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A parte boa de não estar trabalhando era poder acordar no horário que eu quisesse, ou seja, bem tarde. Era sábado, por isso eu passaria o dia inteiro na preguiça, apenas usando pijama, andando descabelada pelo apartamento e me alimentando com o que tinha na geladeira, que certamente seria esquentado no micro-ondas.

Minha saúde estava consideravelmente melhor e, se Tom Flanagan realmente fosse cumprir com a promessa dele, segunda-feira retornaria a trabalhar. Estava ansiosa para voltar com a minha rotina, mas uma parte minha temia ter que encarar meu chefe novamente. Principalmente porque eu não tinha tomado uma decisão. Que seria tomada naquele dia, essa era a minha intenção e nada me faria mudar de ideia.

Bem, eu não sabia como seria minha escolha, iria seguir meu coração como sempre fazia e certamente ele faria a escolha certa. Era injusto ficar pesando Tom e Alex em balanças. Deixaria que meus sentimentos por eles fossem o que os diferenciaria um do outro. Certamente o que eu sentia por um deles seria mais intenso do que pelo outro, mas agora eu não conseguia dizer qual exatamente.

Eu decidi que não pensaria sobre aquilo durante o dia e deixaria para me preocupar durante a noite, durante a festa de Louis.

Lilly estava consideravelmente animada pela festa, mesmo tendo acordado com dor de cabeça após uma boa quantidade de ingestão de álcool. A pré festa tinha sido um sucesso na noite passada e tivemos que controlar Louis Turner para não ultrapassar os limites. O lado positivo era que quando ele caiu no sofá completamente embriagado e adormecido, era o sofá da casa dele.

Tive que arrastar Lilly do apartamento de nosso amigo escritor para o nosso, pois eu era a única consciente dos meus próprios atos e a ajeitei na cama, já deixando um analgésico e um copo de água ao seu lado, sabendo que ela acordaria com enxaqueca.

Mesmo com as dores de cabeça, ela acordou animada para ir ajudar Louis na preparação para a festa de inauguração do apartamento dele. Eu recusei em ir, porque ainda estava me sentindo exausta do dia anterior. Mesmo estando melhor em relação à concussão, tinha dias que minha cabeça parecia mais pesada que normalmente e o ambiente girava ao meu redor. Lilly compreendeu e partiu sozinha para o apartamento de Louis.

Uma parte minha suspeitava que estivesse havendo algo entre minha amiga e o escritor, mas eu percebia a forma que Lilly ainda reagia a Will, que agora vinha todas as noites ao nosso apartamento, querendo saber como eu estava.

Eu ainda não tinha tido aquela conversa que prometi a mim mesma a ter com ele. Durante nossos anos de amizade William nunca agiu contrário ao rótulo de bom amigo, mas saber que ele possivelmente ainda tinha sentimentos por mim me incomodava. E mesmo Lilly dizendo que o superaria, uma parte minha sabia que era uma farsa. Eu conversaria com Will, porém, em outro momento, quando finalmente fosse tomar minha decisão.

Depois de ter ficado sozinha em meu apartamento, percebi que não havia absolutamente nada para fazer. Eu e Lilly passamos a semana praticamente sem compromissos, por isso tudo estava limpo e organizado. Minhas séries estavam atualizadas — por incrível que pareça, sim, estavam — e não havia ninguém para conversar. Foi nesse momento que percebi como foi uma péssima ideia ter ficado sozinha, pois fiquei na companhia de meus pensamentos, que eram manipuladores.

Vaguei pelo meu quarto, observando meu armário de roupas e ponderando sobre qual roupa usaria hoje à noite. Como Alex e Tom estariam na festa, eu deveria estar apropriadamente vestida. Bem que eu adoraria ter um vestido bonito como daqueles no closet do apartamento de Sebastian Johnson, pensei. Argh! Óbvio que aqueles vestidos eram chiques demais para a ocasião, mas eu queria ao menos parecer estar arrumadinha.

Separei algumas peças, jogando-as sobre a cama e cogitando se deveria ou não usá-las. Certamente demorei muito tempo para escolher a calça e a blusa que usaria, assim como o par de calçados.

Eu estava perdida em pensamentos, tentando decidir qual maquiagem faria, quando escutei a campainha do apartamento tocando. Por um momento aguardei que Elizabeth fosse atender, até recordar que eu estava sozinha.

Fui a passos lentos até a sala, me questionando quem poderia estar do outro lado da porta. Eu não estava aguardando por ninguém e muito menos estava apropriada para receber alguém em meu apartamento. Eu usava um conjunto de moletons cinza e meu cabelo estava preso à nuca em um pequeno coque. E quanto eu abri a porta me arrependi instantaneamente por não ter verificado minha aparência no espelho.

Do outro lado do portal, parado no corredor somente com uma toalha envolvendo sua cintura e outra jogada sobre seu ombro, estava o meu vizinho Alex. Sua aparência me causou uma reação instantânea. Meus lábios se entreabriam, em expressão de choque pela visão que meus olhos tinham daquele homem.

Seu abdômen e peitoral estavam descobertos, expondo sua pele preta e certamente macia. Controlei o impulso de levar as minhas mãos para saber qual era a sensação de tocar aquele corpo que tanto admirei diversas vezes. Quis me punir mentalmente por o estar desejando, sabendo que existia a possibilidade de partir seu coração se ele soubesse a verdade. Se soubesse que eu havia ficado com Tom Flanagan.

— O-oi — gaguejei, a voz pesada. Tive que pigarrear para normalizar meu timbre.

— Melissa, oi, me desculpe aparecer dessa forma em seu apartamento, mas você pode me deixar usar seu chuveiro, por favor? — Aquele foi o pedido mais inesperado que ouvi em toda a minha vida. Certamente nem quando ele me pediu para fingir ser sua namorada por um fim de semana me chocou tanto assim.

Ok, ele também não tinha feito aquele pedido sem camisa, pensei.

— C-claro — gaguejei mais uma vez, dando passagem para que ele adentrasse em meu apartamento. — O que houve com o seu chuveiro?

— Deu um problema na encanação e não está saindo água. Chamei o encanador, mas ele só vai poder vir amanhã cedo e eu tenho uma reunião muito importante para ir hoje! — respondeu ele. Percebi o tom de urgência em sua voz e fiquei com pena pela situação que estava.

— Nossa, isso é péssimo! — Essa foi a única coisa que consegui dizer. Eu não conseguia assimilar e formular palavras apropriadas. A visão dele sem camisa ainda me hipnotizava, me deixando tonta.

O levei até o corredor, até a porta do banheiro.

— É aqui, fique à vontade — falei, apontando para a porta entreaberta do recinto.

Ele sorriu agradecido.

— Obrigado, Melissa!

Só consegui dar um aceno em resposta e o deixei que adentrasse o banheiro. Eu quase desejei que me fizesse um convite atrevido para tomar banho com ele, mas Alex era respeitoso demais para fazer uma brincadeira como aquela.

Corri de volta para a sala e me joguei no sofá, tentando recuperar o ar que havia fugido de meus pulmões e controlar o tremor em minhas pernas, que jurei que me fariam cair de cara no chão na frente do meu vizinho.

Caramba, eu tinha me esquecido do efeito que Alexander Hall causava ao meu corpo. Como alguém poderia ter um abdômen tão definido? Caraca, o que ele deveria fazer para ter tantos gominhos como aqueles?

Se eu olhasse para a minha barriga, certamente só veria dobras de gordura uma sobre a outra. Instantaneamente quando pensei em minha aparência corri para me olhar no espelho mais próximo e me deparei com os fios frisados do meu cabelo, assim como um rosto pálido e lábios ressecados. Precisava falar das minhas roupas? Tinha uma mancha de ketchup no centro do moletom. Arranquei a parte de cima e a joguei em um canto qualquer da sala, e tentei ajeitar o meu cabelo, arrumando os fios eriçados, e aproveitei para hidratar meus lábios com um hidrante labial de Lilly, que estava jogado por ali.

Ok, eu estava melhor do que há cinco minutos atrás, pensei, quando verifiquei minha aparência no espelho novamente.

Me sentei confortavelmente no sofá, com pernas cruzadas e tudo mais, fingindo estar distraída no celular. Eu aguardava que Alex terminasse seu banho e retornasse para seu apartamento. A simples ideia de saber que ele estava completamente nu no banheiro do meu apartamento me deixava... Sedenta!

Eu tinha pensado em várias vezes em ir para outro nível com ele. Sobre fazer sexo, e realmente tínhamos quase chegado a fazer. Agora meu corpo estava reagindo a aquela ideia, que me parecia completamente inapropriada, ainda mais por eu tê-lo traído com Tom. Ok, eu não poderia considerar uma traição, pois tecnicamente não estávamos em um relacionamento sério, com um compromisso um pelo outro. Mas Alex tinha dito que somente iria querer a mim, quando o fiz prometer que não ficaria preso a mim somente para que eu não tivesse que lidar com a culpa de ficar com outro. E mesmo assim eu estava lidando com a culpa.

Eu deveria reafirmar que era indigna de Alexander Hall, mas eu o queria tanto, que parecia injusto me negar a tê-lo.

Finalmente escutei o barulho da porta do banheiro abrindo e meu vizinho saindo. Ele surgiu na sala, ainda envolvido na toalha, mas agora com o seu peitoral úmido em alguns pontos que ele não havia secado direito.

— Bem, obrigado por ter me deixado usar seu banheiro, Melissa — agradeceu ele, indo em direção à porta. Eu me levantei do sofá, para acompanhá-lo até a saída e não parecer uma mal educada.

— Imagina, sempre que precisar, pode pedir... Qualquer coisa. — Tentei controlar meu olhar de desejo sobre o rapaz, mas ele pareceu perceber.

Um sorriso malicioso cruzou seu rosto, exibindo seus dentes perfeitamente alinhados e brancos, se divertindo com a minha reação em relação a ele.

Cruzei os braços, apenas para controlar o impulso de minhas mãos quererem tocá-lo.

— Te vejo mais tarde, na festa do seu amigo escritor? — perguntou Alex, sugestivamente, esperando me rever a noite.

Assenti mais do que imediatamente.

— Claro, com certeza!

— Certo, até mais tarde! — despediu-se ele. Deixei que fosse, pois somente assim eu poderia controlar o aceleramento em meu coração.

Me apoiei na porta, respirando pesadamente, aproveitando para restabelecer a força em minhas pernas.

Eu estava sim apaixonada por Alex, mas eu o queria como quis na noite de nosso encontro em seu apartamento. Eu o queria fisicamente. Poder tocar seu corpo, sentir a sensação de suas mãos sobre mim.

Não controlei o meu corpo quando voltei a ficar ereta, em pé, abri a porta rapidamente e atravessei o curto espaço que havia do meu apartamento para o dele. Bati com urgência na porta, desejando que fosse logo atendida antes que meus vinte segundos de coragem passassem.

Não demorou muito tempo para que eu fosse atendida. Alexander Hall surgiu, agora somente com uma tolha envolta de seus quadris, com seu peitoral completamente exposto aos meus olhos, e me observando com uma expressão de satisfação, como se aprovasse a minha ida até ali.

— Oi — falei, sem saber o que dizer.

Um sorriso mais largo do que tinha visto em seu rosto mais cedo surgiu. Em um piscar de olhos ele estendeu seu braço e me puxou pela mão, colando meu corpo ao seu em milésimos de segundos.

— Oi... — respondeu ele, sua voz soando rouca e bem próxima do meu ouvido.

Um arrepio percorreu da ponta dos meus dedos do pé até minha coluna, fazendo com que eu tremesse em êxtase.

Dessa vez não hesitei, assim como ele. Unimos, nós dois, os lábios um ao outro, com o desejo nos consumindo como o fogo consumia a brasa. E eu me permiti ser egoísta mais uma vez, mesmo que fosse me arrepender daquilo mais tarde.

Estar no interior seguro do meu apartamento não me trouxe mais conforto. Minhas pernas ainda tremiam em reação pelo o que havia acontecido entre mim e Alex. Uma parte minha estava consideravelmente feliz, porque tinha sonhado por aquele momento diversas vezes, e que tinha superado qualquer sonho.

Para minha sorte não precisei pensar muito sobre isso, pois para minha surpresa Elizabeth já estava no apartamento. Obviamente fui pega desprevenida, porque não esperava seu retorno tão cedo.

— Ei, onde você estava? — questionou ela enquanto se ocupava com algo na cozinha.

Me aproximei hesitante e parei do outro lado do balcão, ainda ponderando sobre o que responder.

— E-eu estava com vontade de tomar um sorvete e fui até aquela sorveteria a duas quadras daqui — menti. Bem, fazer aquilo estava se tornando mais fácil com o tempo.

— E não trouxe nada para mim? — se ofendeu Lilly. Ri nervosamente e neguei. — Egoísta!

Revirei os olhos para seu drama, mas minha amiga mudou sua expressão rapidamente e abriu um sorriso largo.

— Mas diferente de você, eu penso na minha amiga! — Lilly veio até mim e puxou a minha mão, me levando para o meu quarto.

Estranhei sua súbita atitude e o que ela pretendia me mostrar. Assim que adentramos o quarto notei um vestido sobre a cama. O tal vestido era muito bonito, e me deixou encantada por Elizabeth o ter comprado para mim.

Olhei para a minha amiga sem entender, mesmo já sabendo suas intenções com aquela peça de roupa.

— Comprei para você usar hoje à noite durante a festa! — Sua voz soou fininha, demonstrando sua animação.

— Uau... — O que eu poderia dizer? Já estava apaixonada pelo vestido. — Obrigada, Lilly, mas não precisava...

— Precisava sim! Agora pare de bobeira e experimente! — Lilly estendeu o vestido para mim, que o peguei para vestir.

Enfiei meus braços nas mangas cumpridas e de tecido fino, praticamente transparente, e Lilly fechou o zíper em minhas costas. Assim que me olhei no espelho, deparei-me com uma Melissa usando um lindo vestido. Era de cor preto com diversos girassóis estampados. A textura do tecido era fina e sedosa. Deslizava pela minha pele enquanto me movia, com suavidade e conforto. Ele batia até a altura dos meus joelhos, dando um charme de elegância. Eu me senti bonita vestindo aquele vestido, mas faltava algo, que Lilly também percebeu.

— O que você acha de já começarmos a nos arrumar? Eu posso fazer seu cabelo e maquiagem! — ofereceu-se ela, animada. Arqueei a sobrancelha, estranhando toda sua boa gentileza, mas dei de ombros, aceitando. Eu sabia do quanto Lilly adorava uma tarde de garotas, se arrumando para ficarmos bonitas.

Me entreguei aos caprichos de Lilly e iniciamos a nossa arrumação.

Eu não estava ansiosa pela festa na casa de Louis, ainda por saber que quanto mais as horas passavam, mais próxima eu ficava de fazer minha escolha. Alex ou Tom...? Como eu faria para escolher entre os dois?

Tentei focalizar minha atenção para não pensar naquilo no momento, observando Lilly enrolar as mechas do meu cabelo, deixando-as onduladas. Ela fazia todo o processo pacientemente, com um sorriso largo em seu rosto. Fixei meus olhos em sua expressão, tentando ler se havia segundas intenções por trás de seu gesto. Lilly já tinha armado para mim nessa semana, fazendo aquela festa surpresa, será que ela faria a mesma coisa?

Não! Eu tinha tido uma boa conversa com ela sobre aquilo e acreditava que não fosse repetir. Ela sabia sobre o quão desconfortável tinha me sentido e que eu estava em um relacionamento, sem a possibilidade de me envolver com outra pessoa — o que não passava de uma farsa, obviamente.

Mentir para Lilly me doía muito, mas assim que os quatro meses passassem, e eu já tivesse tomado minha decisão, contaria a ela sobre meu novo relacionamento. Sebastian Johnson faria apenas parte do meu passado e nada mais além disso. Estava ansiosa para me ver livre dele, pensei. Também feliz porque não o veria essa noite e provavelmente nem tão cedo. Provavelmente ele ainda estava bravo comigo por tê-lo desrespeitado, mas pouco me importava o que ele sentia ao meu respeito. Em uma das cláusulas do contrato dizia explicitamente que eu poderia manter um relacionamento com outra pessoa, desde que fosse em segredo, portanto, ele não tinha o direito de opinar ou se ofender.

Também não entendia porque Sebastian Johnson sentia raiva de Tom Flanagan. Tom tinha mais motivos para odiar o CEO, do que ao contrário. No entanto, por que parecia sair centelhas de fogo quando eles dividiam o mesmo ambiente? Eu não sabia responder aquela pergunta, e certamente nunca saberia.

Lilly terminou de arrumar meu cabelo e se prontificou a opinar sobre qual maquiagem eu faria. Falei que não queria nada exagerado, que ela certamente não obedeceu. Assim que fiquei completamente pronta, me deparei com uma Melissa bem diferente do habitual. Lancei um olhar aborrecido para Lilly, que estava parada ao meu lado observando o resultado de seu trabalho.

Meus lábios estavam pintados com um batom vermelho escarlate. A sombra nos meus olhos era mais claras, completamente reversas a cor dos meus lábios.

— Agora só falta o vestido! Termine de se arrumar enquanto me apronto! — mandou Lilly, se retirando do quarto para ir se preparar.

Fiquei sozinha encarando minhas próprias feições por um tempo no espelho. Há algum tempo eu estava insegura sobre minha aparência, mas naquele momento eu me sentia bela como no dia que me arrumei para ir ao baile beneficente. Para mim, a visão que eu tinha do meu corpo sempre foi um empecilho, mas após ter me entregado a Tom e a Alex, a forma que eles me olharam durante um momento tão íntimo demonstrava que eu não era a aberração que sempre imaginei ser. E enquanto visualizava minha imagem no espelho foi o momento que comprovei isso. Eu era linda e sempre fui. Ok, quando eu me arrumava daquela maneira ficava bem mais bonita. Tinha dias que eu certamente me sentiria feia, mas eu era bonita na maioria dos dias e somente minha opinião importava. O que Jason Hughes disse naquela noite, no baile de verão, só tinha sido dito com a intenção de me magoar. E havia sido bem sucedido. Durante anos eu me odiei pelo corpo que eu tinha, pelo meu rosto redondo demais, pelos meus olhos escuros e aparência medíocre, sem nada atrativo. Mas eu era atraente e não precisava que nenhum homem dissesse aquilo.

Peguei o vestido sobre a cama e o vesti, decidida sobre a escolha que faria naquela noite.

William chegou pontualmente, como sempre, e aguardou para que ficássemos prontas. Bem, eu já estava completamente pronta, enquanto Elizabeth ainda terminava sua arrumação, pois tinha se ocupado comigo antes de se preocupar consigo. Eu poderia até mesmo me voluntariar a ajudá-la se preparar, mas eu não tinha seus dons para cabelo e maquiagem, por isso preferi não ajudar a atrapalhar.

Will, assim que me viu, ficou sem reação, surpreso pelo que via. Isso causou-me ligeiro desconforto, principalmente ao receber seu elogio.

— Você está muito bonita, Meli — comentou ele, constrangido. Seu rosto ficou instantaneamente vermelho, assim como o meu.

— Obrigada! Você quer um refrigerante? — agradeci, já mudando de assunto, envergonhada demais para encarar seu olhar embasbacado e indo para a cozinha.

— Claro, por favor. — Ele também pareceu aliviado por eu ter me distanciado, deixando o clima menos tenso.

Nós tomamos os refrigerantes enquanto aguardávamos Elizabeth, que para a nossa sorte não demorou a ficar arrumada.

Porém, se eu tinha achado constrangedor receber um elogio de Will, bem, para Lilly tinha sido pior. Nosso amigo também teve uma reação similar. Ok, eu não poderia dizer que ele agiu igual a como havia agido comigo. Pelo contrário, assim que Lilly adentrou a sala, com seus longos cabelos acaju soltos, um vestido vermelho tomara que caia, que exibia seus ombros e clavículas, deixando-a com uma aparência sedutora e sexy — ela não tinha exagerado na maquiagem, pois com certeza o que chamava a atenção era seu vestido —, William pigarreou, nervoso, antes de dizer:

— Lilly, você está encantadora... — Arqueei a sobrancelha, em dúvida daquele elogio simplista.

Encantadora de homens, só se for, pensei. Afinal, William, apesar de ter economizado nos elogios, tinha tido efeito imediato em reação ao que via em Lilly. Minha amiga estava deslumbrante, tão atraente, que qualquer homem ficaria babando descaradamente — como alguns já ficavam. E assim era como Will se encontrava no momento.

Ele umedeceu os lábios, ainda nervoso, e esfregou as mãos no jeans da sua calça.

— Vamos? — chamou, aparentemente já querendo partir dali.

— Obrigada, Will — agradeceu Lilly, piscando adoravelmente, enquanto saíamos do apartamento.

Tive que conter meu riso enquanto ainda observava como meus dois amigos reagiam um ao outro. Will até havia aberto a porta do carona para que Elizabeth entrasse. Minha amiga certamente também estava reagindo a todo o cavalheirismo de Will. Sem contar que ele não estava nada mal naquela noite. Mesmo Will economizando na arrumação, conseguia ficar bonito. Ele usava calça jeans azul, uma camisa de botões cinza, de manga curta e um blazer. Aparentemente a festa não era tão importante para ele usar um de seus vários ternos, pensei.

Não demoramos muito tempo para chegar ao prédio do apartamento de Louis. O carro foi estacionado em uma vaga disponível em frente ao lugar e saímos.

Fomos uns dos primeiros convidados a chegar. A porta do apartamento estava aberta, para permitir a entrada de qualquer um que desejasse entrar. Encontramos Louis orientando os garçons sobre quais bebidas servirem primeiro. O ambiente estava com uma boa iluminação e já tocava uma música, deixando o clima mais dinâmico.

Louis viu Lilly primeiro — era meio impossível não vê-la, pois a cor de seu vestido chamava muito atenção. Ele veio em sua direção e a abraçou como se fossem amigos de longa data. Aquele gesto causou reação em Will, que com olhos semicerrados pareceu desaprovar toda essa intimidade que Louis tinha desenvolvido conosco.

— Elizabeth, você está uma gata! — Minha amiga riu nervosamente pelo elogio indiscreto. Se a expressão de Will estava séria, ficou pior. Nosso amigo não controlou a expressão de desgosto. Uma parte minha aprovou a reação dele, talvez gostando do sentimento de ciúmes que ele estava tendo por Lilly. Aparentemente as coisas estavam mudando por ali, percebi.

Louis cumprimentou Will e logo em seguida eu surgi em seu campo de visão. Seus olhos brilharam de maneira divertida, como se aprovasse o que via e soltou, em provocação:

— Você está bem bonitinha hoje, Melissa. — Meu amigo escritor me puxou para um abraço e depositou um beijo suave em minha bochecha.

Seu elogio brincalhão me causou risadas, mas aquele beijo deixou meu tolo coração acelerado.

— Eu poderia dizer o mesmo de você, mas odiei sua camisa! — caçoei. Louis fez uma expressão de ofendido, mas depois deu uma risada alta.

— Bom, podem ficar à vontade e aproveitar a festa! Os aperitivos já estão sendo servidos! — informou Louis, indicando a bancada da cozinha com diversos tipos de comidinhas. Não hesitei em me aproximar e enfiar um pedaço de queijo na boca.

Haviam dois barmans que ficariam atrás do balcão fazendo as bebidas e isso me remeteu a uma lembrança. Me virei para olhar Louis, que tinha parado ao meu lado, também aparentemente pensando o mesmo.

— Eu dei ordens a eles sobre não ignorar os seus pedidos! Você é preferencial! — Revirei os olhos, tendo que rir de seu comentário provocador.

— Fico imensamente honrada! — falei, colocando a mão sobre o peito, fingindo estar emocionada.

Louis pareceu querer dizer algo, mas teve que se afastar para receber os novos convidados que tinham acabado de chegar.

— Quantas pessoas ele convidou? — perguntou Will, que recebia uma água tônica do barman, pois seria o motorista da noite.

— Muitas — respondi, não me recordando ao certo o número.

— E vai caber todo mundo nesse apartamento? — Nosso amigo indicou o loft, que não era tão grande, mas relativamente espaçoso.

— Acho que ele vai fazer caber — brinquei, rindo.

Lilly pediu um Martíni, alheia a nossa conversa. No entanto, Will não estava alheio a ela. Meu amigo não desgrudou os olhos de cada movimento que Elizabeth fazia, hipnotizado. Um sorrisinho tomou meus lábios, aprovando o que via. Será que depois de muito tempo William finalmente estava vendo Lilly com outros olhos? Só o tempo seria capaz de me responder àquela pergunta.

Não tive muito tempo para permanecer observando meus amigos, pois um novo convidado chamou minha atenção. Meu coração errou uma batida assim que nossos olhos se encontraram. Parecia fazer uma eternidade que eu não o via, mesmo tendo sido há poucos dias.

Louis o cumprimentou animadamente assim que o viu. Tom Flanagan reagiu estranhamente bem com toda a animação do escritor. Abriu um sorriso largo e retribuiu o aperto de mão, ao mesmo tempo que o entregava uma garrafa de champanhe. Louis pareceu aprovar o presente e disse que já iria o abrir. Tom, no entanto, parecia pouco importar com o que ele dizia, pois seus olhos ainda estavam presos aos meus, assim como os meus ao dele.

Quis ir imediatamente em sua direção e dizer algo... Mas o que eu diria? Eu não poderia fazer aquela escolha no momento. Era inconsequente. E Lilly não permitiu que eu fizesse nada a seguir, pois assim que o DJ — pois ainda havia um DJ por ali — colocou uma nova música agitada para tocar, ela me puxou para a pista de dança improvisada.

Eu sempre fui uma péssima dançarina e ao saber que provavelmente eu estaria sendo observada, fiquei envergonhada com a ideia de dançar. Porém, Lilly não deixou que eu ficasse parada. Tentei seguir seus movimentos, que eram completamente sensuais para uma música eletrônica. Balancei meus braços, movendo meus ombros e tentando rebolar meus quadris. A visão deveria estar sendo terrível. Mas o fato de sermos as primeiras a dançar chamou a atenção dos outros convidados também para a pista de dança e me senti camuflada em meio às outras pessoas. Consegui me distrair um pouco, me esquecendo por alguns minutos de outras preocupações.

Não sei quanto tempo ficamos ali, inventando passos de dança e tentando seguir o ritmo da música. Lilly ficou cansada depois de um tempo e preocupada se sua maquiagem tinha ficado borrada. Ela me puxou para fora da pista de dança, me levando de volta para o balcão. Eu pedi por um copo de água, que fui imediatamente servida. Lilly bebericou da minha água também e respirou fundo. Seus olhos verdes visualizaram algo as minhas costas, parecendo surpresa e desconfortável com o que via. Pensei em me virar para saber o que a tinha incomodado, mas a mesma segurou meus ombros.

— Melissa... — Sua voz soou alta por conta da música elevada. Os olhos da minha amiga me encararam expressando sentir muito. Não entendi, e muito menos entendi suas palavras. — Eu e Will pensamos na melhor forma de te contar isso. Iríamos te contar a uns dias atrás, mas você ainda estava muito fragilizada e não queríamos te deixar chateada!

O quê? Eu não estava entendendo absolutamente nada que Lilly dizia. Espera! Será que ela e Will estavam namorando? Eu estava preparada para fazer aquela pergunta, quando senti a aproximação de alguém atrás de mim. Me virei, incomodada com a proximidade. A pessoa abriu um meio sorriso divertido, aparentemente não tão surpresa por me ver.

— Melissa Fontoura, quanto tempo que não a vejo, mas aparentemente você não mudou nada... — comentou a mulher, sorridente.

Seus olhos ficaram pequenos pela ação de sorrir, principalmente por serem estreitos e pequenos. Seus lábios rosados faziam um belo contraste com seus dentes brancos. E o cabelo preto encontrava-se preso ao um rabo de cabelo bem ajeitado. Eu a olhei de cima a baixo, processando e tentando reconhecer a pessoa que estava diante de mim. Ela usava um terno azul marinho, que enaltecia sua beleza asiática.

Se fosse há cinco anos atrás e ela me aparecesse sorrindo daquela maneira, eu consideraria uma pegadinha, tentando fazer uma piada de mal gosto. Porém, fazia muito tempo que não a via, e era estranho a reconhecer mesmo depois de anos. Mas também era fácil, pois em nada ela havia mudado. Ela nunca esteve em meus pensamentos. Ok, talvez em algumas lembranças, quando ela era um empecilho na minha relação com... Lee.

— SunHee, que surpresa revê-la — falei, mantendo o tom de voz, não demonstrando muito agrado em reencontrá-la.

Por que eu não aprovava revê-la? O motivo era óbvio. SunHee e eu nunca nos demos bem na escola. Ela namorava o garoto idiota que fazia bullying com Will e tinha tido a ousadia de ter usado Lee para fazer ciúmes em seu namorado paspalhão. E, obviamente, porque ela era uma lembrança do meu passado, que, querendo ou não, me fazia recordar do meu primeiro amor, que eu estava evitando pensar no momento.

A olhei de forma interrogativa, me questionando sobre o motivo de sua presença. E percebendo a presença de Will ao seu lado, assim como o olhar de culpa de Lilly, acreditei que seria logo respondida.

— Não sabia que você conhecia o Louis... — comentei, com quem não queria nada, desejando saber o motivo de sua presença ali.

SunHee expressou confusão por alguns segundos, até soltar uma breve risada, para dizer:

— Louis? Ah, não! William me convidou para vir a essa festa... — confessou ela, acenando com a mão, como se não fosse nada.

— Tecnicamente eu não a convidei, você se convidou quando mencionei que tinha uma festa para ir essa noite... — intrometeu-se William, lançando um olhar de constrangimento para mim, pela presença de SunHee ali.

A mulher soltou uma risada e acenou novamente com a mão, achando graça de si mesma.

— Você está certo, eu realmente fiz isso! Mas é porque quando fiquei sabendo que Elizabeth e Melissa também estavam em Nova Iorque, quis imediatamente revê-las. É bom ver rostos amigos do tempo de escola! — admitiu SunHee, sem vergonha alguma.

— Nós não éramos amigas! — retruquei, grosseiramente, com a expressão séria. Senti o toque da mão de Lilly em meu braço, com uma tentativa de me manter tranquila. Minha resposta não abalou SunHee. Continuei: — E como você e Will se reencontraram?

William não deixou que SunHee respondesse, intrometendo-se novamente:

— Ela é a mais nova advogada contratada da firma em que eu trabalho... — Percebi a hesitação nas palavras de Will, demonstrando também não estar muito satisfeito com isso.

— Isso mesmo! Eu acabei de retornar da Coreia do Sul e consegui revalidar meu diploma aqui, e fui contrata pela firma em que William trabalha. É considerada uma das melhores de Nova Iorque, então não pude perder a oportunidade — justificou, soltando mais uma de suas risadinhas.

Aquilo só poderia ser uma grande piada de mau gosto! De todos os lugares no mundo, dentre várias cidades e firmas de advocacia, SunHee arranjou um emprego justamente na que William trabalhava. E agora ela estava ali, bem diante de mim, falando com satisfação da sua excelente formação em uma das melhores universidades da Coreia do Sul.

—... Várias advocacias quiseram me contratar por lá, mas eu quis retornar ao meu país de origem, sabe? Eu amo os Estados Unidos e a minha namorada também queria passar uma temporada por aqui! — concluiu ela, ainda com seu tom animado.

Eu e meus amigos prestávamos atenção em suas palavras. Lilly e Will demonstravam interesse e eu não conseguia controlar minha expressão de tédio. Queria que ela percebesse o quão indesejada sua presença estava sendo para mim.

— Namorada? — Lilly não controlou sua dúvida direta. Fiz uma careta pela pergunta sem rodeios da minha amiga. SunHee, no entanto, não se importou em responder.

— Sim, estou namorando uma mulher. Minha preferência mudou — brincou, enquanto levava sua bebida aos lábios, os olhos brilhando de bom humor.

Eu não controlei minha acidez e soltei:

— Depois de namorar alguém como o Mark, de certa forma seu gosto mudaria. Deve ter sido uma experiência horrível ter namorado um... Cara como ele. — Tive que controlar minha língua para não chamar seu ex-namorado de coisa pior.

William cobriu sua boca com a mão, controlando o impulso de rir, enquanto Lilly arregalava os olhos. Aguardei a reação de SunHee, que foi completamente contraria ao que eu esperava. Ela gargalhou alto, chegando a colocar a mão sobre meu ombro esquerdo, como se apoiasse em mim. Afastei o toque dela com delicadeza, ainda demonstrando antipatia.

Certo, eu estava agindo como uma babaca. A presença de SunHee me incomodava muito. Ela me remetia a alguém que eu não queria pensar. Eu não sabia qual era seu propósito em estar ali, com seus sorrisos e gargalhadas, contando sobre sua vida e o sucesso de ser uma das melhores de sua turma na universidade. Eu não estava com inveja da sua espetacular vida. Eu só não queria ter que lidar com mais alguém do meu passado, que me remetia ao tempo do colégio e a... Você sabe quem.

— Ah, Melissa! Lee estava certo! Você é muito bem humorada e sempre tem resposta pra tudo! — SunHee ainda ria, com os olhos espremidos, não dando muita atenção para o que acontecia a sua volta.

Por isso, ela não viu a reação instantânea que aquele comentário causou a mim. Somente por ter mencionado o nome dele, meu corpo ficou inteiramente estático, tenso, tentando interpretar o que queria dizer com aquilo. Will e Lilly também ficaram parados, os olhos grudados em mim, tentando ler minha reação.

— Como você disse: ele estava certo. Eu mudei, não sou a mesma pessoa de anos atrás... E imagino que você também não — a confrontei, desgostosa sobre como ela o havia mencionado. Como se o conhecesse também, como se já tivesse conversado com ele ao meu respeito.

SunHee parou de rir, estranhando o tom de seriedade na minha voz.

— Não, eu não sou... Ninguém é, estamos todos em constante mudança. Mas acredito que Lee adoraria saber sobre como você permanece sendo a mesma, até mesmo na aparência... Ok, talvez você tenha ficado mais alta. E eu posso te afirmar que ele também não mudou muito... Além de ter ficado famoso... — Havia bom humor por trás de seu comentário, querendo deixar o clima mais leve. Mas sua frase soou o efeito reverso em nós três. Lilly e Will trocaram um olhar de alerta, preparados para o que pudesse acontecer. Eu os ignorei, porque uma sensação inquietante tomou meu peito. Uma dúvida.

— Vocês... — Engoli em seco antes de completar: —... Ainda conversam?

A mulher, que parecia ter se distraído observando as pessoas dançando na pista de dança, voltou seus olhos para mim, com um traço de confusão por eles, até parecer ter compreendido algo.

Sim... De tempos em tempos trocamos mensagens ou até mesmo nos falamos pelo telefone. Foi como eu disse, é bom reencontrar um rosto amigo, dos tempos do colégio. Mas isso tem se tornado raro, porque Lee tem trabalhado bastante, e eu também... — SunHee levou a bebida novamente aos seus lábios, com os olhos focados em mim, aguardando minha reação. Permaneci calada, processando o que ela tinha acabado de dizer. Percebendo que eu nada diria, ela perguntou: — Você parou de falar com ele, não foi? Fiquei muito surpresa ao saber que a amizade de vocês havia acabado... Não tinha um dia que via vocês separados... Sempre colados.

Ela soltou mais uma de suas risadinhas. Seu último comentário me afetou mais do que o outro. Quando ponderei em responder, Lilly interveio em minha defesa.

— Foi ele quem parou de falar com ela. Eles conversavam praticamente todo o mês, mas um dia o Lee parou de respondê-la! — Lilly estava se controlando, tentando não demonstrar aborrecimento pela acusação contra mim.

SunHee arqueou as sobrancelhas, pensando sobre que Lilly tinha acabado de dizer. Eu, por outro lado, comecei a me manter alheia a aquele assunto.

O ar a minha volta começou a ficar pesado, incapaz de penetrar em meus pulmões. As pessoas em meu campo de visão começaram a girar, rodando sem parar. Minha cabeça também começou a latejar e o som alto soava em tripla intensidade em meu cérebro. Eu precisava fugir dali! Eu precisava me afastar de SunHee! Eu não queria ter que ouvi-la falar novamente sobre Lee!

— Bem, eu fiquei sabendo a outra versão dessa história... — iniciou SunHee. Porém, eu não prestei atenção em suas palavras. E nem queria.

Meus olhos, com rapidez, vagaram pelo loft até se deparar com um rosto familiar que não deveria estar ali. Era minha escapatória, percebi.

— Com licença, mas vou falar com um amigo! — justifiquei, enquanto me distanciava dos três.

Sabia que deixaria Lilly e Will preocupados com meu súbito distanciamento, mas eu havia excedido os limites ao ouvir SunHee falando de Lee. Falando com tamanha propriedade, como se eles fossem bons amigos.

Aquilo me afligia, pois depois de oito anos eu fui completamente esquecida por ele, enquanto mantinha contato com SunHee, que não tinha a mesma importância que eu em sua vida. Bem, a importância que eu imaginei ter, mas que agora sabia que era nenhuma.

Me aproximei do novo convidado, surpreso por vê-lo. E ao mesmo tempo aliviada. Eu não estava feliz, mas ele tinha sido minha escapatória para fugir da falação de SunHee sobre Lee.

— Jacob! O que você está fazendo aqui?! — chamei-o. Ele me viu e fui recepcionada com um abraço.

O rapaz deu um sorriso de lado e segurou minhas mãos.

— Lilly me convidou para a festa! E eu trouxe um amigo. Espero que o anfitrião não se importe! — Eu estava prestes a negar, pois sabia que Louis pouco importaria se houvessem penetras, quando me virei para olhar o sujeito que Jacob havia trazido. As palavras ficaram perdidas em meus lábios quando reconheci o amigo de meu ex-aluno.

— Olá, Melissa! — ele me cumprimentou, abrindo um meio sorriso divertido pela minha reação.

— Olá, Seth — retribui o cumprimento, omitindo a expressão de embasbacada. Me virei para Jacob mais do que imediatamente, tentando controlar o desconforto por rever o irmão de Sebastian. — Fiquem à vontade! Tem bebidas e comidas!

Jacob pareceu animado e bateu no ombro de Seth, chamando-o para ir ao balcão onde as coisas estavam sendo servidas. No entanto, o outro rapaz permaneceu no mesmo lugar, só dando alguns passos para ficar mais próximo a mim.

— Você veio somente porque Jacob o convidou? — tratei de perguntar, indo direto ao ponto. Seth deu de ombros, mas respondeu:

— Quando ele me disse que tinha sido convidado a uma festa que Elizabeth o havia chamado... Bem, fiquei interessado em vir. Faz bastante tempo que não vejo sua amiga — admitiu, não escondendo o sorriso de malícia, recordando da festa em que Lilly e eu fomos à sua fraternidade.

Olhei sobre meu ombro, visualizando Lilly ainda conversando com William e SunHee. Os olhos verdes da minha amiga em questão de segundos vieram até mim, notando que a olhava, até perceber o sujeito parado em minha frente. Espanto cruzou as belas feições dela. Suas bochechas ficaram vermelhas e ela tentou se concentrar na conversa que estava tendo com Will e SunHee, mas volta e meia seus olhos vinham com interesse para Seth.

Voltei-me para ele, me questionando suas intenções de ter vindo até ali.

— Eu te alertei que ela odeia seu irmão. E se ela souber que você é meio-irmão de Sebastian...

— Eu sei. — Seth não me deixou completar a frase. — Mas eu não sou ele, Melissa, e você sabe muito bem disso.

— Mas não são muito diferentes — acusei, mesmo tendo passado pouco tempo na presença dos dois irmãos, eles ainda eram similares em alguns aspectos. Ok, até o momento Seth havia demonstrado ser um pouco melhor que o CEO.

— Você pode ao menos me dar a oportunidade de falar com ela? Se for eu a contar, com certeza talvez possamos... Nos dar bem. — Percebi sinceridade em suas palavras. Eu defenderia minha amiga em todas as oportunidades que tivesse e temia que o meio-irmão de Sebastian Johnson partisse seu coração. Mesmo relutante, assenti.

— Tudo bem. — Revirei meus olhos, mas apontei o dedo para ele, para deixar a minha ameaça com ar de seriedade. — Mas nem ouse machucá-la ou magoá-la, senão...

Obviamente minhas palavras causaram efeito reverso no rapaz, que soltou uma risada, se divertindo com minha cara.

— Certo, eu não vou fazer nada disso! Mas mudando de assunto... — Seth cruzou os braços, como um sorriso contido. — Fiquei sabendo do acidente que você sofreu. Sinto muito, mas aparentemente você já está bem melhor, não?

Percebi o tom de cinismo em sua voz, enquanto ele olhava para o ambiente a nossa volta, indicando que eu já estava recuperada por frequentar uma festa como aquela.

— É, eu estou... — confirmei. No entanto, notei que Seth ainda permanecia observando o recinto, aparentemente a procura de alguém. E eu sabia que não era de Lilly, pois ambos já haviam se visto. — Ele não veio... — soltei, chamando a atenção do rapaz. Seth juntou as sobrancelhas, fingindo não entender. — Sebastian não veio.

O meio-irmão do CEO esfregou as mãos na calça jeans nervosamente e assentiu, como se entendesse.

— Sebastian não é tipo de pessoa que frequenta esse ambiente. — Tive que concordar.

Contudo, eu percebi a sombra de decepção do rosto de Seth. Ele queria ver o irmão. Queria ter a oportunidade, nem que breve, de falar com ele. Eu ainda não entendia o motivo dessa distância deles. Quando eu pensava nessa parte da vida de Sebastian, sentia pena dele, por ter perdido a oportunidade de crescer e conviver com um irmão. E de Seth, que demonstrava interesse em saber mais sobre o irmão mais velho, mas temia se aproximar. Ou talvez fosse pelas barreiras que Sebastian Johnson colocava em volta de si, impedindo que qualquer pessoa se aproximasse, até mesmo alguém de seu sangue.

Eu estava prestes a dizer mais alguma coisa, para mudar de assunto, pois não queria ter que falar sobre Sebastian Johnson. Porém, mais uma pessoa se fez presente.

— Oi — disse Lilly, parando ao meu lado e com os olhos fixos em Seth, que também retribuía o olhar.

Controlei um suspiro, não compreendendo o que se passava entre eles, mas Lilly demonstrava igual interesse pelo rapaz.

— Olá! — Seth se aproximou para depositar um beijo delicado no rosto da minha amiga.

Lilly nem se virou pra mim para dizer:

— Melissa, acabei de me encontrar com Alex, e ele perguntou sobre você...

— Alex?! – Espantei-me ao ouvir aquele nome. — Onde você o viu?!

Minha amiga só moveu o rosto para me olhar, com um sorriso sacana em seus lábios, certamente por estar tentando me obrigar a por seu plano maluco em prática — que eu até tinha tentado, mas percebi que traria muitas consequências ruins.

— O vi conversando com Tom — respondeu, e voltou sua atenção a Seth.

Eu não fiz mais perguntas, porque certamente seria ignorada. Me distanciei deles e comecei a passar entre as pessoas, procurando por Tom e Alex, que estavam juntos! Dava pra acreditar? Que logo os dois estavam juntos e conversando... Caramba, eu estava ferrada!

Tinha me esquecido completamente do meu propósito naquela noite. Pouco importava o fato de SunHee ser amiga de Lee, ou da presenta de Seth no recinto, conversando todo galante com a minha amiga, ou por Jacob ser menor de idade e estar ingerindo bebida alcoólica.

Não! Eu precisava lidar com Tom e Alex. Naquela noite eu decidi tomar minha grande decisão. Escolher com qual clichê ficaria. Me doía tomar aquela decisão. Alguém sairia de coração partido daquela história. Eu não desejava causar dor a ninguém, mas eu precisava escolher. Era assim que funcionava os pedidos, acreditava eu. Eu tinha feito sete, e das sete opções, duas eram as que causavam mais reação em mim. E dentre os dois, somente um teria meu coração para si.

Lilly estava certa. Alex e Tom estavam em um canto, conversando como se fossem bons amigos. Aquela imagem era desconcertante, ainda mais prestes ao que eu iria fazer. Ambos os homens me viram e abriram largos sorrisos enquanto me aproximava.

Minhas pernas ficaram trêmulas, recordando de como foi ter estado ao lado dos dois em momentos tão íntimos. Da sensação de seus beijos e toques. De seus perfumes inebriantes. De como eu me sentia ao estar com eles. E, principalmente, de como eles se sentiam ao estar comigo.

— Melissa, você está incrivelmente... — iniciou Alex, tentando encontrar palavras para descrever o que via.

—... Linda, como sempre — completou Tom, os olhos azuis brilhando cheios malícia.

Meu rosto ficou instantaneamente vermelho pelos elogios que havia recebido, além da atenção que ambos me davam.

— Obrigada, os cavalheiros também estão belos — falei, controlando a sensação de embargo em minha voz. Os dois riram da forma em que me dirigi a eles. Me encolhi, pensando sobre quão errado estava sendo da minha parte colocá-los naquela situação. Subitamente levantei o rosto e os encarei, decidida, e soltei: — Preciso contar uma coisa a vocês!

A seriedade e a intensidade das minhas palavras chamaram suas atenções, ainda mais pela minha expressão de hesitação. Eu certamente demonstrava tensão em meu rosto. Sentia meus músculos rígidos nos ombros e pescoço, deixando minha voz mais esganiçada.

Os dois homens ainda aguardavam pelo que eu pretendia dizer, mas nem eu tinha formulado palavras pare serem emitidas. O que eu diria? Eu não deveria dizer aquilo daquela maneira! Talvez fosse preferível conversar com cada um individualmente e a sós. Não! Com os dois a minha frente já era difícil fazer a escolha, imagine se eu ficasse a sós com cada um? Seria mais complicado ainda!

Abri os lábios em mais uma tentativa de soltar as palavras. No entanto, de alguma forma, algo chamou minha atenção. Eu nem sabia porque minha atenção havia sido chamada para a porta de entrada, em que novos convidados chegavam e as pessoas circulavam.

Dizem que nós, seres humanos, temos um sexto sentido. Funciona como uma forma de proteção. Sabe quando você está em algum lugar, mas sente que está sendo observado? É mais ou menos assim. E foi o que aconteceu comigo. Não a sensação de estar sendo observada, porque Alex e Tom ainda me encaravam, mas sim a de sentir que algo iria dar errado. Eu deveria ter ignorado aquela sensação, porque, honestamente, eu a carregava comigo todos os dias.

Mas o que comprovou que algo realmente iria acontecer foi quando escutei a voz alta de Louis Turner dizendo, soando atrapalhada, provavelmente pela quantidade de drinks que já havia tomado.

— Sebastian Johnson, você veio! Que honra recebê-lo em minha humilde residência! — cumprimentou Louis ao CEO, mais animado do que deveria estar.

Procurei por onde Louis estava, e assim vi meu amigo escritor ao lado do meu falso namorado. Sebastian Johnson controlou a expressão de desconforto, mas aceitou o aperto de mão do outro homem, também estendendo uma garrafa, só que dessa vez de vinho.

— Caramba! Eu deveria te chamar mais vezes para vir ao meu apartamento! — caçoou Louis, embasbacado pela garrafa de vinho cara em suas mãos.

O CEO abriu um sorriso, aparentemente desconfortável pela atenção recebida, mas tentando não evidenciar.

Minhas pernas instantaneamente quiseram se mover em sua direção, em alerta principalmente por saber de outra pessoa que estava naquele recinto, que assim como eu não esperava vê-lo ali. Meus olhos encontraram Seth ainda acompanhado de Elizabeth, com a atenção fixa em seu meio-irmão. O rapaz falou algo para Lilly e se distanciou dela, indo em direção a Sebastian.

Me virei para Alex e Tom, que também tinham notado a presença do CEO na festa.

— Melissa, o que você pretendia dizer a nós? — indagou meu vizinho, curioso para que eu contasse o que eu pretendia contar. Mas eu não podia!

Não no momento, enquanto já pensava no estrago que seria se Seth e Sebastian se encontrassem ali, diante de uma Lilly desinformada, que não sabia que havia se deitado com o meio-irmão de seu chefe.

Honestamente, eu tinha que dizer algo, por isso, soltei algo que estava preso em meu inconsciente, que deseja sair, principalmente pela culpa que me consumia ao ver eles lado a lado.

— Eu fiz sexo com vocês dois! — soltei, a voz soando mais alta que eu esperava. Os dois homens expressaram surpresa, mas não disseram nada. — E eu me sinto uma idiota, p-porque eu traí a confiança de vocês. Não sou digna do que sentem por mim! Me desculpem, mas agora preciso ir!

Certo, aquilo não era exatamente o que eu tinha planejado. Eu pretendia fazer minha escolha, mas não poderia fazê-la sabendo que, assim que me aproximei de onde estava Sebastian e Seth, ambos os homens também se encaravam. O mais velho com uma expressão contida de raiva e repulsa, enquanto o mais novo parecia hesitante, mas abriu um sorriso para dizer:

— Oi, Sebastian... — A música alta não impediu que o CEO escutasse o cumprimento do meio-irmão. No entanto, ele não fez questão de o responder.

Seus olhos verdes encaravam Seth como se ele fosse algo indesejável que tivesse grudado na sola de seu sapato. E Seth percebeu isso, pois havia se encolhido como forma de defesa, como se aguardasse palavras duras vindo do outro homem.

Eu também aguardei. A única pessoa alheia a isso era Lilly, que estava parada há alguns centímetros de distância, observando a cena. Ela moveu os lábios para mim, em um questionamento silencioso: ''O que está acontecendo?''.

Não respondi e tem tive tempo para responder, pois em questão de segundos Sebastian Johnson deu meia volta e se retirou do recinto, saindo pela mesma porta que tinha passado há pouco tempo.

Eu o segui, pois sabia das consequências que poderiam surgir por aquele encontro. Deixaria que Seth lidasse com os questionamentos de Lilly, enquanto eu tentaria, de alguma forma, convencer Sebastian a retornar para a festa. Honestamente, uma parte minha desejava que os irmãos pudessem se dar bem.

— Sebastian! — o chamei, passando entre as pessoas que encontravam-se no corredor, já que o interior do loft já estava cheio de pessoas. O CEO não parou até que eu consegui alcançá-lo, puxando-o pela manga de seu blazer.

Ele finalmente se virou, a expressão fechada, os olhos tempestuosos.

— Sebastian, o que houve? — Desejei saber o motivo de sua reação, o motivo de encontrar com Seth o afetava tanto.

Sebastian Johnson mudou sua expressão, deixando que ao menos umas de suas barreiras caíssem.

— Ele é m-meu... Meio-irmão — confessou ele, como se dizer tais palavras fosse uma tarefa difícil.

Eu quis estender minhas mãos para segurar as suas, pela dor que havia em sua voz, mas não o fiz. E nem reagi de maneira surpresa.

Abaixei os olhos, constrangida por já saber daquilo. Sebastian, notando meu silêncio desconfortável, me encarou, tentando ler minha expressão.

— Você já sabia?! — perguntou, em tom acusativo. Me encolhi, já imaginando que palavras duras também viriam. — Foi você que o chamou para vir, querendo que eu me encontrasse com ele?

— Não! — Levantei as mãos, em minha defesa, em uma forma de desejar atenuar aquela conversa em tom acusativo — Eu não o convidei, ele veio com um amigo e-e... Eu nem sabia que você viria!

— Como não sabia, se foi você quem me convidou?

Como assim?! Eu não me recordava de ter convidado Sebastian Johnson. Eu tinha chamado somente Tom, com a intenção de encontrá-lo, assim como Alex. Quem poderia ter feito isso...? Lilly não poderia, pois ela repudiava a presença do CEO, e somente ouvir seu nome já a incomodava. Somente poderia ser uma pessoa... Louis, pensei.

— Eu não o convidei, com certeza deve ter sido Louis! — Minha resposta não o confortou. Ele nem prestava mais atenção a mim.

— Como você descobriu?! — Hesitei, tentando formular como responderia a Sebastian sobre ter conhecido seu irmão. — Como?!

Odiava o fato dele estar elevando a voz. Ele estava alterado. Aparentemente a presença de seu meio-irmão havia tocado em um ponto sensível em si.

— Eu o conheci em uma festa que meu amigo me levou, na fraternidade em que Seth é líder... Na festa em que eu fui no dia anterior, antes do acidente. — Mencionar o acidente fez com que Sebastian fizesse uma careta. Ele bufou, tentando controlar a raiva dentro de si.

— E vocês falaram sobre mim? — Somente assenti em resposta. – O que mais ele disse sobre mim?!

— Ele só me disse da infância difícil que você teve... Que perdeu sua mãe e-e que ele sempre quis se aproximar de você...

— Rá! — Sebastian gargalhou como se tivesse ouvido uma piada, mas sabia que era uma risada de puro deboche. — Se ele realmente quisesse se aproximar de m-mim, não ficaria agindo como uma c-criança mimada, aceitando ficar sob as asas d-do... — A voz de Sebastian tremeu, como se não quisesse sair de seus lábios. Os olhos do homem diante de mim pareceram desfocados, como se recordasse de algo que o trouxesse grande desconforto. Até mesmo dor. —... P-pai dele.

Pai. Era essa palavra que ele tinha dificuldade para dizer.

Inconscientemente me aproximei e estendi a mão para tocá-lo. Mas assim que ele notou minha aproximação, deu um passo para trás, se afastando de mim.

— É melhor eu ir. Sei que minha presença é indesejável. Nem sei por qual motivo perdi meu tempo vindo até aqui! — grunhiu o homem, se virando, sem sequer olhar uma última vez o meu rosto e me deixando sozinha no corredor.

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