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CAPÍTULO 5

Era de conhecimento comum que os elfos possuíam visão de águia, audição aguçada, um pouco de vidência, força sobre humana e super velocidade.

A própria Ani, uma elfo recém transformada, era capaz de correr com o vento, ouvir e enxergar coisas a quilômetros de distância.

Contudo, nem em seus maiores devaneios, ela seria capaz de imaginar a cena que se desenrolou bem diante dos seus olhos.

Cenas essas que, em sua maioria, podiam ser marcadas pelas batidas do seu coração.

Tum-tum!

As rainhas das Fadas e da Floresta posicionaram-se ao lado de Círdan e Lady Allania.

Tum-tum!

Naerel ordenou:

- Parem pelo próprio bem de vocês!

Tum-tum!

Corus lançou um feitiço de ataque na direção dos tronos.

Tum-tum!

Cam bloqueou com um contra feitiço.

Tum-tum!

A Rainha Allania pulou na garganta do Rei de Balestrino, derrubando-o.

Tum-tum!

O Exército Sombrio e o de Arvedui cercaram os inimigos.

Tum-tum!

Oron fugiu através de um portal, levando com ele Corus e a comitiva dos dois reinos.

Tum-tum!

A rainha, que mantinha Corus preso pelo pescoço, se desequilibrou e caiu assim que ele sumiu debaixo de seu pé.

Tum-tum!

Daena gritou arqueando o corpo para trás e esticando os braços.

Tum-tum!

Faramir correu para ela, mas uma espécie de campo de força impediu que a tocasse.

Tum-tum!

Ani se assustou quando Lady Allania surgiu ao seu lado envolvendo seus ombros.

Então, tudo voltou ao seu ritmo normal e todos olharam aterrorizados quando o rosto da guerreira se transfigurou em dor e ela levitou, irradiando uma luz branca intensa de seu peito.

- É chegada a era em que a maldade guerreará, matará e morrerá. - Daena falou daquele círculo luminoso que a cercava, com uma estranha voz metalizada - É chegada a era que a maldade levará os seus do fogo ao pó.

Ani sentiu um calafrio subir por sua espinha.

- Preparem-se, filhos de Morrígan! - A guerreira continuou - Por um longo tempo sobrevoei essa Terra com minhas habilidosas asas de penugem preta. Enfim, fiz meu pouso à beira do Rio da Vida e me entretenho lavando as roupas dos que irão encontrar-me em breve.

O brilho ao redor da fêmea começou a enfraquecer e o coração de Ani abrandou ao ver que sua amiga, pela primeira em sua forma elemental, aos poucos retornava ao chão.

- Aos de coração transparente, digo que há apenas uma forma da bondade sobreviver. - E com os olhos fixos no local onde Ani e a Rainha Sombria se encontravam, Daena concluiu - Salve a rainha! Salve a rainha!

E depois disso desfaleceu.

Outra movimentação frenética tomou conta da sala.

Todos correram e, ao chegar perto de Daena, Ani percebeu que ela começava a voltar a si.

Faramir, com metade do corpo da sua companheira no colo e com uma suavidade na voz que ninguém nunca o escutou usar, perguntou:

- Como você está, cydymaith?

Aqueles olhos sempre tão raivosos fitaram os dele com ternura, o que era ainda mais estranho para os que acompanhavam o episódio.

- Estou me sentindo estranha. O que aconteceu?

- Você não se lembra de nada?

Ela negou com a cabeça.

- Alguém chame um mestre de cura! Rápido!

- Não é necessário, já estou melhorando - Porém, um guarda já havia saído para cumprir a ordem.

Daena tentou levantar sendo impedida pela Rainha das Fadas, que apareceu voando.

- Acalme-se, criança! Você deve descansar.

A guerreira fincou as sobrancelhas e, retomando seu tom característico, respondeu:

- Já falei que estou bem! Pra que tanto alvoroço?

- Se quiser manter essa criança em seu ventre - retrucou a fada - fique exatamente onde está.

Um silêncio se fez no salão real.

Daena parou de se movimentar e, automaticamente, levou a mão à barriga.

- Desculpe-me, senhora, mas como pode ter tanta certeza de que ela está grávida? - Quis saber Faramir.

Islodel o encarou seriamente.

- Morrígan é a deusa da guerra, da morte e também da fecundidade. É através dela que a vida morre e deve nascer. Logo, só há duas formas de se tornar uma profetisa dessa face da Deusa: estando grávida ou morrendo.

A Rainha Sombria soltou Ani e se aproximou sorrindo.

- Ela parece bem viva pra mim.

Faramir tornou a olhar para a sua amada e exclamou:

- Graças a Grande Deusa Morrígan!

E assim foi encerrado o Conselho de Reis.

Ani acompanhou Daena e Faramir à enfermaria. O que não foi uma sábia decisão.

A fêmea não parava quieta e o macho não parava de brigar para que ela parasse quieta.

Em menos de duas horas, Faramir foi expulso do quarto sob ameaça de ter a cabeça arrancada por sua própria companheira.

Depois de Ani prometer que controlaria até a respiração da guerreira, ele cedeu e saiu.

- Sabe que ele está apenas protegendo você e o bebê, né? Deveria pegar leve com ele.

A outra bufou.

- Qual é Daena?! O cara deve estar super preocupado lá fora.

- Eu sei, tá bom? Eu sei! Mas se não fizer isso agora as atitudes dele só irão piorar.

Sorrindo Ani colocou a mão carinhosamente sobre a barriga, ainda chapada, da amiga.

"Essa desgraçada ficará uma grávida estonteante."

- Quando vocês estiverem fora de perigo, ele voltará ao normal.

- Isso não vai acontecer, Ani. Toda gravidez élfica representa um grande risco de vida, tanto para a mãe quanto para a criança.

- Isso é sério?

Daena respirou fundo antes de responder.

- Infelizmente sim. A probabilidade que um de nós dois morra é de 60%, 15% de ambos perecerem e apenas 25% de tudo ocorrer bem.

Ela encarou a guerreira incrédula.

- E por que cargas d'água você não sossega a bunda nessa cama? Tá louca?

Durante o resto da noite Ani ficou tentando manter Daena deitada e a própria cabeça presa ao pescoço.

Foi extenuante.

Faramir encontrou as duas, no início da noite seguinte, abraçadas na cama em um sono profundo.

Foi tomado por plena felicidade.

- Que sorte a nossa, meu filho, termos essas duas mulheres tão poderosas ao nosso lado. A Deusa foi muito generosa conosco.

E tentando fazer o mínimo de barulho possível fechou a porta, limpando discretamente uma lágrima que queria rolar por seu rosto.

Afinal, guerreiros não choram.

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