11
Senti uma raiva brutal tomar conta de mim. Por quê?! Por que ele ainda insistia em me manter trabalhando para ele? Eu era apenas uma piada e sempre tinha sido, recebendo bem menos e trabalhando mais que a maioria. Não tinha um rosto e corpo bonito, muito menos para ser a recepcionista e muito menos para estar ao seu lado, já que naquela noite ele tinha estado com uma bela mulher ao em vez da minha pessoa.
— Melissa... — O ouvi dizendo meu nome. Seu olhar era de pura necessidade, aguardando minha resposta. Eu queria respondê-lo com um belo tapa no rosto! Contudo, não queria ser processada por ele.
— Sr. Flanagan! Quer saber o motivo da minha demissão?! — esbravejei, sentindo as emoções a flor da pele ao me lembrar do dia da minha entrevista, agindo ingenuamente sem saber pelo o que iria passar. — O motivo é que eu não suporto ser considerada inferior ao senhor! E a todo mundo! Você sempre me trata com ironia, caçoando de mim, desde que nos conhecemos! Estou cansada de passar por isso! Não vejo você tratando nenhuma outra funcionária desta maneira! Somente a mim! E eu não quero mais passar por isso!
Percebi que enquanto falava tinha ficado de pé, fitando o rosto de meu chefe a centímetros de distância. Ele não expressou nenhuma emoção, somente olhou para mim por um momento e fechou a janela atrás de si. Eu sabia que ele não se importaria!
— O que você quer que eu faça, então? — indagou, persistindo na mesma pergunta. Argh, eu queria que ele me deixasse em paz!
— Eu quero que você aceite minha demissão!
— Não posso fazer isso — respondeu o sr. Flanagan. — Não existe outra maneira?
Bufei, aborrecida.
— Por que você não pode aceitar isso? Por que é tão difícil? — retruquei, tentando controlar a tremedeira de minhas mãos.
E soube que naquele momento eu ouviria as palavras que queria muito ouvir. Palavras que sonhei acordada enquanto lia meus livros e assistia aos meus amados filmes clichês.
— Eu não quero ficar longe de você! Será que não percebe?! Você ir embora, aceitar sua demissão, é saber que nunca mais poderei vê-la — disse Tom Flanagan, dando uma passada e ficando cara a cara comigo, enquanto suas mãos envolviam meus braços e me seguravam com suavidade e necessidade ao mesmo tempo.
Umedeci meus lábios, perdendo todas as palavras que queriam sair de minha boca. Continuei de cabeça erguida e deixei minha língua desenrolar e soltar as palavras.
- Se sou tão importante assim, como parece querer dizer, então por qual razão sempre me tratou dessa maneira? Sempre sendo tão cínico... — questionei, olhando-o com firmeza.
- Tenho que assumir que fui um idiota ao sempre agir daquela maneira com você... Somente depois de algum tempo percebi que aquele era o meio que eu usava para me defender de você... Me defender dos sentimentos que tinha por você... Que tenho... — Minhas pernas vacilaram ao ouvi-lo dizer tal coisa. — Melissa Fontoura, eu me sinto atraído por você, fisicamente e sexualmente falando.
Quê?! Arregalei meus olhos, incapaz de acreditar que ele havia dito àquelas exatas palavras. Ele sentia-se atraído... Sexualmente? Ele queria... Transar comigo? Como eu deveria reagir em relação à declaração?
Eu também me sentia daquela maneira... Mas eu acreditava que fosse algo a mais... Algo como um gostar. Entretanto, meu chefe parecia sentir algo mais intenso, que mexia fisicamente com ele. Como havia mexido naquele dia na sala de meu apartamento. Arregalei os olhos ao lembrar da sensação, em como nossos corpos funcionavam em sincronia.
Aquela não era a frase que se envolvia em clichês. Raramente o cara falaria isso, ele seria romântico e teria segundas intenções, sem demonstrar elas completamente. Mas Tom Flanagan não era o cara romântico dos livros e filmes. Ele era rude, impaciente, perfeccionista, detalhista e um safado. Eu poderia me contentar com isso?
— Então, esse é o motivo para me querer por perto? Pensei que a mulher com quem estava essa noite fosse o suficiente para satisfazê-lo. — Mantive-me forte o suficiente e continuei a usar minha ironia contra ele.
Não queria ouvi-lo dizendo que eu era diferente ou algo do tipo, queria a sinceridade dele.
— Sim, esse é o motivo. Você me enlouquece e eu gosto dessa loucura — respondeu o sr. Flanagan. Eu me afastei de seu toque e sentei no sofá de couro, querendo manter minha sanidade intacta. — Além disso, Amberly e eu só estávamos juntos porque ela é filha de um sócio do restaurante. E, achei que ela seria o suficiente para me fazer esquecer você. Além disso, você tinha que estar saindo do maldito pub bem no momento em que eu chegava...?
Desviei o olhar, fitando o tapete cinza abaixo de meus pés. Ele parecia estar sendo verdadeiro, pensei.
— Melissa, eu e Amberly não tivemos nada. E não estou te ofertando flores, chocolates ou meu coração, ou te pedindo em namoro e casamento. Não quero nada disso, e também espero que você não queira. – Suas palavras dessa vez soaram duras, mas ardentes. — Entretanto, seguirei seu ritmo e agirei conforme quiser, apenas para ficar com você. E também espero que aceite o que eu quero.
Eu senti a necessidade emanando de seu corpo, mesmo ele estando a uma boa distância de mim. Eu também o queria, mas aceitar seus termos, era aceitar tudo que havia feito comigo. Era aceitar suas palavras irônicas, suas atitudes rudes, aceitar o homem belo, mas impaciente.
Eu queria Tom Flananagan, queria tê-lo na palma da minha mão...
Então, percebi que era assim que conseguiria tê-lo entre meus dedos. Ergui o rosto, fiquei de pé e caminhei na direção de um dos homens mais bonitos que já havia visto em minha vida.
— Você ainda não disse o que quero ouvir — falei, agora subindo em um pedestal e me igualando a ele.
Os olhos azuis dele arderam com desejo pela nossa proximidade, e seu olhar desceu por mim. Pela minha blusa branca e o fato de estar sem sutiã. Ignorei tal pensamento, mesmo tendo a sensação de ser despida por àquele homem.
— Me desculpe por tê-la tratado mal inúmeras vezes, estou completamente arrependido. — A satisfação ao ouvir Tom Flanagan dizer aquilo foi gigantesca, que quase fui incapaz de conter o sorriso largo que queria surgir em meu rosto. — E... Se você concordar em permanecer trabalhando para mim, prometo que lhe concederei uma função melhor que a anterior.
Suas últimas palavras chamaram minha atenção. Não esperava por isso, mas foi melhor do que eu havia aguardado.
— Já que insiste tanto, então acredito em você e aceito suas desculpas — falei, dessa vez me sentindo a pessoa mais esperta da sala. Contudo, eu sabia que era ele. Ele havia sido esperto porque tinha conseguido meu consentimento e havia tido seu desejo realizado. E eu também ganharia algo, além dele. Também teria um salário e uma função melhor.
Eu sabia que meu pedido de aniversário não havia se realizado, e que jamais se realizaria. Mas naquele momento, só pensei nas mãos fortes de Tom Flanagan me envolvendo e nos seus beijos calorosos.
Joguei o cabelo para o lado e umedeci os lábios, aguardando alguma reação dele. Ele veio lentamente, envolveu sua mão entre os fios de meu cabelo e me trouxe para mais perto de seu corpo. Tocou a ponta de seu nariz por todo meu pescoço, subindo aos poucos. Comecei a arfar, necessitando de ar. Respirei fundo, tentando aparentar estar tranquila.
Tom Flanagan deu suaves beijos pela minha mandíbula até chegar aos meus lábios. Sua língua ávida os abriu e tomou minha boca para si. Senti seu braço puxando-me para mais perto e sua virilha contra meus quadris. Gemi, extasiada, e retribuí o beijo com fervor.
Em poucos minutos de beijos já senti seu volume sob a calça. Empurrei meu corpo contra o dele e recebi um gemido como resposta. Ele levou as mãos para baixo e puxou minhas pernas para envolver sua cintura. Fiz o que ele queria e o deixei me carregar para o quarto, levando-me para onde eu havia sonhado estar desde a primeira vez que nos beijamos.
Senti meu corpo encontrar algo macio. Ele tinha me deitado em sua cama grande e espaçosa. Conseguia sentir o perfume dele por todo o lugar. Permaneci de olhos fechados, recebendo seus beijos e gemendo contra seus lábios urgentes e necessitados. Eu o queria muito, queria cada parte de seu corpo contra o meu.
Eu deveria concordar com Tom Flanagan. Nós sentíamos algo um por outro, mas nada romântico e estupidamente tolo.
Ele segurou minhas coxas com firmeza, enquanto eu as envolvia em torno de sua cintura. Passei minhas mãos pelo seu cabelo macio e curto, enquanto a minha mão com tala ficava incapacitada. Usei a esquerda para tocar cada parte do corpo dele que sempre sonhei em tocar.
Toquei com delicadeza seu rosto, sentindo sua mandíbula perfeita, maças do rosto macias. Mas, principalmente, seus lábios eram os mais perfeitos. Seu gosto era de uísque forte e menta. Não sabia como conseguia distinguir o sabor, mas estava entorpecendo cada mínima parte ainda sã de meu corpo.
Ele empurrou seus quadris contra mim novamente e senti a mesma sensação daquele dia em meu apartamento. Tom Flanagan retirou meu casaco com delicadeza e levou suas mãos para outros lugares de meu corpo. Contudo, minha mente ficou focada em outro lugar. Meu cérebro ficou alerta, meu coração começou a pular desesperado em meu peito. O que estava acontecendo comigo?
Separei nosso beijo e tomei uma lufada de ar, tentando manter a calma. Seus olhos azuis avaliaram meu rosto, um pouco preocupado, mas continuou com as carícias. Seus beijos desceram pelo meu pescoço, clavícula, até minha blusa fina e branca. Tom Flanagan a ergueu, revelando minha barriga. Naquele momento tremi, sentindo-me exposta.
Já fazia algum tempo que não ficava assim com alguém, e isso só havia acontecido uma vez. Vários pensamentos passaram por minha mente. Eu estava insegura e isso era notável. Insegura pelo meu corpo e pelo o que viria a seguir. E se ele não gostasse? E se eu não gostasse? Ele provavelmente jamais olharia para meu rosto, totalmente decepcionado.
Ele desceu mais um pouco e senti seus lábios tocando minha barriga. Poderia sentir cócegas naquele momento, mas a tensão não permitiu que eu esboçasse alguma reação. Afastei minhas mãos dele e finquei meus dedos no edredom.
Eu não queria decepcioná-lo, mas também não queria interrompê-lo. Temia qual fosse sua reação, então permaneci calada.
Senti ele dando leves beijos pela minha barriga, subindo aos poucos para meus seios, contudo, logo em seguida parou. Achei estranho a súbita atitude, então abri os olhos e o fitei. Ele me encarava, parecendo preocupado.
— Melissa, se não se sente bem para fazermos isso, vou entender. Basta me dizer... — disse Tom Flanagan. Suas palavras me pegaram desprevenida, mas permaneci em silêncio. Ele tocou minha face, ainda com os olhos grudados em mim. — Eu a quero, mas não dessa maneira. Respeitarei seu tempo, o tanto que precisar.
Não conhecia àquele lado doce e gentil dele. Mais uma vez Tom Flanagan me pegou desprevenida. Sabia que deveria falar a verdade para ele, não constrangê-lo.
— Eu não quero fazer isso, hoje. Não me sinto preparada — murmurei, confirmando os pensamentos de sr. Flanagan e os meus.
Eu queria estar preparada e me entregar a ele, mas havia uma força que me impedia de continuar. Minha insegurança e medo eram maiores que quaisquer coisa, maior que qualquer desejo.
Ele se aproximou e tocou meus lábios com leveza, dando um breve beijo, e se afastou. Levantou da cama e manteve a postura.
— Quando estiver pronta, me avise, pois estarei te esperando. — Minha garganta ficou seca e meu coração se agitou pela surpresa. — Você pode passar a noite aqui. Durma e amanhã a levarei para casa.
Quis retrucar, dizendo que não desejava incomodá-lo. Ele apenas se inclinou e depositou um beijo em minha testa e saiu logo em seguida, desejando boa noite.
Minha mente, meus neurônios, ficaram chocados pelo acontecimento, mandando informações um para os outros de puro êxtase e alívio. Eu não sabia o que sentir no momento, mas me sentia agradecida. Ele havia agido como um perfeito cavalheiro de um livro clichê, respeitando a jovem dama e dando o devido tempo a ela.
Eu não era virgem, mas fazia tanto tempo que havia tido um contato íntimo com outra pessoa que não me lembrava. Na verdade, aquilo só havia acontecido uma vez e não tinha sido como minha idealização. Por isso, desde o ocorrido, decidi que a próxima vez só ocorreria quando me sentisse convicta e segura dos meus sentimentos. Eu queria estar com alguém pelo qual sentisse algo e também tivesse os sentimentos retribuídos.
Entretanto, meu caso com Tom Flanagan não se tratava disso. Mas eu o queria na mesma intensidade e sabia que deveria ignorar a promessa ridícula. Eu daria tempo a mim e quando ficasse segura, retornaria para seus abraços e me entregaria por completo.
Virei-me em sua grande cama e observei a luz da cidade e da lua adentrando o recinto. Não sabia como fechar as persianas — já que era tudo tão tecnológico. Apenas me encolhi e fechei os olhos fortemente, esperando o sono chegar e me acolher para bem longe da vida real e do constrangimento do dia seguinte.
Adormeci sentindo seu perfume forte contra minhas narinas, e quase achei que ele estivesse comigo. Foi inevitável, mas naquela noite sonhei com Tom Flanagan.
Acordei com o súbito som de uma ambulância. Pulei da cama e senti o canto da minha boca molhado. Eu babei? Esfreguei o punho da minha blusa no rosto, limpando a saliva que havia escorrido.
Olhei em volta e percebi a forte luz do dia clareando todo o ambiente. As persianas estavam abertas e a cidade já estava em constante movimento, mesmo em um fim de semana. Levantei, sentindo o sono ainda preso em cada parte de meu corpo. Fitei os prédios, as ruas e as pessoas a dezenas de metros abaixo. Era uma vista bonita, mas ao mesmo tempo angustiante para quem tinha medo de altura.
Afastei da janela e observei o resto do lugar que me encontrava. O quarto de Tom Flanagan não era muito diferente do restante da casa. Era escuro e sem detalhes. Tinha a cama no meio do recinto, com um criado mudo em cada lado e abajures pretos. Uma televisão gigantesca e a grande janela com a bela vista. Percebi duas portas e supus que uma levaria ao banheiro e outra para o closet. Fiquei curiosa para saber o quanto de roupas ele teria ou dólmãs.
Fui sem fazer barulho algum e abri a porta do lado direito. Seu interior era o que imaginava, mas mil vezes maior do que meu quarto. O closet de Tom Flanagan era grande e poderia dizer que tinha metade de uma loja de roupas ali. Observei os ternos organizados em um canto, enquanto as roupas casuais ficavam separadas. E realmente havia um lugar especifico para os dólmãs dele. Fiquei boquiaberta, observando toda a organização, sem contar os sapatos.
Eu estava agindo rudemente ao xeretar um ambiente particular e íntimo, mas às vezes minha curiosidade falava mais alto. Decidi estabelecer um limite e fechei a porta.
Procurei um relógio para ver as horas. Era 8h18min da manhã. Temi que Elizabeth já estivesse acordada e houvesse procurado por mim. Fui em direção da próxima porta e deparei com o banheiro. Também era grande — novamente algo maior que meu quarto — e com piso de mármore escuro. Havia uma banheira no canto, duas pias grandes e o vaso ficava diante de uma bela vista. Aquele recinto, como os outros, tinha uma janela bem grande, sem privacidade nenhuma. Como eu poderia fazer xixi por ali sem ser vista por alguém do prédio vizinho?
Fui até a pia e fiquei com pena ao ver a escova de dente dele solitária sobre a bancada. Peguei a pasta de dente e fiz algo que fazia durante a infância quando esquecia a escova de dente, escovei meus dentes com o dedo. Era apenas o suficiente para não ficar com o mau hálito perceptível. Lavei o rosto, limpando qualquer vestígio de sono e remelas.
Voltei para o quarto e vesti meu casaco jogado no chão. Ajeitei meu cabelo e tentei parecer apresentável, mesmo usando roupas de ficar em casa. Calcei meu tênis jogado ao lado da cama e saí do quarto.
Segui pelo corredor e fui em direção ao âmbito que tínhamos conversado. A primeira coisa que notei foi o cheiro de comida. Meu estômago instantaneamente roncou, faminto.
Eu já havia sentido àquele cheiro de boa comida centenas de vezes. O cheiro da comida do sr. Flanagan era majestosa, mas eu jamais havia tido a oportunidade de provar. Apenas provava algum tempero quando algum outro cozinheiro pedia uma segunda opinião, mas o chef Tom jamais fazia isso. E eu também não tinha dinheiro para pagar por algum daqueles pratos caros. Eles eram bons, mas fora do meu orçamento.
Segui em direção ao cheiro e encontrei Tom Flanagan na cozinha. Ele trabalhava com algo em uma frigideira, parecendo focado. Achava suas expressões faciais atraentes em ocasiões como àquela. Ele não percebeu meu movimento por um momento, apenas depois que havia desligado e colocado à frigideira sobre o balcão da cozinha.
— Melissa, você já acordou? — Assenti em resposta à sua pergunta e tomei coragem para aproximar.
O balcão da cozinha estava lotado de diversas coisas. Tinha de tudo um pouco e salivei, faminta, desejando provar tudo que tinha por ali.
Não pude negar que o constrangimento estava presente, incomodando e deixando a ocasião mais estranha. Tentei fingir que nada tinha acontecido, mas lembrei de meu sonho — nada erótico — e dos beijos que havíamos trocado. Meu coração dançou, menos inseguro, ao encontrar o sr. Flanagan novamente. Ele nada se equiparava ao meu sonho. Sua presença real era mais quente, forte e poderosa. Além de que era bem mais bonito.
— Dormiu bem? — indagou ele, virando-se para pegar algo na geladeira. Com certeza havia dormido bem, pensei, lembrando de cada detalhe sórdido de meu sonho. — Eu fiz o nosso café da manhã, mas acho que exagerei um pouco...
— Sim, dormi bem, e você? — Contive o riso ao ouvir sua última frase, mas tentei soar natural. Minha voz rouca matinal tomou conta do ambiente, soando ruidosa demais para mim. A voz do sr. Flanagan soava muito bem durante a manhã, percebi. Sentei-me no banco que encontrava-se perto da bancada.
Ele se virou, carregando uma jarra de suco e depositou sobre o balcão. Percebi ele hesitar um pouco antes de responder.
— Pra falar a verdade, mal dormi — respondeu. Olhei-o preocupada, percebendo que havia sido inconveniente.
— Sinto muito se o incomodei, impossibilitando-o de dormir em sua própria cama... — Ele fez um gesto, recusando minhas palavras.
— Eu tenho alguns problemas para dormir, Melissa, e você não foi incômodo algum. — Suas palavras me pegaram desprevenida. O sr. Flanagan tinha problemas para dormir? Insônia? Senti um pouco de pena por ele, já que entendia aquela situação.
— Ah... Mesmo assim... Sinto muito pelo o que aconteceu... — comecei, sentindo um tremor subir por minhas pernas. Tom Flanagan se aproximou e colocou um pouco de suco no copo em minha frente. Fiquei tensa com a proximidade e comecei a respirar pela boca.
Subitamente notei que ele usava outras roupas. Pisquei, confusa.
— Espera aí! Você trocou de roupas?
Ele olhou para as próprias vestes e assentiu.
O sr. Flanagan vestia uma calça jeans escura e uma camisa de mangas curtas com listras. Achei que havia ficado jovial vestindo tais peças, mas se havia trocado de roupa, então tinha entrado no quarto enquanto eu dormia. Porcaria! Será que ele havia me visto babando?
— Sim, algum problema?
— Então... Você me viu dormindo? — indaguei, a voz trêmula.
Um sorriso divertido cruzou seu belo rosto e ele se sentou ao meu lado. Fiquei mais tensa ainda, imaginando-o me vendo babar, falar enquanto dormia ou até mesmo roncando!
Ele tombou a cabeça e me olhou com interesse.
— Sim. — Foi à única resposta que recebi dele.
— V-você por acaso viu algo estranho? T-tipo... Se por acaso eu ronquei? Já fiquei sabendo...
— Não, Melissa, não vi você roncando. Pelo contrário, você não produz som algum enquanto dorme. — Fiquei boquiaberta ao perceber sua resposta detalhista. Ele havia me observado durante o sono? — Na verdade, você fica muito fofa enquanto dorme.
Fiquei chocada mais do que qualquer outra coisa. Peguei o copo de suco e bebi todo conteúdo, tentando esconder a vermelhidão de meu rosto.
— Está constrangida por que a observei dormindo? — Assenti em resposta à sua pergunta. — Bom, não queria deixá-la assim, mas foi inevitável não olhar.
Pigarrei, ainda desconfortável.
— Bem, acho que devíamos comer, certo? Estou faminta — comentei, mudando de assunto.
Ele assentiu e cortou um pedaço do conteúdo que tinha na frigideira. Eu não sabia o que era, então juntei as sobrancelhas em dúvida. Todavia, ele respondeu minha pergunta mental.
— Isso se chama Fritatta, é um prato feito com ovos, queijo, tomate cereja, aspargo, tomilho e outros ingredientes. Já provou antes? — Tratei de negar em resposta, esperando ansiosamente pelo pedaço. — Também fiz outras coisas, caso queira algo diferente. — Ele começou a apontar para as outras comidas que estavam sobre a bancada. — Fiz French Toast, que é algo como uma torrada caramelizada, também tem Muffin de blueberry e limão, já que você gosta de algo doce. Há também uma panqueca de ricota...
— Como você sabe que eu gosto mais de doce? — indaguei, olhando-o com cautela.
Percebi o rosto do sr. Flanagan ficando vermelho e tive que conter o sorriso.
— Eu... Vi que você sempre comia algo doce durante seus intervalos, nada salgado. Até temi que você ficasse com a glicose alta... — Soltei uma risada ao ouvir sua resposta, incapaz de acreditar que ele me observava durante os intervalos.
Lembrei-me dos momentos em que me sentava com Vanessa na área externa, no fundo do prédio do restaurante. Às vezes o via por ali, recebendo encomendas de alimentos ou fazendo uma breve pausa para falar ao telefone. Eu fazia questão de olhá-lo com raiva, mas ele nunca retribuía o olhar. Mal sabia eu que estava sendo observada esse tempo todo.
— Bem, você acertou, realmente gosto mais de doces do que o salgado. — Aceitei o pedaço da Fritatta em meu prato e a olhei quase babando.
Ele tirou um pedaço para si e lançou um olhar tímido para mim. Jamais o veria de tal forma, a não ser que estivéssemos daquela forma um com outro. Tão próximos, visíveis e sozinhos. Tom Flanagan jamais demonstrava ser esse tipo de pessoa.
Ele fez uma careta logo em seguida, a qual não compreendi.
— Talvez eu tenha exagerado um pouco... — murmurou ele.
— Claro que não! Faço questão de provar cada um dos pratos, já que nunca tive a oportunidade de comer sua comida e, aliás, também estou faminta! — falei, já cortando um pedaço da Fritatta e comendo um pedaço. Era maravilhosa, como havia imaginado.
— Você nunca comeu nada que cozinhei antes? — Neguei com a cabeça e continuei a comer. — Bem, fico feliz que agora você esteja tendo a oportunidade.
Sorri, de boca fechada e cheia. Não disse nada pelos próximos minutos, enquanto tinha oportunidade de comer cada coisa sobre a bancada. Provei a panqueca de ricota, as torradas caramelizadas e, por último, os muffins de bluebarry e limão. Cada prato era majestoso e estonteantemente bom.
Tom Flanagan ficou ao meu lado, observando-me e sorrindo divertido ao ver cada uma das minhas reações.
— Se eu soubesse que você reagiria dessa maneira, então já teria feito você provar cada um dos meus pratos — disse ele.
— Se precisar de alguma degustadora, estou completamente livre! — propus, comendo o meu segundo muffin.
Ele riu, mas seu riso foi interrompido pelo toque de meu celular. Enfiei a mão no bolso do meu casaco e verifiquei o visor. O nome de Elizabeth brilhava na tela. Engoli em seco, assustada. O que iria dizer para ela? Como contaria a ela que estava com o sr. Flanagan?
— Acho melhor eu ir para casa — sugeri, olhando para o chef Tom. Ele percebeu meu nervosismo e assentiu.
— Certo! Você por acaso quer levar os muffins com você? Dificilmente irei comê-los. — Assenti e me afastei, indo mandar uma mensagem para Lilly.
Inventei uma mentira, dizendo que tinha saído para comprar algo. Ela me respondeu logo em seguida, mas ignorei a mensagem. Voltei-me para Tom Flanagan e o vi guardando os muffins em um recipiente. Achei adorável sua atitude e tentei não soltar um tolo suspiro.
— Vou pegar as chaves do carro e um casaco, e logo partiremos — avisou, para logo em seguida desaparecer pelo corredor.
Observei o resto do apartamento pela última vez, me questionando se voltaria. E se, depois do ocorrido, ele não quisesse me ver novamente? Ele tinha sido gentil cozinhando, sorrindo e brincando comigo, mas sabia que o sr. Flanagan sempre mudava de atitudes repentinamente. Soltei um suspiro, já imaginando ele me ignorando no dia seguinte, então amassei aquela esperança e a guardei no fundo de uma gaveta enferrujada.
Ele retornou e fomos para fora, enquanto eu carregava os muffins. Descemos pelo elevador e chegamos à garagem subterrânea e fui em direção ao Audi preto.
— O que você está fazendo? — questionou ele. — Vamos nesse daqui hoje.
Observei ele abrindo a porta do Audi R8 Spyder de cor vermelha. O carro era majestoso e eu jamais teria uma nova oportunidade de andar nele outra vez. Entrei ansiosa no interior quente e acomodei-me na poltrona macia. O sr. Flanagan ligou o aquecedor e quase caí no sono, já que estava cheia por estar bem alimentada.
Passamos toda a viagem em silêncio, e não foi algo desconfortável. Às vezes nos olhávamos por um momento e trocávamos alguns sorrisos. Tentei não pensar na nossa quase relação íntima ou no meu sonho, apenas lembrei-me do homem gentil e respeitoso que nunca tinha conhecido.
Entretanto, lembrei de uma promessa que fiz a mim mesma. Eu conhecia bem Tom Flanagan e sabia que ele não era fácil de lidar. Então, deveria tomar muito cuidado. Deveria tê-lo na palma da minha mão, capaz de fazer o que eu quisesse. Você pode me achar imprudente ou estúpida, mas ele não era o homem mais correto de todos. Na verdade, era muito mais esperto que qualquer outra pessoa que eu havia conhecido. Sendo assim, por isso, me tornaria mais esperta que ele.
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