09. O Submundo; O Colar da Lua
Estar em um cômodo mais confortável e espaçoso deveria ser um grande alívio para Hyunjin, mas ele não conseguia se sentir aliviado na situação em que se encontrava. Sua visão com o Oráculo havia sido muito autêntica, ele sabia que era verdade, o Oráculo esteve ali e todas as suas palavras foram verdadeiras. Seu descontrole aconteceu durante aqueles momentos com ele, e o Oráculo com certeza sabia que aquilo estava acontecendo enquanto mantinha Hyunjin em seu sonho.
Mas qual era o motivo para aquela ação? O Terceiro Olho nunca fazia algo sem um bom motivo, sem ter uma boa finalidade. Mas, Hyunjin nunca foi verdadeiramente próximo do Oráculo, ele sempre evitou sua proximidade não importasse o quanto ele tentasse se aproximar ou ser gentil. Ele não conseguia entender o que ele estava pensando naquele momento.
No instante em que voltou à sua consciência, o Hwang sentiu mais do que somente confusão, as informações tinham o acertado como uma avalanche, tudo de uma só vez. No entanto, além disso, algo maior, mais intenso e poderoso o acertou intimamente. Aquela força avassaladora fez parte de seu corpo durante aqueles poucos instantes, antes de se esvair repentinamente e fazer falta em seu interior. A expressão das pessoas ao seu redor, todo aquele medo, o alimentou, fez com que ele se sentisse ainda mais imparável. Porém, tudo desapareceu tão rápido que ele não pôde degustar desse sentimento tão novo e impressionante por mais um tempo. Se alimentar do medo dos seres ao seu redor obviamente não era algo bom para um anjo, só que para ele foi tão bom, tão extraordinário, que o fez imaginar se ele, desde o ínicio, só queria se sentir daquela maneira. Todo aquele tédio instalado em seu íntimo desde que virou um Arcanjo desapareceu.
O colar continuava em seu pescoço, marcando sua presença para que o Hwang não conseguisse esquecer o poder que emanava de si. Sua mão pousou no pingente, que pareceu pulsar com seu toque, como um pequeno coração.
A porta do seu novo quarto foi aberta, Hyunjin foi obrigado a afastar seus pensamentos frenéticos e caóticos para dedicar sua atenção ao Bang que entrou no cômodo.
— Gostou da acomodação que Felix arranjou para você? — Perguntou, com um sorriso simpático.
Hyunjin não sabia o que responder, não sabia qual seria a melhor reação para se ter na frente do grande Rei do Submundo, aquele que fazia muitos no Reino Celeste que estavam presentes nas grandes guerras – principalmente na Primeira Guerra Celeste, onde Bang Chan havia criado seu nome, mesmo sendo um espírito novo que havia chegado no Submundo a pouco tempo – tremer de medo. Hyunjin não estava presente nesses acontecimentos, ele poderia ser considerado novo demais no mundo espiritual, inexperiente demais.
Talvez fosse sua inexperiência que estava o fazendo ficar tão fascinado com aquele lugar. Ele só precisava aprender a resistir e a se agarrar às suas origens divinas.
— Onde minha amiga foi colocada?
— Ela está bem acomodada, garanto. — Sorriu, se sentando em uma das poltronas do quarto. — Por que não falamos de você? Estou bem surpreso com o que fez hoje na minha mansão.
— Me desculpe, eu estava fora de mim... — Hyunjin se desculpou rapidamente.
— Você é um anjo muito corajoso, eu diria. Estar no Submundo com uma missão tão ambiciosa é para poucos, e vejo que teve a coragem de fazer um pacto com alguém como Lee Know. Realmente admirável e imprudente. Você me lembra alguém.
— Quem?
— O dono anterior desse colar. Junho foi realmente destemido, mas muito impulsivo. Tomava decisões extremamente perigosas sem pensar nas consequências.
— Acho que ouvi sobre ele.
— Jisu deve ter contado sobre ele, tenho certeza. Eu só preciso que me responda uma coisa, Hyunjin.
O Hwang arrumou sua postura inconscientemente, olhando diretamente em seus olhos.
— Você deseja continuar se sentindo daquela forma de antes? De quando estava tão poderoso e intocável ao ponto de destruir quase todos que estavam ao seu redor?
— Eu... Eu não sei... — Hyunjin balbuciou, indeciso.
Ele realmente não fazia ideia.
Desde que chegou no Reino Celestial, ele nunca se sentiu completo, sempre parecia que uma parte de si faltava, ele sabia que esse pedaço estava largado no mundo mortal, onde seu corpo descansava após sua morte injusta. Sempre pensou que nunca se sentiria inteiro novamente porque não teria a chance de se vingar daqueles que transformaram a sua vida em um inferno torturante. Como anjo, machucar humanos era proibido, seu trabalho era protegê-los, não importa o quão repugnantes fossem.
Ele sempre imaginou que um pouco mais de liberdade seria bom, existir de uma forma mais libertina, como aqueles demônios, que se vingavam abertamente daqueles que destruíram suas vidas sem medo de reprimendas ou punições.
Mas, no fim, ele sempre se auto repreendia. Quem era ele para pensar daquela maneira? O quão hipócrita ele seria se, no fundo, quisesse ser como aqueles que ele eliminava?
Agora, com essa pergunta feita de forma tão direta, Hyunjin se sentiu tentado a aceitar.
— Pense por mais um tempo, acredito que tudo ainda está sendo digerido. — Bang Chan se aproximou, colocando a mão em seu ombro. — Mas quero que pense, Hyunjin, seu potencial aqui, no Submundo, é muito maior do que lá.
— Ele está certo — Felix entrou na sala de repente, parecia ter escutado o suficiente da conversa. — Me perdoe por atrapalhar.
— Já terminamos nossa conversa. Deixarei com que você pense um pouco sobre o que falei.
Bang Chan se despediu, saindo do quarto. Felix permaneceu.
— O que tem que pensar? Para mim é uma resposta muito óbvia. Quando se pode ser mais forte, por que permanecer na insignificância?
— Para vocês, demônios, tudo é tratado dessa forma, tão simples, sem pensar nas consequências.
— Não é que eu não pense nas consequências, é exatamente por saber quais serão as consequências que acho essa decisão tão fácil. Quanto pior for para o Reino Celestial, melhor para mim.
— Guarda tanto rancor assim do Reino Celestial?
— Claro que sim, eles tiraram tudo de mim. Desde que eu ainda estava vivo. Você não faz ideia de o quão podre são aqueles que estão no comando.
— Não é um pouco irônico você chamar alguém assim?
— Talvez? — Felix balançou seus ombros, sem dar importância ao assunto.
— Qual o motivo de ter vindo aqui também? Tem algo a me dizer? — Hyunjin perguntou por fim.
Felix sorriu largamente, seus dentes à mostra, branquinhos e um tanto pontudos, deixaram seu sorriso com uma aparência assustadora, mas ao mesmo tempo charmosa.
— Você percebeu?
— O que eu deveria perceber?
— Desde aquele incidente no salão principal, não sente sua energia diferente?
Hyunjin não havia parado para perceber aquilo, sua mente trabalhou incansavelmente desde que recuperou sua consciência naquela situação tão caótica, e quando foi levado para aquele quarto, só conseguiu pensar nas ações do seu Oráculo e o que ele havia feito enquanto estava apagado. Suas memórias eram lapsos, como se aos poucos ela estivesse retornando, mas ele se via como um mero observador, ele não teve controles de suas próprias ações. Só esses pensamentos foram o suficiente para deixá-lo ocupado demais para pensar em qualquer outra coisa. Até mesmo se seu próprio espírito poderia ter sofrido alguma alteração.
E, naquele momento, Hyunjin entendeu o que Felix havia lhe dito. Ele realmente estava diferente.
Aqueles fios de energia pura que ondulavam em seu interior, aquela energia que lhe dava a sua grande força como Arcanjo e que fazia dele um ser divino pareciam ter desaparecido, ou então, ficado tão fracas ao ponto de passarem completamente despercebidas. Ele ainda se sentia um anjo, ele percebia que poderia fazer tudo o que fazia antes, mas sua essência já não era mais pura.
Ele não estava corrompido, ele sabia disso, era como se seu espírito tivesse sido modificado, se adaptado, e, talvez por causa da fonte inexistente de energia angelical naquele local, seu corpo parecia completamente preenchido por aquela mesma essência presa em seu pingente. Seu corpo parecia irradiar levemente aquela mesma energia rubra.
— Por que isso aconteceu comigo? — Hyunjin perguntou, sentindo em seu íntimo uma estranha ansiedade, parecia medo misturado com euforia.
— Digamos que o motivo de isso ter acontecido é o mesmo motivo pelo qual você deve continuar aqui. Os Céus não podem te oferecer o que precisa nesse momento. Sabe o que vão fazer se descobrirem essa energia em você?
Sua pergunta ficou no ar, sem respostas rápidas de ambos os lados. Felix se aproximou do Hwang em pé, sua postura relaxada demonstrava sua falta de medo em frente ao ser que quase havia o corroído uma hora antes. Hyunjin não o respondeu, não porque não fazia ideia da resposta, mas sim porque não queria ter que dizer aquilo em voz alta.
— Eles vão prendê-lo, tirar de você toda a sua energia, toda a sua essência que faz você ser diferente dos outros seres divinos. — Felix puxou o pingente escarlate. — Irão tirar isso de você, deixá-lo vulnerável, será como ser torturado. Vale a pena?
— E vale a pena ficar aqui para servir como um servo para vocês? Acho que tenho ideia do que querem que eu faça.
— Até hoje, nunca existiu um único Mestre da Lua que não tenha causado uma guerra entre os mundos. Hyunjin, essa é a essência!
Hyunjin olhou para os dedos de Felix, que seguravam o pingente. O líquido rubro pareceu reagir ao seu toque, brilhando intensamente com um curto intervalo de segundos, como uma lâmpada piscando.
— Como conseguiu fazer com que eu voltasse à consciência mais cedo? — O Hwang perguntou, olhando as orbes vermelhas do Lee.
— Injetei minha energia em você, simplesmente.
— Mas como isso conseguiu fazer com que eu retornasse e não me corrompesse?
— Hyunjin, não digo que você não se corrompeu. Na situação em que você está, pode acabar se corrompendo mais cedo ou mais tarde, é questão de tempo.
Ele sabia que o Lee estava certo, era somente questão de tempo. Ele sentia em seu íntimo que na próxima vez em que perdesse o controle daquele colar, ser corrompido seria inevitável.
Lee Felix, me diga o que você pode me oferecer? Por favor, me diga.
✴
Yunjin caminhava em círculos dentro do quarto, preocupada com o que havia acontecido mais cedo.
O que exatamente era aquele colar? Qual era o efeito exato dele?
Seus passos ininterruptos pareceram deixar a outra serafim no cômodo incomodada, bufando toda vez em que Yunjin se virava em cima do piso de madeira escura e fazia seus sons ecoarem pelo quarto.
— Não pode parar nem por um instante? — Kazuha finalmente reclamou, fazendo Yunjin frear seus passos e olhá-la.
— É melhor ficar quieta, posso te matar a qualquer momento — ameaçou, séria.
— Pois me mate de uma vez. Não fez isso até agora por quê? Não pode? Só aquele seu amiguinho pode fazer algo?
Yunjin desviou seu olhar, decidindo ignorar, Kazuha sorriu minimamente, se sentindo vitoriosa.
— Aquele arcanjo que veio com você, qual é a exata origem dele?
— Por que está curiosa sobre ele?
— Depois do que aconteceu hoje, qualquer um ficaria curioso, não acha?
— E o quê exatamente aconteceu hoje? Eu não consigo entender!
— Seu amiguinho arcanjo, a partir de hoje, será cobiçado e adorado por muitos demônios e odiado por anjos. Ele provavelmente vai se tornar um demônio em breve.
Os olhos de Yunjin se arregalaram devido ao choque daquela informação, seu corpo se virou completamente na direção da Nakamura.
— E por que nós não fomos afetadas pela névoa mais cedo mas os outros sim?
— Não sei. Talvez seja o instinto temporário dele como anjo não machucar seus iguais?
— Aquele colar com ele, ninguém pode tirá-lo?
— Eu já toquei nele uma vez, o efeito de usar ele não é muito legal, eu diria. Mas outra pessoa pode sim pegá-lo se estiver disposto a passar por um incômodo bem ruim. Por quê? Quer tirar aquilo dele para evitar que ele se corrompa? Ou tem algo a mais em mente?
Yunjin não a respondeu mais, seu nervosismo continuou presente em sua figura. Kazuha nada mais disse também, somente manteve seu olhar atento aos movimentos da Huh.
✴
Dentro do Grande Palácio, o Querubim Líder estava reunido com seus braços direito e esquerdo, Sakura e Changbin. Eles acompanhavam o paradeiro dos dois anjos que mandaram para o Submundo.
— Segundo o dispositivo espiritual, os dois estão na Mansão Bahng — Changbin informou ao Querubim Líder, que o ouviu atentamente.
Jeongin, sentado em frente à uma grande mesa repleta de documentos abertos e espalhados, apoiava sua testa com seus dedos indicadores e médios, parecendo estar enfrentando uma grande dor de cabeça.
— Acha que está na hora de mandarmos reforços? — Sakura perguntou.
— Yunjin me comunicou algo interessante também — Changbin comentou, parecendo ter se lembrado de última hora. — Entreguei o dispositivo de comunicação que me mandaram, ela me contou através dele que Hyunjin acabou recebendo o colar da própria sacerdotisa.
— Ótimo, assim ela não teve o trabalho de procurá-lo — Sakura comentou.
Jeongin franziu sua testa e olhou para Changbin, perguntando:
— Se ela deu o colar para ele, então quer dizer que agora ele é o dono do colar?
— Pelo que parece, sim. Mas não terá problemas, Senhor, isso não irá impedi-lo de o usar, garanto.
— Ótimo, se for assim, Sakura, prepare-se para ir ao Submundo também. Separe o máximo de suporte que você for precisar.
✴
O colar reage ao Felix? Hmmmmm...
Aqui tem muitos planos se cruzando de forma bagunçada, mas aos poucos vai se desenrolar HUAHUAHUA
Estou preparando (tentando) um CuriousCat para vocês poderem mandar algumas perguntas ou coisas aleatórias sobre as att para eu poder responder. Assim que eu terminar, vou colocar o link no meu mural e no insta. Espero que funcione.
O que acharam do capítulo? Me contem aqui e não esqueçam de deixar um votinho se gostaram.
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