CAPÍTULO 15
Ani não conseguiu segurar a enxurrada de lágrimas que desceu por sua face.
Cam a segurava apertado contra o peito e ela podia ouvir as fortes batidas de seu coração e sentir o tremor de seu corpo, o que indicava que seu companheiro também chorava.
- Gwador! Por que você demorou tanto?
Ele beijou sua boca apaixonadamente, separando-se apenas para sussurrar:
- Desculpe-me, Mell. Vim o mais rápido que pude.
Ani encarou aqueles olhos que tanto amava e que estavam úmidos de lágrimas.
- Nunca mais quero me separar de você!
Cam segurou o seu queixo de forma gentil.
- Nunca mais! - Ele concordou, tornando a unir suas bocas.
Ainda estavam dentro d'água e as ondas leves do oceano embalavam carinhosamente aquele tão desejado reencontro.
Um choro sofrido chegou aos ouvidos dos dois e eles se deram conta de que existia um mundo de coisas acontecendo ao redor deles.
Ani viu Faramir ajoelhado, a água do mar batendo em seu tórax, enquanto ele chorava com a testa encostada na barriga de Daena, que acariciava ternamente os seus cabelos.
O macho estava desesperado.
- Me desculpe por deixá-la passar por tudo isso sozinha, amor. - Ele levantou e envolveu os braços ao redor da fêmea - Nosso filho se foi, mas você está aqui. Teremos outra cria. Te prometo!
- Faramir, do que você está falando? - Daena perguntou confusa.
Ele a apertou ainda mais.
- Você estaria no auge da gravidez agora, mas sua barriga continua reta. Meu amor, meu amor... você não deveria passar por isso sozinha. Desculpe por não estar ao seu lado nesse momento difícil!
Ani se aproximou dos dois e tocou nos ombros do guerreiro.
- Faramir... - Ela chamou carinhosamente.
Ele passou um braço por seu ombro e a puxou para si.
Ela o abraçou de volta.
- Nosso filho está bem, meu amor. - Daena falou em seu ouvido.
- É um macho íntegro e saudável. - Ani completou.
Ele afastou as duas encarando seus rostos alternadamente.
Rugas de preocupação surgiram no semblante dele e de Cam.
- O tempo aqui passa diferente, lembram? - Indagou Daena enquanto Ani olhava em volta procurando por Thalion.
- Cadê Prateado?
Cam e Faramir repetiram seu gesto.
- Estranho. Ele estava bem atrás da gente, não é Cam?
- Eu mesmo vi quando ele atravessou o portal conosco. O comandante deve estar com os outros em algum lugar na praia.
Eles seguiram rapidamente para a faixa de areia e assim que saíram do mar ouviram a voz de Tedor:
- Mãe!
A criança mantinha uma postura rígida e sua voz estava carregada de tensão. Era nítida a vontade do garoto de sair correndo em direção à Daena, mas admiravelmente manteve-se firme ao lado de Luna, que seguia de mãos dadas com ele e Prateado.
Ani não se lembrava da última vez que se sentiu tão aliviada.
Correu para seu guardião e pulou em seu pescoço.
Thalion a pegou no ar.
Ela soluçou em seus braços:
- Por que não estava com eles? Você me assustou!
- Shiuu, está tudo bem, está tudo bem.
Aos poucos Ani se acalmou e voltou sua atenção aos amigos.
Faramir novamente ajoelhado, porém na frente de Tedor dessa vez, com os olhos marejados.
O menino, desconcertado, sem saber exatamente o que fazer.
E Daena chorando copiosamente.
Ela se virou para Luna.
- Como vocês encontraram Prateado?
A menina abaixou a cabeça envergonhada e Ani estranhou seu comportamento.
- A Deusa o mandou para me salvar, tia.
Ani estreitou os olhos.
- Vocês não se abrigaram quando os guerreiros soaram o alarme de invasão? O que estavam aprontando?
A menina engoliu em seco e desconversou.
- Você deve ser meu tio Cam. - Falou para o feiticeiro que não conseguia desgrudar os olhos da menina. - Eu sou Luna.
Cam descobriu isso sozinho observando a interação da pequena com sua companheira. A descoberta da quantidade de tempo que havia transcorrido desde que se separaram no Rio Perdido fez seu coração apertar.
Ani sofreu por muito mais tempo do que ele.
Primeiro, beijou os cabelos da sua amada. Depois se inclinou profundamente para a princesa.
- Ao seu dispor, alteza.
Luna riu infantilmente e passou seus bracinhos ao redor do pescoço dele. Precisou usar as asas para se erguer um pouco e alcançá-lo.
- Que bom que você chegou. - Falou alegremente - Agora minha mãe poderá ser feliz de verdade e eu terei um pai pra cuidar de mim.
Um misto de emoções tomou o feiticeiro. E Ani também. Era raro Luna chamá-la de mãe e ela sempre se emocionava quando isso acontecia.
Todavia, antes que pudessem falar qualquer coisa a menina se afastou voando.
Tedor se sentia constrangido olhando para aquele guerreiro enorme que insistia em falar com ele de forma tão gentil.
Não estava acostumado a ser tratado assim por outros machos. As fadas, em geral, eram muito frios e sérios.
Sem contar o medo que sentia da repreensão que levaria quando sua mãe soubesse do risco que sua última travessura causou. Se não fosse pelo lendário guerreiro Thalion a princesa não estaria ali sã e salva.
Perdido no turbilhão de sensações se assustou quando sentiu a mão fria de Luna enlaçar a sua.
A princesa abriu um sorriso para ele e toda aquela angústia sumiu.
- Tio Faramir, certo? - Ela perguntou encarando alegremente o pai de Tedor.
O macho ergueu uma das sobrancelhas achando divertido o ar de maturidade que desprendia daquelas crianças.
Ele apenas assentiu.
- Eu sou Luna. - E dizendo isso estendeu a mão livre para Faramir.
O guerreiro a segurou, beijando-a de forma cerimoniosa, não deixando de notar o quão minúscula era em relação a sua.
- Pequena alteza.
Luna puxou Tedor mais para perto. O menino tentou resistir, mas ele não era páreo para a força de vontade da princesa.
Ela tornou a falar seriamente e Faramir precisou controlar a vontade de rir.
- Seu filho é meu melhor amigo e meu guardião juramentado pela deusa.
Aquilo surpreendeu o guerreiro. Era impressionante que aquele tipo de ligação se revelasse tão cedo. Olhou para Daena querendo confirmar aquela informação e a fêmea inclinou a cabeça em concordância.
- Mas devo dizer - Luna continuou - que ele é uma pedra quando se trata de demonstrar o que sente.
Os adultos gargalharam.
- Abrace seu pai, ande! - Ela ordenou em um tom de voz baixo.
O menino corou fortemente, mas deu um passo na direção de Faramir.
O guerreiro se adiantou e pegou o pequeno nos braços.
Tedor olhou nervoso para mãe.
Daena envolveu seus dois rapazes em um abraço e, por fim, o pequeno relaxou.
Seu pai estava de volta. Sua família estava completa. E ele estava feliz.
O resto da noite foi de comemoração.
Com uma competência de fazer inveja a qualquer organizador de eventos, uma arena foi montada com extrema rapidez e eficiência. Uma abundância de tudo o que uma boa festa continha podia ser encontrada ali: comida, bebida, música e muita animação.
As fadas estavam eufóricas.
Pela primeira vez em milênios conseguiram fechar o portal que ligava o submundo a Tir Na Nóg, eliminaram todos os demônios que conseguiram entrar por aquela passagem e ainda receberam várias crianças élficas que garantiriam o futuro da sua raça e alegrariam o seu mundo.
As risadas delas podiam ser ouvidas por toda a vila enquanto comiam e brincavam umas com as outras.
Allania, Cam, Daena, Faramir e Thalion estavam sentados ao redor da grande fogueira que iluminava a noite, falando sobre tudo o que aconteceu no período em que ficaram separados.
Os rapazes ainda não tinham conseguido assimilar que dez anos havia se passado ali, uma vez que para eles foram pouco mais dois meses.
Thalion observava os amigos. Nenhum deles conseguia deixar de tocar suas companheiras, vez ou outra pegava uma troca de olhares mais profunda ou um beijo furtivo.
Milagrosamente, ver Allania com Cam já não lhe doía tanto. Os dois pareciam certos um para outro. E, por tudo o que passaram juntos, ele tinha a certeza de que o feiticeiro era merecedor do amor dela.
Entretanto, ninguém ouviria essas palavras saírem de sua boca.
"Nem fudendo." Pensou categoricamente.
Zuri, Bowman e Islodel se juntaram a eles e a conversa seguiu animada. A madrugada já ia alta quando o comandante se afastou do grupo.
Estava inquieto, agitado. Quando ficava assim seus instintos começavam a gritar um alerta de perigo, mas não era esse o caso no momento.
Ele não pressentia perigo. Era outra coisa. Uma sensação de vazio, de vontade de fazer algo. Porém, Thalion não tinha a menor ideia do que exatamente.
Um fêmea muito bonita se aproximou de onde estava.
- Comandante. - Ela falou fazendo uma mesura.
O guerreiro a cumprimentou da mesma forma.
- Sou Zaida. Vi você solitário e não consegui me impedir de vir até aqui. Hoje não é dia de tristeza. Me deixe distraí-lo de suas preocupações.
Thalion analisou a fada. Ela era pequena, delicada, bem diferente das fêmeas que ele estava acostumado.
Talvez ele estivesse melancólico por estar sozinho.
Talvez uma noite quente fosse o suficiente para tirar todo aquele sentimentalismo de seu sistema.
- E como pensa em fazer isso, linda Zaida?
A fêmea sorriu maliciosamente.
Embrenhados na floresta que circundava a vila das fadas, Thalion puxou a fêmea para si em um beijo feroz.
Ela não ofereceu nenhuma resistência, se entregando apaixonadamente.
O comandante acariciou suas costas e passou a mão por uma de suas asas translúcidas.
A fêmea ofegou e ele interrompeu o contato preocupado.
- Te machuquei?
Zaida sorriu. Suas pupilas estavam dilatadas.
- Pelo contrário. Nossas asas tem inúmeras terminações nervosas. É uma área muito sensível.
Thalion sorriu torto, havia encontrado uma zona erógena das fadas.
O que era uma informação útil caso resolvesse realmente viver ali.
Enlaçou sua cintura estreita e segurou os cabelos de sua nuca com força, unindo seus lábios novamente. Estava prestes a levantar seu vestido frugal quando ouviu uma voz possessa atrás de si:
- Senhor Thalion! O que está fazendo com essa fêmea?
Pela voz infantil ele sabia quem era antes mesmo de se virar:
- Princesa Luna, o que faz fora da sua cama a uma hora dessas?
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