48
Por um momento tive a sensação de que não estou ali. Estou aérea, flutuando fora do meu corpo. Mesmo assim permaneço sentindo tudo. Sentindo o suor nas palmas das minhas mãos, o coração acelerado e o sentimento estranho que toma meu peito. Eu não consigo definir aquele sentimento. Na verdade, por que tenho a sensação de que quero chorar?
Estou decepcionada. Decepcionada com o fim de nossa história. Não esperava que fosse terminar daquele jeito. E mesmo que digam que não era o fim, irei contradizer dizendo que sim. Não há mais nada para mim e Lee, mesmo que eu tenha passado anos da minha vida imaginando.
Sempre fui crente em viver um romance de tirar o fôlego, e que ele seria o meu par romântico ideal. Até imaginei todos os detalhes de nossa futura casa, do casamento e em como seriam nossos filhos. Mas eu também sempre soube da minha capacidade imaginativa. E principalmente de que quão alto sonhávamos, maior seria o tombo.
Eu tinha caído. Estava completamente no chão. E a dor daquele tombo era terrível, mas não se comparava com a decepção. A dor física — se é que ela existisse — passaria, mas e a dor de um amor perdido? Um amor que foi perdido há anos, sim, mas somente agora finalmente percebi que não o tinha mais.
Elizabeth permaneceu agachada diante de mim, ainda com seu olhar de preocupação. Não notei as lágrimas caindo, mas ela sim e fez questão de secá-las.
— Melissa, você pode me dizer o que aconteceu exatamente? — questionou Lilly. Compreendia sua aflição. A minha reação súbita a aquela situação certamente causava incompreensão.
Decidi respondê-la:
— Encontrei Lee...
— Essa parte eu entendi... Mas como?
Bem, explicar aquela parte seria complicado. Mesmo assim, não recusei responder. Talvez se explicasse os fatos em voz alta fariam mais sentido.
— Eu o encontrei em frente ao Radio City Music Hall. — Minha breve resposta à fez sorrir levemente, mas percebeu que seria insensível fazer isso enquanto eu ainda estava com expressão de choro.
— E ele a maltratou? — dessa vez Elizabeth demonstrou aborrecimento, provavelmente imaginando que a causa do meu choro se tratasse de alguma atitude ruim de Lee contra mim.
Neguei com a cabeça e continuei:
— Não... Na verdade, ele nem sequer me viu. — Lilly não disse nada, mas a confusão ficou estampada em seu rosto. Segurei as mãos de minha amiga e a olhei com urgência. — Lilly, ele virou um cantor famoso... Ele nem deve sequer lembrar da minha existência, já que se tornou alguém importante.
Dessa vez quem soou aflita fui eu.
— Como pode saber disso? Ele sempre foi seu amigo... E você mesma me contou que ele a beijou antes de ir para a Coreia do Sul... Como ele poderia se esquecer, sendo que dizia ter sentimentos por você?
Essas foram às mesmas perguntas que me fiz durante anos, mas que neguei sempre a fazer em voz alta. Agora, quando Lilly as fez, eu também não tinha respostas. E mesmo que tivesse, elas me machucariam muito.
— Eu não sei, mas depois de termos perdido contato, ele nunca tentou novamente... Saber de mim — Minha voz soou cheio de amargura.
— E você acha que ele não gostaria de saber sobre você agora? Vai tentar entrar em contato? — Essas mesmas dúvidas fomentaram minha mente durante o caminho de volta para casa. Entretanto, do que valia enviar uma carta, já que ela provavelmente se perderia entre as centenas enviadas pelas fãs? Do que valia tentar ir em busca de contato, já que quando ele era desconhecido, não fez questão de saber da minha existência? Será que seria diferente agora?
Sinceramente, eu preferia não saber. Se eu não tentasse, talvez sairia menos machucada. Se eu tentasse, provavelmente sairia com o coração mais partido do que antes. Agora eu não pesei na balança os prós e os contras. Eu não queria saber de balança alguma e nem de pontos positivos e negativos. O único ponto que importava agora seria continuar vivendo, assim como Lee continuou, esquecendo o passado e seguindo adiante.
— Não. Não vou entrar em contato. Agora acabou. — Minhas palavras soaram duras em percepção aos meus ouvidos, nem parecia eu dizendo tais coisas. Logo eu, que sonhava toda noite com seu rosto, que escreveu seu nome apaixonado no caderno até o fim do ensino médio. Que sonhou em ir para a Coreia do Sul em busca do grande amor... Que só existia em minha imaginação.
— Tem certeza? — insistiu Lilly, esperando que eu mudasse de ideia.
Lilly sabia de toda a minha história com Lee. Leu todas as cartas que recebi dele, assim como o meu livro escrito sobre nosso breve romance a distância. Ela ficou admirada, até sonhou em viver algo como aquilo. Mas com o passar dos anos notou que eu acabei sendo esquecida, que não chegaram mais cartas, e que o amor dele pra mim — jurado nas cartas — tinha acabado. Eu entendia o motivo de sua insistência, desejando que eu tentasse entrar em contato com ele. Elizabeth era provavelmente a pessoa que mais apoiava nós dois juntos. E uma das poucas pessoas que sabia sobre o nosso romance.
— Sim, eu tenho. — Eu gostaria de dizer que realmente tinha certeza, mas eu sempre fui à pessoa mais indecisa em relação as minhas palavras. Para demonstrar convicção sobre minha decisão, decidi secar minhas lágrimas e levantar.
— O que você vai fazer agora? — indagou, ainda em expectativa, talvez esperando que eu mudasse de ideia. Bem, mas agora eu iria fazer algo que marquei no dia anterior... Me encontrar com Alex.
Todavia, Elizabeth não poderia suspeitar do meu encontro com nosso vizinho. Se ela sequer imaginasse isso, poderia supor que meu relacionamento com Sebastian Johnson era uma fraude — mesmo sendo.
Cocei a cabeça, sem jeito, tentando formular a resposta com rapidez em minha mente.
— Vou me encontrar c-com... Sebastian. — Uma expressão de nojo surgiu no rosto de minha melhor amiga somente por mencionar o nome do CEO. — Sinto muito, mas marcamos de nos encontrar.
Não era verdade, claro. Você sabe toda a verdade. Só que quando se começa a contar mentiras, infelizmente, em algum tempo percebe que já está preso em uma teia de aleivosias.
— Tudo bem — afirmou ela, dando de ombros. Não parecia estar tudo bem. — Já que tem compromisso, ficarei em casa sozinha, sem absolutamente nada para fazer... – Dramática, pensei. Lilly certamente usaria todas as armas ao seu favor para me afastar de Sebastian Johnson. — Mas não é estranho sair em plena terça-feira? Acho que ele só faz esses convites porque está bem da vida e sem preocupações.
— Bem, ele está com a vida feita, certo? — brinquei, dando um sorriso amarelo.
— Mas nós não! Ele esqueceu que você trabalha?
— Claro que não, mas prometo que não vou voltar tarde. — Lilly deu de ombros novamente e se afastou, saindo do quarto. Sabia que ela estava desgostosa com meu falso encontro com Sebastian, mas não poderia contar a verdade. Enquanto ela saía, gritei: — Desculpe!
Depois de todo aquele furacão de sentimentos, acabei retornando ao meu mais novo problema. E no horário. 18h37min. Porcaria!
Apressei para me arrumar, correndo para um rápido banho e arrumação. Sei que havia prometido estar deslumbrante, todavia, infelizmente o tempo curto não me forneceu tal oportunidade. Mesmo assim, preferia parecer mais comigo mesma do que com outra pessoa. Alex já me conhecia bem o suficiente, então por que tentar ser outra pessoa?
Quando eu estava com Sebastian Johnson, sabia que deveria fingir ser uma mulher elegante e perfeita aos olhos dos outros. Mas com Alex, eu poderia ser a pessoa que sempre fui. Assim como Lee...
Argh! Agora as coisas deveriam mudar completamente! Sem lembranças recorrentes sobre Lee... Sem ficar sonhando acordada com nosso último beijo. As coisas tinham mudado completamente em nossas vidas, não éramos as mesmas pessoas. Mesmo que talvez eu agisse como uma adolescente, agora tinha me tornado uma Melissa adulta e responsável, cheia de obrigações. Prometi a mim mesma que evitaria pensar sobre Lee, até mesmo pesquisar sobre ele ou ficar olhando atônita fotografias suas na internet.
Em tempo recorde consegui me arrumar, mesmo que de maneira básica. Fiz uma maquiagem que cobrisse meu rosto cansado das últimas noites insone. Contudo, minhas roupas não passavam de calça jeans, camiseta, tênis e casaco. E uma bolsa, claro, para carregar meus pertences.
Alex não havia contado o destino de nosso encontro, mas eu só poderia rezar para que não fosse a um lugar surpreendentemente elegante. Um cinema estaria de bom tamanho. Ou o restaurante da esquina.
Eu não queria que ele tentasse ofertar demais a mim. Eu estava vivendo e tendo coisas que jamais tinha vivenciado e tido em minha vida, como almoçar todos os dias no restaurante Flanagan Garden e ir a baile beneficentes usando vestidos mais caros que o meu apartamento.
Eu desejava ser real ao lado de Alex e aceitar o que tínhamos. E conhecê-lo melhor, claro, sem a presença dos pais. De preferência a sós e sem roupas, por favor.
Tentei controlar o riso malicioso que surgiu em meu rosto enquanto me olhava no espelho pela última vez. Mas no instante que surgiu, o mesmo sorriso desapareceu. E se realmente chegássemos a tirar nossas roupas, o que eu faria? Sabia que depois teríamos uma relação íntima, mas e se eu não estivesse preparada para isso?
Bem, eu já havia transado, obviamente, mas fazia tanto tempo que nem sequer recordava — claro que eu me lembrava, era só modo de dizer. E da última vez que quase cheguei a fazer, entrei em desespero e mudei de ideia — e era ainda com Tom Flanagan!
Claro que Alex era completamente diferente de Tom. Ambos eram incomparáveis, com suas características físicas e maneiras divergentes. Entretanto, deveria afirmar que ambos eram muito atraentes, bonitos, educados — no caso de Tom Flanagan, isso variava conforme o dia e seu humor — e até bom humorados — mais uma vez, devo repetir que isso poderia variar se tratando do meu chefe.
Finalmente terminei de me arrumar e me despedi de Elizabeth, que não parecia muito satisfeita com minha saída. O lado positivo de me encontrar com Alex, era que não precisávamos andar muito ou usar algum meio de transporte para chegar na casa do outro. Dois segundos depois me encontrava parada diante da porta de seu apartamento, já que o mesmo não estava no corredor a minha espera.
Verifiquei as horas e percebi que faltavam pouco menos de cinco minutos para nossa horário marcado. Bem, eu sempre fui muito pontual, mas será que meu vizinho não? Decidi aguardá-lo, já que era minha única alternativa. Não desejava apressá-lo.
Contudo, o tempo passou e Alex não surgiu. Quinze minutos depois do nosso horário marcado comecei a estranhar sua demora. Havia acontecido algum empecilho? Ele estava no trabalho? Ele tinha desistido do encontro?
O último questionamento me afligiu. Haviam motivos para ele desistir do encontro? Sim, pensei. Se ele tivesse lido em algum site de fofoca sobre o meu relacionamento — falso, devo enfatizar — com Sebastian Johnson. Isso era motivo o suficiente para ele nunca mais querer olhar para minha cara.
Tomei a decisão de bater em sua porta. Não poderia ficar aguardando mais algum minuto e correr o risco de ter Lilly abrindo a porta e deparando comigo no corredor. Bati uma, duas, três vezes. Não houve resposta. Continuei insistindo, esperando que de alguma forma Alex surgisse. Depois de longa insistência, finalmente a porta de seu apartamento se abriu.
Lá estava Alex. Todavia, ele não se encontrava arrumado para o nosso encontro. Usava uma roupa de ficar em casa. Um conjunto de moletom. E estava com uma expressão facial abatida. Quando me viu, seu olhar somente transmitiu magoa.
Porcaria! Ele havia visto a maldita notícia que transitava sobre mim e o CEO. Eu deveria ter imaginado que uma hora ou outra isso chegaria até ele. Mas eu não estava preparada para contar, aliás, eu nem deveria dizer absolutamente nada, como firmava no contrato. Eu deveria manter total segredo sobre meu falso relacionamento com Sebastian Johnson.
Mas eu não queria magoar Alex, mesmo que já estivesse magoado. Suas feições de tristeza afligiam meu coração — que já tinha se afligido muito para um só dia. Eu não queria que sua percepção sobre mim mudasse. E só havia uma maneira de mudar seus sentimentos a meu respeito. Contando a verdade.
— Alex! — soltei seu nome, em alívio por encontrá-lo em casa, mas com receio do que poderia escutar vindo dele. — O que houve? Você está doente? Não está se sentindo bem para sairmos?
Eu estava disfarçando para não tocar no assunto principal e possível causador do cancelamento do nosso encontro. Ele aparentava estar saudável, então certamente a causa não se tratava daquilo.
— Não — respondeu, a voz grave soando mais baixa que o normal. Alex não me olhou diretamente. Seus olhos ficaram fixos para qualquer coisa que estivesse atrás de mim.
— Eu fiz alguma coisa? — indaguei, sabendo que era a causadora. Dessa vez seus olhos vieram brevemente até meu rosto, mas desviaram com rapidez.
— Não — continuou a negar.
Argh! Eu queria que ele jogasse em minha cara que eu era uma mentirosa! Uma idiota, estúpida, burra, qualquer palavra ofensiva! Eu merecia aquilo.
— Podemos conversar? — tentei, dessa vez com a intenção de contar a verdade. Não poderia me permitir a continuar partindo o coração do meu vizinho.
Se eu não gostava de ter meu coração partido, por qual razão faria isso com outra pessoa? Ele merecia a verdade, e sabia que poderia confiar nele.
— Não acho que seja uma boa ideia. É melhor retornar para o seu apartamento — confessou, apaticamente.
Olhei-o com mais urgência, desejando que se dirigisse olhando para mim. Decidi agir drasticamente, adentrando sem permissão seu apartamento e o puxando para o interior comigo.
— Ei! Você não pode fazer isso! — exclamou, sem saber como reagir.
Fechei a porta atrás de mim, girando a chave e enfiando-a no meu bolso. Só iria sair dali até que ele me permitisse contar tudo, até que ele me perdoasse.
— Alex, eu sei que você ficou sabendo de alguma maneira sobre mim e Sebastian Johnson... Que nós somos... — Tentei dizer tal palavra, mas o fato dela ser falsa tornava difícil nomeá-la.
— Namorados — complementou ele. Dessa vez, seu olhar estava diretamente sobre mim, mas demonstrava insatisfação. Ele não gostava da palavra tanto quanto eu.
— Sim — afirmei, desgostosa. — Mas devo dizer que tudo isso não passa de uma mentira!
Certo, era melhor dizer tudo o que devia de uma vez. Sem enrolação. A reação de Alex inicialmente foi de surpresa, mas que mudou instantaneamente para de escárnio. Ele não estava acreditando em minhas palavras.
— Estou falando a verdade! — tentei novamente.
— Sério, Melissa?! Você realmente acha que vou acreditar?! Eu vi na internet, em diversos sites de fofocas, até mesmo em revistas, noticiando sobre o novo relacionamento do CEO Sebastian Johnson. — As palavras de Alex estavam cheias de ironia e raiva. Ele realmente estava magoado, notei. — E você mentiu pra mim! Ele não era seu amigo, nunca foi... Era seu namorado! Até entendi quando você foi embora com ele de Filadélfia, mas o pior foi quando aceitou meu convite para o encontro... Eu achei que tínhamos algo especial, mas percebi que não passava de uma diversão pra você fora dos holofotes!
Suas palavras me acertaram em cheio. De fato, se eu estivesse em seu lugar pensaria a mesma coisa. Entretanto, não havia relacionamento algum entre mim e Sebastian, por isso era complicado aceitar sua raiva, mesmo que talvez eu merecesse.
— Alex, pode falar mais baixo? — pedi, rezando para que Elizabeth não suspeitasse da minha presença no apartamento de nosso vizinho.
— Sua amiga não sabe, certo? Você realmente esperava que eu não fosse descobrir? Que eu aceitaria ser seu amante? — A palavra amante doeu em mim quase como uma facada, apesar de que eu não sabia o que era receber uma facada. A verdade era que passei grande parte da minha sabendo como era a perspectiva de um relacionamento com traição. E em como a pessoa traída se sentia, e em como a vida daquela pessoa poderia ser arruinada. Por conta disso, sempre me neguei a ser esse tipo de pessoa, a que traí.
— Não, ela não sabe, ok? — retruquei, sentindo que meus pulmões não estavam captando a quantidade de oxigênio o suficiente. — Ela não sabe que meu relacionamento com Sebastian Johnson é falso!
Minha última frase surtiu efeito em Alex. Dessa vez ele parou e me olhou em confusão.
— E agora você me pergunta porque estou em um relacionamento falso com o CEO Sebastian Johnson... — sussurrei, esperando que ele fizesse tal questionamento.
— Por que você está tendo um relacionamento falso com o CEO Sebastian Johnson? — repetiu Alex, até mesmo gesticulando para parafrasear mais a pergunta.
— Isso pode parecer um pouco confuso pra você, mas há algum tempo atrás causei a demissão da minha melhor amiga... De Lilly. E ela trabalhava na Johnson Enterprise, a empresa de Sebastian Johnson. E isso abalou a minha amiga completamente, ela até adoeceu, ficou dias se recusando a comer e até mesmo a tomar banho... — Soltei um suspiro pesado, finalmente conseguindo controlar minha respiração. Relembrar os momentos de angústia que tive ao ver o estado que Elizabeth ficou ainda era doloroso. Entretanto, continuei: — E vendo ao nível que ela tinha chegado, decidi ir atrás de Sebastian Johnson e pedir para mudar de ideia sobre a demissão de Elizabeth... Ele tinha tomado uma decisão terrível, dizendo que arruinaria a carreira dela para sempre, que ela não conseguiria emprego em mais lugar algum...
— E por que você se envolveu com alguém como ele? — perguntou meu vizinho, ainda acreditando que eu seria capaz de namorar alguém tão repulsivo como Sebastian Johnson.
— Eu não me envolvi com ele... Esse foi o termo dele. O CEO só aceitaria recontratar Elizabeth se eu concordasse em fingir ser sua namorada. — Alex ainda parecia incapaz de acreditar em minha história. Realmente parecia loucura vista daquela perspectiva. — Ele tinha seus motivos para pedir isso, e eu, me sentindo profundamente culpada, aceitei. Não poderia permitir que minha amiga ficasse no fundo do poço por minha causa, que nunca mais pudesse ter um emprego. Por causa da minha impulsividade, acabei causando tantos problemas a ela. Isso que eu fiz, aceitar fingir um relacionamento com alguém tão repugnante como Sebastian Johnson, era o mínimo que eu deveria fazer depois de tudo.
— Você está me dizendo à verdade, Melissa? — Agora Alexander estava olhando em minha direção, principalmente em meus olhos. Ele esperava que meu depoimento fosse verdade. Ele desejava acreditar em mim. — Porque eu desejo muito acreditar em você... Porque não consigo aceitar a ideia de perdê-la para outra pessoa... Para alguém que é indigno de você.
Céus! Naquele instante não conseguia acreditar em suas palavras, mas elas eram reais e tão... Românticas. Me perder... Ele não queria me perder! Quase cogitei na ideia de sumir com o espaço entre nós e me jogar em seus braços. E finalmente aceitar o beijo que eu merecia receber daqueles lábios esculpidos e divinos de Alexander Hall.
— Dizer isso pra você é a coisa mais arriscada que estou fazendo... Se Sebastian Johnson cogitar na ideia de que contei a verdade para alguém, existe a possibilidade de eu estar arruinando a carreira de Elizabeth para sempre, assim como nossa amizade — expliquei. — É a verdade que estou te dizendo, mas terei que pedir por segredo. E eu só estou te dizendo tudo isso porque confio em você, Alex.
Alexander abaixou a cabeça por alguns segundos e passou a mão em seu cabelo crespo, parecendo estar se sentindo frustrado. Quis me aproximar dele e pedir que não pensasse muito.
Ele voltou a erguer o rosto e a me encarar, dessa vez comum pequeno sorriso cruzando seu rosto.
— Eu me sinto um idiota por ter feito todas aquelas acusações contra você, Melissa. Eu deveria imaginar que você não é o tipo de pessoa que faz isso... Pode aceitar meu pedido de desculpas? — pediu docilmente. Sorri instantaneamente e me aproximei do meu vizinho.
— Desde que você aceite as minhas desculpas por ter escondido isso de você, sim, eu aceito as suas.
— Então, desculpas aceitas!
Nós dois sorrimos juntos. E agora me sentia aliviada por ter contando a verdade a alguém. O fardo parecia menos pesado.
— Bem, agora acho que estraguei completamente nosso encontro... Você pode esperar que eu me arrume para que eu a leve em algum lugar, nem que seja no restaurante da esquina? — Soltei uma risada pelo seu convite. Era tentador, mas recordei uma das cláusulas do contrato.
— Alex, infelizmente terei que rejeitar... — Meu vizinho reagiu em surpresa ao meu comentário; mas antes que tirasse conclusões precipitadas, conclui: — ...A ir ao restaurante da esquina... Se alguém me reconhecer e tirar alguma foto de nós dois juntos, e suspeitar que eu esteja traindo Sebastian Johnson, o nosso trato será quebrado e Elizabeth perderá seu emprego definitivamente. Então, espero que aceite um encontro em um lugar mais privativo, como seu apartamento. O que acha? — ofertei. Era estranho oferecer um encontro em seu próprio apartamento, mas era o que teríamos, caso quiséssemos realmente algo... Realmente nos conhecermos melhor.
Alex não precisou ponderar muito.
— Por mim tudo bem! Está com fome? — Sua oferta seguinte foi melhor que a minha.
Antes que percebêssemos, estávamos procurando telefones de restaurantes que faziam entregas de comida. Um pouco mais de quinze minutos depois acabávamos de pedir comida chinesa e aguardávamos ansiosamente. Eu estava ligeiramente faminta e ansiosa para que a comida chegasse.
Entretanto, o tempo até que a mesma chegasse era grande. Eu e Alex estávamos sentados no sofá de sua sala. O apartamento de meu vizinho parecia um pouco menor que o nosso, talvez com menos móveis e objetos. Elizabeth sempre foi exagerada com decoração, por isso fazia questão de colocar quadros nas paredes, porta-retratos espalhados por cada cômodo e até mesmo vasos com flores.
Inconscientemente comecei a notar os detalhes. A televisão de tela plana foi à primeira coisa que notei. Ela era gigante e ocupava um espaço enorme na parede. Além dela, apenas o sofá constituía na decoração da sala. A cozinha também dividia o ambiente com uma bancada de granito. A mesma não tinha muitos detalhes, além de paredes azuis e móveis — como armários e mesa — pretos. Aquele era o ambiente que nos encontrávamos e para o meu desgosto, não tinha muito o que se olhar.
Alexander notou meu olhar distraído. Ele batucava nervosamente no estofado do sofá de couro escuro, fingindo encarar o noticiário que era exibido na televisão. Eu desejei iniciar alguma conversa, mas não conseguia pensar em nenhum assunto específico. Para a minha sorte, notei uma quantidade absurda de capas de DVD's espalhadas pelo chão, todos amontoados em pilhas bem organizadas.
— Todos esses são jogos? — Apontei indicando o amontoado de DVD's. Alex observou a minha indicação.
— A grande maioria sim, mas alguns são filmes. — Caramba, pensei, eu nunca tinha visto uma coleção tão grande como aquela. Hoje em dia pouquíssimas pessoas faziam uso de DVD's para assistir filme ou jogar jogos. Para ter acesso a tudo isso podíamos facilmente acessar uma rede de streaming ou baixar o aplicativo do jogo no celular ou notebook. Estava espantada e admirada pela sua coleção. — O que acha de assistirmos um filme?
Adorei a proposta de Alex, mas acabei tendo uma ideia melhor.
— O que acha de jogarmos um jogo? — Alex olhou-me admirado, surpreso pela minha ideia. — Você não tinha criado um jogo? Será que eu posso jogar? Não sou muito boa com jogos, mas prometo que aprendo rápido.
Alex concordou com a ideia e começou a preparar as coisas para o jogo. Me entregou um dos controles do videogame e informou sobre a função de cada um dos botões, o qual prestei bastante atenção em suas orientações. Enquanto iniciava o jogo na televisão de tela plana, comentou:
— Nós estamos levando esse jogo para a realidade virtual, mas tem se popularizado bastante em computadores. Muitos jogadores têm comprado o jogo e indicado para outros. — Fiquei maravilhada com o sucesso do meu vizinho. Até mesmo me sentia orgulhosa de seu feito.
— E esse é aquele jogo de zumbi que você falou?
— É sim, por quê? Tem medo de zumbis? — caçoou ele. Balancei a mão, como se descartasse a ideia estúpida.
— Se vivêssemos em um apocalipse zumbi, certamente eu seria a maior assassina de zumbis do mundo. — Alex riu em reação ao meu comentário. Revirei os olhos com desdém por sua dúvida. — Vou provar pra você!
Ele gostou da minha afronta e iniciou o jogo. Focalizei na tela e comecei apertar nos botões do controle como foi orientado a mim. O jogo era basicamente matar os zumbis, conseguir suprimentos, encontrar sobreviventes e obter um lugar pra morar — que fosse seguro.
Eu gostaria de dizer que estava me saindo bem, entretanto, Alex tinha muito mais experiência do que eu nisso. Eu e ele competíamos lado a lado, cada um em seu lado da tela. Seu desempenho era muito melhor do que o meu. Eu poderia até mesmo ter passado de fase, se infelizmente não tivesse sido mordida por um zumbi. No instante que isso aconteceu, o meu lado da tela escureceu e uma palavra surgiu: ''Fim''.
— Ah, não! — reclamei. Eu odiava perder.
— Eu acho que não tem como ser a maior assassina de zumbis se estiver morta, ou melhor, se tiver virado um zumbi — brincou Alex. Lancei um olhar mortal a ele pela ousadia de seu comentário. Ele ergueu as mãos em redenção, exibindo um sorriso largo em seu rosto por ter vencido o jogo. Para a sorte dele a campainha tocou, indicando que o nosso pedido finalmente havia chegado. — Vou buscar!
Alex se levantou do sofá e foi atender a porta. Enquanto o olhava se distanciar, acabei esquecendo de pedir para dividirmos a conta. Talvez porque eu estava surpresa com o fato de que mesmo usando um conjunto de moletom, ele conseguia permanecer atraente. Como era possível? Eu usava moletom e parecia uma sem teto. Ou melhor, eu usava qualquer coisa e mesmo assim parecia estar desleixada.
Apesar de já tê-lo visto sem camisa — era difícil de esquecer tal imagem —, Alex ainda causava reações inexplicáveis em mim. Fosse a minha mente, como em meu corpo. A noite estava levemente fria, e o apartamento não estava tão abafado, mas sua presença deixava meu corpo quente. Eu esperava que fosse apenas uma febre, mas se fosse outra coisa... Bem, talvez essa noite eu não fosse capaz de me controlar.
Ele retornou e me chamou para jantarmos na cozinha, mas quando eu o chamei para uma revanche, Alex espalhou todas as caixas de comida do restaurante chinês no carpete e nos preparamos para mais uma fase.
É claro que perdi essa. Mas foi divertido ficar comendo, jogando e conversando. Nós não falávamos sobre assuntos pessoais, e sim preferíamos jogar conversa fora sobre assuntos aleatórios.
Enquanto eu terminava minha terceira caixinha de yakisoba, Alex comentava embasbacado:
— Realmente, eu estava certo quando disse que você comia muito. — Fiz cara feia para seu comentário desagradável, que ele amenizou com um sorriso. — Mas essa é uma característica que aprecio em uma garota... Uma garota que gosta de comer tanto quanto eu. — Tentei evitar rir, pois estava com a boca cheia.
— Alguns homens raramente consideram essa uma característica boa, afinal, pode ser ruim para o bolso deles. — Alex deu de ombros, demonstrando que não concordava com a minha opinião.
— Eu não sou como os outros homens — disse ele. Seu comentário causou um efeito estranho em mim. A voz dele soou diferente, mais baixa e grave. Mais sedutora. Como se deixasse bem evidente de que não era um homem idiota ou infantil — como muitos são — e sim completamente diferente. Eu gostaria de saber o quão diferente ele era, pensei.
— Percebi — sussurrei, pensativa. Terminei de comer o macarrão e me sentia completamente cheia. Até cogitei em arrotar, mas supus que seria demais para Alex, ainda mais em um primeiro encontro.
— Melissa — chamou-me. Quando o olhei, percebi que o assunto a seguir não seria o meu favorito. Mesmo assim balancei a cabeça, permitindo que continuasse. — Por que alguém como Sebastian Johnson quis ter um relacionamento falso? — Alex explanou sua dúvida, que provavelmente o incomodava desde o momento que contei a verdade. — Ainda mais com você... – Ele notou minha expressão de confusão por seu último comentário e se corrigiu: — Quero dizer, ele poderia escolher qualquer mulher, mas por que logo você? Eu me sinto um pouco chateado, porque foi logo no momento que começamos a nos dar bem.
— Saiba que eu fiquei tão confusa quanto você quando recebi essa proposta... — Enfatizei a última palavra com mais ironia e continuei: — Gostaria que fosse outra pessoa em meu lugar, mas foi como ele disse: comigo ele não precisa pagar nada. Creio que por isso fui à escolhida.
Fiz uma careta ao terminar a resposta. Alex deu um pequeno sorriso, não necessariamente de alegria, mas talvez por não souber como reagir.
— E quanto tempo você vai ter que permanecer com esse fingimento? — perguntou ele, ainda demonstrando curiosidade. Cocei a cabeça, sem jeito, insatisfeita ao relembrar o contrato que assinei sem sequer ler. Argh, eu realmente era uma burra!
— Quatro meses — murmurei, abaixando o rosto e olhando distraidamente os hashis fincados no meio do yakisoba.
Alex não me respondeu imediatamente. Permaneceu em silêncio por alguns segundos, até novamente voltar a me encarar. Dessa vez, seu olhar estava diferente. Recaiu sobre mim com mais atenção, talvez até mesmo com mais urgência. Eu não era nenhuma adivinha para conseguir ler olhares, mas tive a impressão que ele estava tentando me dizer algo, sem emitir nenhum som.
— Eu posso esperar esses quatro meses até que você esteja completamente livre... Se quiser. — Seu olhar ardente percorreu meu rosto e desceu até meu pescoço e clavícula expostos. Engoli em seco, tentando interpretar suas palavras.
Em momentos como aquele meu cérebro dava pane. Eu não soube qual resposta dar, por isso decidi mudar completamente de assunto.
— Bem, eu já estou cheia, o que acha de fazermos algo completamente diferente...? — Minha oferta chamou sua atenção, mas tive a impressão de que a interpretou de modo errado. Me corrigi: — Que tal assistirmos um filme?
— Ah! — Alex balançou a cabeça em afirmativa e começou a recolher as embalagens de comida. Tentei ajudá-lo, mas ele recusou e se levantou, afastando-se para cozinha. Por um momento pude julgar que ele estava corado. Teria sido minha imaginação? — Você pode ir escolhendo um filme enquanto eu limpo as coisas!
Não havia nada para limpar, percebi, mas preferi concordar com seu termo. Talvez o ambiente quente estivesse levando-nos a agir de modo inconsequente ou a interpretar nossas palavras de maneira errada.
Alexander retornou, e dessa vez nos sentamos confortavelmente no sofá. Contudo, cada um estava sentado em uma ponta diferente do mesmo, bem distante um do outro. Eu escolhi um filme de ação, que Alex concordou prontamente a assistir. E para atiçar meu nervosismo, ele apagou as luzes, deixando apenas a luminosidade da televisão iluminando o ambiente.
Era em momentos como aquele que eu ficava ligeiramente tensa. Era óbvio que eu não prestei muita atenção no filme. Tive a impressão que minha respiração havia ficado mais pesada e ruidosa, incomodando o ambiente silencioso. Mas como tomei uma boa decisão ao escolher um filme de ação, essa preocupação foi descartada quando as lutas, explosões e tiros tomaram conta, desfazendo o silêncio.
Mas uma coisa que eu gostaria de dizer a você, se um dia for ao primeiro encontro e escolher um filme — de qualquer tipo! — para assistir, por favor, olhe a porcaria da faixa etária! Porque, infelizmente, nem sempre que o filme for +18, significa que apenas terá cena de mortes e violência, mas sim — para complicar tudo — nudez e cenas de sexo. E quando você assiste algo assim com alguém que acabou de conhecer e talvez — só talvez — você se imagine fazendo o mesmo com essa pessoa... Bem, a situação fica constrangedora.
As coisas estavam fluindo legal. Mesmo sem estar completamente concentrada no filme, conseguia compreender o que estava acontecendo. Volta e meia olhava rapidamente para Alex, apenas para ver sua reação. Ele se encontrava com o sorriso no rosto, aparentando estar gostando do filme. Gostaria de estar fazendo mesmo, ficando mais tranquila. Contudo, por que minha mente não me deixava em paz?
O tempo inteiro meus pensamentos me levavam ao fim de semana com Alex, em nossos momentos juntos. Quando quase nos beijamos na roda gigante, quando dividimos a mesma cama e senti um anjo beijando minha testa — só poderia ser ele! — e nosso beijo diante de todos os amigos e de seus pais na festa de aniversário da sra. Hall. Na verdade, eu estava pensando especificamente em seu beijo e, talvez, nele sem camisa.
Meu coração, para meu desagrado, batia animadamente em meu peito. Ansioso somente por imaginar aqueles momentos se repetindo.
Certo, talvez eu quisesse que repetisse, mas talvez eu estivesse com receio dos pensamentos que ele teria sobre mim. E se me achasse muito oferecida? Se tirasse conclusões precipitadas sobre mim? E a questão principal: E se não desse certo?
Eu não queria apressar as coisas, ou já deixar a nossa relação séria. Talvez devêssemos dar um passo de cada vez — passos de tartaruga, preferencialmente.
Ainda pensando a respeito disso, me recordei da promessa de terminar a noite com um beijo. Eu queria isso. Queria provar do sabor dos lábios de Alex. Queria saber em mais detalhes o quão macio eles eram... E o quão bom era ser beijada por ele.
Mas foi como eu disse: não recomendo assistir cenas de sexo no seu primeiro encontro. Pelo menos se não espera o que aconteceu entre mim e Alex aconteça. Todavia, se não importa com isso, vá com tudo! Assista o que quiser! Tome a iniciativa!
Eu já estava nervosa quando os últimos vinte minutos do filme rodavam. E pra piorar, o casal principal começou a se beijar. Aparentemente eles estavam se despedindo, já que colocariam a vida um do outro em risco no dia seguinte para o último embate contra o vilão — que eu não fazia ideia de quem era. Só tinha uma plena noção de que era isso o que estava sendo retratado no filme. Até que o homem e a mulher começaram a ficar nus e... Você sabe o que aconteceu.
Eu desviei meu olhar por autopreservação — não que eu fosse a pessoa mais inocente do mundo, o contrário disso —, mas não consegui fazer isso por muito tempo. Precisava saber como Alex estava reagindo em relação a àquela cena. Lancei um olhar de canto, esperando encontrá-lo encarando a tela da televisão. Contudo, encontrei-o me encarando diretamente, sem sequer disfarçar.
Engoli em seco nervosamente e tentei desviar meus olhos; mas falhei miseravelmente. Seu olhar me prendeu, impossibilitando-me de fugir, de olhar para qualquer outro lugar. Minhas mãos começaram a suar, e fiz questão de secá-las no jeans da minha calça.
Alex estendeu a mão direita, colocando-a no centro do sofá, bem mais próxima de mim. Fiz o mesmo movimento, bem mais sinuoso e lento. Finalmente encontrei sua mão e senti o calor de seus dedos. Ele estava tão quente quanto eu... Imaginei que o motivo fosse o conjunto de moletom grosso que usava e precisava urgentemente retirar.
Saiba que não pensei racionalmente naquele momento, e muito menos queria. Antes que eu percebesse, Alex puxou-me para ele, fazendo nossos corpos se aproximarem. E assim, sem pensar muito, uni nossos lábios um contra o outro.
As coisas aconteceram bem rápido — não que eu não gostasse, porque eu estava adorando! Alex subiu com sua mão direita pelo meu braço até minha nuca, puxando-me com mais firmeza contra si. Como eu não queria me sentir desconfortável ao permanecer sentada no sofá, não hesitei em subir no seu colo. Ele gemeu contra os meus lábios no instante em que me sentei em suas pernas. Se era possível ficarmos mais próximos, bem, Alex tentou insistentemente.
Os lábios dele eram deliciosamente macios, mas igualmente firmes. Ele não demorou-se para explorar minha boca. Sua língua acariciou meu lábio inferior, tentando-me ousadamente. Levei minhas duas mãos para seu pescoço e mantive seus lábios contra os meus, desejando de forma alguma nos separar. E ele aprovou.
Entretanto, as coisas não poderiam permanecer somente em beijos. Ousadamente sua mão, antes livre, percorreu minhas costas até se apoiar em minha cintura. Ela parou por ali durante alguns segundos, mas depois permaneceu descendo até chegar em minhas nádegas. Eu arfei contra seus lábios quando senti seu toque indecente. Fiz questão de também explorá-lo com as mãos, ainda mantendo nossas bocas unidas. Volta e meia nos afastávamos brevemente, apenas para recuperar o ar que fugia de nossos pulmões.
Eu e Alex esperamos por aquele momento durante muito tempo. Era bom saber que eu não era a única a ter sonhado com aquilo e imaginado diversas vezes — e diversos modos — acontecer.
Minhas mãos passaram pelos seus braços fortes, que me seguravam com firmeza, e escorregaram até a barra de seu moletom. Sem pensar muito, puxei-o sobre sua cabeça, fazendo Alex retirar suas mãos de mim para erguer os braços. Para a minha infelicidade ele usava uma camisa por baixo do moletom, mas que também não demorei em arrancar.
Agora eu me sentia completamente satisfeita ao visualizar seu peito despido, além dos músculos bem esculpidos na sua pele negra. A luminosidade da televisão ainda iluminava fracamente o ambiente, por isso consegui ver o semblante de Alex. Ele me encarava, observando o meu olhar desejoso vagando pelo seu corpo. Eu o queria, muito. Mas talvez aquele não fosse o momento certo. Mesmo assim, não parei de cobiçá-lo. Talvez o desejo ardente que sentia por ele estivesse controlando meu corpo. E deixei que controlasse.
Alex tentou também retirar uma peça de roupa minha, mas o impedi, retirando suas mãos da barra de minha camiseta. Voltei a trazer seu rosto contra o meu e uni nossos lábios novamente. Dessa vez, entretanto, perdi o controle que tinha. Alex me segurou pelas coxas e me deitou no sofá. Quando percebi, eu já estava deitada embaixo dele. Isso só deixou minha respiração ofegante e meu corpo mais acalorado.
Como Alex era grande, seu corpo me cobriu por completo e seu peitoral encostou-se nos meus seios — ainda cobertos pela blusa. Se eu já estava excitada antes, agora tinha ficado mais atiçada por aquele contato. Envolvi minhas pernas em torno de seus quadris e o puxei mais contra mim. Alex — que estava se apoiando no sofá com o braço para não me esmagar — vacilou, caindo sobre mim. Soltei um gritinho surpresa, que o deixou preocupado. Ele se afastou e me olhou aflito, procurando algum machucado inexistente.
Agora suas duas mãos estavam em meu rosto, olhando-me com doçura e desejo.
— Eu estou bem — sussurrei, tentando trazê-lo de volta para mim. Alex se afastou gentilmente do meu toque e perguntou:
— Você tem certeza?
Tive que engolir em seco novamente. Nunca alguém foi tão direto assim comigo. Ele parecia preocupado, até receoso para o próximo passo.
Em nenhum momento tentei demonstrar, mas era óbvio que a mesma insegurança que tive ao estar com Tom Flanagan, também estava me perturbando ali. Ela parecia pequena em comparação a antes. Mas se Alex desse o passo seguinte, talvez eu entrasse em desespero e fugisse.
— É tão óbvio? — sussurrei a pergunta, e obtive a resposta com breve aceno de cabeça.
Alex se levantou, me ajudando a ficar sentada. Ele repetiu a ação, ficando ao meu lado. Estávamos próximos e ele sem camisa, mas dessa vez olhávamos nos olhos.
— Tem algo te incomodando? — Não queria respondê-lo, mas as coisas não fluiriam se eu não contasse a verdade.
— Sempre quando chego nesse momento, eu simplesmente travo... Eu tenho a iniciativa, mas não consigo ir até o passo seguinte... Que você sabe qual é — resmunguei a última frase, sentindo meu rosto esquentar ligeiramente.
— Suas experiências com... — Alexander pigarreou antes de continuar: — Sexo não foram muito boas?
A resposta era óbvia, mas respondi:
— Minha única experiência sexual não foi muito boa... Ou seja, não tenho experiência nenhuma. — Soltei um riso nervoso, abaixando o rosto e permitindo que meu cabelo o escondesse. Todavia, Alex fez questão de retirar a cortina de fios da minha face e olhar diretamente em meus olhos.
— É justificável sua atitude. Posso não parecer, mas também me sinto muito inseguro, principalmente quando estou com você. — Juntei minhas sobrancelhas, ainda sem entender o que ele estava tentando dizer. — Quando estou com você, sei o que quero fazer, falar ou agir de alguma maneira, mas não sei como. Tenho receio de que talvez você me ache estranho, desaprove e prefira se distanciar de mim.
— Tolice, eu jamais faria isso — afirmei.
— E eu jamais a julgaria por não ter experiência alguma... Quero dizer, nós podemos ter a experiência juntos — disse ele.
Eu tentei não soltar meu gritinho de constrangimento, por isso abaixei a cabeça e escondi meu rosto com as mãos.
— Infelizmente não posso dizer que essa foi à proposta mais louca que já recebi — comentei, minha voz soando abafada. Tentei controlar o riso, mas não consegui. Levantei a cabeça novamente e me deparei com o falso olhar chateado de Alex. — Mas não é uma má ideia.
— O que acha de tentarmos novamente amanhã? — Seu questionamento só me causou diversão. — Vamos mais devagar, juro. E sem um filme como esse, claro.
Alex indicou a televisão, onde os créditos finais estavam sendo exibidos.
— Talvez devêssemos ir com mais calma — brinquei, mas falando sério. — Se Elizabeth me ver saindo todos os dias, ela pode ficar chateada. Que tal nesse fim de semana? Podemos pedir comida indiana.
— Ótima ideia!
Gostei da ação de Alexander. Não que eu esperava que agisse diferente. Vindo de Alex, com a criação que ele tinha, podia esperar sempre uma atitude gentil e respeitosa. Eu queria tanto quanto ele que chegássemos ao próximo passo, que finalmente ele retirasse a porcaria da minha blusa e as outras peças de roupas.
Eu não me sentia insegura somente pela minha pouca experiência sexual, mas era óbvio que minha aparência continuava sendo um empecilho. Ainda mais depois das palavras duras e insensíveis que ouvi após o momento mais íntimo que tive na vida. Mesmo que eu me vestisse com as roupas mais caras, cobrisse meu rosto com a maquiagem mais bonita... Quando eu tirasse todas as peças, encontraria um corpo fora do padrão perfeito de beleza. E isso me incomodava. Sempre me incomodou durante a infância e adolescência inteira. Por isso nenhum garoto me chamou para sair — sem segundas intenções —, por isso nunca consegui nenhum namorado durante o ensino médio. Eu não era a garota feia, muito menos a bonita. Eu era o meio termo, eu estava ali, mas não importava.
Sendo assim, meu medo era ficar completamente despida na frente de Alex e não saber seus pensamentos sobre mim. E se ele ficasse decepcionado quando me visse realmente?
— Bem, é melhor eu ir embora agora — falei, me levantando e recolhendo meus pertences. Alex me acompanhou até a porta.
— Posso continuar te enviando mensagens? — Balancei a cabeça em afirmação. Eu esperaria ansiosamente por isso.
Virei-me para abrir a porta, mas antes Alex me segurou. Trouxe-me para perto novamente. Nossos rostos ficaram a centímetros de distância, seus lábios roçaram com leveza os meus. Voltei a ficar ofegante. A mistura de desejo e insegurança era complexa. Uma parte minha o queria tanto quanto qualquer coisa e a outra só desejava ir até certo nível.
Para minha felicidade recebi o beijo que almejei para o final do nosso encontro. Nossos lábios se moveram em sincronia, acalentando um ao outro. Eu soube pelo seu beijo que ele queria a mim, assim como eu o queria. Mas assim como Tom Flanangan — eu não queria pensar nele, mas ele sempre surgia em momentos inoportunos em minha mente —, Alex decidiu respeitar minhas inseguranças e esperar pelo momento certo.
Afastamo-nos e finalmente parti, saindo para o corredor. Ele só fechou aporta quando eu adentrei em meu apartamento.
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