar muitas expectativas — avisei, indo em direção à porta. Estava prestes a me despedir quando senti Seth puxando meu braço, fazendo-me virar para ele.

Arregalei meus olhos pela proximidade súbita que ficamos. Ele largou meu braço e pigarreou, com o olhar envergonhado, tentando me dizer algo. Olhando-o daquela perspectiva, odiava o fato dele ser tão parecido com o irmão mais velho e sempre me remeter ao CEO. Apesar das poucas diferenças que haviam, o mesmo formato do rosto e até o sorriso remetiam a Sebastian.

— Melissa, fico imensamente grato por estar me ajudando. Mas uma parte minha não acha justo fazer isso com você... — Arqueei a sobrancelha, sem entender ao que Seth se referia. Fiquei nervosa, temendo estar enganada ao seu respeito. — Eu... Como líder dessa fraternidade, sei de tudo que acontece, assim como sei sobre a tarefa que Jacob precisa cumprir para entrar na fraternidade...

Minhas sobrancelhas se uniram, formando um vinco entre elas.

— Pensei que Jacob já fizesse parte da fraternidade... — Meu comentário se perdeu quando uma luz se acendeu em meu cérebro, antes mesmo que Seth concluísse o que tinha a dizer.

— Honestamente, eu me sinto mal por ter concordado com isso, mas a partir de agora não irei tolerar esse tipo de coisa...

— Vá direto ao ponto! — pedi, sentindo meu coração se acelerar em meu peito.

— Jacob foi desafiado a levar você para cama, para ser aceito pela fraternidade. Não sou eu quem decide qual vai ser a tarefa, é algo unanime, e assim que você veio naquela noite na festa, os rapazes decidiram que esse seria o desafio dele! — Eu já não escutava o que Seth dizia.

A sensação que eu tinha era que havia recebido um soco no peito, acertando bem ao centro. Foi como um soco bem forte, capaz de me arrancar meu fôlego, mesmo não tendo sido real.

Minha cabeça zunia, recordando de algo que tinha acontecido há alguns anos em minha vida, igualmente similar com o que Jacob pretendia fazer comigo.

Por isso ele tinha ficado furioso no hospital ao ser recusado por mim, por isso não hesitou em vir me pedir desculpas, assim como aparentou estar nervoso quando me viu a porta da futura fraternidade em que faria parte. E, por incrível que parecesse, eu me recordava da noite daquela festa naquele apartamento, quando escutei sua conversa com outros rapazes, pedindo por mais tempo e dizendo que eu era difícil. Ele não tinha citado meu nome, mas agora fazia total sentido em minha mente. Assim como os sorrisinhos de malícia daquele garoto chamado Peter.

Eram coisas pequenas, que passaram disfarçadamente pelo meu olhar. Agora que Seth me contava aquilo, fazia total sentido em minha mente.

E não havia nada mais clichê do que uma maldita aposta. Mas para mim, aquele não era o tipo de história que eu desejava vivenciar novamente. Percebi algo, que me doeu muito, mais ainda por saber que aquilo seria a ruína da minha amizade com Jacob. Ele não gostava de mim, como realmente dizia. E todo o carinho que eu tinha pelo rapaz foi por água abaixo.

Ignorei o que Seth tentava me dizer. Provavelmente um pedido de desculpas. Que sentia muito por ter concordado com aquele desafio. Eu lidaria com Seth em outro momento. Agora eu só queria ir atrás do meu ex-aluno e ficar cara a cara com ele.

Escancarei a porta e segui pelo corredor, retornando para a sala. Os mesmos garotos transitavam por ali, já enchendo a cara e pouco importando com seus fígados.

Não demorei para encontrar Jacob García, parado e conversando com aqueles mesmos garotos, Peter e Daniel.

Eu sabia que estava agindo impulsivamente, mas também estava seguindo o conselho de Vincent Charles. Lidar com os meus problemas e aquela era a forma em que eu fazia aquilo.

Parei atrás de Jacob e cutuquei seu ombro com força, chamando sua atenção e fazendo com que virasse. Ele abriu um sorriso assim que me viu, mas que se desfez em questão de segundos quando notou a minha expressão endurecida de ódio.

— Ei, Melissa, o que está... — iniciou ele, mas não deixei que terminasse.

Se eu fosse presa, pouco me importava. Certamente eu tinha dinheiro o suficiente para pagar minha fiança e um amigo advogado para me tirar da prisão.

Acertei um soco com força no lindo rostinho de Jacob, que gemeu de dor quando meu punho acertou sua bela face.

Escutei a reação de choque das pessoas a minha volta, completamente embasbacados pela minha atitude.

Quando cogitei em mirar outro soco, alguém segurou meu pulso, impedindo meu movimento.

— Já chega! — alertou-me uma voz masculina. Quando virei para encarar o maldito sujeito que me segurava, percebi ser Seth. — Acho que ele já recebeu o que merece!

— Melissa, por que você fez isso? — choramingava Jacob, com a mão cobrindo a região do rosto que acertei.

— Porque você é um babaca! Porque todos vocês, garotos mimados, são um bando de babacas que acham que podem brincar e usar uma mulher! Vão se foder! — gritei, furiosa, e me virei para partir, sabendo que se ficasse ali por mais algum minuto, provavelmente algo ruim poderia vir a me ocorrer. Porém, antes de sair pela porta, virei-me para dizer mais algo a Jacob: — Eu nunca mais quero ver você na minha frente, está me ouvindo? Nem ouse vir com um pedido de desculpas, seu imbecil!

Finalmente conclui e saí com maestria daquele apartamento lotado com garotos mimados, incapazes de evoluir.

Atravessei o corredor a passos duros e entrei no elevador, apertando com força o botão para o térreo. Contudo, antes que as portas se fechassem completamente, alguém adentrou com rapidez o elevador e parou ao meu lado, respirando pesadamente pelo esforço em me seguir.

Seth se apoiou na parede, recuperando seu ar. No instante seguinte ele começou a rir, se divertindo com algo.

— Você também pode me odiar agora, mas aquilo que fez foi espetacular — disse ele, ainda rindo.

Revirei os olhos, mas tive que conter meu riso, somente esboçando um meio sorriso de satisfação.

— O que você quer, Seth? Tem sorte que não fiz nada contra você, ainda — o ameacei.

Ele balançou a cabeça, ainda se divertindo.

— Melissa, ao menos me deixe levá-la em casa, por favor. Depois do que aconteceu aqui hoje, eu temo pelas pessoas na rua... — caçoou, mas demonstrando genuíno interesse em me levar para casa.

— Não preciso de um carona sua... Aliás, você também estava metido nisso, então não pense que irei te perdoar porque me contou a verdade...

— É justo! Mas, eu já lhe disse isso uma vez, se Sebastian soubesse que você está andando por aí sozinha, ficaria furioso. E eu sei que dá última vez em que você ficou caminhando por aí sozinha, acabou sofrendo um acidente... — Não gostei do argumento que ele utilizou. No entanto, eu não estava com raiva de Seth.

Claro que ele também estava metido nisso e só me contou porque eu disse que iria ajudá-lo com Sebastian. Mas eu ainda não tinha desistido do meu plano. Poderia mudar de ideia apenas para puni-lo, mas minha intenção ali era ajudar principalmente Sebastian e talvez se reaproximar do irmão o faria bem.

Honestamente, meus planos normalmente não davam certo, porém, o que custava tentar?

— Tudo bem, mas já vou avisando que moro no Brooklyn! — avisei.

— Sem problema! — Seth retirou as chaves do carro de seu bolso e as girou nos dedos, ainda com um sorriso de diversão.

Assim que adentramos seu carro, foi quando percebi minha mão esquerda vermelha e quente, indicando que ficaria inchada.

Seth notou o resultado que o soco em Jacob havia me trazido e fez uma careta.

— Por favor, não conte a Sebastian que eu estava metido nisso... — Dei uma risada pelo seu medo do CEO. — Ah e, aliás, você tem um bom soco.

Tive que concordar com Seth e falei, em tom misterioso:

— Eu tenho experiência!

O rapaz me olhou com estranhamento, surpreso pelas minhas palavras. Eu não estava mentindo, claro, pois tinha uma lista substancialmente boa de rostos aos quais tinha socado — e partes baixas que dei joelhadas. Preferi não contar a Seth e manter o mistério, pois um dos motivos que me levou a cometer aquele mesmo ato com Jacob advinha de um motivo parecido. Eu não queria ser usada novamente por outro homem para conquistar coisas.

Mesmo com a minha mão latejando de dor, permiti que um sorriso de satisfação cruzasse meu rosto. Agora, de fato, Jacob estava fora de cogitação. No entanto, será que realmente ele era um dos meus sete clichês?

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