10
A noite estava fria, a lua cheia iluminava o céu e só havia nós dois naquela rua vazia. Travei, enquanto ele chegava com rapidez em minha frente. Estava sozinho, isso foi à primeira coisa que notei. Onde estava a mulher de algumas horas mais cedo? Não! Eu não deveria me preocupar com isso.
Cruzei os braços e tentei aparentar estar séria e convicta de minhas atitudes. Ele também parou e colocou as mãos dentro dos bolsos de sua calça social preta. Seu blazer era de um azul escuro e a camisa preta social tinha alguns botões abertos. Ele estava estonteantemente belo! E eu parecia uma mendiga que usava roupas dos achados e perdidos.
— Melissa. — Ele acenou com a cabeça e um sorriso divertido brotou em seus lábios. — Vim aqui entender o motivo de sua demissão. Pode começar a me explicar, por favor.
Enfiei minhas mãos nos bolsos do casaco. A tremedeira ainda estava ali, mas não era pior que meu coração fazendo mil danças diferentes e deixando bem claro como se sentia em relação a Tom Flanagan. Respirei profundamente e encarei os olhos azuis que fitavam meu rosto com curiosidade e divertido interesse.
— Não há nada para explicar — afirmei, contendo os movimentos abruptos de meu corpo. — Foi basicamente o que havia dito a você no telefone. Quero me demitir.
— Mas deve haver um motivo para sua súbita demissão, certo?
Ele ainda olhava em meus olhos com uma distinta curiosidade.
Havia sim um motivo, mas eu não queria contar a ele. Tom Flanagan não merecia a verdade, nem saber em como mexia comigo, enlouquecendo minha mente. Decidi mentir.
— Já faz algum tempo que queria me demitir, e acho que essa é a melhor ocasião — falei, dando um pequeno sorriso.
— Achou que a melhor ocasião para se demitir era a essa hora da noite, durante a madrugada? — Opa, aquilo me pegou desprevenida. Eu deveria ter ligado em outra hora, pensei. Mas aquele tinha sido o momento em que minha coragem estava no ápice, então não poderia desperdiçá-la. — Acho que você está mentindo.
— Claro que não! — rosnei, ofendida. — Eu apenas decidi te ligar a essa hora... P-porquê...
Por quê?! Qual era o motivo? Fiquei sem palavras, enrolando-me em minhas desculpas esfarrapadas.
O sr. Flanagan passou a mão em seus cabelos escuros e soltou um suspiro frustrado.
— Melissa, se isso tem algo a ver com o que aconteceu entre nós dois em seu apartamento, devo dizer que... Que isso não é motivo o suficiente para se demitir — disse o chef Tom.
Tentei não me engasgar ao ouvir suas palavras. Ele achava que eu estava me demitindo por aquele motivo? Ele deveria apenas aceitar meu pedido de demissão, já que havia o agredido.
— Você não está furioso por que o agredi? — indaguei, insegura do que ele poderia vir a dizer.
— Não. — Sua resposta foi curta e simples. Um simples não? Olhei desconfiada para ele.
— E não tem intenção de me demitir?
— Não. — Novamente uma resposta curta. Grunhi, ficando aborrecida por suas respostas rasas.
— Então... Mesmo assim quero me demitir — continuei insistindo, convencida de que poderia me livrar de Tom Flanagan para sempre.
Os olhos azuis de Tom Flanagan saíram de meu rosto e vagaram pela rua e calçadas vazias.
— Podemos conversar em outro lugar? — perguntou ele, parecendo desconfortável. — Não sinto que aqui seja o lugar mais adequado para termos essa conversa.
Assenti, fingindo entender. Eu não queria ficar em um lugar fechado ao seu lado, mas me virei para abrir a porta de meu prédio. Contudo, ele segurou meu pulso esquerdo, fazendo-me voltar para ele.
— Não em sua casa, vamos para outro lugar. — O sr. Flanagan me puxou dali, indo em direção ao seu carro estacionado do outro lado da rua.
Eu não queria ir com ele. Fiquei com medo de que algo acontecesse... Algo entre nós dois, algo que iria me arrepender no futuro.
— Não acho uma boa ideia — soltei, hesitante.
— Melissa, confie em mim. — O chef Tom abriu a porta do carona e permitiu que eu entrasse.
Eu não deveria confiar nele... Mas não conseguia fugir dele. Ele entrou e ocupou o lugar do motorista. Uma sensação calorosa cobriu meu peito e lembrei da noite que o beijei ali dentro, naquele mesmo lugar.
Como em um estúpido baque percebi o motivo de ter ligado para ele, e também o motivo dele estar ali. Eu e ele não conseguíamos nos evitar, sempre arranjávamos motivos para voltar um para o outro, mesmo que por alguns minutos. E lá estava eu presa dentro de seu carro — mais especificamente em sua armadilha, — desejando nunca ser solta novamente.
Deixei que ele me levasse para onde quisesse, porque eu simplesmente queria e não iria tentar fugir. Talvez no dia seguinte me arrependesse de ter entrado naquele carro...
— Agora podemos continuar nossa conversa? Você não vai aceitar minha demissão? — Olhei-o de soslaio, rezando para que desse a resposta que eu queria.
— Não — respondeu novamente.
— Não para a conversa ou para a demissão?
— A demissão.
Ok, parecia que ele continuaria a se recusar. Porém, queria vê-lo suplicar pela minha permanência.
— Você sabe que não pode me obrigar a trabalhar para sempre em seu restaurante, certo? Eu tenho o direito de pedir demissão. — Cruzei os braços, tentando soar que estava falando super sério.
— E eu tenho o direito de recusar.
Grunhi, começando a me aborrecer. Por que ele não suplicava? Me contradizer não faria ficar no restaurante. Eu queria ouvir seu pedido educado, um olhar ardente e adocicado, transbordando súplica. Talvez estivesse me iludindo mais uma vez...
Não sabia para onde estávamos indo. Observei carros, a ponte, o rio e o Brooklyn passando por nós. Será que estávamos retornando para a festa? Será que ele me levaria para o restaurante? E onde estava a loira bonita que o tinha acompanhado para ir ao pub? A curiosidade dançou dentro de mim, ansiosa por saber o que ele tinha com aquela mulher.
— E onde está aquela mulher que estava te acompanhando mais cedo? Ela não vai ficar chateada por você estar comigo? — soltei, sentindo a serpente dentro de mim sibilando de êxtase.
Todavia, o sr. Flanagan não fez questão de responder minhas perguntas. Ele estava brincando comigo?
— Se você não vai dizer nada, então prefiro retornar para meu apartamento. — Foi só eu dizer aquilo que sua língua desenrolou e ele começou a responder.
— Ela está provavelmente no pub, onde a deixei antes de vir até você.
— E... Ela não vai ficar brava?
Ande logo, responda minhas dúvidas. Diga o que eu quero ouvir!
— Por que ela ficaria brava? — Tom Flanagan voltou seu belo rosto em minha direção, com suas sobrancelhas unidas e olhar confuso.
— Não sei... — Dei de ombros, formando um biquinho com meus lábios e fingindo inocência. — Talvez ela não goste de saber que o cara com quem está... Saindo esteja com outra mulher.
Aguardei sua resposta. Meus olhos brilharam de expectativa em direção ao homem do meu lado.
— Não acho que ela vá se importar — respondeu ele, também sem se importar.
O quê? Ele não diria mais nada? Não daria uma dica do que tinha com ela? Decidi contra-atacar com força.
— Ah, é verdade... — Minhas primeiras palavras chamaram sua atenção. — Tinha me esquecido que não sou importante...
Tom Flanagan freou o carro bem no momento em que o semáforo ficou vermelho. Voltou-se para mim e aproximou o corpo em minha direção. Parecia que eu havia conseguido chamar sua atenção.
— O que foi? — Pestanejei em sua direção, mantendo o olhar firme em seu rosto.
Céus, ele tinha ficado mais bonito desde a última vez que o havia visto de perto. Bem, da última vez que ficamos assim tão perto acabamos nos beijando. Eu deveria intervir, certo? Mas não queria.
Esperei ele dizer algo, mas ficamos apenas nos encarando. Seu rosto a poucos centímetros do meu, seu hálito tocando meus lábios e meu corpo começando reagir a sua proximidade. Esperei ele se aproximar, e sabia que ele também esperava o mesmo de mim. Escorei a cabeça na poltrona e aguardei sua iniciativa.
A mão esquerda dele tocou minha face com doçura, acariciando minha bochecha suavemente e descendo a ponta dos dedos pelo meu pescoço. Quase fechei meus olhos, mas sabia que não podia confiar nele. Mantive os olhos fixos nos seus, mas acabei me perdendo naquela imensidão de azul límpido e glorioso.
Olhei seus lábios rosados e lembrei de seus beijos. Lembrei-me de seu corpo contra o meu, pressionando seus músculos e quadris contra meu corpo. Lembrei da sensação... Da sensação de sua excitação contra minha coxa... Quase podia lembrar com detalhes de tudo... Uma pena que o toque real era melhor que a imaginação.
Ele se afastou de mim tão rápido quanto havia chegado perto. Acelerou o carro e partiu logo após o semáforo ficar da cor verde. O sr. Flanagan continuou dirigindo por Manhattan, me levando para uma parte que nunca tinha ido, mas com certeza já havia passeado por lá em meus sonhos.
Upper East Side surgiu diante de meus olhos. Rapidamente o Audi preto chegou a um prédio de apartamentos e o portão da garagem foi aberto. Descemos para a escuridão do estacionamento subterrâneo e visualizei vários carros chiques estacionados pelas vagas. Eu não poderia acreditar que estava em um dos prédios mais chiques e caros de Manhattan!
Tom Flanagan estacionou o carro entre uma Land Rover de cor preta e outro Audi vermelho de modelo diferente. Eu não entendia muito sobre carros, então não sabia quais eram os nomes específicos que cada um tinha, mas sabia que eles se diferenciavam em algumas características.
Saí do carro e toquei as pontas dos dedos na pintura do Audi vermelho. Ele era lindo... Senti um toque envolver meu pulso e Tom Flanagan estava ao meu lado.
— Onde estamos? — questionei, mesmo sabendo a resposta.
— Em minha casa. — Merda, pensei. O que significava ele ter me trazido até ali? Eu não permitiria que ele fizesse algo comigo.
— Todos esses carros são seus? — Apontei para a fila de carros ao lado do Audi preto recém-estacionado.
— Apenas a Land Rover e o Audi R8 Spyder.
Pisquei, confusa. Eu quase tinha acertado nome deles, pensei. Mas isso não importava no momento.
Puxei meu pulso esquerdo de seu aperto e finquei meus pés no chão.
— Você não disse o motivo de ter me trazido aqui. — Engoli em seco e observei a reação do sr. Flanagan.
Ele apertou o botão do elevador e voltou-se pacientemente para mim.
— Eu pensei que fosse óbvio... — Cerrei a mandíbula e apertei meu punho. — Viemos conversar sobre sua demissão.
Mentiroso! Eu quase havia tido um ataque cardíaco, achando que suas intenções eram outras. E talvez fossem, mas ele não havia dito em palavras e continuava a se negar.
— E precisava ser aqui? Não poderia ser em meu apartamento?
Ele balançou a cabeça negativamente, e seus olhos vagaram por mim novamente, observando minhas roupas desmazeladas e meu rosto ainda maquiado. Sempre que ele me olhava daquela maneira sentia como se meu coração fosse sair pela boca.
Antes que eu retrucasse e agisse racionalmente, a porta do elevador se abriu e o sr. Flanagan me puxou para dentro. Disse a mim mesma — enquanto estávamos dentro daquele cubículo pequeno e a sós — que não iria permitir ser levada facilmente por ele. Eu tinha que agir com mais firmeza e enfrentá-lo.
Ele apertou alguns botões no painel, que parecia algum tipo de senha. Permaneci calada, pedindo mentalmente que ele não desse mais um passo em minha direção. Eu temia que fosse incapaz de relutar e negá-lo.
Alguns minutos depois chegamos ao vigésimo sexto andar. As portas se abriram e me deparei em um corredor com piso de mármore branco. Ele saiu primeiro e o segui.
Tom Flanagan parou diante de uma porta escura e grande, pegou uma chave e enfiou na fechadura, girando a maçaneta e abrindo espaço para que eu entrasse. A primeira coisa que notei foi à mudança do piso. O piso de seu apartamento era de madeira laminado e percebi que a cor escura predominava pelo lugar.
Logo ao entrar nos encontrávamos em um corredor. Tinha uma porta ao lado, que provavelmente era um armário para casacos. Também havia uma cômoda na entrada com absolutamente nada em cima. Não tinha detalhes nas paredes, como quadros ou uma cor chamativa. Segui a diante, sem esperá-lo, e fui explorar o ambiente seguinte. Deparei com um recinto grande, com enormes janelas de vidro, que tinha uma cozinha com detalhes de mármore escuro. Além disso, uma mesa grande com cadeiras estava ali e a sala também dividia o espaço. Não era nada comparado ao meu apartamento, mas era bem separado e as cores e decoração davam um tom mais charmoso ao lugar.
Era cru e seco, mas sexy. Claro que era ridículo chamar um apartamento de sexy, mas sabendo do homem que morava ali, foi inevitável não pensar daquela maneira. Os sofás da sala eram de couro e a televisão era enorme. O tapete de um cinza escuro, as poltronas e a mesinha de centro eram as únicas coisas mais claras do ambiente.
Travei, sabendo que estava invadindo o espaço e observando tudo. Contudo, meus olhos não desgrudavam da falta de detalhes. Era um apartamento caro, mas sem coisas chamativas. Não havia livros, vasos, porta-retratos e quadros que decoravam o ambiente. A única coisa diferente eram os lustres cheios de detalhes.
A vista que se tinha das grandes janelas era impressionante. Conseguia ver com detalhes a cidade movimentada abaixo de nós. Senti vontade de me aproximar delas e ficar com o rosto colado no vidro. Contive minhas atitudes e senti o movimento do sr. Flanagan ao meu lado.
— Você é muito observadora. — O ouvi comentar. Instantaneamente meu rosto ficou vermelho de constrangimento. Não queria que ele notasse minha curiosidade e interesse por seu apartamento.
Ele foi em direção ao sofá da sala, retirou o blazer que vestia, e sentou-se. Seus olhos azuis vieram até mim, aguardando pacientemente. Decidi que sentaria o mais distante possível dele. Fui até onde ele estava e sentei na poltrona, longe dele. Cruzei as pernas, insegura, e apoiei as mãos sobre o joelho. O sr. Flanagan permaneceu calado por um tempo, apenas me observando. Aquela situação começou a ficar estranha, mas tentei agir como se não importasse.
— Não quer tirar o casaco? — questionou o chef Tom. Tratei de negar a cabeça veementemente, deixando bem claro que estava bem com o casaco.
Ele se apoiou com casualidade e colocou o braço no encosto do sofá. Aguardei suas palavras, mantendo meus olhos indo e voltando dele. Queria e não queria olhá-lo. Temia o próximo passo e a próxima palavra dele.
— Pode me olhar, se quiser, Melissa. — Odiava como meu nome soava em seus lábios. Odiava como sua voz era boa de ser ouvida e apreciada. Eu o odiava.
Decidi encará-lo, retribuindo seu olhar. Ele apenas me fitava com curiosidade e demasiado interesse. Já eu o encarava com raiva e... interesse.
Não queria estar ali, mas ao mesmo tempo sempre imaginei em como seria a casa de Tom Flanangan. Não se comparava com o apartamento do Christian Gray de 50 tons de cinza, mas era grande e provavelmente bem caro, já que nos encontrávamos no Upper East Side. Deliberei que não poderíamos permanecer nos encarando daquela maneira durante a noite toda. Ele tinha me trazido ali para debatermos sobre minha demissão, então era o que iríamos fazer.
— Bem, acho que você me trouxe aqui para continuarmos a falar sobre minha demissão — eu disse. Ele semicerrou os olhos, mas se manteve impassível. — Não mudei minha decisão. Ainda quero me demitir.
— Você ainda não me concedeu uma justificativa viável para aceitar seu pedido de demissão — retrucou ele, mantendo a pose.
— Acho que o fato de eu querer é mais do que o suficiente.
— Discordo — negou o sr. Flanagan. Eu odiava essa sua atitude. Não poderia me deixar em paz apenas uma vez? Eu só queria seguir minha vida sem tê-lo em mente o tempo inteiro.
— Eu quero me demitir, sr. Flanagan. Você não pode me impedir de fazer isso — falei, já sentindo o aborrecimento surgir.
Naquele momento ele mudou de posição. Seus olhos focaram em seus sapatos caros, se curvou e apoiou os braço nos joelhos, parecendo estar refletindo sobre algo.
— O que preciso fazer para você ficar? — perguntou, em tom de súplica. Dessa vez seu olhar era mais suave e me atingiu em cheio. Senti meu coração disparar enlouquecido e ansioso pelo homem em minha frente.
Ele queria que eu ficasse? Por essa não esperava. Eu ficaria se ele fizesse algo por mim? Naquele momento fiquei sem palavras. Eu queria dizer algo, mas não sabia o quê.
Tom Flanagan se levantou e veio em minha direção. Arregalei meus olhos, já imaginando suas intenções. Todavia, ele foi em direção à janela ao meu lado, abriu-a e deixou o ar frio entrar. Senti um arrepio subir pelo meu corpo, imaginando que fosse pelo frio, mas sabia que era pelo homem a centímetros de mim.
Ele se apoiou ao lado da janela, cruzou os braços e observou a cidade movimentada a baixo. Eu queria sair dali e manter distância, mas permaneci e fiquei observando seu belo rosto. Quantos anos ele tinha mesmo? Tentei buscar aquela informação em minha mente, mas falhou. Ele não parecia velho, mas também não era jovem.
O sr. Flanagan era um homem que vinha de uma família rica, mas se tornou bem sucedido sozinho. Provavelmente poderia estar administrando uma grande empresa e usando um terno caro atrás de uma mesa, mas havia preferido estudar culinária e usar dólmãs. Entretanto, eu poderia afirmar com convicção que ele ficava bem usando qualquer roupa.
Uma estranha sensação surgiu em minha mente. Em um instante seguinte me vi fitando seus olhos azuis e tendo o olhar retribuído, mas logo em seguida me perdi em uma lembrança simples e que parecia tão sem significado. Na verdade, qual era o motivo do sr. Flanagan me manter em seu restaurante? Eu havia quebrado mil louças caríssimas, chegado atrasada outras quinhentas vezes e o retrucado sempre que tinha oportunidade. Eu era uma péssima funcionária, mas ele ainda me mantinha por lá. Qual era o motivo?
Uma lembrança que aconteceu há um pouco mais de um ano surgiu, quente, vívida e importante.
Eu finalmente teria uma entrevista depois de meses procurando um novo emprego. Tinha perdido o meu antigo há cerca de três meses e ficar todo esse tempo sem trabalhar não trazia nenhum benefício para mim e Lilly. Precisávamos pagar aluguel, alimentação, energia, água e transporte. A falta do dinheiro começou a surgir e a trazer problemas. Já havia entregado meu currículo em empresas e lojas, mas ninguém me dava retorno algum. Não tinha conseguido ir a nenhuma entrevista, então já estava ficando sem esperanças.
Eu trabalhava em uma recepção de uma loja de cosméticos. Sempre tinha que estar bem arrumada e maquiada. Isso me tirava do sério, já que era uma das coisas que menos gostava de fazer. Contudo, ocorreu um problema. Um dinheiro sumiu do caixa e a única pessoa que tinha acesso a ele era eu. E eu jamais roubaria dinheiro ou qualquer coisa. O pior não foi ser demitida, mas acusada injustamente. Mas infelizmente eu não tinha provas que mostravam o contrário.
A dona da loja decidiu ser piedosa e não me entregar para a polícia, mas me demitiu sem direito algum. Saí com uma mão na frente e outra atrás, como meus pais diziam em casos como aquele.
Foi difícil contar para meus amigos o que havia ocorrido. Ambos haviam acabado de terminar a faculdade e sonhavam alto com seus próprios trabalhos. Já eu tive que conviver com minhas próprias frustrações, sabendo que tinha acabado de ser demitida e não tinha nenhum ensino superior que enfeitava meu currículo e chamava a atenção. Já tinha trabalhado em lojas de departamento, sendo secretária, recepcionista e até trabalhei em uma lavanderia. Contudo, outros trabalhos requeriam algum curso ou ensino superior, e nada disso eu tinha. Então, permaneci procurando um trabalho que pagasse razoavelmente bem e aceitasse meu currículo pobre, além de uma garota acusada de roubo.
Naquele dia eu tinha recebido uma ligação dizendo que teria uma entrevista em um restaurante. Eu tinha entregado meu currículo em tantos lugares que já não me lembrava de qual restaurante se tratava. A moça do outro lado da linha informou o endereço e hora. E eu tinha uma entrevista de emprego no restaurante Flanagan Garden!
Conhecia o lugar por ser muito famoso e frequentado por celebridades e pessoas ricas. O chef do lugar era popularmente conhecido por criar e cozinhar excelente comidas. Eu sabia que jamais teria um tostão no bolso para comer uma comida como aquela, mas trabalhar no lugar já seria um grande passo em minha vida.
Foi difícil decidir a roupa que usaria, mas como já estava em cima da hora decidi vestir uma das primeiras coisas que encontrei e que parecia adequado. Vesti uma calça jeans azul, uma blusa social branca e uma jaqueta acolchoada. Não era uma das melhores roupas, mas eu não tinha roupas chiques para entrevistas, então tive que me contentar com aquelas.
Peguei uma bolsa bonita e enfiei minhas coisas lá dentro. Transpassei-a por meus ombros e corri para o dia. Dentro de 45 minutos tinha minha entrevista e ir até o local demoraria meia hora. Peguei o metrô e segui sonhando acordada. Eu seria uma recepcionista? Garçonete? Secretária? Qual seria minha função? Eu ganharia bem? E a mais importante, eu seria contratada?
O tempo correu e eu tive que fazer o mesmo. Verifiquei o endereço no GPS de meu celular e apertei os passos. O dia estava quente e senti o suor escorrer atrás de meu pescoço. Argh, que nojento!
Dez minutos depois me encontrava em frente ao restaurante Flanagan Garden. A fachada era escura e o nome brilhava em letras chiques, além de uma informação gigante afirmando que eram cinco estrelas. Empurrei a porta e adentrei o estabelecimento. Fiquei aliviada ao sentir o ar-condicionado e desejei ardentemente um copo d'água.
Vi uma moça atrás da pequena recepção. Ela ergueu seu olhar desinteressado e me fitou.
— Em que posso ajudá-la? — questionou, agindo educadamente.
— Vim para uma entrevista de emprego — respondi, abrindo o sorriso e não deixando que nada me afetasse.
— Qual é o seu nome? — a recepcionista perguntou, olhando para baixo e procurando por algo.
— Melissa Fontoura.
— Você é a última a chegar. — Ela tirou uma folha e colocou em minha frente. — E as entrevistas acontecem por ordem de chegada.
Travei, me sentindo uma idiota. Quis retrucar, já que haviam me passado a informação há pouco tempo e eu morava longe. Decidi ficar calada e pegar o papel que ela estendia para mim.
— Você pode aguardar com as outras logo ali. — A recepcionista me indicou o que parecia ser o bar e segui até lá.
O estabelecimento estava vazio, além de umas quinze garotas que se encontravam por lá. Algumas das jovens se sentavam às mesas e conversavam entre si. Outras se encaravam pela tela do celular, verificando a própria aparência. E eu me juntei as que ficavam sentadas em silêncio, aguardando para serem chamadas.
O restaurante era incrível por dentro. Havia dezenas e mais dezenas de mesas de cores escuras e cadeiras com estofados vermelhos. E também tinha uma decoração muito atrativa, como ornamentos com flores e plantas, lustres e paredes com desenhos de arabescos. O piso era de mármore escuro. Tinha um tom sinistro, mas o local era bem iluminado, diminuindo aquela sensação.
Infelizmente, também percebi que não usava uma roupa apropriada. Algumas daquelas jovens vestiam roupas bonitas, como vestido e blazer com saia. E eram incrivelmente bonitas. Na verdade, tive a impressão que estava em algum tipo de seleção para Miss e não para uma entrevista de emprego.
Sabia que havia escolhido a roupa errada, mas estava na pressa e não tinha nada adequado para usar. Senti o arrependimento rondar meu peito, junto à decepção, sabendo que jamais seria escolhida. Em lugares como aquele a aparência era também uma coisa a ser avaliada e, me comparando com elas, encontrava-me em um nível bem inferior.
Tentei pensar positivo, mas também sabia que não iria me surpreender ao ser recusada. Mantive a postura e fui responder a folha de questões que havia recebido da recepcionista. Procurei uma caneta dentro da bolsa e apoiei a folha sobre a mesa do bar, focando naquela função.
As perguntas eram do tipo: Qual é o motivo de ter se candidatado para trabalhar no restaurante Flanagan Garden? Já trabalhou em um restaurante antes? Se sim, qual era sua função? Já trabalhou antes? Se responder sim à pergunta anterior, você se demitiu ou foi demitida? Justifique sua resposta.
As respostas poderiam ser simples, mas me senti como se estivesse fazendo uma prova. Comecei a responder, sabendo que estava mentindo na maioria. Não tinha um motivo específico para trabalhar no restaurante, mas decidi ser sincera. Se já havia trabalho em um restaurante antes, respondi que sim — uma mentira deslavada, e eu provavelmente inventaria algo na hora. Em relação a última pergunta, decidi não responder tão a fundo. Respondi que tinha sido demitida, mas não coloquei o motivo. Provavelmente seria questionada sobre isso, mas no momento encontraria a resposta adequada.
Os minutos se passaram e uma jovem mulher surgiu. Ela começou a chamar nome por nome e levava cada jovem para o andar de cima, onde ocorreria a entrevista.
Duas horas depois eu ainda estava no mesmo lugar, aguardando pacientemente minha vez chegar. Cada garota passou e foi embora. Odiava ter que esperar, mas tive que morder minha língua e ficar sentada. Eu precisava passar naquela entrevista, pois necessitava daquele emprego. Daria meu melhor, pensei, com convicção.
Então, finalmente, a jovem mulher surgiu e chamou meu nome. Senti certo alívio, mas tensão, sabendo que meu momento havia chegado. Ela chamou o elevador e adentramos nele. Subimos cerca de dois andares, até nos encontrarmos no segundo andar, onde havia algumas salas com funcionários. Lá tinha de tudo, pelo visto. Parecia que o dono do lugar não só buscava funcionárias para trabalhar no andar de baixo, mas na administração e outras coisas. Sabia que jamais conseguiria um cargo naquele lugar, mas mantive a fé que seria admitida.
A mulher me guiou até uma sala e abriu a porta, dando espaço para que eu passasse. Entrei em um escritório simples, mas bonito. Não tinha nenhum detalhe ou decoração que chamasse atenção. A vista era o ponto principal e o homem sentado atrás da mesa. Ele era de cair o queixo, isso foi à primeira coisa que notei.
A moça, que parecia ser a secretária dele, me acompanhou e sentou em uma mesa no canto. Senti um pouco segura ao saber que teria outra pessoa ali, mas permaneci acanhada. Ele olhava alguns papéis, mas logo ergueu o olhar ao perceber minha presença.
Senti a garganta seca e dei pequenos passos em direção à mesa comprida com o esbelto homem sentado atrás dela. Percebi que seria entrevistada pelo dono do lugar e não tinha vestido nada apropriado para aquele momento. Ele se levantou, cortês, e estendeu a mão em minha direção.
Parei em sua frente e fiz o mesmo gesto, apertando sua mão em cumprimento. Eu poderia dizer que nada aconteceu, mas isso seria entediante. Sim, eu senti um arrepio subir pela minha espinha. Aquele homem era incrivelmente quente, em todos os sentidos. Desde seus cabelos escuros caindo sobre a testa, os olhos azuis claros, até as roupas que vestia. Ele usava uma camisa social preta com as mangas enroladas e uma calça social escura. A vestimenta era simples, mas ficava perfeitamente boa nele.
Provavelmente ele notou minha cara de boba encantada por ele, mas ignorou.
— Prazer em conhecê-la, me chamo Tom Flanagan... — apresentou-se ele, a voz grave e ao mesmo tempo suave. Seus olhos vagaram pelos papéis sobre a mesa. — E você é a Melissa Fontoura, certo?
Achei uma graça quando ele falou meu sobrenome. Talvez meu rosto estivesse corado de euforia e encanto por aquele belo homem. Assenti com a cabeça e desfizemos nosso cumprimento. Ele indicou a cadeira para me sentar, e o fiz.
Cerrei os dentes e envolvi minhas mãos umas nas outras, tensa e aflita por aquele momento. O que viria a seguir? Observei-o pegando meu currículo e folheando ele com curiosidade.
— Melissa. — Meu nome dançou em seus belos lábios. Ele voltou à atenção para mim. — Te entregaram uma folha com perguntas mais cedo?
Tratei de assentir e entreguei para ele. O homem sentado diante de mim avaliou cada resposta com atenção, até uma pequena ruga surgir em sua testa.
— Você não justificou o motivo de sua demissão — afirmou ele, observador. Fiquei sem palavras, confusa e completamente perdida. Eu não queria contar a verdade, mas ela seria a única que me ajudaria a conseguir aquele emprego.
— Eu achei melhor responder diretamente para o senhor — tratei de dizer. Ele tombou a cabeça, parecendo nem um pouco convencido das minhas palavras.
— Certo, já que você insiste. — Ele voltou à atenção para minha folha com respostas. — Aqui diz que você tem 22 anos, certo?
Assenti com a cabeça e observei um traço de uma emoção estranha passar pelo seu rosto. Aquilo era decepção?
— Você é bastante jovem — afirmou o sr. Flanagan. Acho que poderia chamá-lo de sr. Flanagan, certo? Certo! — Nunca pensou em estudar ou algo do tipo?
Aquela pergunta me atingiu em cheio. Era uma das que eu menos gostava de responder, mas decidi abrir um sorriso e responder de queixo erguido.
— Infelizmente, não consegui ser aceita em nenhuma faculdade quando terminei o ensino médio... — respondi. Ele me olhou, aguardando a continuação da minha resposta. — E eu não poderia ser considerada a melhor aluna para conseguir tal feito.
Soltei um breve riso, tentando não soar tão estúpida. Era constrangedor dizer que eu tinha sido burra e incapaz de conseguir uma bolsa de estudos.
— E você nasceu e viveu sempre na Flórida? — continuou ele, agindo como se não importasse com a minha resposta anterior. Respondi como se nada tivesse me abatido.
— Sim, eu nasci e vivi toda a minha adolescência na Flórida, especificamente em Jacksonville. Mas depois que terminei o ensino médio me mudei para Manhattan. — Ok, até agora eu estava conseguindo manter a calma e agir naturalmente.
— E depois para o Brooklyn?
Assenti em resposta à última pergunta.
— E qual é o motivo de você ter se candidatado para trabalhar no restaurante Flanagan Garden? — Eu tinha respondido aquela pergunta na folha entregue para mim mais cedo, mas parecia que ele queria ouvir cada resposta minha.
Decidi que iria ser sincera, então respirei fundo e tratei de responder. Inclinei meu corpo em direção à mesa e apoiei minhas mãos sobre o joelho.
— Bem... Não sei se a maioria das pessoas deve ter respondido isso, mas imagino que sim. Eu realmente preciso desse emprego, como qualquer outra pessoa, mas já tentei em todos os lugares e não recebi nenhuma chance... E, como qualquer outra pessoa, tenho contas para pagar e não quero decepcionar outras pessoas que vivem e contam comigo... — Solto um suspiro, dramatizando a situação. — Mas pelo o que ouvi falar e li em revistas e no jornal, o restaurante Flanagan Garden tem se destacado nos últimos anos, sendo considerado um dos 10 melhores restaurantes de Manhattan e, talvez, de Nova Iorque.
Percebi que minhas últimas palavras chamaram a atenção do homem sentado em minha frente. Continuei a falar, mantendo um bom discurso e desejando que fosse o suficiente.
— E, como qualquer outra pessoa, gostaria de trabalhar em um lugar tão bem falado e conhecido dessa maneira... E, falo com convicção, que sou capaz de trabalhar em qualquer área, já que me aperfeiçoo em qualquer função que receber. E também aprendo rápido! — completei, esperando que aquela resposta fosse o suficiente.
Notei que os olhos azuis dele vagavam pelo meu rosto, atentos e curiosos. Eu queria saber mais dele, além da bela aparência que conseguia enxergar. O sr. Flanagan assentiu, parecendo surpreso e voltou os olhos para a folha.
— Bem, você não foi a única a falar da nossa popularidade. — Ele soltou um breve riso e ouvi a secretária acompanhando.
Juntei as sobrancelhas, percebendo que ele havia caçoado de mim. Decidi ignorar e continuar agindo educadamente.
— Aqui você disse que havia sido demitida... — prosseguiu ele, naturalmente. Merda! Agora vinha a pior parte. — E também me disse que preferia justificar a causa pessoalmente para mim... É por que você foi acusada de roubo?
Como ele sabia daquilo? Quis xingar na mesma hora, surpresa. Contudo, a vergonha foi maior. Eu não queria que ninguém soubesse daquilo, mas lá estava ele questionando diretamente para mim. Tive que assentir e fiquei de cabeça abaixada. O que poderia responder? Aquilo não era verdade, então não havia nada o que contar.
— Pode me responder, srta. Fontoura, por que foi acusada de roubo? — Ele queria saber, percebi, e se respondesse de forma sincera, talvez houvesse alguma chance de ser contratada.
Engoli em seco e o fitei.
— Fui acusada injustamente, sr. Flanagan. Eu não roubei ninguém — respondi. Vi ele semicerrando os olhos, fitando-me atentamente. — Eu... Jamais faria isso. Nunca fiz isso em minha vida, e não seria agora que faria. Não sou necessitada e nem cleptomaníaco.
— Cleptomaníaco? — repetiu ele, arqueando as sobrancelhas e me olhando com diversão.
— Sim! Meu superego jamais permitiria que eu cometesse tal atitude... Sei que senhor não vai acreditar em mim... — Soltei um suspiro e fiquei cabisbaixa. Me sentia péssima ao dizer aquilo e senti o julgamento se sobrepondo ao meu redor.
— Por que eu não acreditaria em você? — Sua pergunta me pegou desprevenida, tanto por eu não ter uma resposta. — Melissa Fontoura, você roubou alguma coisa da loja que trabalhava?
Neguei com a cabeça e permaneci calada.
— Então, pra mim isso é o suficiente — afirmou. Me surpreendi e encarei Tom Flanagan, incapaz de acreditar em suas palavras. Ele acreditava em mim? Aquilo era impossível! — Você disse que é capaz de se adaptar com qualquer função que receber, certo?
Assenti, ainda incapaz de dizer qualquer coisa.
— Eu tenho uma função para você, uma que se adeque ao seu currículo. — Olhei-o cheio de expectativa. O sr. Flanagan folheou o meu currículo. — Você já trabalhou em um restaurante antes? Ou atendendo pessoas, ou algo do tipo?
— Sim! – respondi, confiante. — Eu trabalhei atendendo pessoas em vários outros empregos que tive desde que cheguei em Manhattan. Mas... — Hesitei. Agora era hora da mentira. Ok, não seria uma mentira tão grave. Somente uma mentirinha boba, para me ajudar. — ... Minha mãe teve um restaurante na Flórida e sempre a ajudei cuidar das coisas. Fazia várias coisas, além de atender os clientes nas mesas, também atendia no caixa e entre outras coisas.
Certo, nem foi tão difícil, pensei.
— Certo, isso é tudo o que preciso. — Ele abriu um sorriso divertido e eu o retribuí, um pouco nervosa.
Tola era eu em acreditar que Tom Flanagan era piedoso e bom. Em acreditar que essa era a intenção dele desde o início. Agiu como piedoso apenas para me dar uma função que ganhasse menos que qualquer garota com um currículo melhor que o meu, um trabalho que requeria trabalho físico e manual. Eu ainda não o odiava, não naquele momento.
Ele se levantou com naturalidade e fiz o mesmo.
— Bem, então nossa entrevista acabou por aqui — falou, sorrindo sem mostrar os dentes.
Eu poderia defini-lo como uma cobra. Era esperto e enganava suas presas apenas com o olhar. E era isso que eu era, sua presa. Naquele momento e enquanto estava sentada em uma poltrona na sua sala de estar.
Naquele dia ele me levou até o elevador, chamou-o para mim, apertou minha mão com uma promessa de que em breve me ligaria. E eu ingenuamente assenti, convicta de que receberia uma ótima função. Entrei no elevador com uma sensação estranha, mas não me importei, pensando que só fosse o nervosismo pós-entrevista.
Eu deveria ter caído na real e percebido que estava me envolvendo com alguém mais esperto do que eu.
Em alguns dias eu receberia a ligação com a confirmação de ter sido contratada e com minha função. Fiquei chocada e um pouco insatisfeita ao saber que trabalharia lavando pratos, mas naquele momento aquilo era o melhor que tinha para mim. O salário era bom no limite aceitável e eu trabalharia oito horas ao dia, durante a noite.
O pior não foi isso, receber essa função — eu estava feliz, — mas ver cinco das quinze garotas, que estavam comigo, trabalhando em outros cargos melhores que o meu. Eu senti inveja, e era ela falando mais alto que minha sanidade e gratidão, mas todas elas tinham uma função em que interagiam com o público ou sentavam-se confortavelmente no andar de cima, atendendo telefonemas e marcando reservas.
Então, a garota feia, a Cinderela, ficava lavando pratos e tolerando engolir ofensas e ironias do chefe dela.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro