CAPÍTULO 17
Vários elfos (brancos, negros e fadas) estavam reunidos em um local arborizado, a céu aberto, repleto de diversos tipos de plantas, flores e rochas. A brisa suave, típica de Tir Na Nóg, tornava o ambiente ainda mais agradável.
Thalion viveu no Brasil grande parte de sua vida, numa das regiões mais bonitas do país e, ainda assim, nada podia se comparar a beleza do lugar onde estava naquele momento.
Toda a conversa amena parou quando Islodel chegou acompanhada de Luna, Tedor e uma fada de idade avançada com um corvo pousado em seu ombro.
Calafrios percorreram o corpo do comandante.
Percebeu quando Faramir sussurrou para o grupo:
- O que nossos filhos fazem aqui?
- Eles participam desde pequenos de todas as reuniões do Conselho. - Respondeu Daena.
- Mas são apenas crianças. - Retorquiu o guerreiro.
- Crianças que governarão todo o reino quando se tornarem adultas.
Thalion compartilhava do desconforto do amigo ao ver os pequenos perto daquela anciã sinistra.
A voz da rainha das fadas desviou sua atenção:
- Obrigada a todos por estarem aqui. A princípio, convoquei essa reunião para nos organizarmos para a construção de novas moradias na vila terrena. Como sabem, os recém-chegados não possuem asas, o que tornaria muito complicado o acesso às casas nas árvores.
Islodel estendeu o braço em direção à fada que a acompanhava e o corvo em seu ombro voou para ela.
- Entretanto, Morrigan nos visita mais uma vez. - Ela acariciou o pássaro que crocitou de forma sombria. - Por isso, convoquei a profetiza para auxiliar a Deusa a anunciar os seus desígnios.
Da última vez, Morrigan utilizou Daena, que estava grávida, para se manifestar. Claro que ali no Além Mundo ela poderia dispor de um instrumento muito mais preparado para essa finalidade: uma profetiza.
- Começaremos o ritual da anunciação agora!
Seguindo instruções, os presentes sentaram-se em círculos concêntricos recitando mantras entoados por um grupo de machos.
A fada anciã encontrava-se no ponto central dos círculos em posição de lótus.
- Luna e Tedor, aproximem-se! - Ordenou a rainha das fadas.
Os dois obedeceram prontamente.
- A profetiza é a elfo viva mais antiga do mundo. - Islodel falou olhando para as crianças - Sua idade se perdeu ao longo dos seus milhares de anos de vida. Foi ela quem me passou o manto da realeza ao me escolher como Rainha das Fadas.
Thalion se espantou com a revelação. Três gerações de rainhas se encontravam dentro daqueles círculos.
- Até o momento, era difícil entendermos completamente as mensagens da Grande Deusa, principalmente no que se referia ao futuro, pois não estávamos completas. - A rainha das fadas fez uma pequena pausa para segurar as mãos da princesa Luna. - Mas agora temos a trindade formada: a profetiza representando o passado da raça dos elfos, eu o momento presente e você, pequena criança, nosso futuro. Hoje, pela primeira vez em milênios, estamos realmente preparadas para servir a Mãe.
- Assim seja. - Foi a resposta em coro e emocionada dos presentes.
- Tedor - Continuou a rainha - como guardião você participará do círculo para fortalecer vossa alteza que ainda não atingiu a idade do despertar pleno dos seus poderes.
O jovem acenou confiante.
Thalion colocou os braços no ombro de Faramir e de Cam como forma de apoio, pois sentia os machos nervosos ao seu lado preocupados com as crias.
Achava incrível a entrega e confiança dos pequenos em Islodel. Talvez por não entenderem a dimensão do que estava para acontecer.
"A Deusa é exigente com seus servos mais leais." Lamentou silenciosamente.
Algo naquele ritual estava deixando-o angustiado e Thalion se manteve alerta.
Viu quando Tedor, Luna e Islodel, sentaram-se também em círculo, de mãos dadas, ao redor da profetiza. A rainha começou um novo mantra que tocou os corações de todos, mudando totalmente o ritmo da melodia anterior.
Um vento forte varreu o local, o dia deu lugar à noite e um grito cortou o ar.
- Ainda não há equilíbrio! - Bradou Islodel.
Luna sussurrou choramingando.
- A magia é forte demais.
Os dentes de Tedor batiam um contra o outro.
Thalion se levantou, assim como uma fada macho que estava mais a frente. Ele lembrou que era o tal Brandon da conversa das crianças na noite anterior.
Mesmo baixo, o choro de Luna podia ser ouvido.
O corpo de Tedor tremia incontrolavelmente, mas ele mantinha sua postura ereta.
Islodel mudou mais uma vez o mantra e a intensidade do cântico pareceu piorar tudo.
Sem se dar conta do que estava fazendo, Thalion correu em direção às crianças, pulando os elfos pelo caminho.
Assistiu quando Brandon tentou tocar em Tedor e foi arremessado longe por uma força invisível.
- Guardião! - Gritou a profetiza - Falta o guardião!
O vento que açoitava os cabelos dos presentes, os gritos da profetiza, o corvo voando sobre eles grasnando e os relâmpagos que iluminavam o céu agora escuro tornavam a cena grotesca.
Thalion conseguiu chegar a Luna seguido de perto por Cam, Faramir, Daena e Ani.
Ergueu as mãos impedindo-os de se aproximarem. A fada macho retornou parando junto aos outros, esperando os comandos do guerreiro. Ele estava visivelmente machucado, sangrando pela boca e nariz.
O comandante avaliou rapidamente a cena.
Ele precisava entrar no círculo mesmo sabendo que poderia ser gravemente ferido como Brandon foi.
Não quebraria o vínculo de Tedor e Luna, pois tinha a certeza de que deixaria os dois ainda mais vulneráveis.
Tomou fôlego. Ele e Tedor eram os únicos que foram denominados guardiões ali. Talvez desse certo, talvez não.
"Foda-se! Vou fazer isso seja como for!"
Segurou as mãos de Luna e de Islodel, que estavam ligadas, e se enfiou entre as duas.
Os gritos pararam.
O vento cessou.
O sol retornou.
E quando o corvo explodiu em luz, do centro do círculo a profetiza recitou:
- A força da futura rainha deve estar sempre unida à de seu protetor e à do protetor da raça. Essa é a verdadeira trindade do amanhã.
Thalion estreitou os olhos irritado. Trincou o maxilar num esforço máximo para controlar sua raiva.
Sua única vontade era matar a Deusa com as próprias mãos por fazer aqueles pequenos sofrerem.
A profetiza riu fitando-o e ele franziu as sobrancelhas, fechando ainda mais o semblante.
- Guardião, vigie seus pensamentos! Não tente a minha ira, nem duvide da minha benevolência. Eu criei todas as coisas, inclusive você e sua companheira. Vocês são meus filhos e enquanto seguirem seus caminhos com retidão, mal algum os alcançará.
Ele sentiu o pequeno polegar da princesa acariciar o dorso da sua mão. Olhou para ela e, apesar de molhado de lágrimas, o rosto de Luna transbordava tranquilidade. Um pouco desse sentimento invadiu seu sistema, acalmando-o.
Voltou sua atenção para a anciã quando ela tornou a falar para todos:
- É chegado o momento dos elfos seguirem seu próprio caminho. Um caminho que os afastará dos homens para sempre. Cada raça tem sua própria sina e propósito que, nesse caso específico, não tem mais nenhum ponto em comum. Não há motivos para manter os portais para Tir Na Nóg abertos à humanidade. A Terra entrará em colapso em poucos séculos e, para os elfos que insistirem em permanecer lá, não haverá nada além de doença, sofrimento e morte.
- Minha Senhora - Islodel falou - devemos fechar todas as passagens e nos isolarmos de todos os outros mundos?
A profetiza ficou de pé antes de responder.
- Se quiserem sobreviver ao que está por vir, sim.
- O que nos pede é algo muito complexo, Mãe, não sei se temos força necessária para isso.
- Vocês têm Noturna e o Guardião das raças. Porém, se não forem capazes de colocar o bem-estar do outro acima do de vocês, nada será o suficiente.
- Se o futuro dos nossos depende disso, Grande Deusa Morrigan, nos esforçaremos e nos sacrificaremos para conseguir. - Prometeu a rainha das fadas.
Um sorriso terno surgiu no rosto da anciã.
- Você tem tudo o que precisa bem aqui. - A Deusa respondeu - Não obstante, é certo que precisarão de treino e suporte. Mas lembre-se: o 3 é o número da nossa força. É da trindade que vem o nosso poder. A verdadeira trindade deve permanecer unida para poder vencer.
- E os outros elfos? Os que ainda estão na Terra? Serão todos condenados, Minha Senhora? - Indagou Thalion sem conseguir se conter.
Sua voz ainda trazia um resquício de raiva.
- A sorte deles não está mais em minhas mãos.
- E se eu tomá-la nas minhas a ofenderia, Grande Mãe?
A profetiza pareceu aumentar de tamanho enquanto encarava os olhos prata do guerreiro. Ele sabia que estava sendo insolente e, por um momento, temeu por sua imprudencia.
- Você é o guardião, meu filho, se não puder salvá-los ninguém mais poderá.
O comandante puxou uma respiração profunda.
A profetiza tornou a falar:
- Porém, algumas almas já possuem o destino traçado. Mesmo se você tentar, nem todos conseguirão atravessar o portal. Alguns definitivamente não passarão!
"A cada um a sua cruz." Thalion pensou no ditado cristão que os humanos tanto gostavam de citar, lembrando de quando seu barco se espatifou nas rochas do Rio Perdido ao fugirem com Luna e tentaram atravessar o portal para o mundo das fadas.
Balançou a cabeça positivamente para a profetiza demonstrando que havia entendido o que a Deusa havia dito. Se ele, Faramir e Cam tivessem conseguido seu intento naquele fatídico dia, várias crianças élficas de Arvedui estariam mortas agora.
Cada ser tinha seu próprio destino.
Não poderia resgatar todos, mas tentaria salvar o máximo de elfos que pudesse.
A voz da profetiza trouxe sua mente de volta a realidade:
- O próximo equinócio ainda está longe, mas não se deixem enganar: forças ocultas se preparam para tomar esse solo sagrado e expandir seus poderes. Vocês precisam se preparar para impedi-los também ou tudo estará condenado!
O corvo surgiu voando e crocitando de repente.
Nesse instante, a anciã, Luna e Tedor caíram desmaiados no chão.
Horas depois, Cam e Brandon finalizaram o tratamento de cura dos dois pequenos que permaneciam dormindo na cama de Daena e Faramir.
Ani, Daena, Faramir e Thalion aguardavam na sala.
- Como eles estão? - Ani perguntou assim que os dois feiticeiros saíram do quarto.
Apesar do nervosismo dos rapazes, ela e Daena estavam calmas.
- Estão bem. - Respondeu Brandon. - Eles se esgotaram por causa do ritual de anunciação. Colocamos um feitiço de sono profundo para que possam se recuperar plenamente com mais rapidez.
Cam estava inconformado com toda a situação.
- Como podem exigir tanto assim das crianças?
- Realmente. - Concordou Faramir - Eles não foram preparados para isso.
- Na verdade, eles foram. - Discordou Ani. - Desde muito pequenos, Luna e Tedor são treinados diariamente para realizarem uma série de coisas. Rituais como esse fazem parte da formação deles.
- Brandon é um dos seus mestres e pode confirmar o que Ani está falando. - Completou Daena.
Thalion bufou enquanto dizia em tom de deboche:
- Mas até o grande mestre Brandon se desesperou e tentou invadir o círculo durante a manifestação da Deusa.
A declaração causou desconforto a todos.
- É verdade. - A fada macho falou sem se deixar abater - Percebi que faltava mais uma força para dar equilíbrio ao ritual e tentei ajudar. Mas se não houvesse como estabilizar a energia despertada, minha rainha iria encerrar a cerimônia. Ela jamais colocaria a vida deles, ou de qualquer um, em risco
- É mesmo? - Esbravejou Faramir - Então porque os dois estão deitados na minha cama totalmente drenados?
Cam se sentou e passou a mão pelos cabelos, bagunçando-os. Suspirou antes de se pronunciar:
- Eles estão bem, Faramir. Eu mesmo me certifiquei de procurar minuciosamente. Nenhum dano foi causado. As crianças estão apenas cansadas por gastarem muita energia. Realmente, não foi nada sério, Islodel dosou bem a quantidade de magia que usou delas.
Batidas na porta tirou o foco da discussão.
Zuri e Bowman fizeram uma reverência profunda para Ani ao entrarem na sala, depois viraram-se para Thalion:
- Viemos nos colocar a sua disposição, comandante. Queremos ajudar no resgate dos nossos irmãos no planeta Terra.
Todos encararam o guerreiro.
- Certo, certo. Sentem-se todos! - Thalion ordenou - Temos um plano para elaborar.
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