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62

Acordei na manhã seguinte com o coração apertado, ainda com o sentimento pesaroso o envolvendo por causa das lembranças doloridas que tive na noite anterior.

Eu consegui conviver com aquela dor durante anos, mascarando-a de todas as formas possíveis, mas em dias como aquele ela surgia somente para que não a esquecesse completamente. Na verdade, de certa forma, ela era motivacional.

Me fez levantar da cama no horário que me habituei a ir ao trabalho, esperançosa por mais um dia de coisas para fazer no restaurante. Mas me impedi de dar o passo seguinte quando percebi que ainda era muito cedo pra retornar a luta, principalmente ao sentir a dor envolvendo meu crânio. A passos lentos sai do quarto, passando pelo corredor, indo ao banheiro. Eu precisava urgentemente de um remédio.

Contudo, inutilmente tentei abrir a porta, que estava trancada. Bati, imaginando que fosse Elizabeth, e falei:

— Abra, eu preciso fazer xixi!

Fazer xixi era mais urgente do que tomar um remédio, pelo menos no momento. Minha amiga não se demorou a abrir a porta. Antes que estivesse aberta por completo comecei a empurrar, já desejando entrar no banheiro. Porém, parei no instante em que percebi que não se tratava de Elizabeth que estava ali e sim meu mais nova amigo Louis Turner.

— O que você está fazendo aqui? — perguntei, embasbacada.

Ele abriu um meio sorriso, parecendo achar graça de algo.

— Ora, vim fazer minhas necessidades básicas.... Por quê?

Ah, não! Meu rosto começou a arder de constrangimento ao perceber que eu tinha anunciado a Louis Turner minha necessidade de urinar. Que vergonha!

— E-eu pensei que você tivesse ido embora — gaguejei, desacreditada sobre sua presença em meu apartamento.

Ele se apoiou no batente, cruzando os braços com tranquilidade.

— Sua amiga permitiu que eu passasse a noite, já que eu estava um pouco bêbado para poder retornar para o hotel. — Sorriu ele, divertido.

Tive que engolir em seco ao perceber algo. Se Louis passou a noite em meu apartamento, certamente ele tinha dormido no sofá — já que não tinha um outro quarto para ele usar — e provavelmente havia visto minha saída noturna.

— O que foi, Melissa? Você está ficando pálida! — comentou ele, com os olhos brilhando de malícia.

Apoiei minha mão na parede, sentindo a tontura voltando a me acometer. O desespero me açoitou, com receio de que ele contasse a Lilly sobre a minha fuga durante a noite.

— Minha cabeça está doendo e estou tonta... Preciso tomar o remédio que o médico receitou. — Minhas palavras tiraram o belo sorriso do rosto do escritor.

Louis me fez passar o braço em seus ombros e me guiou até sala, fazendo-me sentar no sofá.

— E onde está esse remédio? — perguntou ele, urgente.

— Na bolsa da Lilly, que estava no quarto...

O escritor desapareceu, indo atrás do medicamento, deixando-me sozinha. Controlei minha respiração, esperando que tudo parasse de girar a minha volta, rezando que ele não contasse nada a Lilly.

Poucos minutos depois ele surgiu acompanhando de minha amiga, que carregava o frasco de remédio consigo.

— Meli, você está bem? — indagou Elizabeth, igualmente preocupada.

— Estou... — murmurei, ainda sentindo o calor do constrangimento me envolvendo.

Louis, que tinha ido até a cozinha, retornou com um copo de água, que me foi entregue com o comprimido. Assim que tomei, aproveitei para me deitar no sofá e continuar controlando minha respiração.

— O que houve? — dessa vez Lilly se dirigia a Louis, sem entender o motivo de eu ter passado mal tão subitamente.

Encarei o rosto dele, aguardando que me dedurasse. Uma expressão passou por seu rosto, como se percebesse algo, mas manteve-se para si.

— Eu não sei... Talvez ela tenha se levantado muito rápido da cama, não é, Melissa? — alegou Louis, soando convincente.

— S-sim — arfei, colocando a mão sobre a testa, completamente envergonhada por ter agido de maneira inconsequente.

Mas como eu poderia saber que Louis estava na minha sala? Será que ele estava em um sono tão profundo que não percebeu minha saída? Não! Somente pela sua expressão no corredor eu pude perceber que ele tinha visto minha fuga.

— Acho que vou fazer algo pra você comer... Pode ser por isso que teve essa tontura — supôs Lilly, se afastando em direção a cozinha, mas antes passando a mão com delicadeza em meu cabelo.

Eu não merecia sua gentileza e preocupação. Agora me sentia culpada por ter agido sem o conhecimento de minha amiga. Mas sabia as consequências que meus atos poderiam trazer, ainda mais se ela supusesse que meu relacionamento com Sebastian Johnson fosse falso, principalmente pelo fato de eu ter ido encontrar outro homem durante a noite.

Entretanto, percebi que Louis sabia da minha saída à surdina, mas não o meu destino. Ele deveria imaginar que eu tinha ido me encontrar com Sebastian, certamente.

Louis se sentou diante de mim, apenas para se manter por perto e atento a qualquer expressão de desconforto que surgisse em meu rosto. Porém, ele se aproximou, com um sorriso contido e sussurrou:

— Não se preocupe, não vou falar nada, mas você vai ter que me contar tudo...

Fiz uma careta, que o fez dar uma risadinha. Bem, eu poderia confiar em Louis? Talvez eu pudesse omitir uma parte da verdade, pensei.

Permaneci de olhos fechados, ignorando sua presença. Eu lidaria com ele depois, mas no momento preocuparia com a minha dor de cabeça e a tontura. Talvez esses sintomas fossem consequência de todo o nervosismo que eu estava passando envolvendo os sete malditos pedidos de aniversário. Por que eu tinha pedido isso mesmo? Honestamente, eu era uma adolescente muito tola!

Porém, não tinha mais volta. E um dos meus clichês estava sentado à minha frente, se divertindo à custa do meu sofrimento. Se ele soubesse da verdade, será que contaria a alguém? A Elizabeth ou a mídia? Na verdade, ele jamais poderia suspeitar que fazia parte de um grupo de pedidos de aniversário feito por uma garota desde os 17 anos. Que nesse caso era eu.

Aos poucos a dor diminuiu, praticamente desaparecendo, e a tontura parou. Me preparei para ficar de pé, me sentando no sofá e já sendo apartada por Louis. Ele me apoiou para ficar de pé, mas percebendo que encontrava-me estável para andar sozinha, permitiu que eu seguisse até a cozinha sem apoio.

Lilly preparava o café da manhã e abriu um sorriso de alívio ao perceber que eu aparentava estar melhor. Louis se prontificou a ajudá-la, fazendo minha amiga ficar de faces coradas por sua gentileza. O homem colocou os pratos sobre o balcão e distribuiu suco. Aceitei, bebericando meu copo e sentindo meu estômago esfomeado dando sinais de vida.

Depois minha amiga colocou ovos mexidos em cada prato, em porções iguais, e retirou o bacon assado do pequeno forno. Lilly odiava coisas gordurosas, por isso preparava daquela maneira. Com a comida no prato não hesitei em devorar cada migalha, completamente faminta. Louis e Lilly se juntaram a mim, e tomamos nosso café da manhã em silêncio.

Eu estava ainda nervosa pela possibilidade de Louis comentar algo sobre minha saída noturna, mas nada ele disse. Não sabia se ficava aliviada ou em suspeita dele. Bem, ele tinha feito questão de frisar várias vezes que éramos bons amigos e poderia confiar nele, então, por que não?

Depois de alimentados, Lilly recolheu as louças sujas e levou para a pia. Me prontifiquei a ajudá-la, porém ela recusou.

— Não, deixe que eu faça isso!

— Por quê?! — resmunguei, chateada.

— Você ainda precisa descansar e se recuperar. Não pode fazer esforço, esqueceu? — Contive minha careta de constrangimento e me virei, sentindo-me culpada por ter enganado Lilly mais uma vez.

Porém, precisaria me acostumar com isso, pois eu ainda permaneceria tendo um relacionamento falso com Sebastian Johnson por quatro meses e ela não poderia saber em hipótese alguma.

— Eu quero fazer alguma coisa... — reclamei, inquieta.

— O que acha de vocês irem comigo conhecer meu apartamento? — ofertou Louis, animado.

Fiquei animada por um minuto, até ouvir Lilly dizendo:

— Eu adoraria, mas ainda estou muito cansada dos dias que fiquei no hospital com Melissa... E acredito que ela esteja também, certo, Meli? — Lilly olhou-me, aguardando que eu concordasse.

— Bem... — comecei, mas fui interrompida.

— A Melissa me parece estar perfeitamente bem... Quero dizer... Ela está muito melhor depois da tontura que teve agora pouco — comentou Louis, descontraído, encostando-se no balcão da cozinha. Ele completou: — Aliás, ela me disse que queria muito conhecer meu apartamento...

— Eu disse?! — indaguei, confusa, sem me recordar de ter feito isso. Porém, percebi que isso não passava de uma deixa para convencer Lilly a me deixar ir com ele. — Ah! Disse sim! — menti, quando notei o olhar de Louis tentando me fazer concordar consigo.

— Mas a Melissa ainda está muito fraca para passeios... — contradisse Elizabeth, ainda preocupada com meu bem-estar.

— Claro que não! — negou Louis, contendo o sorriso divertido ao se lembrar da minha fuga noturna. — Aliás, eu irei cuidar dela e não permitirei que nada de ruim aconteça. Pode confiar!

E Lilly confiou. Ela deu de ombros e deu um pequeno sorriso.

— Acho que não tem problema a Meli sair pelo menos um pouco... Desde que você não a deixe sozinha, ok?! — Lilly se dirigiu a Louis, que bateu continência, fazendo-a rir.

— Entendido!

Sua atitude me fez rir, pois recordou a mim, que também fazia esse tipo de palhaçada.

— Bom, então eu vou me arrumar rapidinho e já volto para irmos... — falei, me distanciando de volta para o meu quarto.

— Melissa! — Louis me chamou, fazendo-me virar para ele, querendo entender o que queria dizer. — Não esqueça de pegar o seu livro, que você disse que me deixaria ler, aproveitando que já estamos aqui!

Seu pedido me desestabilizou por um momento, mas apenas assenti e parti em direção ao meu quarto. Enquanto me afastava escutei Lilly começando a tagarelar animadamente sobre meu livro, dando mais corda ao escritor que ansiava para conhecer a história escrita por mim.

Porcaria! Porcaria! Por que eu tinha comentado sobre a porcaria do meu livro? Ele acharia uma bosta, certamente! Lilly e Will tinham sido os únicos que haviam o lido, além de ter passado por algumas editoras, que recusaram a história. Somente por isso eu sabia que a minha obra não tinha potencial algum para ser lido por alguém como Louis Turner, um dos maiores escritores de romance da década.

Ainda assim, fiz como ele me pediu, sem alternativa. Aproveitei para trocar de roupa, escovar os dentes, lavar o rosto e pentear o cabelo, tendo uma aparência melhor sendo refletida no espelho do banheiro. Depois peguei a cópia do meu livro, assim como a minha bolsa e retornei para a cozinha, encontrando Louis e Lilly ainda conversando sobre mim.

— A Melissa pode tentar negar, mas as histórias dela são muito boas, porém, ela tem muita dificuldade para terminar... — O tom de minha amiga soou decepcionado ao recordar das minhas tentativas frustradas de escrever outros livros, mas ter falhado miseravelmente.

Interrompi a conversa deles, preferindo que o assunto eu acabasse.

— Vamos? — comentei, fingindo não ter escutado eles conversando a meu respeito.

— Claro! — animou-se Louis. Ele se virou para Lilly e estendeu a mão para pegar a da minha amiga. Beijou o dorso da mão dela com doçura e disse: — Muito obrigado por sua hospitalidade, Elizabeth!

Obviamente minha amiga ficou vermelha como um pimentão, encolhendo os ombros, completamente envergonhada pelo gesto galante do homem.

Bom, pelo pouco tempo que conhecia Louis, já sabia que isso era algo habitual dele e que fazia com qualquer ser vivo que respirasse. Poderia apostar que ele flertaria com uma pedra, desde que ela se movesse.

Claro que senti um pouco de ciúmes, ao saber que também não era a única a ficar encantada com o charme do escritor. Ele se afastou e vestiu seu casaco, aguardando-me acompanhá-lo para fora do apartamento.

— Se cuidem! — pediu Lilly, acenando enquanto nos afastávamos e fechávamos a porta.

Eu e Louis saímos para a manhã do Brooklyn. As ruas estavam relativamente movimentadas, em que as pessoas iam e vinham, voltadas para si e distraídas com suas próprias vidas. Antes que saíssemos da entrada do meu prédio, Louis tomou a cópia do meu livro para si e comentou:

— Isso vai ficar comigo, para o caso de você desaparecer com ele... — Fiz uma careta em relação ao seu comentário e seguimos, lado a lado, caminhando pela calçada.

O apartamento que Louis havia alugado não era muito distante de onde eu e Elizabeth morávamos. Caminhamos tranquilamente por algumas quadras, despreocupadamente, não conversando muito pelo percurso.

Eu certamente ainda estava envergonhada por ter sido descoberta por Louis e temia por seus questionamentos. No entanto, aquilo se tornou a menor das minhas preocupações quando percebi um carro preto nos seguindo de perto. Não consegui enxergar o interior do automóvel, muito menos os passageiros, pelos vidros escuros. Isso me deixou nervosa, incomodada por estar sendo seguida. Seriam paparazzi? Ou... Os seguranças que Sebastian havia colocado na minha cola para cuidar de mim?

Pensar nisso me trouxe mais desconforto. Na noite anterior eu tinha saído à surdina, porém, escondi o rosto com o capuz do casaco, esperando que ninguém me reconhecesse, mas e se... E se esses seguranças estivessem na frente do meu prédio e me reconheceram? E se eles tivessem me seguido? Eu não percebi ninguém me seguindo na noite anterior, mas e se eles fossem capazes de passar despercebido?

Bom, no momento eles não estavam tentando passar despercebido, pelo contrário, pareciam querer que eu os visse... Mas se minhas suposições estivessem corretas e eles me seguiram até o restaurante Flanagan Garden e me viram saindo com Tom... Será que eles tinham contado a Sebastian?

Um arrepio perpassou pelo meu corpo, completamente angustiada com essa ideia. Se ele soubesse disso, eu certamente conquistaria a raiva do CEO... E temia quais consequências poderia ter. Contudo, eu deveria recordar que uma das cláusulas dizia explicitamente que eu podia ter relacionamentos com outros homens, desde que não se tornassem público. Portanto, eu usaria esse argumento se fosse necessário.

— Acho que estamos sendo seguidos — comentou Louis, percebendo o carro preto nos acompanhando.

Ri nervosamente e assenti, fingindo que não me importava.

— Você acha que são paparazzi? — perguntou ele, interessado.

— Eu não faço ideia, mas adoraria ir para um lugar mais reservado... — Louis assentiu, concordando.

Caminhamos por mais alguns metros até ele me indicar um prédio com a aparência mais sofisticada. O acompanhei, subindo as escadas e adentrando o prédio. Conclui que ali era o prédio do apartamento de Louis, pois ele tinha as chaves para adentrar.

Lá ao menos tinha um elevador, completamente diferente do meu prédio, e seguimos para o quarto andar. O interior do prédio era completamente diferente do lado externo, com uma aparência envelhecida, mas elegante. E assim também era o apartamento de Louis.

Chegamos até diante de uma porta dupla pintada de uma cor verde musgo, a madeira desbotada, e adentramos o recinto. O apartamento não era muito grande, mas o achei consideravelmente elegante.

— Bom, você pode ver que não é nada exorbitantemente chique, mas achei aconchegante e bonito... E você pode perceber que não é um apartamento e sim um loft — brincou Louis. Abri um sorriso para ele, demonstrando que eu aprovava o lugar.

— É muito bonito — confessei, caminhando por seu interior e observando os detalhes.

De fato, não era nada grande ou elegante. Mas eu gostava do fato das paredes serem feitas de tijolos marrons, com a aparência de um prédio antigo. Não tinha móveis, ainda, e o piso era cinzento. A primeira parte do ambiente poderia ser dividida pelo o que eu supunha ser uma sala de estar, a minha direita. A minha esquerda, em que um grande balcão dividia o recinto, era a cozinha, também sem móveis, além de armários de madeira antiga e prateleiras. Caminhei mais adiante, onde uma estante gigantesca repartia, e o espaço seguinte também encontrava-se vazio, para possivelmente o novo morador fazer o que quisesse daquele lugar. Ainda haviam janelas espalhadas, proporcionando boa ventilação nos abafados verões de Nova Iorque.

— Muito bonito, mesmo — comentei, maravilhada.

Quando me virei para encarar Louis, deparei-me com ele dando um sorriso de lado, satisfeito com minha reação.

— Isso por que você não conheceu onde vai ser o meu quarto... — Seu comentário soou com duplo sentido em minha mente. Contive a expressão de constrangimento e o segui para o ambiente seguinte, que dessa vez era dividido com uma parede de tijolos.

E Louis acertou sobre eu me surpreender com o cômodo seguinte. O quarto era grande, perfeito para adicionar a quantidade de móveis que quisesse. Entretanto, o que me surpreendeu mais não foi o recinto grande e sim quando meu amigo escritor abriu a janela e permitiu que eu admirasse a vista.

Me encantei com a paisagem. Ali, do quarto de Louis, podíamos ver com perfeição o Rio East, que banhava os distritos de Manhattan e Brooklyn. Porém, o que me surpreendeu foi ver a imponente ponte do Brooklyn. Dali eu conseguia ouvir o movimento das águas do rio, assim como o barulho dos carros passando pela ponte.

— Retiro o que eu disse... Esse loft é perfeito! — afirmei, aproveitando para sentir o fraco vento batendo em meu rosto.

Louis parou ao meu lado, com seu sorriso mais largo.

— Fico feliz que gostou...

Porém, como a pessoa econômica que sou, pensei instantaneamente no valor daquele loft, que certamente valia uma fortuna.

— O aluguel desse lugar deve ser bem elevado... — comentei, como quem não queria nada.

Louis soltou uma risada, achando graça da minha curiosidade mal contida. Cruzei os braços e circulei pelo quarto, observando a porta que levava para o banheiro. Havia também portas duplas, que certamente se tratava do closet, mas preferi não parecer muito bisbilhoteira.

— Um pouco, mas é um valor que vale a pena pagar por essa vista e... Por ser bem perto do seu prédio. — Seu comentário causou certo rebuliço em meu coração, fazendo-o bater com mais avidez.

— E como você sabia onde eu morava? Eu não me recordo de ter passado meu endereço para você... — retruquei, despistando. Não queria cogitar na ideia de que suas palavras tinham duplo sentido, mas me soavam como uma confissão além da boa amizade que mantínhamos.

— Bom, você não me disse, mas eu sabia que você morava no Brooklyn, já que me disse e, portanto, aluguei um apartamento por aqui... Pelo menos moraríamos no mesmo distrito — brincou ele, sorrindo marotamente.

— Certo, você é muito esperto... E quando pretende se mudar? — perguntei, mudando de assunto.

— Em breve, claro, mas antes preciso fazer as escolhas dos móveis, além de toda a decoração... — Louis parecia reflexivo sobre essa parte, observando todo o recinto, até parecer ter tido uma ideia. Eu, por outro lado, pensava em todos os gastos que ele teria comprando móveis novos e o aluguel daquele loft. — Que tal você me ajudar com isso?!

— Com o quê? — Não compreendi o que ele tinha pedido, por um momento.

— Ora, com a decoração, claro!

— Eu não sou boa com esse tipo de coisa — atestei, negando.

— Nem eu! — afirmou ele, rindo.

— Por que você não paga uma decoradora? Tenho certeza que um profissional fazer isso é o correto! — confessei, ainda achando sua ideia absurda.

— Melissa, eu não quero ter que pagar alguém para escolher coisas para o meu apartamento... Só estou pedindo ajuda de uma amiga, que certamente tem bom gosto...

— Bem, eu faria isso se você me pagasse... — caçoei, provocando-o.

Contudo, eu deveria me recordar que Louis Turner era muito mais esperto do que eu. Ele se encostou na parede de tijolos, cruzando os braços e abrindo um sorriso divertido. Estranhei sua atitude, até ouvir seu comentário seguinte.

— Tecnicamente, você está em dívida comigo... — Fingi não entender suas palavras e continuei observando a vista, sem me concentrar de fato na bela paisagem. Ele não deixou passar e prosseguiu: — Esqueceu-se de que eu não contei a sua amiga sobre sua saída na noite anterior?

— Você está me manipulando! — o acusei. — Isso é injusto!

— Ora, Melissa, isso vai ser uma troca de favores — disse ele, rindo.

Cruzei os braços e bufei, como uma criança mimada que não consegue o que quer.

— Eu te ajudo... Desde que você não conte isso a ninguém... — aceitei, sabendo que não tinha alternativa, senão aquela.

Ele comemorou e se aproximou, passando os braços a minha volta. Fiquei tensa sob seu toque. Claro que era apenas um abraço de bons amigos, mas seu perfume ficou mais forte, entorpecendo-me completamente.

— Já que você concordou, e eu prometo que não contarei a ninguém, que tal me dizer sobre quem você saiu para se encontrar? — Meu corpo ficou mais tenso somente por esse questionamento direto.

Olhei-o como se fosse maluco e, soando com obviedade, falei:

— Ora, com Sebastian, claro. — Esperava que fosse o suficiente para despistá-lo.

Louis me guiou de volta para a cozinha. Contudo, ele balançava a cabeça, desacreditado.

— Melissa, eu vi você saindo, assim como vi você voltando, e posso afirmar com certeza absoluta que você não foi se encontrar com Sebastian Johnson... — O olhar de Louis era provocador, me tentando a contá-lo sobre meu encontro da noite.

Afastei de seu toque, me sentindo contra a parede pelas suas perguntas objetivas.

— E como você sabe que não era ele? — contradisse, esperando que ele não tivesse argumentos o suficiente para aquela pergunta.

— Por que da última vez que vi o CEO, ele tinha te levado ontem, mais cedo, para casa em um carro BMW, completamente diferente do outro que te trouxe de madrugada... — Não deixei que ele completasse a frase e o interrompi.

— Ora, ele é rico e têm vários outros carros... — Meu argumento não foi o suficiente para convencê-lo.

—... E ele também não estava acompanhado das dezenas de seguranças que o seguem por aí — completou ele, agora me acertando em cheio.

Eu poderia tentar argumentar com várias outras palavras, mas Louis, mesmo com o pouco tempo que tínhamos passado juntos, já conseguia ler minhas expressões.

Apoiei meus braços sobre o balcão, abaixando minha cabeça para descansá-la daquele turbilhão de emoções e todo o nervosismo que me rodeava.

— Você está bem? — preocupou-se o escritor pela minha súbita atitude.

Finalmente tomei coragem para levantar o rosto, respirando fundo para conseguir um pouco de coragem.

— Eu estou bem, mas preciso que me prometa que não irá contar isso a ninguém, ok? — insisti, encarando-o seriamente. Louis assentiu prontamente, cheio de expectativa. — Ontem à noite eu saí sim, mas para me encontrar com outra pessoa... Eu fui me encontrar com Tom.

Admitir aquilo me machucava, porque nem mesmo eu ainda queria ter que lidar com as minhas próprias atitudes. Admitir aquilo a Louis era admitir meus sentimentos por Tom para alguém. O escritor não esboçou uma grandiosa expressão de surpresa, na verdade, sua sobrancelha arqueou-se e um sorriso de lado cruzou seu rosto, como se algo finalmente fizesse sentido para ele.

— Não vai dizer nada? — perguntei, nervosa com seu silencio.

— Não sabia que você era o tipo de mulher que tem amantes, Fontoura... E aposto que se Sebastian Johnson descobrir, ele vai ficar enlouquecido... — Balancei a cabeça negativamente, recusando suas palavras.

— Louis, você se diz meu amigo, por isso, preciso ter certeza que posso confiar em você. Posso? — O escritor ficou ereto, surpreso pelo tom sério em minhas palavras.

— Claro que pode, Melissa... Assim como eu confio em você, você pode confiar em mim. — Isso me trouxe mais conforto. De fato, eu podia confiar em Louis. Ele me disse coisas que nunca tinha contado a ninguém antes. Como fatos por trás das histórias de seus livros e sua vida pessoal.

Precisei de mais uma remessa de ar para contar a verdade.

— Sebastian e eu não somos namorados de verdade... — Agora ele esboçou uma expressão de surpresa. Os olhos arregalados, os lábios entreabertos.

— Como assim?! — indagou, em choque.

— Eu e ele estamos fingindo um relacionamento... A verdade é que eu causei uma confusão com ele há algumas semanas, por causa disso ele demitiu Elizabeth, e eu me senti muito culpada e fui atrás de tentar fazê-lo admiti-la novamente... E essa foi à condição que ele impôs para recontratá-la... E eu aceitei... — Minha voz foi falhando aos poucos, até desaparecer. Toda vez que eu relembrava dessa decisão, me sentia péssima, culpada por omitir toda a verdade de Lilly.

— E Elizabeth não pode saber — supôs Louis, acertando.

— Nem Will.

Foi à vez dele se apoiar no balcão da cozinha, reflexivo sobre as palavras que eu tinha acabado de dizer.

— Então, quantas pessoas sabem disso? — perguntou, curioso.

— Além de você, somente Tom e Alex.

— Alex, seu vizinho? — Assenti em resposta. — Melissa, isso é a coisa mais sem sentido que já ouvi... E acho que daria um ótimo livro.

Acabei rindo do seu comentário, achando divertido.

— Uma pena que já tem histórias o suficiente sobre esse assunto... E a minha não é tão interessante — brinquei.

— Honestamente, acho que a sua história pode ser muito interessante... — disse ele, observando-me curiosamente.

— Bem, tem coisas acontecendo comigo que daria um bom filme de comédia romântica — falei, rindo nervosamente, lembrando dos sete pedidos de aniversário que se realizaram.

Louis subitamente se afastou, começando a circular pela sala de braços cruzados, aparentemente pensativo.

— Melissa, como escritor, eu sou muito curioso... E também muito observador... Posso dizer que fiquei muito surpreso ao saber que seu namoro com o CEO é falso... — Permaneci o encarando, tentando entender até onde suas palavras iriam. —... Porque, naquele dia em que fui para o hospital assim que fiquei sabendo do seu acidente, Sebastian Johnson tinha sido um dos primeiros a chegar lá... E ele parecia desesperado.

Agora foi minha vez de ficar surpresa. Obviamente suas palavras soaram absurdas aos meus ouvidos. Sebastian Johnson desesperado? Não! Ele sempre era o homem impassível e com controle sobre tudo.

— Deve ter sido impressão sua... Sebastian e eu praticamente nos odiamos e aquilo não deve ter passado de uma atuação... — contradisse, desacreditada, acenando com a mão.

Louis suspirou, ainda pensativo.

— E outra coisa me incomodou naquele dia... Eu não falei, mas agora que estamos a sós, posso te perguntar... — Tentei me preparar para o que fosse ser questionado pelo escritor. — Não foi somente eu quem foi lá te visitar, tentar saber notícias suas... Seu vizinho estava, assim como aquele rapaz chamado Jacob... Seu falso namorado Sebastian e, por fim, seu chefe apareceu... Me surpreendeu o fato de você ter tantos admiradores...

— Eles não são admiradores, apenas amigos — o interrompi, incomodada para onde estava indo seu raciocínio.

— Se você diz... Mas não foi o que pareceu quando seu vizinho tentou defender sua honra chamando seu chefe Tom de tarado e perseguidor... — Havia um tom de cinismo nas palavras de Louis. Eu não poderia nem me sentir ofendida por suas suposições, porque o que ele imaginava estava correto. Abaixei meus olhos, encarando minhas mãos. — Sem contar que teve todo aquele momento em que cada um justificou o motivo de estar ali e eu, claro, só fui como o bom amigo preocupado que estava... Mas aquele quarto estava cheio de outros homens que usaram essa justificativa, e que não era sincera.

— Onde você quer chegar, Louis? — indaguei, diretamente.

Louis voltou a se aproximar, agora com a expressão séria, porém com uma curiosidade contida.

— Eu quero saber o que você está escondendo, Melissa... Porque, desde que aquele dia você tem agido diferente, não só comigo, mas com as outras pessoas ao seu redor... Especificamente esses outros homens. — Fiquei completamente estática. Louis não tinha dito em palavras, mas ele tinha percebido o que aconteceu. Assim como eu demorei para perceber e imediatamente contei a Lilly, o escritor não precisou de muito tempo para notar algo de diferente.

De fato, as atitudes dos clichês eram completamente diferentes, assim como meus modos mudaram diante deles. Eu estava tentando lidar com a ideia de que sete pedidos de aniversário meus tinham se realizado e agora eu precisava tomar uma decisão.

Eu não poderia contar isso a Louis, principalmente porque soaria como loucura a ele e... Ora, ele se encaixava em um dos pedidos de aniversário. E, bem, ele havia dito a mim que nunca me veria de outra forma além de uma boa amiga, por isso poderia soar como uma loucura maior ainda.

— Louis, a única coisa que posso dizer a você é que está vendo coisas que não existem... Eu e Tom temos alguma coisa, Sebastian e eu não passamos de um relacionamento falso para beneficiar a ele e sua imagem... E esses outros homens a quem você se refere, não passam de bons amigos — menti. Foi a melhor decisão que tomei. Consegui controlar minha expressão, apresentando seriedade, e ele pareceu acreditar.

— Tudo bem, talvez meu olhar observador de escritor tenha visto demais — brincou ele, deixando o clima menos tenso. — Já que você me confessou toda a verdade, o que acha de me contar desse seu romance com seu chefe?

Revirei os olhos para seu questionamento intrometido. Eu não sabia o quão curioso Louis Turner era. Em compensação, pelo menos era engraçado e um bom ouvinte.

— Ao menos pode me pagar um café antes de começar com a investigação? — sugeri, divertida, esquecendo ao menos um pouco o fato de ter mentido a ele.

Louis concordou e saímos do apartamento. Ele trancou a porta e guardou a chave no bolso de sua calça e assim seguimos para fora do prédio.

— Eu vou te perturbar o resto da semana para me ajudar na decisão dos móveis e, claro, para me ajudar a arrumar as coisas... — comentou ele enquanto descíamos as escadas do prédio para a calçada.

Fiz uma expressão de choque, completamente embasbacada com seu abuso.

— Você está querendo alguém para escravizar, isso sim! — exclamei. Ele deu uma risada alta e acenou com a cabeça.

— Acertou em cheio... Achou que ser minha amiga seria tão simples? Tem consequências! — caçoou, fazendo-me rir.

Ter que lidar com a curiosidade de Louis Turner era a pior parte. No entanto, assim como eu, não éramos diferentes. Quando tive a oportunidade eu quis saber tudo sobre sua vida, que contou em mínimos detalhes. Eu contei algumas coisas, confessei algumas verdades, mas omiti uma parte. Porque, até mesmo para mim, aquilo soava como uma loucura e não seria diferente para ele. E contar sobre os clichês seria admitir que tinha certos sentimentos por ele, que eu continha firmemente.

Estava feliz com a ideia de irmos a um café se distrair com uma boa conversa, mesmo que Tom Flanagan fosse o assunto. No entanto, o chef de cozinha continuava rondando meus pensamentos, ainda mais pela promessa de nos encontrarmos hoje... Para concluirmos algo que ficou pendente na noite anterior.

Mas Louis e eu não conseguimos ir ao tal café. Assim que saímos do prédio, percebi o mesmo carro escuro que nos seguia estacionado diante da calçada. Só que dessa vez havia um homem parado ao lado, usando um terno preto e óculos escuros. Ele tinha até uma escuta, como dos seguranças de filmes.

Instantaneamente estranhei sua presença ali, aparentemente aguardando por alguém. Contudo, havia outra presença ali, que dessa vez era familiar. Reconheci o motorista de Sebastian Johnson, que abriu a porta no momento em que me viu.

— Srta. Fontoura, bom dia, vim buscá-la a pedido do sr. Johnson. Ele deseja vê-la. — As poucas palavras do homem me fez estremecer desconfortavelmente. Suas palavras, mesmo que educadas e sendo apenas ditas a mando de alguém superior, me deixavam tensa e em desespero.

Primeiro porque Sebastian Johnson queria me ver, mesmo apesar de temos nos encontrado no dia anterior. E segundo que só tinha um motivo para isso acontecer — pelo menos era o que passava em minha mente —, que era a minha ida até o restaurante Flanagan Garden.

— Se quiser, posso ir com você — se ofereceu Louis ao notar meu nervosismo.

Neguei e abri um sorriso fracamente.

— Não se preocupe, eu vou ficar bem, mas devo lidar com ele sozinha. — Louis teve que aceitar minhas palavras e após nos abraçarmos, permitiu que eu partisse.

Antes que o motorista fechasse a porta, o escritor disse:

— Responda todas as minhas mensagens, porque vou te mandar todas as ideias que tive de decoração para o loft! — A única coisa que pude fazer foi concordar e dar um aceno, assim à porta se fechando e me mantendo presa no interior do carro.

O motorista adentrou, assim como o segurança, e deu a partida no carro, com destino a Manhattan.

Eu estava tremendo de nervosismo. Meu joelho balançava nervosamente, chacoalhando meu corpo, fazendo-o ficar inquieto. Eu não tinha nada a temer, claro, mas o mistério era o que me causava receio. Por que esse súbito encontro com o CEO? O que ele queria de mim? Estaria com saudades? Louis realmente tinha visto Sebastian desesperado por notícias minhas no hospital? Certamente não passava de um delírio, pois ele jamais teria sentimentos positivos ao meu respeito.

O mistério sobre seu convite repentino para encontrá-lo permaneceu durante todo o percurso. O carro foi estacionado diante da empresa e o segurança me guiou para o interior do prédio, e logo em seguida para o elevador.

Em poucos minutos eu me encontraria com o homem que esperava não ver tão cedo, mas ali estava eu, menos de vinte e quatro horas depois, indo até ele. Parecia que eu estava sendo levada para minha sentença de morte, acompanhada do guarda que não me permitira fugir, ao encontro do meu carrasco.

As portas do elevador foram abertas e seguimos pela pequena recepção do último andar, onde encontrava-se o escritório do CEO. Assim que a secretária Beatrice me viu, ela apressou-se para abrir as portas do escritório, sem esboçar nenhuma reação. Ela não sorriu ou me tratou cordialmente, na verdade, parecia nervosa.

Adentrei o recinto sozinha, sem a companhia do segurança, e continuei caminhando até perceber o CEO parado diante da grande janela da sua sala, que o permitia ver toda a paisagem de prédios e o céu a sua frente. Meus passos soaram altos aos meus ouvidos, como se eu tivesse pisando com força, e comecei a caminhar lentamente, temendo que até mesmo aquele meu ato o aborrecesse.

Parei há alguns metros de distância, apenas por precaução, e fiquei aguardando. Eu deveria me anunciar, pigarrear ou tossir? Bem, preferi ficar em silêncio por algum tempo, acreditando que ele já sabia da minha presença ali. Entretanto, ele não se virou, por isso preferi dizer algo.

— Oi, eu cheguei... — falei, mas minha voz se perdeu quando percebi que iria permanecer no mesmo lugar. Cansada de ficar em pé, decidi perguntar: — Posso me sentar?

Ele não me respondeu e comecei a imaginar que estivesse ficando surdo. Porém, subitamente o CEO se virou e me encarou, os olhos verdes fixos em mim, o rosto sem esboçar nada. De uma hora para outra o recinto ficou mais escuro pelas nuvens cinzentas que formavam no céu, deixando o clima mais sinistro.

— Não, não pode — negou-me ele.

Sebastian finalmente saiu de onde estava e, com as mãos nos bolsos da calça social, caminhou até sua mesa. Também fui naquela direção, incomodada com todo o clima de tensão que nos envolvia. Ele parou diante da mesa e voltou a me olhar diretamente.

— Imagino que esteja se perguntando o motivo de eu tê-la chamado aqui hoje... — iniciou.

Todavia, eu não consegui controlar minha língua e soltei:

— Eu já nem me pergunto mais... — Dei de ombros, fingindo que suas súbitas atitudes de me chamar ali não me afetavam. O que obviamente era mentira, pois eu ficava nervosa toda vez que tinha que ir até sua empresa.

— Não me interrompa, Melissa. Hoje não estou para suas gracinhas... — avisou ele, fazendo-me engolir em seco.

Ponderei até mesmo em fazer mais um infortúnio comentário sobre ele nunca estar para as minhas gracinhas, mas achei melhor deixar de lado. Aparentemente ele não estava de bom humor — e quando ele realmente estava?

Deixei que continuasse com seu discurso.

— Eu gostaria de não tê-la chamado aqui hoje, para falar a verdade, preferia lidar com as coisas de outra maneira... Você e eu certamente temos coisas mais importantes para fazer, mas achei essa a melhor decisão, porque somente assim para fazê-la entender a gravidade do problema — refletiu, enquanto abria uma pasta sobre a mesa e a empurrava em minha direção.

Problema? Isso fez as palmas das minhas mãos suarem, mas o conteúdo daquela pasta me deixou completamente gelada, como se o fluxo de sangue do meu corpo tivesse parado.

Visualizei as fotografias dispostas ali. Meu coração se acelerou finalmente ao entender o motivo de sua atitude. Ele estava com muita raiva, certamente. Mas por quê? Pra mim não tinha motivo. Porém, permaneci embasbacada e encarando meu rosto naquelas imagens. Em uma das fotos eu me encontrava entrando no carro de Tom Flanagan, quando ele se prontificou a me levar para casa na noite passada. Empurrei ela para o lado e continuei observando as outras, de nós dois conversando no interior de seu carro até... Até uma fotografia de nós se beijando. Aquela tinha sido a gota d'água para ele, percebi.

Escondi as fotografias dentro da pasta, desejando não vê-las novamente. O que eu tinha feito na noite anterior tinha sido de plena consciência, mas eu não imaginei que chegaria até ali, naquele momento.

— Tem algo a dizer, Melissa? — me provocou, aguardando que eu dissesse algo.

Eu tinha sido pega completamente desprevenida, e eu nunca ficava sem palavras, sempre tinha algo a dizer. Algo me afligiu. A ideia absurda dele ter mandado alguém me perseguir e tirar aquelas fotografias. Meu sangue começou a esquentar e cerrei os punhos, controlando-me de tomar qualquer atitude impulsiva.

— Você deve estar se perguntando como consegui essas fotografias — continuou Sebastian, notando que eu não diria nada. Ergui o rosto e decidi encará-lo, com coragem o suficiente para manter meus olhos fixos no dele. Ele também não desviou o olhar. — Não foi tão difícil... Mas, honestamente, eu esperava que você fosse esperta o suficiente para não agir tão estupidamente dessa maneira, andando por aí como uma pessoa qualquer... — Sebastian Johnson cruzou os braços, dando mais efeito à frase seguinte: — Sendo que agora você é namorada de um CEO.

Não compreendi imediatamente o significado das suas palavras. Pra mim, nada justificava ele ter mandado alguém me perseguir e tirar fotografias de um momento íntimo com outra pessoa. Porém, a explicação finalmente veio.

— Você sabia muito bem, Melissa, e viu quando saímos do hospital ontem, a quantidade de paparazzi que queriam ao menos uma foto sua e que ficariam no seu encalço para descobrir tudo sobre sua vida... — Sebastian não precisaria continuar, pois percebi a fonte daquelas fotografias. Não tinha sido ele a mandar alguém para me fotografar, mas sim um paparazzi. — Mas mesmo assim você agiu de maneira inconsequente, pouco importando com sua segurança e se expondo a riscos, como circular por ruas escuras e pegar um táxi tarde da noite... — Era perceptível o tom de aborrecimento contido nas palavras do CEO, além de como seu sotaque se acentuava em momentos como aquele, quando suas palavras eram duras e diretas. —... E permitir ser vista na companhia de outro homem.

A dureza de suas palavras não me machucou tanto quando sua expressão de desgosto. Eu nem sabia por que aquilo me machucava. Talvez eu me sentisse ofendida por sua atitude de superioridade contra mim, querendo controlar cada passo que eu dava. Entretanto, não era por isso, mas sim seu olhar completamente diferente... Um pouco similar do que ele havia me dado no quarto do hospital. Um olhar estranho que eu não conseguia interpretar, mas me causava sensações estranhas, como a de culpa.

Abaixei os olhos, considerando essa a melhor decisão, preferindo não encará-lo por enquanto. Sabia que não conseguiria lidar com os fatos jogados contra mim. Eu tinha agido inconsequentemente sim, mas não imaginei que seria vista. Não me culpava por ter saído para encontrar com Tom, porque finalmente pude consertar nossa relação, mas sim na impressão de que Sebastian me trazia ao perceber que, somente talvez, ele estivesse tão recluso em relação a aquilo por ciúmes.

Parecia absurda essa ideia, certo? Ainda mais depois de termos concordado em esquecer o que tinha acontecido entre nós — como o beijo que aconteceu bem onde eu estava, em seu escritório —, além de outras coisas que preferia nem comentar — você sabe que estou me referindo as caricias que trocamos em sua casa, enquanto ele abria meu vestido, mas isso estava no passado. Ainda assim, tive a impressão de que ele não tinha esquecido.

— E como você conseguiu essas fotografias? — indaguei, permitindo apenas fazer aquela pergunta que me incomodava.

Ele não hesitou em responder.

— Assim como havia paparazzi te seguindo, meus seguranças supervisionavam você. Por isso, eles conseguiram recolher essas fotografias... Não foi fácil, claro, e tive que pagar o triplo do valor que o maldito paparazzi ganharia vendendo essas fotos para alguma revista ou site de fofoca... — O CEO finalmente se sentou, cansando-se de ficar em pé, desgastando-se por falar comigo. — Melissa... — Ele me chamou, fazendo me olhá-lo. — Você faz ideia do quanto isso afetaria a minha imagem? Você não pensou nisso nem por um segundo?

Tive que negar em um movimento de cabeça. Eu só estava pensando em mim e em Tom.

— Você é tão egoísta, Melissa. — Essas palavras me acertaram em cheio, pegando-me completamente desprevenida. Porém, talvez eu as merecesse. Se eu não fosse tão impulsiva, talvez nada disso estivesse acontecendo. Em relação a ter saído à surdina para encontrar Tom Flanagan e, principalmente, por fazer sete malditos pedidos de aniversário.

Agora, algo que eu tinha idealizado durante a minha juventude, tinha se tornado praticamente uma maldição. Na verdade, Sebastian Johnson poderia ser considerado um dos piores clichês. Ele nem agia romanticamente, nem se declarava por mim... E se ele não fosse um clichê? E se eu tivesse me enganado a respeito dele? Não poderia descartar aquela ideia, mas deixei para pensar sobre isso depois.

— Me desculpe, sr. Johnson, prometo não agir dessa maneira novamente — decidi dizer, considerando a coisa mais certa a fazer.

Uma sombra de surpresa cruzou seu rosto, mas ele a escondeu rapidamente. Um sorriso cínico e de lado surgiu, divertindo-se com minha resposta.

— Essa foi à coisa mais certa que você disse desde que a conheci — caçoou ele, não achando que fosse o suficiente todo o discurso e ter me chamado de egoísta. — Você não vai mais encontrá-lo.

Porém, se eu me sentia arrependida, isso foi desfeito no instante seguinte. Esse era o propósito dele, afinal? Me distanciar de Tom Flanagan, impedindo que mantivesse nossos encontros? Bem, se ele esperava que eu aceitasse isso tranquilamente, estava enganado.

— Como é?! — Fingi confusão, como se não o entendesse. Ele se prontificou a explicar.

— Foi o que você ouviu... A partir de agora não quero saber de sua boa relação com Tom Flanagan, muito menos de permanecer naquele emprego... — Ouvir aquilo foi o limite para mim. Ergui minha mão, fazendo-o parar de falar.

— Sinto muito, sr. Johnson, mas terei que discordar de você mais uma vez... Que eu me lembre, em uma das cláusulas daquele contrato, diz explicitamente que eu poderia manter um relacionamento com outras pessoas, desde que não viesse a público... E pelo o que sei... — Bati meu dedo sobre a pasta diante de mim para enfatizar a frase seguinte. —... Ninguém, além de nós dois, sabe disso. Portanto, eu não vou aceitar suas ordens e sei muito bem que você está dizendo isso pela raiva que sente por Tom, assim como ele sente por você.

— Eu não sinto raiva dele — rosnou o CEO, ofendido por minha acusação. Cruzei os braços e neguei com a cabeça, recusando seu comentário.

— Vocês se odeiam desde o colégio interno — acusei, falando mais do que eu deveria. Assim que me toquei do que tinha dito, percebi a expressão controlada do CEO desaparecer, mudando para uma de irritação.

— Como você sabe disso? — indagou ele, querendo saber como eu tinha conseguido tais informações.

— Ora, Tom me contou. — Dei de ombros, tentando não parecer tensa e preocupada pelo olhar que tinha tomado o rosto do homem a minha frente.

— Ele estava mentindo — contradisse. Olhei-o sem entender e soltei:

— Mas você não sabe o que ele disse... — caçoei, provocativa. Sabia que estava arriscando a minha vida consideravelmente ao tentá-lo daquela maneira, mas não pude perder a oportunidade.

— Com certeza ele lhe disse mentiras, alterando todos os fatos...

— Eu não me importo, Sebastian Johnson, mas se vocês não se odeiam por isso... Certamente deve ter outro motivo... — Ao dizer aquilo, percebi que estava levando à conversa para outro patamar, que se direcionava a mim.

— E qual seria o motivo, srta. Fontoura? — Ele permaneceu com os olhos grudados em mim, aguardando minha resposta.

Eu não poderia simplesmente dizer que ambos gostavam de mim, pois soaria como maluquice, além de que também pareceria que eu estava me achando por estar sendo desejada — o que era completamente o contrário.

— Eu não sei... Diga você! — provoquei, esperando que ele confessasse o real motivo.

A expressão de Sebastian Johnson se suavizou em um belo disfarce inabalável.

— Pouco me importa ele, mas sim em como sua relação com ele pode afetar a minha imagem... Portanto, Melissa Fontoura... — Ele disse meu nome completo lentamente, em tom autoritário e provocador, e concluiu: —... Eu ordeno que você termine essa sua relação com ele.

Ordena?! Ah, não! Eu não acredito que ele disse aquilo! Agora tinha sido à gota d'água pra mim. Cruzei meus braços para controlar o desejo de acertar vários socos no CEO e o encarei firmemente.

— Sr. Johnson, caso queira saber, nenhum homem manda em mim e você não será o primeiro! Portanto, pouco me importa o que você quer ou deixa de querer, mas irei permanecer levando minha vida como eu quiser! Seguirei com as cláusulas do contrato e respeitarei você, mesmo não merecendo, mas não irá decidir nada sobre a minha vida fora do contrato que selamos! — discursei, desaforada. Decidi ir embora, mas antes de partir me virei e o encarei mais uma vez, dizendo em um sorriso debochado. — Passar bem!

Joguei minhas curtas madeixas para trás e não esperei que ele dissesse mais alguma coisa. Abri as portas e as atravessei, ignorando completamente a expressão de surpresa da secretária — até dei um sorrisinho para ela — e o gigantesco segurança ao lado da porta. Apertei meus passos e corri para o elevador, tentando evitar o homem que começou a me seguir.

Assim que adentrei o elevador, apertei o botão do térreo várias vezes, desejando que as postas se fechassem. Quando o segurança percebeu minha intenção, apressou o passo para me acompanhar, mas as portas já tinham se fechado. Porém, em um último vislumbre notei Sebastian Johnson surgindo enquanto também tentava vir atrás de mim.

Ok, agora eu sabia que estava completamente ferrada, mas pouco importava, porque já era tarde demais para mudar minhas ações já feitas.

Peguei meu celular e fui atrás do contato da única pessoa que poderia me ajudar no momento.

A pessoa do outro lado da linha não demorou a atender a ligação e logo ouvi a familiar voz.

— Alô, Melissa? Por que está me ligando a essa hora? — Havia tom de surpresa na voz do chef de cozinha, porém, uma certa satisfação. Ele parecia até mesmo feliz.

— Desculpe incomodar, mas você é o único que pode me ajudar agora... Pode me ajudar a fugir de Sebastian? Acabei de falar um monte de coisas para ele, que certamente o deixou aborrecido, e não estou preparada para ter que lidar com ele novamente... Pode me buscar? — Assim que Tom ouviu minhas palavras, não hesitou em responder.

— Claro! Onde quer que eu a busque?

Um sorriso involuntário cruzou meu rosto e informei onde ele poderia me buscar, em um lugar que não fosse à empresa do CEO, mas também não muito distante dali, em que eu me esconderia até que Tom chegasse para me salvar. Ele concordou e prometeu que logo me veria. Desliguei a ligação.



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