58
Eu estava de fato surpresa. E como não estar? Eu raramente recebia alguma festa, principalmente por não haver pessoas para convidar. Mas agora ali encontrava-se algumas pessoas que faziam parte da minha vida, dentre elas alguns dos meus clichês. E Alex estava ali, isso eu percebi e foi uma das primeiras pessoas que notei no recinto. Recordei da sua mensagem e meu medo de nunca mais nossa amizade ser a mesma, mas ele havia vindo para minha festa de boas-vindas ao lar. Mesmo que eu não tivesse ficado muito tempo longe de casa, aparentemente eles queriam comemorar meu retorno sã e salva.
Outra pessoa que percebi no recinto foi Jacob. Por ele eu não esperava, mas nem por aquela festa eu tinha esperado. Pensei que ele ainda estivesse com raiva de mim e evitaria minha presença por um tempo, mas ele tinha vindo e estava com um sorriso envergonhado no rosto.
Os outros presentes de tratavam de Louis Turner — e eu poderia supor que ele era o responsável por aquela festa —, Will — obviamente —, Grace e Vanessa, minhas duas colegas de trabalho. Além, claro, de Elizabeth e eu. Nosso apartamento consideravelmente pequeno ficou mais apertado pelas oito pessoas no recinto, mas mesmo assim o ambiente não ficou desconfortável.
Abracei cada um dos presentes, que demonstravam estar felizes por me verem. Meu abraço com Jacob foi esquisito, mas não deixei de tentar tratá-lo normalmente. Alex, no entanto, não hesitei em abraçá-lo com aperto, demonstrando estar com considerável saudades e arrependimento.
— Podemos conversar mais tarde, depois que isso acabar? — pediu meu vizinho, baixinho, próximo ao meu ouvido. Ao me afastar, assenti, concordando com a ideia.
Eu não esperava ter que lidar com nosso relacionamento tão cedo, mas eu sabia também que meus planos não saíam como eu esperava. Portanto, deveria pensar imediatamente como iria lidar com a situação envolvendo Alex e Jacob.
Disse a mim mesma que depois pensaria nisso, já que se me preocupasse com aquilo agora, não conseguiria aproveitar o momento e certamente não sairia como o esperado. Abracei Louis também, que me recebeu com um sorriso largo e um abraço apertado. Todavia, mais constrangedor que abraçar Jacob, foi abraçar William. Eu ainda estranhava meu amigo, mas precisei recordar que deveria parar com aquela atitude. Recebi um beijo em minha testa, que só me deixou mais tonta, e parti para cumprimentar minhas colegas de trabalho.
— Eu não esperava vocês por aqui! — falei para Vanessa e Grace. — Quero dizer, eu não esperava por essa surpresa, mas não imaginei que vocês viriam!
— Claro que viríamos! — argumentou Vanessa, sorridente. — Ainda mais quando eu soube que era surpresa e você certamente odiaria!
Vanessa, para quem não se lembra, trabalhava comigo lavando as louças no restaurante Flanagan Garden. Nós tínhamos a mesma função, porém, era eu quem me ferrava quando fazia algo errado. Eu não poderia culpá-la pelo sr. Flanagan demonstrar seu interesse de maneira inadequada, me obrigando a trabalhar até depois do horário, lembrei. Já Grace era minha mais nova colega de trabalho na marcação de reservas. Era bom saber que ambas estavam ali, usando a hora de seu almoço para vir me ver.
— Eu estou tão contente em te ver! Fiquei morrendo de preocupação ao saber do seu acidente. Creio que todos ficamos... — confessou Grace, na sua voz fininha e esganiçada de emoção. Dei tapinhas em suas costas, confortando-a e dizendo que eu agora estava bem e segura.
— Eu fiquei bastante preocupado, mas pelo pouco que conheço Melissa Fontoura, sei que ela tem a cabeça bem dura — caçoou Louis Turner. Me virei para ele, com uma expressão fingida de estar ofendida. Ele levantou as mãos, fingindo inocência. — Só falei os fatos!
Dei um soco em seu braço e caí na risada, percebendo que todos os presentes tinham ficado sérios pela brincadeira. Bem, eu não tinha ficado ofendida, até tinha achado a brincadeira engraçada.
— Minha cabeça só não é mais dura que a sua! — retruquei, caçoando dele também.
Algumas pessoas riram, mas Will permaneceu sério, provavelmente achando nossos comentários estúpidos. Não me importei, pois sabia dos ciúmes que ele deveria estar tendo por causa do meu mais novo amigo homem. Bem, eu esperava que fosse somente por isso. Mas não continuamos com nossa discussão de quem tinha a cabeça mais dura, pois Elizabeth interviu para anunciar:
— Todos nós sabemos que o acidente de Melissa foi algo que nos afetou, de certa forma, já que ela tem um significado individual na vida de cada um presente aqui. Portanto, essa pequena comemoração é apenas para que ela saiba o quão importante é em nossas vidas e que na próxima vez que for atravessar a rua, olhe para os dois lados mais de uma vez. E que a amizade dela é a coisa mais valiosa que tenho em minha vida. — Lilly terminou seu discurso com as lágrimas escorrendo pelo seu rosto. Ela tentou esconder, limpando-as rapidamente, mas até eu estava chorando. Tive que abraçar minha amiga, comovida por suas palavras e principalmente por saber que haviam pessoas que consideravam minha existência importante.
Nós ficamos abraçadas por alguns segundos, até eu decidir me afastar e também dizer algumas palavras:
— Eu prometo que tomarei cuidado a partir de agora ao atravessar a rua. E, que apesar de não ser muito fã de festas surpresas, estou muito feliz por saber que há pessoas que se importam comigo, assim como me importo com vocês. Muito obrigada! — Os presentes me aplaudiram, fazendo-me ficar com a face corada por toda atenção. Porém, levantei a mão, interrompendo as palmas. — Agora podemos comer? Eu estou faminta e consigo sentir o cheiro de pizza vindo da cozinha!
— Como você sabe que é pizza? — indagou Lilly, em tom de surpresa e provocação.
Meus amigos riram e concordaram com a ideia de irmos comer imediatamente, e assim seguimos para cozinha pequena, mas que tinha uma quantidade considerável de comida.
Como eu tinha imaginado, Louis era o responsável por ter organizado a surpresa. Por isso, havia encomendado a comida e bebida, que tinha mais do que oito pessoas poderiam suportar. Meu amigo escritor tinha aberto uma garrafa de Champanhe e se prontificado a encher as taças de cada pessoa no recinto. Sendo eu a única exceção, claro, pois ainda estava tomando medicamentos. Até mesmo Will havia tirado folga pelo resto do dia para aproveitar aquele momento de festividade e aceitou uma taça da bebida. Eu me preocupei em esbaldar da comida, que era farta e saborosa. Certamente não era do sr. Flanagan, observei, pois não chegava ao nível de seus pratos.
Foi inevitável não pensar em meu chefe. Eu não esperava por uma surpresa, mas imaginava que ele fosse fazer questão de participar. No entanto, ele não estava ali. Fiquei me questionando o que ele acharia se soubesse de duas funcionárias suas no ambiente, atrasando para o horário de trabalho. Ou se ficaria chateado por não ter sido convidado para o pequeno evento organizado para mim.
Percebi que pensar sobre o assunto não o faria surgir de uma hora para outra em meu apartamento e deveria curtir o momento com os outros. Entretanto, sabia que o tempo de festa seria curto pra mim quando recordasse dos próximos passos que eu tomaria. Eu já tinha começado a ficar tensa sobre a conversa que teria com Alex em breve. E certamente a outra conversa que deveria ter com Jacob. Continuei comendo e prestando atenção nas conversas a minha volta apenas como forma de distração para não lidar com aquilo no momento.
Nós comemos, conversamos, rimos e nos divertimos. Louis Turner conseguiu ser o centro das atenções — eu meio que já esperava por isso —, contando histórias, soltando comentários divertidos e tagarelando sobre qualquer assunto que fosse tocado. Percebi que todas as mulheres no recinto — até mesmo eu — estavam completamente envolvidas por ele. Nenhuma desgrudava os olhos de seus movimentos, gestos e conversa. Eu nem poderia sentir ciúmes por elas estarem atraídas por ele, afinal, ele tinha esse efeito sobre qualquer pessoa. Os outros homens no recinto agora não pareciam tão hesitantes em relação ao escritor — como Will tinha ficado desde a primeira vez que mencionei o nome de meu mais novo amigo —, pois participavam da conversa e riam das piadas dele.
— Depois que meu apartamento ficar completamente pronto, vou fazer uma festa de inauguração. E todos já estão convidados! — comentava Louis. Lilly abriu um sorriso largo pelo convite, enquanto Grace batia palmas, maravilhada.
O escritor se levantou do sofá, mas antes se virou e perguntou:
— Mais alguém aceita uma taça de champanhe?!
— Você não acha que já bebeu demais por hoje? — contra argumentei, notando que talvez ele estivesse excedendo os limites do álcool.
— É um dia para se comemorar! — falou ele, se afastando e retornando para a cozinha.
Revirei os olhos e voltei a prestar atenção à nova conversa que havia se iniciado, que agora Alex participava. Meu vizinho vez ou outra lançava olhares nada discretos para mim, provavelmente aguardando que a festa acabasse rapidamente. Até mesmo eu estava achando que já tinha excedido o tempo de duração, mas os outros presentes pareciam não se importar. Nem Grace, que já deveria ter retornado para o trabalho, observei.
Eu já estava um pouco cansada, claro, mas não desejava espantar os convidados com essa justificativa. Levantei do sofá, dizendo que estava no horário de tomar um remédio. Lilly informou que o mesmo se encontrava em sua bolsa, em seu quarto, sobre a cama. Mais cedo ela havia passado em uma farmácia para comprar, na companhia de Will.
Saí da sala e fui em direção ao quarto de minha amiga. Aquele recinto era completamente diferente do meu. Lilly era muito mais organizada e não tinha nada colado nas paredes, nem roupas jogadas pelo chão e a cama sempre arrumada. Completamente meu oposto, pensei.
Encontrei a bolsa e a vasculhei para encontrar a caixinha com os comprimidos. Tirei um da cartela e fui até o banheiro, pegando a água da pia para engoli-lo. Eu iria retornar para sala logo em seguida, mas aparentemente alguém desejava ficar a sós comigo. Escutei uma leve batida na porta entreaberta do quarto de Lilly, indicando que alguém desejava entrar. O recém-chegado a abriu levemente e colocou a cabeça para dentro, encontrando-me por ali.
— Oi — murmurou Jacob ao adentrar o quarto.
Ok, eu esperava que fosse ter um tempo para me preparar completamente, mas ali estava meu ex-aluno, decidido a conversar sobre algo que o incomodava — que deveria ser o nosso confronto no hospital.
— Oi, Jacob, está procurando o banheiro? — perguntei, mesmo sabendo que ele já conhecia o apartamento e não deveria ter se perdido.
— Não... Na verdade, eu vim justamente atrás de você... Para conversarmos. — Havia hesitação em suas palavras, além do constrangimento evidente.
— Claro, eu também acho que deveríamos conversar... — comecei, mas ele me interrompeu.
—... Mas se você não acha agora um bom momento, vou entender completamente.
Abri um sorriso fraco e gesticulei para ele se sentar comigo sobre a cama de Lilly. Esperava que ele não interpretasse meu convite com segundas intenções. Porém, no instante que fiz aquilo, me arrependi, pois recordei com exatidão de onde havia acontecido o nosso beijo.
Jacob não demorou a se aproximar e sentou ao meu lado. Tomei um pouco de fôlego, ponderando sobre quais palavras diria a ele. Contudo, ele decidiu ser direto e sincero.
— Melissa, você sabe muito bem porque estou aqui. Eu estou profundamente arrependido das palavras que usei contra você, além das minhas atitudes. Sei que deveria ter me controlado e respeitado sua decisão, ainda mais na situação em que se encontrava... Não irei culpá-la se quiser me odiar pelo resto da vida, mas peço que considere ao menos o que eu digo. Me desculpe e prometo que não agirei daquela maneira novamente. — Suas palavras vieram em uma enxurrada, sem esperar que eu dissesse qualquer coisa.
— Jacob — iniciei, olhando-o diretamente. Ele retribuiu o meu olhar. — Não posso dizer que não me senti ofendida por suas atitudes. Fiquei muito magoada, mas quero tentar lidar com as coisas de maneira diferente a partir de agora. Se fosse antes, eu provavelmente nunca mais olharia para sua cara, mas agora, depois de ter quase morrido, eu quero continuar dando uma oportunidade para a nossa amizade, porque eu percebi que a vida é muito curta para arrependimentos. — Meu ex-aluno abaixou a cabeça, pensando sobre as minhas palavras. — Além de que a sua amizade é muito importante pra mim, mas preciso que entenda que jamais o verei de outra maneira. Me desculpe por isso, por não ser como você queria que eu fosse, mas não controlo meus sentimentos, assim como você foi incapaz de controlar.
O rapaz soltou um suspiro e levantou o rosto, abrindo um sorriso de compreensão.
— Tudo bem, Meli, eu entendo e aceito. Prefiro ter sua amizade a nunca mais poder estar com você... E eu sou jovem, como você disse, e tenho muito o que aprender nessa vida. E você não precisa pedir desculpas por nada, fui eu quem agi errado primeiramente...
— Ok! — foi minha vez de interrompê-lo. — Chega de pedidos de desculpas! Eu te perdoo e você me perdoa, e vamos fingir que nada aconteceu, tudo certo?
Jacob balançou a cabeça, concordando. Abri meus braços, ofertando um abraço para selar a nossa amizade recém refeita. Ele aceitou, me envolvendo com carinho e afago, completamente diferente de como havia sido mais cedo.
Porém, aquilo não durou por muito mais tempo. Escutei o som da campainha tocando, indicando que alguém havia chegado ao apartamento e desejava entrar. Levantei da cama em um salto, nervosa sobre quem poderia ser. Jacob me olhou confuso pela súbita atitude que tomei.
— Vamos retornar para a sala? Acho que está na hora de comermos a sobremesa! — propus, saindo do quarto. Jacob me seguiu, dizendo:
— Mas não acho que eu tenha visto alguma sobremesa...
Ignorei completamente sua fala ao retornar para sala e notar a nova pessoa que tinha chegado ao recinto. Meu coração gelou, impactado por sua presença. Eu tinha pensado nele e esperado por isso, mas não poderia acreditar que tinha se realizado.
Tom Flanagan havia vindo para minha festa surpresa e trazia consigo uma embalagem com um bolo. Isso só me deixou mais contente, de uma forma que não esperava. Por que eu estava feliz por vê-lo? Bem, eu tinha esperado notícias dele desde o bilhete que tinha recebido, porém, nada mais recebi. Mas ali estava ele, sendo recebido por uma Lilly tão animada quanto eu.
— Sr. Flanagan, você veio! — comentou ela, permitindo que ele entrasse do apartamento. Espera aí! Lilly havia o convidado? Caramba, como ela ousava?
Naquele instante me toquei que aquela festa não tinha sido completamente idealizada por Louis, e tinha um dedo de Lilly no meio disso tudo. Percebi isso ao notar os convidados para a surpresa, que dentre as oito pessoas no recinto — agora nove —, cinco eram os meu... Clichês. Ok, para Lilly eram quatro, já que ela não sabia que Will fazia parte. Mas ali estavam eles, novamente dividindo o ambiente. E da última vez que isso tinha acontecido, o resultado não foi muito bom.
Tom Flanagan logo notou minha presença na sala, encarando-me em total deslumbramento. Sua reação me deixou nervosa, mas não pude fugir ou me esconder, pois deveria recebê-lo devidamente em meu apartamento.
— Sr. Flanagan, que s-surpresa tê-lo em m-meu apartamento! — Por que eu tinha gaguejado? Será que os outros haviam percebido?
— Sua amiga me convidou e pensei em dar uma passada aqui depois do trabalho... Quero dizer, quando tivesse um tempo livre, por isso, aproveitei para trazer um bolo — respondeu meu chefe. Ele estendeu a embalagem com o bolo, mas quem o pegou foi Lilly.
— Que maravilha, sr. Flanagan, parece que adivinhou o fato de não termos uma sobremesa adequada para comemorar o retorno de Meli para casa! Alguém quer me ajudar a parti-lo? — interveio minha amiga, chamando com um aceno de cabeça qualquer pessoa que se prontificasse a ajudá-la.
Vanessa e Grace, que ficaram subitamente nervosas pela presença de nosso chefe, levantaram-se do sofá e seguiram para a cozinha. Porém, Grace imediatamente mudou de rota.
— Na verdade, acho que devo retornar ao trabalho... E-eu estou um pouquinho atrasada... — murmurou a jovem, abaixando o rosto e indo em direção ao armário de casacos.
No entanto, antes que eu me despedisse dela, o sr. Flanagan interviu com uma boa notícia.
— Não precisa se preocupar com isso, srta. Grace, pois decidi fechar o restaurante mais cedo, dando folga pelo resto do dia a todos os funcionários.
— O quê?! — Grace ficou em choque, incapaz de acreditar, assim como pude ouvir o assobio de descrença de alguém na sala.
— Foi isso que você ouviu! — afirmou Tom, como se não fosse nada e fizesse isso todos os dias.
— Que ótimo! — falei, tentando deixar o clima menos esquisito após o anúncio do meu chefe. — Vai poder ficar para comer uma fatia do bolo! — comentei, dirigindo-me a Grace. Contudo, voltei-me para o meu chefe e perguntei: — Foi você quem fez?
— Não, foi a chef confeiteira do restaurante. Foi um pedido exclusivo que ela fez para mim.
— Caramba, estou me sentindo especial! — Soltei uma risada nervosa, lançando um olhar para os convidados na sala. Que para minha infelicidade se tratava de todos os meus clichês. Eles acompanhavam a conversa, aguardando para qual direção ela iria.
O sr. Flanagan apenas respondeu ao meu comentário com um sorriso de lado, também constrangido com toda a atenção que recebíamos. Meu amigo Will, percebendo a cena, decidiu intrometer-se. Ele se levantou, vindo até nós.
— Posso guardar o seu casaco, sr. Flanagan? — pediu educadamente Will. Ok, nem parecia que ambos já tinham discutido por minha causa, pensei.
— Claro, por favor. Mas pode me chamar de Tom — pediu o chef de cozinha.
Will pegou o casaco do homem e o guardou no armário. Eu indiquei o sofá para que ele se sentasse.
— Vou ver se Lilly precisa de ajuda na cozinha — falei, apenas para despistar e conseguir um momento para pensar.
O que eu iria fazer? Estava completamente ferrada. Não esperava lidar com o sr. Flanagan tão cedo, muito menos com Jacob e Alex. Já bastava ter tido que encarar Sebastian Johnson no dia, não saberia formar as palavras seguintes na presença dos outros homens. Eu estava presa em um dilema, mas aquela situação só tinha ocorrido por causa de minha melhor amiga.
Cheguei à cozinha — que não era tão distante e só se dividia da sala por um balcão. Me escondi atrás da pilastra para que as pessoas na sala não vissem a minha expressão de ódio borbulhante. Lilly estava na companhia de Vanessa e Grace — que tinham vindo para lá após o anúncio do chefe. Eu não poderia acusar Lilly do que pretendia na presença das minhas colegas de trabalho, mas lancei um olhar fustigante para ela, demonstrando o quão aborrecida eu me encontrava.
Lilly deu de ombros, demonstrando não estar afetada com os meus olhares, e continuou cortando o bolo em fatias iguais e colocando sobre o prato.
— Vocês podem levar para eles? — pediu Lilly, sorrindo adoravelmente para minhas colegas de trabalho. Notei Grace tremendo na base, receosa de retornar para a sala e lidar com o chef de cozinha. Eu compreendia perfeitamente aquele sentimento. Porém, ambas concordaram e pegaram os pratos sobre a bancada, retornado para a sala.
No instante que ficamos a sós — não completamente, claro —, puxei-a para trás da pilastra, que poderia nos esconder completamente.
— Já entendi o seu plano — sussurrei, raivosa.
Lilly ergueu os braços, como se admitisse o que tinha feito.
— Eu só fiz o que achei certo — admitiu ela, falando mais alto do que deveria. Coloquei um dedo sobre seus lábios, calando-a.
— Fale baixo! — rosnei. — E eu já te disse que não irei seguir seu plano. Esqueceu que tenho um namorado?
Ok, esse era o meu meio de defesa para Lilly não suspeitar do meu falso relacionamento com Sebastian Johnson. Se ela suspeitasse que eu estivesse ponderando sobre por aquele plano maluco em prática — eu já tinha decidido, na verdade —, o acordo que tinha selado com o CEO iria por água abaixo. E ela sairia lesada dessa situação, pois eu só estava fazendo aquilo por causa dela — e por eu ter agido de maneira inconsequente, claro.
— É meio difícil esquecer isso quando é o que mais se vê na internet ou o fato dele agir todo meloso com você — contradisse Elizabeth, aceitando em falar sussurrando.
— Sinto muito, mas você vai ter que aceitar isso, queira ou não. — Meu comentário não a impediu de olhar-me com descrença.
— Eu vejo a forma como você olha pra cada um deles. Se você não quer aceitar a minha ideia, tudo bem, mas não sei se eles vão desistir de você. E se todos concordaram em aparecer nessa festa surpresa, é porque de alguma forma se importam com você! Portanto, ainda não é uma má ideia pensar sobre o que te falei — disse ela, um pouco mais alto do que o esperado. Tentei contradizê-la, mas ela se afastou, voltando para o campo de visão das pessoas na sala. Ela pegou seu prato de bolo e se afastou, me deixando sozinha atrás da pilastra.
Me encostei para recuperar o ar e tentar controlar o nervosismo, ponderando sobre o que iria ser feito. Bem, eu aguardaria até o fim da festa para tomar coragem e encarar Tom Flanagan — eu não sabia ao certo o que diria a ele —, e depois, mais tarde, também conversaria com Alex, com quem já havia marcado de fazer isso. Para minha felicidade, pelos menos minhas divergências com Jacob já tinham se revolvido, assim como com Sebastian, portanto, dois a menos, pensei.
Peguei o meu pedaço de bolo e retornei para o ambiente de confraternização, com a cara e a coragem para lidar com — quase — todos os meus clichês.
Já fazia cerca de quinze minutos que eu estava sentada entre Tom e Alex, pois havia sido o único lugar restante para me sentar. Eu me sentia sobre pressão naquele momento, tão tensa quanto antes. Os outros convidados mantinham uma conversa normal, que dessa vez eu não fazia parte. Não conseguia falar, e muito menos queria, pois a atenção ficaria completamente voltada pra mim.
Entretanto, eu não era a única pessoa que sentia o clima pesado rondando, por isso, os convidados começaram a se dissipar — não por esse motivo, claro. Grace e Vanessa disseram que já iriam embora e agradeceram pelo convite, me desejaram melhoras e se despediram de todos, dizendo que ambas moravam na mesma direção — e eu sabia que isso não era completamente verdade, mas preferi não refutar. Depois de alguns minutos Jacob decidiu também fazer o mesmo.
— Bem, eu também preciso ir. Ainda tenho aula durante a tarde e não posso faltar de maneira alguma... — anunciou o rapaz, levantando-se do sofá. Percebi essa sendo a oportunidade de levá-lo até a porta.
— Tudo bem, sem problema, sua educação em primeiro lugar! — falei, puxando Jacob em direção à porta. Não queria parecer desesperada para que ele fosse embora, mas precisava de um tempinho para tomar um fôlego e encarar Alex e Tom.
— Tchau, pessoal! — Jacob se despediu enquanto eu o afastava do restante dos convidados. Tratei de pegar seu casaco no armário ao lado da porta e o entreguei. — A verei em breve?
Dessa vez meu ex-aluno se dirigia a mim. Abri um sorriso largo, demonstrando ansiedade por essa ideia — mesmo que eu talvez não estivesse tão ansiosa.
— Claro! Você sabe onde eu moro! — brinquei, fazendo-o sorrir.
— Então... Até breve, Meli! — Jacob se inclinou e deu um beijo em minha bochecha, se despedindo e partindo logo em seguida.
Agora só restava eu, Lilly, Will, Louis, Alex e Tom no apartamento.
— Alguém quer mais bolo? — perguntou Lilly, recolhendo os pratos da mesinha de centro e indo em direção à cozinha.
Louis, que tinha se deitado confortavelmente no sofá após Jacob ter se levantado, levantou a taça de champanhe e disse:
— Eu quero mais Champanhe, isso sim! — pediu, animado.
Meu amigo escritor parecia levemente alterado pelo excesso de bebida que tinha tomado.
— Você não acha que já bebeu demais por hoje? — reclamou Alex, tomando a taça de Louis e entregando para Lilly, que se retirou da sala.
— Não! — grunhiu Louis, mas ele não insistiu por muito tempo pela bebida, pois fechou os olhos, como se quisesse descansar, e se silenciou.
Will, notando o clima desconfortável que havia se instaurado, decidiu se distanciar da situação.
— Precisa de ajuda com as louças? — questionou, elevando a voz, para Elizabeth ouvir da cozinha. Ele nem aguardou que ela respondesse, pois se retirou do recinto segundos depois, lançando-me um olhar de divertimento.
Ah, pronto, pensei, agora ele estava achando graça de tudo aquilo?
Agora eu estava a sós — não completamente — com Alex e Tom, e um Louis adormecido. Meus amigos se afastaram de mim propositalmente, ignorando nossa presença na sala e se ocupando com qualquer coisa na cozinha. Me sentei desconfortavelmente na poltrona disponível, aliviada por não precisar me sentar entre os dois. Fiquei me balançando distraidamente, pois não sabia o que fazer.
— Acho que é melhor eu ir — anunciou Alex, notando o clima estranho que pairava sobre nós.
— Tem certeza? — perguntei, nervosa. E nossa conversa? Quando a teríamos? Não poderia fazer tais questionamentos diante do sr. Flanagan.
— Sim. Eu preciso me arrumar para ir ao um encontro... Quero dizer, marquei de me encontrar com meus amigos para discutimos algumas coisas antes do lançamento oficial do jogo — justificou ele. Por um momento imaginei que fosse realmente se encontrar com outra pessoa. No caso, uma mulher. Ok, admito fiquei enciumada, mas não esbocei tal reação. O meu nervosismo pela partida de Alex era que eu ficaria a sós com o sr. Flanagan, e eu nunca sabia como seria as coisas entre nós em momentos como aquele.
— Ah, sim, compreendo — falei, baixinho.
Alex se levantou, determinado a ir embora, mas parou por segundo, voltando-se para o sr. Flanagan.
— Eu quero pedir desculpas pelo que fiz contra você no hospital, no dia que a Melissa estava internada... Agi completamente errado e de maneira agressiva, sendo que isso não é coisa do meu feitio. Então, sinto muito. — Tom Flanagan, que parecia evitar o outro homem até o momento, voltou seu rosto para ele e abriu um sorriso gentil.
— Você não tem culpa por ter agido conforme acreditava. Se eu estivesse em seu lugar, certamente teria feito o mesmo. Mas desculpas aceitas — aceitou Tom, levantando-se e estendo a mão para um aperto a Alex, selando um acordo de paz.
Bem, eu deveria intervir, certo? Afinal, a culpada era realmente eu. Se eu não tivesse agido precipitadamente, falando coisas sem pensar, nada daquilo tinha acontecido. Mas o que você queria que eu fizesse? Eu não poderia contar a Alex que o meu chefe tinha me dado um beijo e ficado excitado e, por isso, eu acertei um tapa em sua cara, o chamando de tarado e mandando-o embora do meu apartamento. O que o meu vizinho pensaria sobre a verdade? Tom e eu sabíamos qual era, mas poderia ver perfeitamente que ele não contaria a ninguém.
Levantei também, ficando cara a cara com eles.
— Ok, acho que todos sabemos que quem agiu errado aqui foi eu. Portanto, sou eu quem deve um pedido de desculpas aos dois... Sinto muito pelo o que ocorreu, eu sempre tenho a tendência de exagerar um pouco e falar as coisas sem pensar. Portanto, me desculpem... — Minha voz acabou se perdendo no meio do discurso quando notei que ambos os homens me encaravam.
Seus olhares — de cores completamente diferentes — me observavam, mas havia a mesma essência por trás deles. O mesmo sentimento que tinham por mim. Isso só me deixou mais nervosa, ao perceber no que havia me metido. Eu simplesmente não poderia tomar uma decisão. Escolher entre Tom e Alex, quando na verdade eu gostava tanto deles. Em como os dois tinham o mesmo significado em minha vida. Os dois homens abriram um sorriso ao escutar minhas palavras, mas Tom foi o primeiro a se manifestar.
— Melissa... — iniciou ele, como sempre fazia. — Eu aceito seu pedido de desculpas.
Alex não hesitou em fazer o mesmo.
— Eu também.
Fiquei parada no mesmo lugar, apenas esboçando um sorriso de agradecimento. Porém, honestamente, eu não sabia o que iria fazer a seguir. Qual decisão tomaria. Meu coração nunca esteve tão indeciso em toda a minha vida. Quando eu estava perto deles — dos clichês —, eu não sabia qual próximo passo dar, o que esperar vindo deles. Ainda mais quando se tratava de Alex e Tom. Mas eu tinha plena certeza dos sentimentos que eu tinha por eles, mesmo sendo confuso e disforme, porém, era recíproco. E isso era o que importava, certo? Contudo, eu somente poderia ter um deles. Meu coração só poderia escolher um deles. E naquele exato momento eu não poderia fazer aquela escolha. Eu precisaria de tempo. E, infelizmente, mesmo que eu já estivesse cansada de ficar pesando as coisas na balança, precisaria saber para quem — e não para qual lado — ela penderia.
— Bem, é melhor eu ir — o comentário de Alex me fez recobrar a consciência.
— Acho que irei fazer o mesmo — falou Tom. — Posso acompanhá-lo? Você mora muito longe daqui?
Alex abriu um sorriso divertido pelo questionamento do chef. Escutei um riso baixo e me virei para procurar quem estava achando graça daquilo, mas acabei deparando com Lilly e Will espreitando nossa conversa por trás da pilastra. Lancei um olhar aborrecido para os dois, que se esconderam e fingiram não estar ali.
— Na verdade, eu sou vizinho da Melissa. Moro no apartamento do lado — informou Alex. Tom ficou surpreso por alguns segundos, mas escondeu tal expressão com um sorriso.
— Mas eu acompanho vocês! — falei, apenas para não soar mal educada. Ora, eles ainda eram meus convidados no final das contas.
Guiei ambos os homens para fora, após eles se despedirem de Lilly e Will e pegarem seus casacos. O clima continuou estranho, mas agora por minha parte. O sr. Flanagan achou divertido o fato de Alex morar a menos de trinta centímetros do meu apartamento. Ambos os homens se despediram educadamente, agora com as pazes feitas. Alex, antes de entrar em seu apartamento, virou-se para mim e disse:
— Espero vê-la logo, Melissa. — Entendi a mensagem por trás de suas palavras. Ele ainda queria conversar comigo, especificamente hoje.
— Eu também — concordei, sorrindo timidamente para ele.
Meu vizinho adentrou em seu apartamento, deixando-me a sós com meu chefe. Virei-me para encará-lo, deparando com uma expressão de alívio tomando seu rosto. Esperei que ele fosse dizer algo, mas ele me surpreendeu vindo em minha direção e me abraçando.
Inicialmente seu gesto me surpreendeu. Por que ele havia feito aquilo? Porém, preferi não pensar muito. Retribuí seu abraço, envolvendo os meus braços em volta de seu tronco. Me apoiei em seu ombro, enquanto ele se apoiou em minha cabeça, acariciando com gentileza os fios do meu cabelo. Uma de suas mãos ficou pousada em minhas costas, mantendo-me firmemente próxima, incapaz de afastar. Mas eu não desejava me afastar. Naquele momento, primeira vez em muito tempo, eu não quis fugir de Tom Flanagan, muito menos retrucá-lo ou contradizê-lo. Eu quis permanecer ali, e o fiz.
Sabia que o clima ficaria bem mais estranho quando aquele abraço acabasse ou se alguém surgisse e nos visse tão próximos. Todavia, aquilo não importava no momento. Aproveitei do calor de seu corpo, da sensação diferente de segurança e conforto que ele transmitia, além de seu perfume cítrico, contudo, levemente adocicado e suave. E de maneira quase imperceptível eu conseguia sentir o cheiro da cozinha presente nele. Não poderia descrever com exatidão como era esse cheiro, mas tinha um misto dos variados temperos que eram utilizados na preparação dos pratos. E provavelmente esse era o meu cheiro favorito, pois me fazia recordar da cozinha e do quanto, no final das contas, eu gostava de estar nela.
— Você realmente está bem? — a voz de Tom Flanagan chegou baixa em meus ouvidos, pois o mesmo sussurrava. Ele tocou com leveza meu queixo, fazendo-me erguer o rosto em sua direção. — Eu quase morri de preocupação, Melissa, quando soube do acidente. Praticamente enlouqueci sem notícias suas, ainda mais quando eu desejei tanto ir vê-la, mas sabia o quão ruim isso poderia ser para nós.
— Eu estou bem... Mas agora estou muito melhor — afirmei, respondendo suas dúvidas. Minhas palavras trouxeram conforto a ele, que voltou a me envolver com seus braços.
— Eu sei que estou agindo completamente diferente do que te prometi. Que eu manteria distância de você, mas não sei se posso fazer isso agora — confessou ele, deixando meu coração mais aquecido.
— Nem eu — sussurrei, percebendo o quanto não queria que aquele abraço acabasse.
Tom Flanagan soltou um riso fraco, percebendo o quanto nossos pensamentos eram similares. Nós permanecemos daquela maneira por mais alguns segundos, até que ele voltou a erguer meu rosto em direção ao seu. Suas duas mãos tocaram com carinho minha face, e assim percebi suas intenções. Seus olhos azuis avaliaram minha expressão, esperando minha permissão, ou que eu fizesse algo. Eu aguardei, por um momento, esperando que ele tomasse a iniciativa. No fundo, eu queria que ele cumprisse tal ato que planejava, mas a superfície minha sabia o quanto de riscos corríamos ali, no corredor do meu prédio. Expostos completamente a possibilidade de alguém surgir ou até mesmo algum paparazzi conseguir fotografar aquele momento.
Tomei coragem para me afastar, apenas porque temia por nós dois e também pela consequência dos nossos atos. Tom não esboçou raiva ou ressentimento, na verdade, ele parecia compreender meu gesto. Na verdade, havia um traço de tristeza, que foi logo escondida por um sorriso fraco.
— Acho melhor eu ir... Tenho trabalho a fazer e você precisa descansar — justificou meu chefe, apenas para conseguir escapar do momento constrangedor que pairou sobre nós.
— Eu pensei que você tivesse dado folga aos funcionários e também aproveitaria para fazer o mesmo — observei, dando um passo para trás e mantendo distância. Ele percebeu minha atitude, mas não disse nada.
— O chef de cozinha não pode descansar. Vou usar o restante do dia para criar novas receitas com o soulchef — informou ele. Agi como se entendesse o motivo do seu não descanso, mas ainda acreditava que Tom Flanagan precisava tirar uma folga.
— Bem, então devo agradecer por ter vindo e trazido o bolo. Muito obrigada!
— Melissa, era o mínimo que eu deveria fazer — admitiu, com um sorriso satisfatório no rosto.
Despedimo-nos dessa vez com um abraço leve e o deixei partir, percebendo que não tinha decidido sobre o que fazer em relação a Tom Flanagan. No entanto, uma parte minha se afligia em saber que para ele eu ainda era a namorada de Sebastian Johnson, e que ele sofria por esse fato. Talvez fosse necessário contar a ele a verdade também, apenas caso eu realmente decidisse mudar as coisas entre nós. E uma parte minha desejava ultrapassar o limite do abraço para outra coisa.
De volta para o interior de meu apartamento, ainda tentava processar o ocorrido entre mim e o sr. Flanagan. No momento não me sentia apta para enfrentar Alex. Ainda mais com a sensação de tê-lo traído me afligindo. Claro que nós não tínhamos um compromisso selando nosso relacionamento, mas eu não sabia se seria certo colocar o plano em prática com a ideia de que seriamos fiel um ao outro. Depois de perceber o rumo que minha vida tinha tomado, eu desejava evitar selar qualquer compromisso e agi conforme meus sentimentos decidissem. Eu não sabia como seriam as coisas, mas esperava que não me levasse a pior.
Notei Louis Turner ainda deitado no sofá e adormecido em um sono profundo. Não tive coragem para acordá-lo e segui para a cozinha. Lilly e Will encontravam-se lá, sozinhos e comendo mais bolo.
— Ei, vão comer tudo sem me dar um pedaço? — reclamei, me aproximando e pegando mais um pedaço do bolo.
— Ninguém mandou você demorar lá fora... — Percebi o tom de malícia na voz de Lilly, insinuando saber do que havia acontecido comigo e com meu chefe lá fora.
— Eu estava me despedindo, ora — grunhi, enfiando uma garfada do bolo na boca para dizer mais nada.
Lilly deu uma risadinha, achando graça da situação que tinha me colocado.
— Você está se sentindo bem? Até agora não parou para descansar — comentou Will, preocupado.
— Estou ótima — falei de boca cheia. Minha amiga fez uma careta de desgosto ao me ver fazendo aquilo, enquanto William sorriu em diversão. Dessa vez engoli antes de falar, apontando com o garfo em direção a Louis deitado no sofá. — O que iremos fazer com ele?
Meus amigos olharam sobre o ombro, tentando visualizar o escritor adormecido.
— Ele bebeu demais em comemoração ao seu retorno. Quando acordar eu posso levá-lo para onde quer que ele esteja ficando no momento — ofereceu-se William, dando de ombros, como se não fosse algo a se preocupar.
— Acho que ele é muito fraco pra bebida — caçoou Elizabeth, recolhendo seu prato e levando para pia.
— Aparentemente sim — murmurei, observadora. — Acho que vou deitar um pouco, se vocês não se importam, para descansar a cabeça.
William e Lilly permitiram que eu me retirasse, prontificando a cuidar de Louis caso fosse necessário. Fui para o meu quarto, satisfeita em retornar para um ambiente familiar, e poder deitar em minha própria cama, com meu próprio cheiro e desorganização.
Deitei sobre o colchão após retirar os sapatos e encostei a cabeça do travesseiro, reflexiva. Agora que eu estava completamente sozinha, poderia me frustrar sobre minhas futuras decisões. Eu estava incomodada sobre como reagiria com cada determinado clichê — eu me sentia mal de nomeá-los assim, mas era mais fácil do que dizer o nome de cada um deles. Não tinha ideia de como me portaria. Somente ao ver Tom Flanagan eu tinha ficado paralisada. Ou lidar com Alex era complicado, sabendo de toda a expectativa que ambos gerávamos sobre nossa relação. E ainda havia Will, Jacob e Sebastian, que estavam fora de cogitação. Nem poderia incluir Louis e Vincent Charles no meio disso, pois ambos eram inalcançáveis para mim e eu só poderia gerar expectativa em relação aos dois. Portanto, se fosse para eu tentar algo, deveria ser com as pessoas em que me sentia mais confortável e conseguisse imaginar um futuro juntos, e que não tivesse uma barreira — mesmo que invisível — limitando nossa relação.
Eu fechei meus olhos, tranquilizando minha mente, dizendo que a decisão havia sido tomada. Alex e Tom eram minhas melhores apostas se tratando dos meus sentimentos e nossas relações. Afinal, como já havia dito antes, Louis Turner tinha dito em palavras diretas que não me veria além de uma boa amiga. Vincent Charles era o tipo de pessoa que eu raramente encontrava e eu não teria coragem de ir atrás dele, sem contar do momento de sofrimento aparente que ele passava. Esses eram os únicos clichês que eu poderia possivelmente me envolver. Já William, sendo meu melhor amigo, estava fora de cogitação, assim como Jacob, que carregava o mesmo rótulo, e Sebastian Johnson, que eu simplesmente repudiava. E assim seria, como eu havia decidido. No entanto, você sabe muito bem que as coisas não funcionam como eu esperava. E que esses clichês têm a tendência de me surpreender e eu não poderia jamais controlar seus sentimentos por mim.
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