Uma noite qualquer
As luzes coloridas, gritos, risos e o cheiro da pipoca misturava-se a sensação de friozinho na barriga de Carina a cada descida do Barco Viking. Seu gêmeo, Carlos, ergueu os braços e ria quando o brinquedo do parque atingiu seu ápice. Ela fechou seus olhos para fugir do pânico da descida veloz.
Depois das pernas estarem bambas e a voz rouca pelos gritos escapados na montanha-russa, no kamicaze e no chapéu-mexicano, o irmão, finalmente concordou em finalizar a noite na tranquila roda-gigante. Carina observou com encantamento a vista panorâmica do mar noturno, ao lado do parque, sobre o qual as luzes da cidade refletiam seus brilhos.
Após usarem todos os ingressos, a dupla deu início à marcha pela avenida à beira do mar com destino a casa de veraneio, onde seus pais provavelmente conversavam jogando cartas enquanto a cuia do chimarrão passava de mão em mão.
— A caminhada é longa. — Carina resmungou, ao alcançarem a estátua de três peças formando a imagem de um boto, símbolo de Imbé. — Devíamos ter pegado um táxi na principal.
— Que nada! — Carlos se animou ao continuar o caminho pelo calçadão vazio de final de veraneio. — Em poucos minutos chegamos. Faltam só 12 casinhas de salva-vidas, aí entramos na rua e caminhamos mais duas quadras.
Carina, que ainda devorava uma maçã do amor trazida do parque, fitou o número pintado nas costas da casinha de salva-vidas afundada na areia branca da praia e concordou com o irmão.
Ela observou as ondas estourarem na praia. A espuma branca de uma onda sobre a outra se espalhavam pela areia como imensos véus imersos na escuridão. Algo no mar chamou sua atenção, quando uma das espumas brancas foi desviada por algo dentro da água.
— Ei! — Chamou o irmão com um aceno nervoso e apontou. — Olhe! Acho que tem alguém dentro do mar.
— Um surfista? — Carlos comentou sem interesse.
— Não vejo a prancha. — Ela confirmou com as sobrancelhas cerradas.
Os olhares se cruzaram em alerta, os gêmeos correram para a areia em direção ao mar.
— Ei! — ele gritou para a pessoa que parecia boiar há alguns metros dentro da água. — Você está bem?
Carina acompanhava calada a angustia do irmão. Estava escuro e frio, o medo de que fosse alguém em perigo a dominou quando não houve respostas.
— Faz alguma coisa! — ela gritou para Carlos ao deixar o palito em que antes houve uma maçã do amor se perder na escuridão ao cair na areia.
Em angustia ele tirou a camisa, pronto para adentrar o mar, contudo o vulto nadou em direção a eles se revelando uma garota jovem. Carina sentiu um alívio pela garota parecer bem.
— O que essa louca fazia no mar essa hora da noite? — ele sussurrou para a irmã.
Ela deu de ombros. Permaneceram confusos a espera da garota misteriosa.
— O que fazem aqui? — a voz ríspida da garota com longos cabelos castanhos e pele pálida ecoou a frente deles.
— Achamos que estivesse se afogando. — Carlos se mostrou irritado com a falta de agradecimento da garota.
Sem dizer nada, a estranha espremeu o excesso de água dos longos cabelos e do curto vestido floral a colar-se molhado sobre o corpo magro. Ignorava os olhares interessados do garoto em sua direção. Então, de repente, os encarou de um modo tão penetrante que Carina sentiu um frio inexplicável percorrer sua espinha.
— Não deviam estar aqui. As noites podem trazer surpresas desagradáveis. — Uma fileira de dentes brancos surgiu no rosto irônico da garota.
Carlos bufou e estava pronto a responder algo desagradável quando Carina o puxou fazendo com que se afastassem. Ele resmungava pela grosseria da garota misteriosa enquanto avançava para o calçadão. Carina olhou de relance para trás. Não avistou a garota e isso lhe deixou uma sensação amedrontada no peito. Havia algo muito estranho no ar.
Ela obrigou o irmão a apressar o passo e olhava assustada para todos os lados. Que não fosse uma garota fantasma, por favor. Ela sussurrava baixinho para si enquanto entoava rezas de infância.
Um carro vindo com velocidade pela rua principal os iluminou com o farol por alguns segundos. Por um momento, Carina quase pediu carona quando o vento zumbiu em seus ouvidos de maneira arrepiante e ela temeu ter algo escondido no escuro que esperava por eles. Forçou o irmão a se apressar ainda mais.
— O que deu em você? — Carlos resmungou ao ser carregado pela mão. — Está com vontade de ir ao banheiro?
— Não, eu só quero chegar rápido em casa. — Carina abaixou a voz. — Tem algo errado nessa noite, eu sinto.
— Que besteira! — ele riu. — Ficou assim por causa da louca no mar? — Ele passou o braço sobre os ombros da irmã. — Você é muito impressionável. Era apenas uma louca, apesar de ser bem gata.
— Tem razão, na parte de ser louca. — ela forçou um sorriso. Talvez estivesse mesmo exagerando. Afinal ela tinha esse costume. Quantas vezes na infância ela não pensou ter visto um monstro embaixo da cama ou dentro do armário, mas não era nada.
Ao atravessarem a Beira Mar para entrarem na rua que levaria a casa alugada, Os gêmeos estancaram o passo ao perceber um carro jogado ao meio da rua, como se tivesse tentado desviar de algo. A porta do motorista se encontrava aberta.
Carlos andou devagar na direção do carro. Carina o seguiu agarrada por sua camisa, esperava que não houvesse ninguém ferido.
Sem reação se depararam com a garota de vestido floral, ainda molhado, dobrada sobre um homem desacordado. Sua boca se fechava sobre o pescoço dele como um animal faria a uma presa.
Os gêmeos soltaram um grito em uníssono. Os olhos da terrível criatura elevaram-se negros na direção deles. E ao se afastar do pescoço pulsante, ela sorriu com os caninos pontudos vermelhos de sangue que escorriam por seus lábios.
Em desespero Carlos agarrou a mão da irmã e a puxou pela estrada. Correram como nunca o fizeram, invadiram a casa de veraneio como um furacão. Em tremedeira e com palavras confusas tentaram contar aos pais sobre o inexplicável. Os adultos não acreditaram neles, mas diante do pavor nos olhos dos jovens decidiram ir até o lugar indicado. Pois como chamariam a polícia e contariam essa história bizarra de garotas vampiras atacando no litoral norte?
Ao alcançarem o lugar, nenhum indício do ocorrido. Nem carro, nem sangue, nem marcas de pneu, nem nada. Os garotos se olharam incrédulos.
— A vampira deve ter levado o carro. — Carlos disse em sua defesa.
— Estão grandinhos para pregar essas peças. — O pai o repreendeu aborrecido.
— É verdade, nós vimos. — Carina confirmou em pânico.
— É tarde, estou sem paciência para essas brincadeiras de gêmeos. — A mãe bufou.
Os adolescentes tentaram argumentar, contudo os pais não estavam dispostos a acreditar neles, só lhes restou ceder e acompanhar os adultos de volta para a casa. Apesar dos dois saberem que provavelmente não conseguiriam dormir nunca mais com a mesma tranquilidade de antes.
Agora eles conheciam a verdade de que criaturas maléficas vagavam á noite escondidas por máscaras de jovens indefesas. Todos corriam perigo e eles não poderiam fazer nada para salvá-los, pois quem acreditaria neles?
*****
Tenham cuidado à noite na praia nesse verão, vai que tenham um encontro inesperado. ahaha
Gostaram? Amo histórias de vampiros desde Anne Rice, Drácula, Academia de Vampiros, Crepúsculo. Umas mais que as outras. E uma história inteirinha com vampiros está em processo de finalização. Espero ainda esse mês trazê-la para vocês.
Enquanto aguardam, que tal indicarem esse conto pequeno para seus amigos? Ficaria muito feliz.
Acompanhe minhas redes sociais para saber as novidades!
Insta: @autorasgconzatti
Face: https://www.facebook.com/SGConzatti
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro