13. O Submundo; Crônicas de um Demônio Inferior parte 2
No dia seguinte, Seungmin começou a organizar algumas coisas suas em seu quarto para levar, só o essencial e o que poderia levar sem chamar muita atenção. Quando fechou a grande mochila preta e a largou em cima da cama, a porta do seu quarto foi batida freneticamente. O Kim jogou a mochila dentro do seu armário e Wonpil entrou como um furacão em seu quarto logo depois.
— O que aconteceu para trazer você até aqui? — Seungmin perguntou, encostando a porta e se aproximando.
— Seungmin, você não acha que já fez o suficiente?
O mais novo encarou o seu irmão sem entender, ele não havia feito qualquer tipo de coisa que poderia ser usada para repreendê-lo nos últimos tempos, havia ficado quieto até demais desde a última reunião e evitou qualquer tipo de desavença. Por isso ele encarou Wonpil sem conseguir responder.
— O Wooseok me contou antes da última reunião que você tem saído de casa e retornado tarde frequentemente.
Wooseok era um dos irmãos de Seungmin, ele era mais velho, trabalhava ao lado do pai deles então ainda morava em casa com ele, um dos filhos favoritos do pai deles pelo fato de ter seguido diretamente na empresa. Wonpil e Wooseok eram a dupla perfeita. Wonpil provavelmente também moraria ali se não tivesse se casado e se mudado para morar com sua esposa de uma forma mais particular.
Wooseok também era um cachorrinho de Wonpil, obedecia tudo o que ele dizia e o informava de tudo o que acontecia.
— E daí? Quem se importa que eu saio de casa e volto tarde? Já fiz coisas piores quando mais jovem.
— Pensei o mesmo, mas resolvi ficar um pouco de olho em você a partir daquele momento. — Wonpil suspirou e estendeu um envelope amarelado para Seungmin. — O senhor Min me garantiu que iria cuidar de você e me entregou isso.
Seungmin abriu o envelope com as mãos vacilantes, o nervosismo havia tirado completamente a cor do seu rosto, a palidez do seu rosto piorou ao ver o conteúdo do envelope. Fotos e relatórios sobre o seu dia-a-dia e seus encontros com Minho.
— Se está fazendo isso para chamar a nossa atenção, tudo bem, você conseguiu. Mas precisava chegar tão longe? — Wonpil continuou. — Esse garoto é filho de um ex-funcionário nosso que foi denunciado depois de desviar alguns lucros das vendas da empresa e está se encontrando com ele? Qual é seu tipo de relação com ele?
— Ele é...
— Está querendo prejudicar a gente? Está em conluio com ele e o pai dele?
— O quê? Claro que não! Ele nem tem contato com o pai! — Defendeu rapidamente, largando o envelope amarelado em cima de sua cama. — Por que acha que tudo o que eu faço é para prejudicar a família? Não tem nada haver com isso!
— Então ele pode estar tramando algo e te enganando! Você não pode confiar em pessoas como ele!
— "Como ele"? O que você está querendo insinuar?
— Ele é filho de um... criminoso! Como pode se envolver com ele?
— E o que ele tem haver com isso? Ele não fala com o pai há anos!
— Ele pode estar encontrando uma forma de te enganar e conseguir dinheiro, assim como o pai dele. Você não pode confiar nele.
— Está bem. Agora pode sair? Estou resolvendo algo importante — Seungmin disse, tentando fazê-lo sair do seu quarto rapidamente.
Wonpil bufou, antes de se encaminhar para a porta, colocou seus olhos em uma penteadeira próxima a janela, que estava praticamente vazia.
— Seungmin, onde estão as suas coisas? — A falta de resposta do irmão fez suas suspeitas aumentarem, ele foi até o armário e o abriu, percebendo que faltava quase metade das roupas e a mochila jogada e estranhou mais ainda. — O que você está fazendo?!
— Eu vou embora — respondeu por fim, seus olhos mostravam a sua determinação, seus punhos estavam fechados firmemente ao lado do seu corpo. — Eu falei que não pretendia ficar aqui.
— Não me diga que está indo para a casa desse... desse cara.
— E se for? Eu garanto que não vou atrapalhar vocês, está bem? Eu só quero me livrar de tudo isso.
— Se for, sabe que o papai vai tirar seu direito de ter qualquer coisa da família, não sabe? E eu também não deixarei que você pise na empresa novamente — ameaçou.
— Eu sei. Eu estou indo embora sabendo de tudo isso.
Wonpil pegou a mochila do seu irmão dentro do armário e a jogou no chão aos pés dele. Seungmin se abaixou e pegou a mochila, a colocando em sua costa, tentando não transparecer o quão abalado estava.
— Por que você nunca se importa com a família?
— Porque vocês nunca se importaram comigo.
— Wooseok se importou o suficiente para me contar das suas escapadas!
— Realmente acha que ele contou isso por se importar especificamente comigo? Há anos ele conta o que eu faço para que me repreendam e ele possa vir aqui para me ridicularizar! Mas vocês nunca perceberam porque não se importam.
— Nós só queremos que você aprenda alguma coisa! Sabe o motivo para não nos importarmos? Porque você é um inútil! Até nossos irmãos mais novos já têm algum cargo na empresa enquanto você nunca se interessou.
— Mas eu sempre deixei bem claro que não era isso que eu queria, eu nunca quis assumir o conglomerado — respondeu, mas extremamente baixo, as palavras de Wonpil o acertaram em cheio. Mesmo que ele sempre ouvisse aquilo, nunca conseguia se acostumar, se sentia insuficiente mesmo que a empresa nunca tenha sido o seu foco. — Eu sei que vocês nunca acreditaram em mim ou no que eu quero fazer no meu futuro, mas eu acredito. Estar com vocês só me desmotiva, por isso quero ir embora. Quero poder pensar melhor por mim mesmo e ir atrás do que vai me fazer feliz no futuro.
Seungmin se virou e saiu do quarto, andando com passos rápidos pelo corredor, ele ouviu passos pesados atrás de si e sabia que era Wonpil antes mesmo de ouvir sua voz:
— Não seja um idiota imaturo, Seungmin! Eu achei que você já tinha deixado essa ideia no passado! Para de andar, porra! — Wonpil apressou seus passos, correndo para alcançar seu irmão mais novo.
A casa estava quase que vazia, tirando Wooseok que deveria estar no escritório, o restante havia saído temporariamente há algumas horas atrás e já deviam estar retornando. Seungmin já estava chegando nas escadas quando sentiu seu ombro ser puxado para trás com brutalidade por seu irmão mais velho.
— Por que eu tinha que deixar o meu sonho no passado? — Seungmin gritou de volta assim que viu a expressão retorcida de Wonpil que piorou ao ser respondido daquela forma. — Sabia que eu também admirava você assim como todos os outros? Você era o mais velho, responsável, incrível, era bom em tudo o que fazia. Mas você me tratava com superioridade, como se eu fosse sempre inferior a você! Eu não quero ser mais uma das suas sombras, quero seguir o que eu quero sem precisar ser comparado com você! E você não é superior a ninguém!
Wonpil empurrou o ombro de Seungmin e deu um soco em seu rosto. Seungmin diria que depois de tantas brigas que havia arranjado na escola quando era adolescente, ele tinha aprendido a lidar com socos e chutes e a devolver os golpes na mesma intensidade; mas ainda assim o impacto de receber aquele golpe do seu próprio irmão fez com que ele demorasse a assimilar o que havia acabado de acontecer. Ainda que o soco de Wonpil não tivesse sido tão forte, já que brigas não eram uma de suas milhares de habilidades, Seungmin sentia seu rosto doer terrivelmente e sua visão girar.
Seungmin, após se recuperar, devolveu o golpe, seus olhos e sua mente injetados de fúria demoraram a perceber o acidente que ele havia causado. Os dois estavam parados próximos à escadaria que os levava para o primeiro andar e o seu golpe fez Wonpil perder o seu equilíbrio, um dos seus pés pisou em falso em um dos degraus e ele caiu, rolando por toda a escadaria até atingir o piso do primeiro andar. A sua queda havia sido bruta, o som do impacto do seu corpo contra os degraus fizeram o sangue de Seungmin congelar, sem coragem de olhar para o primeiro andar.
Tudo ficou silencioso, Seungmin desceu, pisando em cada degrau com dificuldade, como se repentinamente tudo ao seu redor estivesse ondulando, atrapalhando sua visão. Quando finalmente chegou até Wonpil, a porta foi aberta e seus pais entraram. O grito estridente de sua mãe fez Seungmin voltar a si, tremendo tão intensamente que nem mesmo conseguiu fazer qualquer movimento. Aquele grito atraiu Wooseok, que apareceu no corredor do segundo andar. Todos avançaram na direção de Wonpil, o desespero estava bem claro em suas faces. Vozes insistentes tentavam arrancar de Seungmin uma explicação sobre o que tinha acontecido, mas este não conseguia responder.
...
A morte de Wonpil poucos minutos após a sua queda teve um impacto gigante na família. Agora, Seungmin era considerado o monstro da família. Wooseok fez tudo o que estava ao seu alcance para fazer com que o Kim levasse a maior pena que poderia receber. Quando a sentença de dois anos e meio foi anunciada, todos ficaram se sentindo contrariados, pois não concordavam com a ideia de que o que havia acontecido tinha sido um acidente causado por uma briga, mesmo que as câmeras da mansão comprovassem isso. Ele obviamente não recebeu qualquer visita de familiares durante aquele tempo, ele oficialmente não fazia mais parte da família. O único rosto que ele viu foi o de Lee Minho, a única pessoa que o apoiou e esperou a sua volta. Wooseok foi o irmão que mais desaprovou a sentença e mais queria que Seungmin pagasse pelo que havia feito ao seu irmão mais velho. Sua afinidade com Seungmin era quase mínima antes, e agora o ódio ardia em suas veias; então, ele pensou que se não poderia ter a morte de Wonpil vingada através da justiça, ele acharia sua própria maneira.
...
— Já está chegando? O jantar já está pronto! — Minho dizia através da ligação.
Seungmin andava sozinho pela calçada, já era noite e estava um pouco tarde, alguns carros, motos e ônibus ainda passavam, mas eram menos frequentes. Ele não estava muito longe de casa, havia descido do ônibus no ponto mais próximo e agora só precisava caminhar por alguns minutos. Aquela rua era consideravelmente vazia por não ser de uma área muito movimentada e bem longe do centro da cidade. Um carro estava parado no acostamento atrás de Seungmin, do outro lado da rua.
— Já estou chegando, espere só mais alguns minutos.
— Tsk. Não demore, vai acabar esfriando.
Seungmin deu uma risadinha baixa, imaginava perfeitamente a expressão impaciente do Lee.
— Eu não vou. Mas não ouse comer sem mim! Agora preciso desligar, ou quer que eu fique na ligação até chegar em casa por estar com muitas saudades?
— Se eu disser que quero que você continue na ligação, o que vai dizer?
— Que você com certeza está carente e com muitas saudades de mim.
— Convencido!
Minho desligou. Seungmin riu mais uma vez da ação do Lee, sabia que ele ligaria de novo em pouco tempo como sempre fazia. Ele gostava de agir de formas imprevisíveis, mas para o Kim, já tinha ficado fácil saber como ele ia agir.
Esperando o Lee ligar novamente, Seungmin atravessou a faixa de pedestres quando o sinal do semáforo ficou aberto para pedestres, antes de chegar do outro lado, ouviu seu toque de celular. Ele pegou seu celular do bolso do seu casaco sem parar seus passos, mas antes que ele pudesse atender, sentiu um grande impacto em seu corpo. Inicialmente seu corpo todo se entorpeceu, como se tivesse perdido a consciência do que estava acontecendo ao seu redor, como se o tempo estivesse passando rápido demais para que ele pudesse assimilar, logo depois, uma dor excruciante se espalhou pelo seu corpo. Após ser jogado no chão pelo veículo em alta velocidade, o ar escapou dos seus pulmões, respirar pareceu muito mais difícil e complicado e tudo ao seu redor parecia estranho, como se o choque não deixasse Seungmin entender o que acontecia ao seu redor.
O carro continuou seu trajeto em alta velocidade, provavelmente em fuga e deixando sua vítima em estado grave para trás, em uma rua quase vazia naquele horário. Um estranho calor passou a queimar várias partes do Kim, que eram onde provavelmente ele estava lesionado, conseguia sentir seu sangue escorrendo. Quando seu entorpecimento passou e ele finalmente compreendeu exatamente o que tinha acabado de ocorrer, o medo se fez presente junto com a dor que continuava a se intensificar. Ele não conseguia se mover, não sabia se era unicamente por seus ferimentos que deveriam ser muito graves ou se também era culpa do seu choque.
Ele estava desesperado, só queria que alguém passasse ali naquele exato momento e o socorresse.
O nome de Minho continuava brilhando na tela do celular do Kim, que havia sido arremessado para longe dele durante o impacto e agora estava quebrado. A música parou de tocar e o celular desligou. Uma lágrima escorreu dos olhos apáticos de Seungmin.
Seungmin perdeu a sua consciência completamente antes que sua tela brilhasse novamente com o nome de Minho em outra chamada.
Somente cinco meses após ser solto, Seungmin faleceu após sofrer um atropelamento durante a noite. Sua morte havia sido ordenada por Wooseok e o homem que o atropelou, fugiu da cena do crime e do país, com o dinheiro pago por ele.
E no seu velório, a única pessoa presente havia sido Minho, e foi a única pessoa que chorou por causa da sua partida.
...
Após receber a sua sentença como um demônio, Seungmin permaneceu em silêncio por anos. Vagava mais entre o mundo dos vivos, ninguém o via ou ouvia; algo que ele já havia se acostumado em vida então não foi um problema após a morte. Ele sempre ficava sem rumo, vagando aleatoriamente pelos lugares e via como, aos poucos, as coisas eram modificadas, fossem roupas ou eletrônicos.
Uma noite, ele resolveu procurar pela única pessoa que havia o amado em vida, queria saber que tipo de vida ele levava naquele momento. A sua casa continuava a mesma, tão desarrumada como Seungmin claramente se recordava, algumas das suas coisas permaneciam lá, guardadas e bem-cuidadas, como se ele ainda morasse com Minho. Uma foto dos dois continuava em cima da escrivaninha bagunçada do Lee. Um brinco fino de argola dourada estava ao lado da moldura, e outra foto estava posta do outro lado da mesa, essa era com um homem desconhecido para o Kim até aquele momento, ele se sentiu um pouco aliviado, Minho parecia estar vivendo bem e com outra pessoa.
Seungmin esperou pela volta de Minho por algum tempo, queria vê-lo pelo menos uma vez antes de ir embora, mas Minho não voltou para casa naquela noite.
Minho nunca mais voltou; pois, foi naquela noite em que ele sofreu um acidente que roubaria a sua vida e a de Han Jisung.
✴
Fim da história do nosso querido Seungmin, o que acharam? Nosso primeiro personagem com o passado revelado e é um dos meus personagens favoritos.
No próximo capítulo, retornaremos ao presente e teremos um desenrolar importante que levará ao fim deste arco! Estamos quase lá, galerinha.
Se gostaram, deixem um votinho aqui no capítulo e espero vocês na próxima semana!
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