Fome - cap. 3
Conforme a semana passava a sensação de fome constante, os sonhos com Capivaras e as escapadas durante a noite em busca de cheiros saborosos se agravava. Mas a cada novo dia a culpa e a estranheza diminuíam, enquanto a vontade de se saciar dominava sua mente cada vez mais turva.
As falas de amigos em ligações preocupadas com seu sumiço, as imagens na TV e as letras escritas nos livros pareciam fazer cada vez menos sentido, como se aos poucos sua mente entrasse em esquecimento. Não se apresentou à faculdade na primeira semana, a mãe se preocupava, mas não lhe obrigou.
Preso em sua constante confusão mental ficava sozinho no quarto. Já nem descia para fazer as refeições na companhia da mãe. Dizia estar com um resfriado, e ela não questionou.
— Filho, eu trouxe o almoço. — a mãe entrou no quarto escuro, com a voz trêmula.
Encontrou o filho sentado no canto. Ele olhava para um ponto fixo na parede, como se não percebesse sua presença. Entre soluços chorosos ela chamou novamente o nome dele.
Lucas a olhou por alguns segundos e sorriu ao receber o prato em suas mãos. Sem dizer nada ele agarrou o bife com as mãos e o devorou, deixando o restante da comida caída no chão assim como o prato.
— Não pode ser! — A mulher o observou com aflição. — Não! Por favor, não!
— Mais carne! — Lucas gritou com uma voz grossa, indiferente as lágrimas da mulher, como um zumbi faminto. — Mais!
Como a mulher não se mexeu, ele avançou pela porta do quarto empurrando o que estava em seu caminho. Ao alcançar a cozinha Lucas começou a derrubar as coisas até encontrar a panela com mais bifes assados. Ele se sentou no chão e começou a comê-las com a mão.
Um cheiro ameaçador surgiu. Lucas virou rapidamente a cabeça em direção à porta. Um homem de olhar gélido lhe encarar, uma olhar familiar. Ele recordou do homem do bar, e como aquele olhar era uma ameaça real. Aflito ele soltou um som semelhante a um rosnado e deu alguns passos para trás.
— Não! — A mãe de Lucas veio correndo em seu socorro e começou a soquear o homem. — Vá embora! Deixe meu filho em paz. Por favor, eu cuidarei dele.
— Sinto muito! — O homem olhou com pesar para a mulher. Deixando que esta lhe atingisse com seus punhos. — Logo ele será uma Besta da Lua, eu lhe avisei.
— Não é verdade! — A mulher se ajoelhou derrotada. — Não é verdade! Ele pode ser como o pai, vai aprender a ter controle.
— Você esta enganada. Ele é um mestiço, ele nunca será como o pai. — o homem balançou a cabeça como quem dá uma má notícia.
— Seu mentiroso! — a mulher voltou a gritar, e pegou uma faca de cima da mesa ao se levantar e apontou na direção do homem. — Vá embora.
Aquele olhar gélido não se afetou pela ameaça, virou-se de costas e começou a se ausentar.
— Fiz uma promessa ao pai dele. Uma promessa a um irmão de clã. — o homem sussurrou em seu caminho até a porta. — Devia ter acabado com isso quando nos encontramos há 10 anos.
O homem voltou a olhar para a mulher que tremia, os nós de seus dedos estavam brancos pela força imposta sobre a faca.
— Não deixei que ferisse meu filho naquela época, e não vou deixar novamente. Vá embora demônio!
Lucas se mantinha encolhido no canto de olhos atento aquela dupla, como faria um animal acuado. Os olhos do homem fitaram-no sem mais ameaças.
— Amanhã no auge da Lua Cheia ele não será mais seu filho. E você não poderá fazer nada para salvá-lo! — o homem soltou um suspiro e saiu.
A faca fez um som oco ao cair no chão. A mulher envolveu seu filho com os braços e chorou. Lucas tentava formular uma palavra ou mesmo um sentimento, mas simplesmente não conseguia. Não por não saber o que dizer, e sim por que sua mente havia esquecido como se fazia.
*****
Quem já leu os outros livros da série tem um palpite quem é esse homem misterioso? Será que Lucas vai conseguir reverter essa mudança?
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