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18

Fui para o meu quarto e comecei a procurar por uma pequena mala que tinha. Encontrei-a e fui até meu armário de roupas, vasculhar a procura de algo adequado para se usar com... Meus falsos sogros. Caramba! Eu seria namorada do meu vizinho por um fim de semana! Com certeza agora eu me sentia em algum tipo de comédia romântica!

Ri de forma alta e clara, rodando pelo meu quarto com um conjunto de pijamas adequados. Deixei o de unicórnio longe do meu alcance e escolhi um com desenhos de morangos e outro de coruja. Parecia infantil, mas ninguém me veria com eles, então não me importei.

Um fato importante sobre mim era que sempre gostei de tudo que tivesse estampa. Por isso, qualquer que fosse a roupa, desde que ela tivesse uma estampa criativa, divertida e bonita, com certeza iria comprá-la. Lilly sempre disse que meu guarda-roupa parecia com o de uma adolescente, mas não podia retrucá-la, já que era verdade. Ela já persistiu em me arranjar vestes mais adultas e profissionais, mas nunca precisei, já que tinha o uniforme do trabalho.

Enquanto fazia uma mala pequena somente com o essencial, comecei a pensar em como iria contar sobre uma viagem com nosso vizinho para Lilly. Ela provavelmente brigaria comigo e arranjaria um jeito de impedir. Bem, eu esperava que ela agisse de forma completamente contrária. Não mudaria minha decisão e iria com Alex para Filadélfia. Seria apenas um fim de semana e como estava desempregada, não teria nenhum compromisso.

Terminei de ajeitar minhas coisas e fui procurar algo para comer. Tinha me antecipado consideravelmente, mas estava super ansiosa para fingir ser namorada de Alexander Hall. Comecei a me deleitar, enquanto preparava um sanduíche e jogava-me sobre o sofá para assistir um episódio de Good Girls.

Alex era um cara perfeito, pelo menos no quesito aparência. O pouco que tinha conhecido dele me fez ter a impressão de ser um rapaz muito educado e atraente. Ele tinha uma malícia no olhar, um sorriso divertido e covinhas adoráveis. Você poderia ter diversos pensamentos sobre ele, desde puros a impuros. E pensar que eu fingiria ser sua namorada por um fim de semana me deixava sem fôlego!

O resto do dia se arrastou de forma considerável. Lavei algumas roupas, aspirei ao chão, lavei algumas louças — que me fez lembrar de outro alguém — e limpei meu quarto. Meus livros estavam desorganizados, então fiz questão de arrumá-los por tamanho. Também organizei minhas roupas, calçados e bolsas. Joguei muito lixo fora, de coisas que eu não fazia ideia de como tinham ido parar ali. Tive que assumir a mim mesma que eu era uma pessoa desorganizada.

O apartamento ficou razoavelmente limpo. A sala e a cozinha eram pequenas, então não tinha muita coisa para arrumar. Somente uma bancada dividia a cozinha da sala. O sofá ocupava grande parte do ambiente, sendo de um vermelho escuro. A televisão era de tamanho médio e do estilo que ficava acoplada na parede. Eu gostava dos tijolos vermelhos que tinham naqueles ambientes. Era rústico, mas estiloso. Eu considerava vintage, já que soava mais divertido e interessante.

O chão era de um taco escuro, bem antigo. Manter aquilo encerado era um sacrifício, então deixava essa função para Lilly que era mais detalhista. A cozinha também tinha detalhes em vermelho, como a bancada e os bancos, as paredes de ladrilho. Eu não gostava dessa cor, mas fez a alegria da minha amiga, então não me importei tanto.

De forma geral, nosso apartamento não era nada chique. Não era como o loft que o Daniel Humphrey de Gossip Girl morava, apesar de pequeno, era bem decorado. O tapete da sala tinha sido um presente da mãe de Lilly, o abajur de canto eu encontrei em uma venda de garagem com um super desconto, junto a mesinha de centro. Em todo o lugar que tinha alguma promoção eu estava, quando havia dinheiro.

Nosso apartamento foi decorado com nossas economias e achados. Lilly e eu sonhávamos em morar em um apartamento maior que o nosso, mas em Manhattan, com uma boa vista para algum dos rios e a oportunidade de decidirmos toda a decoração. Contudo, era um sonho bem alto, mas talvez fácil de se concretizar para Lilly.

Com minha falta de emprego, comecei a pensar sobre o que poderia fazer. No restaurante eu tinha certa segurança e acreditava que um dia poderia subir de cargo, mesmo que fosse o de garçonete. Todavia, agora eu estava desempregada dos meus dois antigos empregos. Tinha dito a mim mesma que jamais retornaria para o restaurante Flanagan Garden, mas temia que a necessidade poderia me convencer a fazer.

Ficar sem dinheiro, dependendo de Lilly, sentindo o gosto amargo da vergonha, tudo isso seria demais para suportar. Após esse fim de semana com Alex, eu retornaria para o Brooklyn e sairia com urgência em busca de um emprego. Esperava ter sorte e conseguir encontrar com rapidez.

Entretanto, não conseguia tirar a súplica do sr. Flanagan de minha mente. Voltar a trabalhar em seu restaurante, com uma nova função e ganhando bem mais era algo tentador. Quase aceitei, mas consegui manter a racionalidade.

E eu também gostaria de tê-lo na palma da minha mão. Lembrei-me de sua suplicação, seu olhar, seus lábios... Pelo menos ele tinha isso de positivo... Beijar bem, pensei, além de outras coisas. Argh! Eu deveria parar de perder meu tempo e gastar meus neurônios ao ficar pensando em Tom Flanagan. Ele tinha-me desestruturado e humilhado... Como seria bom fazer o mesmo com ele...

Ouvi a porta de entrada se abrindo e Lilly adentrando. Fui em sua direção com o intuito de recebê-la e mostrar que havia retirado a tala. Minha amiga parecia absorta em pensamentos, mas ficou muito feliz em saber que eu finalmente estava livre daquela coisa.

— Nada mais de tombos, ok? — Ri em reação ao seu comentário. Neguei com a cabeça, esperando que aquilo não se repetisse novamente.

Lilly foi em direção à cozinha e a segui. Ela percebeu meu movimento e olhou-me com desconfiança.

— Tem algo a me dizer? — questionou ela, com os olhos semicerrados.

Como eu poderia contar a ela? Temia que Lilly me julgasse precipitadamente e até mesmo me obrigasse a mudar de ideia. Eu tinha aceitado o pedido de Alex e seria apenas um favor, não haveria mais nada além disso.

— Talvez eu tenha... — murmurei, escorando meu quadril na bancada da cozinha. Ela permaneceu com o olhar atento sobre mim.

— Diga — insistiu ela enquanto tomava um gole de água. Respirei fundo, preparando me para soltar as próximas palavras.

— Eu vou viajar nesse fim de semana com o nosso vizinho Alex — falei de forma tão rápida que quase não compreendi o que havia dito, mas Lilly entendeu.

— Alex? Alexander Hall, o nosso vizinho? — Balancei a cabeça em afirmação. Lilly cruzou os braços e permaneceu com o mesmo olhar. — E para onde vocês vão?

— Vamos para Filadélfia — respondi.

— Filadélfia? Fazer exatamente o quê? – indagou.

Uma coisa que todos poderiam notar a respeito de Lilly era seu jeito protetor. Tinha momentos que ela agia como uma mãe, como naquele instante. Eu também não poderia negar que entre nós duas, ela com certeza era a mais responsável.

— Vamos visitar os pais dele. — Lilly soltou uma risada, incapaz de acreditar no que eu havia dito. Logo em seguida lançou um olhar interrogatório para mim. — Ele me pediu um favor e por isso irei com ele, amanhã cedo.

— Você está pedindo permissão? — questionou minha amiga. Cruzei os braços e mordi o interior da minha bochecha.

— Não, estou apenas te informando. — Ela esfregou os lábios uns nos outros, ainda refletindo.

— Então, mesmo que eu diga para não ir, você vai? — Assenti em resposta para sua pergunta. — Melissa, você confia nele?

— Lilly, ele apenas me chamou para fingir ser... A namorada dele por um fim de semana. Eu não acho que requeira confiança, mas ele também nunca fez nada para eu duvidar dele — retruquei, encasquetada para onde estava indo nossa conversa.

— Bem, é justamente isso! Ele nunca fez algo pra você duvidar, mas também nada para confiar! — Lilly sempre duvidava de todos, mantendo um pé atrás para qualquer pessoa nova que surgisse em nossas vidas.

— Não se preocupe, irei mantê-la informada a cada passo que der por àquela cidade. Desde o momento que sair por esta porta, durante toda a viagem e após retornar. — Percebi Lilly ficar um pouco aliviada, mas ainda não totalmente satisfeita.

— Você promete? — Lilly se aproximou de mim com o típico olhar preocupado.

— Prometo — resmunguei, um pouco insatisfeita por ter que dar satisfação o tempo inteiro.

Minha amiga me abraçou fortemente por alguns segundos, demonstrando todo carinho e preocupação.

— Que tal agora pedirmos uma pizza? — indaguei, com o olhar pidão.

Lilly riu e aceitou. Liguei para pedir a pizza e deixei que ela fosse tomar um banho e descansar. Após a pizza ter chegado, nos alimentado e estarmos jogadas no sofá da sala, ela me fez contar tudo desde o começo sobre fingir ser a namorada do nosso vizinho por um fim de semana.

Acordei bem cedo no dia seguinte. Estava completamente ansiosa pelo o que viria a seguir nos próximos dias ou horas. Fiz uma última verificação em minhas coisas, para ver se não teria esquecido de nada. Tomei um banho demorado, escovei o cabelo e terminei de ajeitar minha necessaire e a guardei na bolsa de viagem.

Terminei de me arrumar, vestindo uma calça jeans escura, uma blusa preta de mangas compridas e um tradicional e confortável par de tênis. Não me maquiei, já que não tinha o costume. Peguei um casaco e o vesti antes de sair. Verifiquei o resto do apartamento, desliguei as coisas, peguei a mala e saí. Fechei a porta, trancando-a.

Mais cedo tive a oportunidade de falar com Lilly. Tive que escutar todo o seu discurso, sobre tomar cuidado, não ir para lugares estranhos, não beber e fumar, ou usar drogas. Permaneci calada durante o tempo todo que tagarelou. Sabia que ela ficava aflita ao me ter distante de casa, mas aquilo só me deixou mais nervosa. Depois disso nos despedimos e confirmei que a avisaria assim que chegasse na Filadélfia.

Por outro lado, meu vizinho já estava preparado e a minha espera. Ele carregava uma mochila grande e me senti um pouco exagerada com a minha bolsa de mão. Contudo, esqueci do meu exagero ao receber seu belo sorriso de bom dia.

— Eu já chamei o táxi para irmos à rodoviária — informou ele, logo após meu surgimento. Assenti e o acompanhei para fora do prédio.

Pegamos o táxi e cerca de 30 minutos depois havíamos chegado à rodoviária. Eu e Alex falamos pouco a princípio. Eu me sentia sem jeito em iniciar uma conversa com ele, mas também sabia que iriamos ficar sentados lado a lado por duas horas. E fingir sermos namorados por um fim de semana inteiro. Àquele pensamento fez um arrepio subir por minha espinha. Qualquer mulher gostaria de fingir ser namorada de Alexander Hall. Ele tinha demonstrado ser uma pessoa muito gentil e educado, contudo, após toda a preocupação de Lilly comecei a ficar encabulada. Disse a mim mesma para retirar tal pensamento da cabeça e seguir em frente. Já havia concordado, então não poderia voltar atrás.

Alex e eu adentramos o ônibus e percebi que fazia um longo tempo que não viajava daquela maneira. Tentei colocar em minha cabeça que seria como uma aventura. Ele indicou a poltrona do lado da janela para mim e hesitei. O número da minha poltrona era o do corredor.

— Pode se sentar perto da janela, é o mínimo que devo fazer. Tenho que certeza que vai querer admirar a vista durante a viagem. — Notei um meio sorriso em seu belo rosto e concordei, enfiando minha mala no compartimento de cima e sentando na poltrona logo em seguida. Afivelei o cinto e olhei as outras pessoas do lado de fora.

Alex sentou-se ao meu lado e finalmente notei o quão próximos ficaríamos durante a viagem e talvez durante todo o fim de semana. Com certeza eu não iria me concentrar na paisagem do lado de fora do ônibus, não quando se tinha alguém como ele ao meu lado. Senti seu perfume forte e confortável, nada do tipo que impregnava e fazia franzir o nariz.

— Serão apenas duas horas, então acho que vai passar rápido, certo? — indagou ele, mas sua voz soou com insegurança.

Assenti e voltei-me para ele.

— Qual é o seu plano? — questionei, já pensando em como iria atuar ao encontrar os pais de Alex.

— E se eu te disser que não tenho?

— Então, estamos ferrados. — Ele soltou uma risada nervosa e passou a mão pelo cabelo, frustrado.

— Me fale um pouco sobre eles, pra me preparar melhor. — Alex voltou-se para mim e abriu um sorriso amável. Mordi o canto dos lábios, nervosa com seu olhar sobre mim.

— Bem, prepare-se, pois é muita coisa que você deve saber sobre eles. — Sorri de volta, demonstrando estar preparada.

Alex sentou-se confortavelmente na poltrona, afivelou o cinto e apoiou a cabeça no estofado. Olhei de soslaio para ele, aguardando para ouvir sua voz soar durante as próximas duas horas. Eu adoraria ouvi-lo por um longo tempo, conhecer sobre ele e sua família.

E assim tive a oportunidade de conhecer Nora e Jordan, seus pais, e mais sobre Alex, filho único.

Não vi o tempo passar. Também não tirei meus olhos do rosto de Alex. Passei grande parte da viagem observando suas feições, em como movia os lábios, arqueava as sobrancelhas, sorria constantemente ao falar dos próprios pais. Senti sua euforia e ansiedade para reencontrá-los, mesmo eles não sendo nada meus. Ainda, pensei, contendo o sorriso bobo.

Alex me contou que seus pais eram bastante conservadores, por isso acreditavam que o filho um dia teria que se casar e ter filhos, voltar para Filadélfia e passar o resto da vida por lá. Já ele pensava o contrário e, sendo assim, decidiu se mudar para o Brooklyn e tentar levar a vida em um lugar diferente e maior, com mais oportunidades.

Ele tinha se formado em Design de Jogos — isso me deixou muito surpresa, — e havia criado um jogo há pouco tempo. Por isso, gravava vídeos para o Youtube tentando promover seu jogo e a si mesmo. Trabalhava em um flete com outros amigos, administrando a recente empresa que criaram juntos, tentando ganhar a vida e um dia fazer sucesso. Fiquei maravilhada por essa parte que não conhecia dele. Em como seus olhos brilhavam quando falava sobre o que gostava.

Percebi o quão jovem ele era. Não contive minha curiosidade e questionei sua idade. Alex tinha apenas 26 anos de idade. Isso só me deixou mais surpresa. Às vezes ele aparentava ser mais velho, talvez por parecer muito fechado no início. Todavia, enquanto conversava com ele — ou apenas o ouvia falar — percebi que poderia ser mais novo, até mesmo parecia ser.

Ele continuou a falar, contando sobre os pais — que tentei guardar o máximo de informação sobre. Nora, sua mãe, era uma mulher que amava cozinhar. Engravidou muito jovem, saindo do emprego de ascensorista que tinha em um banco. Ela mesma havia feito todas as roupas de recém-nascido de Alex, pois amava costurar. Por causa disso, continuou costurando e trabalhava com isso, mas sempre dentro de casa. Já Jordan, seu pai, trabalhou grande parte de sua vida como segurança de um shopping. Criou Alex a rédea curta, mantendo-o dentro da linha, impedindo que se envolvesse com maus exemplos de pessoas e fosse para o caminho errado.

Meu namorado falso falava com muito carinho do pai e não se sentia amargurado por ter sido impedido de sair para festas durante a adolescência. Ele sabia que era para o próprio bem, já que, como um rapaz negro, as coisas não eram simples e fáceis. Não tinha tantas oportunidades quanto os outros garotos brancos da escola pública.

Fiquei maravilhada com o pouco que me contou, mas foi o suficiente para eu me sentir mais próxima de seus pais, mesmo sendo uma namorada falsa. Ele ainda falou mais coisas, sobre o jogo que criou, que em breve faria uma versão de realidade virtual. Me voluntariei para ser a primeira a experimentar. Também fiquei triste ao saber que era filho único, pois eu era acostumada com a casa cheia, já que tinha duas irmãs mais velhas. Mas ele afirmou que passava bastante tempo com a mãe, todavia, esta sofreu muito com sua partida de casa para morar em outro lugar.

Eu entendia completamente sobre aquilo. Minha mãe também tinha ficado muito triste com minha decisão de ir embora. Às vezes eu pensava nisso, sobre voltar pra casa e viver segura sob a asa dos meus pais. Contudo, tinha sido esse o motivo de ter ido embora. Eu tinha envergonhado eles ao não conseguir uma bolsa de estudo, então não queria ser vista e lembrada constantemente de meu fracasso. Entretanto, todos os dias, eu fazia questão de fazer isso. Todos os dias quando pegava o metrô para ir ao trabalho, quando via as pessoas com seus ternos bem ajustados, telefones colados na orelha e pastas de couros. Eu gostaria de estar andando por Manhattan daquela maneira, parecendo importante. Também lembrava do meu fracasso quando esfregava os pratos do restaurante, turno após turno, vendo outros funcionários saindo e trabalhando em lugares melhores.

Mas agora eu estava dentro de um ônibus, indo para Filadélfia, com um plano insano traçado. Porém, e quando voltasse? Eu não tinha nada traçado, nada em mente. Apenas duas recentes demissões e contas para pagar. Voltar para Flórida, para casa, seria aceitar meu fracasso e conviver com ele pesando sobre minhas costas. Estar aqui, entre Manhattan e o Brooklyn, fazia com que eu o ignorasse e vivesse como se não tivesse cometido nenhum erro, mesmo tendo vários.

Quando eu pensava sobre ignorar as coisas e cometer erros, lembrava com perfeição do passado. Principalmente do momento que vi, pela janela do ônibus, Lee entrando na agência de viagens com a mãe. Se eu tivesse saído do ônibus, corrido em sua direção e suplicado para ficar, não entrar naquele avião, alguma coisa teria sido diferente? Eu sabia a resposta. Não. Nada seria diferente. E eu não poderia fazer nada, pois estava focada demais na vida que levava e em meus próprios problemas. Nos problemas da minha família.

E, então, quando Alex saiu para usar o banheiro, lembrei com perfeição o motivo de ter saído de casa. Mas também me lembrei da falta que minha família fazia todos os dias.

Desci do ônibus quando ele parou no ponto. Ainda era estranho voltar para a casa sozinha, já que eu e Lee sempre pegávamos o mesmo ônibus e morávamos a poucos quarteirões de distância. O dia ainda estava abafado, mas logo o outono se aproximaria e o frio castigaria as pessoas. Não tanto, claro, já que passaria com rapidez pela Flórida. Ali era mais verão durante grande parte do ano.

Caminhei sem pressa para a casa. Às vezes chutava uma pedra e continuava levando-a comigo pelo caminho. Talvez eu devesse ter ido mais rápido, contudo, teria mudado algo? Novamente eu já sabia resposta. Não.

As casas começaram a ficar mais familiares e a minha surgiu. Ela tinha uma arquitetura simples, como a maioria das outras em volta. Tinha o telhado alto, um pouco pequena, com poucos cômodos, uma típica entrada americana, mas com uma pequena varanda em volta. A casa era pintada de verde e havia algumas flores espalhadas em vasos do lado de fora. Estava normal, como sempre, mas tinha algo diferente que me causou estranhamento.

A porta da garagem estava aberta e o carro da minha mãe encontrava-se do lado de fora. O mesmo estava com porta-malas aberto. Meus pais raramente estavam em casa naquele horário, sempre trabalhavam até seis da tarde. Apressei o passo, mas não fez nenhuma diferença.

Vi minha mãe saindo de dentro da pequena casa carregando uma mala grande consigo. Aquilo causou mais estranhamento em mim. Corri até ela, criando várias teorias em minha mente sobre o que estava acontecendo.

Quando me aproximei percebi os olhos dela cheios de lágrimas. Ela parecia profundamente triste. Joguei minha mochila no chão e passei meus braços em sua volta. Minha mãe se assustou, mas logo percebeu que era eu e retribuiu o abraço. Durou poucos segundos. Logo se afastou de mim e olhou para meu rosto com infelicidade. Não queria soltá-la, mas fui incapaz de mantê-la presa em meus braços.

O que estava acontecendo? Era esse o único questionamento que rondava minha mente. Todavia, logo foi respondido.

— Tem certeza que vai fazer isso? — esbravejou meu pai, saindo de dentro da casa. — Fazer isso com nossa filha? — Ele apontou o dedo em minha direção, me indicando, colocando-me no meio daquela discussão.

Minha mãe bateu com força o porta-malas ao fechar e olhou com raiva para meu pai, seu marido.

— Não a coloque no meio disso — disse minha mãe, Elise. — Ela não tem nada a ver com isso!

O que estava acontecendo?! Continuei a gritar mentalmente. Inevitavelmente meus olhos começaram a se encher de lágrimas. Eu estava confusa, mas profundamente magoada com a situação.

— Nada a ver? Ela é nossa filha! Você acha que ela quer que isso aconteça? Fala para sua mãe ficar, Melissa! — gritou Hugo, ainda mais furioso.

Encolhi-me ao som de sua voz raivosa. Eu nunca sentia medo dele, mas naquele momento foi inevitável. Temi que fizesse algum mal contra minha mãe.

— O que está acontecendo? — Minha voz saiu em um sussurro, fraca. Apesar disso, eles conseguiram me ouvir.

— Sua mãe decidiu nos deixar! Ela não quer mais viver com a gente! — respondeu o homem, com o tom de voz ainda alterado. Fiquei boquiaberta. Minha mãe estava nos deixando?

— Por quê? — indaguei, sentindo minha garganta se apertar e uma sensação de náusea tomar conta de mim. — Por quê?!

— Por que você não diz a verdade uma única vez?! — retrucou Elise, apontando diretamente para papai.

Minhas pernas tremiam nervosamente. Senti que poderia cair a qualquer momento.

Meu pai ficou sem palavras. Abriu a boca em uma tentativa de falar algo, mas minha mãe respondeu minhas dúvidas.

— Seu pai acabou de ganhar um novo filho... Parabéns, querida, você tem um novo irmão! — Minha mãe voltou-se para mim e colocou a mão em meu ombro. Sabia que ela estava sendo cínica, mas conseguia ver a dor em seus olhos.

Ela tinha sido traída... Mais uma vez. Contudo, agora a dor, o fardo, a tristeza, tudo estava mais pesado. Dessa vez ela não conseguiria suportar tudo, percebi.

— Mãe... — choraminguei, passando os braços em volta da cintura da mulher mais velha.

Minha mãe era meu tudo, minha vida, a parte mais importante de mim. Não conseguiria viver sem ela, não conseguiria suportar vê-la indo embora. Entretanto, também não suportaria vê-la sofrer. Ela merecia viver a própria vida sem dor e sofrimento. Com respeito e não com alguém que não transmitia segurança e descumpria com as promessas que havia feito.

— Querida... — Ela retribuiu o abraço e beijou o topo da minha cabeça. — Eu preciso ir, vai ser apenas até eu... Espairecer a mente.

Não queria soltá-la de jeito nenhum. Observei meu pai dando as costas e entrando em casa. Sabia que ele não queria se envergonhar, já que a gritaria entre os dois chamou a atenção de alguns vizinhos. A sorte era que eles não entendiam português.

— A senhora promete que vai tentar voltar? — Estava pedindo muito dela, sabia disso. Mas não era capaz de viver sem ela, não naquela idade. Era jovem e imatura, e dependia muito daquela mulher de braços fortes que sempre me segurou e puxou para cima quando caía.

— Prometo — sussurrou ela, roçando o nariz em minha bochecha e depositando um beijo logo em seguida. — Seja forte!

Mamãe apertou meus ombros, transmitindo uma segurança que nem mesmo ela tinha. Observei os olhos claros da mulher que me criou e só consegui enxergar tristeza.

Naquele dia eu deveria ter dito o oposto. Dito para ela ir embora e não voltar tão cedo. Ir viver com minhas irmãs, voltar para o país de origem dela. Eu conseguiria lidar com tudo por ali, todavia, tinha muita coisa envolvida. Meu futuro, meus estudos e uma vida inteira juntos. Tinha sido essa a justificativa.

Vi minha mãe entrando no carro, dando a partida e me deixando para trás, mas não por muito tempo.

Eu era a única filha naquele país, enquanto minhas irmãs viviam no Brasil, estudando e cuidando da própria vida. Eu vi e ouvi coisas que não queria ouvir, mas que me transformaram em uma pessoa mais forte.

Minha mãe nos deixou naquele dia, mas não foi à primeira vez. Aquilo se repetiu outras duas vezes. Uma semana depois ela retornou, como se nada tivesse acontecido. Eu não a culpava, também fingia que nada tinha acontecido. Ignorei sua dor e ela continuou trabalhando para dar o melhor que podia para mim e as minhas irmãs.

Eu também tentei não saber muito sobre meu suposto irmão. Aquilo machucava minha mãe, então preferi não me envolver muito. Meu pai dizia que eu deveria dar uma oportunidade a ele, que era filho como eu. Isso só me deixava mais aborrecida. Sabia que o garoto não tinha culpa, mas ele era uma lembrança de dor a mim e a minha família.

Por causa disso eu deixei Lee de lado. Conversávamos na escola, mas eu jamais comentava sobre o que acontecia em casa. Também sabia que algo acontecia na dele, mas não queria intervir em algo que não tinha respeito a mim.

Culpei-me por causa disso. Talvez ele tenha tentado me contar várias vezes, mas não dei brecha para conversa. Estava focada em meus próprios problemas que precisavam ser resolvidos.

Gostaria de dizer que eles foram resolvidos, mas seria mentira. Talvez ninguém entenda o motivo disso ser tão importante para mim e para a história. A verdade era que esses acontecimentos mudaram minha vida drasticamente, fazendo com que eu não confiasse em nenhum garoto. Eu era jovem e imatura e mantive a amizade com Lee, mas sempre pensando que um dia ele poderia ser como o meu pai e trair meu coração e minha confiança. E, sendo assim, se meus sentimentos estavam reprimidos, eu o escondi a sete chaves, mantendo tão a fundo que com o passar do tempo esqueci.

A vida da minha mãe não melhorou, talvez ficou pior. Ela continuou carregando a tristeza consigo e eu assistia tudo de camarote. Queria intervir, dizer algo, mas não tomava coragem.

O outono passou e o inverno chegou. Não tinha neve no chão e nem pingentes de gelos nas árvores. Minhas irmãs viriam passar as férias de inverno conosco e logo chegariam. Eu me lembrava daquele dia com detalhes. Minha mãe estava ainda deitada na cama, sem vontade de levantar, e eu decorava a árvore de natal com falsos pingentes de gelo e renas do Papai Noel. Tinha fé que com a chegada das minhas irmãs as coisas mudariam, que teríamos um natal feliz em família.

Enquanto estava distraída com os afazeres ouvi uma batida leve na porta, quase inaudível. Parecia que a pessoa estava indecisa sobre bater. Contudo, consegui ouvir. Larguei a estrela, o último adereço que faltava para enfeitar a árvore. Arrastei os pés em direção à porta de entrada e a abri. Deparei-me com Lee do outro lado. Ele vestia um casaco grosso e usava um gorro. Apenas uma parte de seu cabelo era visível e tampava lhe um pouco de seus olhos.

— Melissa... — Ele hesitou logo ao me ver. Tinha as mãos dentro dos bolsos do casaco e balançava-se para frente e para trás. — E-eu... Você está bem?

— Estou — respondi, surpresa pela sua visita. — Lee, o que você está fazendo aqui?

Decidi ser direta e reta, não queria ele ali por muito tempo. Não queria que ninguém visse o estado em que minha mãe se encontrava. Ele hesitou novamente, o que me causou certo aborrecimento. Observei seu tique nervoso de mordiscar o lábio inferior. Comecei a ficar mais nervosa com sua atitude.

— Eu vim vê-la — respondeu, ainda balançando-se na ponta dos pés.

— Que bom! — falei, abrindo um sorriso que não chegou aos meus olhos. – Mas por qual motivo? Veio me desejar um feliz natal?

Continuei mantendo o sorriso falso em meu rosto, mas minhas bochechas começaram a doer. Todavia, eu não precisei me preocupar em mantê-lo por muito tempo. Lee fez questão de tirá-lo.

— Não... — murmurou Lee, olhando para baixo, para suas botas. Acompanhei seu olhar, procurando alguma justificativa pelo comportamento misterioso. — Eu vim avisar que estou indo embora.

— Embora? — indaguei, olhando-o confusa. — Está indo visitar sua avó na Coreia do Sul?

— Não, não vou visitá-la... Vou voltar para a Coreia do Sul. — Lee voltou os olhos escuros para mim. Eles me observaram com uma afeição que nunca tinha percebido em todo nosso tempo de amizade. — Meus pais decidiram retornar para lá definitivamente e eu irei junto.

Não sei com exatidão quantos sentimentos cruzaram meu coração. Foi uma mistura de tristeza, decepção, raiva e frustração. O sentimento que estava adormecido por quase dois meses acordou e ganhou forma, começando a chorar em posição fetal. Não! Eu não poderia ficar sem Lee! Ele era uma parte importante da minha vida e sem ele eu... O que seria de mim sem ele?!

— Mas... — comecei a dizer, mas ouvi meu nome sendo chamado no andar de cima. Era minha mãe e ela precisava de mim.

Lee olhou para dentro da minha casa e indicou com a cabeça.

— É melhor você ir, sua mãe deve estar precisando de você — disse ele, com olhar triste estampado em seu belo rosto.

Sim, ela precisava, pensei. Engoli em seco, lembrando de minha promessa. Eu tinha prometido que cuidaria da minha mãe, que traria orgulho a ela e faria o que necessário fosse. Naquele momento olhei sobre o ombro, pensando sobre qual decisão tomaria. Não poderia impedir Lee de ir embora para a Coreia do Sul, então fiz a coisa mais óbvia.

— Eu sinto muito... Espero que faça uma boa viagem, mas agora preciso ver o que minha mãe precisa — falei, sentindo meu coração batendo com força contra minhas costelas.

— Compreendo... Então, até mais. — Até mais? Àquela era a melhor coisa que ele poderia dizer?

Lee deu um breve aceno e se afastou da porta de entrada. Observei-o descendo as escadas e se afastando de minha casa. Eu poderia ter ido atrás dele e ter feito algo imaturo, mas mantive meus pés firmes no chão da sala e ouvi meu nome sendo chamado outra vez. Não pensei muito, apenas fechei a porta e corri para o andar de cima, temendo que minha mãe estivesse se sentindo mal.


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