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• CAPÍTULO 16 •


"Você não me ensinou a te esquecer."

— Caetano Veloso.

EMMA FLETCHER • 20 ANOS


5 anos depois...

Sempre achei que Kierkegaard estava certo quando disse que a vida só pode ser compreendida olhando para trás. O problema é que, às vezes, olhar para trás dói. Então, geralmente evito.

Mas o problema é que essa é justamente a função de uma psicóloga. Me fazer olhar para trás, para poder viver o presente e o futuro da melhor forma.

— Por todos esses anos, você seguiu em frente. Fez novos amigos, se dedicou aos estudos, amadureceu, se fortaleceu... Mas, agora, o que você sente quando pensa no Ryan? — perguntou ela, com aquela voz calma, mas sempre precisa, que eu conhecia tão bem.

— Uh... — murmurei, erguendo as sobrancelhas, enquanto soltava o ar com um sorriso sem graça. — Que direta, Monica! Mas vamos lá... Hum... sinto que, de alguma forma, ele ainda é uma espécie de farol para mim, mesmo que eu não me sinta mais à deriva.

A mulher de cabelos longos inclinou a cabeça levemente, me fitando por cima dos óculos com um ar cético. E, mesmo quando não estávamos uma diante da outra, e sim em uma sessão virtual, podia sentir a tensão no ar que era quase palpável.

— Emma... Vamos reformular essa pergunta. Se você estivesse na frente dele agora, o reencontrando após todos esses anos, o que você diria? — questionou, calma, porém direta, enquanto a sombra de um sorriso pairava em seus lábios.

— Droga! Você não facilita... — resmunguei baixo, desviando o olhar, mas mantendo o sorriso nervoso nos lábios. Mal podia acreditar que, depois de tantos anos, ela havia trazido esse assunto de volta.

Mesmo que ela soubesse a verdade.

Mesmo que tivesse sua própria visão de tudo o que aconteceu.

Inalei profundamente, engolindo em seco. Passei a língua pelo lábio inferior, enquanto meu olhar recaía sobre os livros de Direito espalhados pela mesa, anotações, cadernos e tantas coisas que eu precisaria de uma mala inteira só para eles. Isso sem contar minha pequena coleção de livros de filosofia, que aprendi a amar... por culpa do Ryan.

— Emma... — insistiu ela, trazendo-me de volta ao presente.

Sim, eu estava evitando a resposta.

Eu sabia disso.

Ela sabia disso.

Todos nós sabíamos.

Voltei meu olhar para o aparelho e, no pequeno recorte no canto da tela, vi o reflexo de quem eu havia me tornado. Meus cabelos estavam presos num coque desajeitado, com fios escapando o suficiente para moldar meu rosto... Tinha uma expressão cansada, após passar a madrugada inteira estudando.

Diferente da última vez que ela me perguntou algo semelhante.

Diferente da menina que fui quando tinha 15 anos.

— Emma... Feche os olhos e pense nele. O que você diria de todo o coração, se o tivesse na sua frente agora? — Ela insistiu novamente, com delicadeza, mas firmeza.

Ryan.

Só pensar no nome dele fazia algo em mim, pulsar de dor.

Ele era... diferente de tudo.

Era uma ferida purulenta que nunca consegui fazer cicatrizar. E talvez... talvez, no fundo, eu não quisesse que cicatrizasse, pois tinha medo de esquecê-lo.

— Você não pode fugir de si mesma, Emma. Seu passado, suas felicidades e suas tristezas te compuseram ao longo desses anos. — Sua voz era paciente, mas inflexível. — O curto tempo que você passou ao lado dele também faz parte da sinfonia da sua vida.

— Eu sei... — murmurei por fim, com os olhos se enchendo de lágrimas. — Mas todos têm pontos fracos... ou, no mínimo, sensíveis.

Ela sorriu suavemente, esperando.

— Ryan... — comecei, engolindo em seco. — Eu não posso te perdoar, mas tampouco consigo te odiar. Você foi... a mais doce e pura... dolorosa e avassaladora lição que a vida me ensinou.

Respirei fundo, tentando controlar a voz antes que ela não quebrasse.

— Aprendi a colocar as lembranças de nós dois em um baú, para quando me perder, saber me encontrar. Graças à sua gentileza, ao carinho e à liberdade que você me ensinou a ter... e às consequências dela. Guardei, para quando sentir saudades de você em um final de tarde ensolarado. Para me lembrar que todo amor é infinito, mas apenas enquanto dura.

Dei um sorriso melancólico, lembrando de um soneto brasileiro que li sobre o amor. Um sorriso que só minha psicóloga podia ver, porque não ousava mostrar à minha família.

— Então, no final do dia, fecho esse baú e o deixo guardado no fundo do armário. Memórias de alguém que não faz mais parte da minha vida, mas que... foi uma honra ter.

Ela me observou com empatia, do tipo que só alguém que me acompanhou por anos poderia ter. Conhecia minha história, minhas fraquezas, minhas conquistas. Talvez por isso, sua próxima pergunta não me surpreendeu:

— Certo, Emma. Agora me diga, o que você está com dificuldade de verbalizar... Sei que tem mais.

Dessa vez, o sorriso amargo que dei chegou aos meus olhos, mas ainda parecia pesar no peito.

— Porra, não posso terminar com um impacto positivo, como alguém que superou tudo?

— Você superou tudo? Se sim, aceitarei. Mas nunca valeu muita coisa mentir para si mesma — rebateu, com um pequeno sorriso desafiador.

Suspirei, derrotada.

— Certo... Não teria muito a acrescentar, além do que já disse...

Ela assentiu, encorajando-me a continuar.

— Para você, Ryan, que talvez sequer se lembre de mim... Pode não ter durado ou se tornado algo "infinito". Afinal, eu era só uma passageira no ônibus que te fez companhia por um tempo. Mas, para mim, ainda está "durando".

Fechei os olhos por um momento, visualizando as palavras que saíam do meu coração.

— Quando olho para o banco ao lado e você não está, sinto algo faltando. Sofro com sua ausência. Mas, então, vez ou outra, deixo outras pessoas sentarem no seu lugar e me fazerem companhia, enquanto olhamos a paisagem e admiramos o que o mundo tem a oferecer. Mesmo que, no fundo, apenas deseje que esse ônibus me leve de volta até você.

Minha psicóloga sorriu compreensivamente, fechando o caderno que sempre segurava mesmo nas sessões virtuais.

— Você melhorou conforme os anos passaram, Emma. Como sua amiga além de psicóloga, devo dizer, esteja orgulhosa, pois estou de você e não vejo mais uma criança que se sente abandonada, mas uma mulher que entende que a vida segue o próprio percurso. Não no que você quer, nem como quer, nem quando quer, exigindo. Mas você torce... torce para que, se for vontade do destino, vocês se reencontrem. E só.

Seus olhos brilhavam e sua voz carregava algo que eu não conseguia descrever... mas tinha a certeza de que era um misto de carinho e orgulho.

— Essa é a maior prova de que, embora suas cicatrizes façam parte de quem você é, você cresceu. É adulta o suficiente para viver por si mesma. E eu estou confiante que sua nova jornada em Londres, nesse intercâmbio, será a chance de você viver novas coisas, conhecer novas pessoas e, finalmente, seguir em frente.

...

Após desligar a chamada, deixei o celular sobre a escrivaninha e me recostei na cadeira, deixando a cabeça pender para trás. Meu olhar vagou pelo teto, enquanto minha mente começava a revisar as coisas que aconteceram nos últimos cinco anos...

Ao contrário do que imaginei, não fiquei sozinha. Pelo contrário, fiz novos amigos e fortaleci laços com colegas que se tornaram meus maiores tesouros, como Levi e Perséfone, eles nunca me deixaram só. Mesmo quando terminaram a escola e seguiram suas carreiras, sempre davam um jeito de mandar mensagens ou aparecerem de surpresa.

Para a maior surpresa de todos, especialmente de quem conheceu o encrenqueiro Levi, ele se tornou um excelente policial e aspirava a ser delegado. Perséfone, por sua vez, se formou em administração e abriu sua própria livraria, um lugar que acabou se tornando meu refúgio nas horas de folga.

Jack, o meu irmão idiota e provocador, encontrou sua alma gêmea. A "coelhinha" dele... Sorri, balançando a cabeça ao lembrar do apelido. Jasmine era o nome dela. Uma garota bonita, de personalidade forte, mas completamente desajeitada. Eles se conheceram enquanto Jack fazia estágio, e foi algo instantâneo. Quando ele a trouxe para casa pela primeira vez, fiquei surpresa ao ver um lado dele que nunca tinha visto: maduro, protetor e apaixonado. Eles eram adoráveis juntos, dois bobos que se completavam.

Três meses atrás, recebi uma mensagem inesperada da Perséfone:

"Emma, estou grávida! E você não tem opção, será a madrinha!"

Junto à mensagem, havia uma foto dela e do Levi segurando os exames que confirmavam a gravidez. Fiquei tão emocionada que mal consegui responder de imediato. E, para completar, na semana passada, vieram me mostrar o ultrassom.

"É um menino! Ele se chamará Davi."

Eles exclamaram da porta de casa, fazendo o Jack sair do "ninho", vulgo quarto dele com a Jasmine, para ver o que estava acontecendo. Eu estava tão feliz. Todos estavam. Com a família da Perséfone não aceitando o Levi, nós nos tornamos o mais próximo de uma família que ela poderia ter. Eu tinha praticamente a adotado como minha irmã mais velha ao longo dos anos e Davi era como a cereja mais doce no bolo.

Outra surpresa foi Drake, o irmão mais velho da Vicky. Ele é o oposto dela: calado, reservado, quase uma sombra. Mas, aos poucos, se tornou um amigo silencioso, sempre presente na hora certa. Como num dia em que fugi da chuva e ele parou o carro do meu lado, sem dizer muito, só abriu a porta e disse:

— Entra. Te levo para casa.

Era sempre assim com ele: poucas palavras, mas gestos que diziam tudo.

Vicky foi morar com uma tia depois de tudo o que aconteceu com Thomas. Não mantivemos contato, e a única notícia que tive veio de Drake:

— Ela está bem.

E isso era tudo o que eu precisava saber.

E o Thomas? Ele tomou um rumo completamente diferente. Se alistou no exército e, pelo que soube, encontrou propósito e disciplina lá. Por mais estranho que fosse admitir, isso parecia ter sido o melhor para ele.

Quanto a mim? Entrei para a mesma universidade que Jack e comecei a cursar Direito. Até considerei seguir a área criminal, mas logo percebi que talvez não tivesse estômago para isso. Filosofia, por outro lado, tornou-se uma paixão paralela que complementava meu caminho.

E a minha vida sentimental? Bem, não tinha. Passei os últimos anos mergulhada nos estudos, ocupada demais para pensar em ter alguém para mim. E daqui a dois dias, estaria indo para Londres para o meu intercâmbio.

Ocupada demais para pensar em amor... Pensei, com ceticismo, ao recapitular tudo e suspirei profundamente, com um sorriso cansado. A verdade é que eu podia enganar a todos, até a mim mesma por um tempo, mas a verdade sempre voltava como um soco no estômago.

Nenhum homem, em todos esses anos, mexeu comigo ou com o meu coração como ele.

E, sinceramente? Às vezes, achava que ficaria solteira para sempre.

•••

Depois de um dia arrumando minhas coisas para a viagem e despachando o que faltava, cheguei em casa exausta e derrotada.

No dia seguinte seria o dia da viagem.

Mas, ao abrir a porta, me deparei com uma festa de despedida com todas as pessoas que importavam.

O cansaço se tornou indiferente e, pela organização, eu conseguia identificar quem havia feito aquilo. Isso me fez abrir um sorriso que parecia lavar a minha alma.

Jack comprou coisas estranhas, de novo, mas ao menos eram coisas relativamente fofas, geralmente compradas no Halloween, que provavelmente tinham a mão da Jasmine para suavizar. Pois, se dependesse dele, seriam coisas como "feijõezinhos de todos os sabores". Na mesa, estavam minhas comidas favoritas, cuidadosamente arrumadas, isso tinha claramente o toque do meu avô. A música animada era obra do Levi, com um rock dançante. Os doces feitos à mão eram da Perséfone, que já estava com a barriga inchada da gravidez, fazendo-a parecer ainda mais bonita, se é que isso era possível. E Drake, sempre meticuloso, tinha provavelmente sido o responsável por organizar tudo no lugar, porque estavam devidamente alinhadas com precisão e ordem.

Funguei, por vezes chorando com um detalhe ou outro, entre os abraços de todos.

Meu Deus, como eu sentiria falta deles!

— Se torne uma grande advogada e retorne para mim, minha menina. — disse meu avô, com as mãos tremendo ligeiramente, acariciando meu rosto.

— Sim, vovô — murmurei, emocionada com seu toque terno.

— Feia, veja se não apronte por lá, estará sozinha. Até chegarmos para te resgatar... — começou Jack, me puxando abruptamente para um abraço.

— Está me confundindo com você, Jack? Acho... que eu deveria pegar um momento para sentar com a Jasmine, sabe? Conversar sobre o seu "eu" antes dela... — provoquei, com um meio sorriso, enquanto o abraçava de volta.

— Muito me interessa essa conversa... — começou Jasmine, enquanto ria e se aproximava, mas sem querer, ela tropeçou nos próprios pés e acabou caindo em nós dois, nos abraçando para se segurar.

Rindo, Jack ergueu um braço a envolvendo no abraço junto e ficamos alguns segundos, até que Jasmine se afastou o suficiente e ele sussurrou no meu ouvido:

— Fique bem, Emma. Você ainda é a pessoa mais importante da minha vida. Me ligue, tá bem? Se algo acontecer, volte imediatamente, pirralha.

Lágrimas, em meio a um riso, escaparam dos meus olhos e reforcei o meu abraço com mais força.

— Está bem, irmão...

— Ei! E eu?! — exclamou, Perséfone fazendo um beicinho irritada com a mão na cintura.

— Fomos esquecidos, Per... — falou Levi fazendo algum drama, enquanto se vira de lado fazendo uma expressão triste, enquanto me olhava de soslaio. — Abandonados... excluídos!

Em meio minhas lágrimas, desfiz o meu abraço de Jack e uma risada engasgada que escapou de mim, me virei para eles, abrindo os braços em direção a eles, os chamando.

— Venham casal do drama... Tem Emma para vocês também.

Eles vieram sorrindo em passos apressados e me abraçaram com força, os dois ao mesmo tempo, fechando o meu corpo em um casulo, que me fez rir meio sufocada.

Após a risada acalmar, Perséfone me apertou mais forte.

— Você é incrível, Emma! Vai dar tudo certo... Seja sempre confiante e em qualquer problema, qualquer mesmo, me liga, não me importo se for meio-dia, meia-noite, três da manhã... Você não está sozinha, viu? — Sussurrou Perséfone, já chorosa, enfiando o rosto entre meus cabelos.

— Own! Minha linda gravidinha... Eu ligarei, fique tranquila. Também irei ligar sempre por vídeo para ver o nosso pequeno Davi, certo? — falei em um tom baixo e carinhoso, levando uma mão a barriga dela tocando com ternura.

Mas sendo como sempre um "garoto encrenqueiro", Levi não perdeu sua chance de tentar fazer graça e disfarçar a sua própria emoção.

— Só não vou atender quando eu estiver transando... — anuncia simplesmente o Levi, após fungar disfarçadamente, Perséfone olhando feio para ele, pisou no pé dele.

— Calado, você é um perfeito... — reclamou ela, meneando a cabeça. — Mas falando...

— Ai! — exclamou ele, dando um pulinho e erguendo o pé. — Está bem! Às vezes me pergunto se vou sair vivo até o fim dessa gravidez.

Ele então se voltou para mim, mais sério:

— Agora, falando sério... Cuidado com os caras. Você tem uma habilidade incrível de atrair gente estranha para a sua vida.

— ... — Fico em silêncio por um momento o fitando, como se dissesse: pessoas como você?

— Estou falando sério — retorquiu, revirando os olhos. Então, levou a mão ao bolso e me entregou o que parecia ser um molho de chaves, mas, na verdade, eram vários itens de defesa pessoal. — Não hesite, use.

— Sim, senhor... senhor policial — provoquei, e ele sorriu.

Então, Drake, que até então estava quieto, sem fazer drama ou coisa do tipo, surgiu atrás deles, chamando minha atenção. Apesar de ter se aproximado silenciosamente, era impossível não o notar em toda sua altura.

Ele me entregou um cachecol com a inicial do meu nome. Não estava embrulhado, apenas estendido para mim, como uma oferta simples e sincera. Ergui uma sobrancelha, buscando respostas, e ele disse, sem graça:

— Em Londres faz muito frio...

A timidez em sua voz me pareceu adorável.

Sorrindo, me desfiz do abraço do casal e me aproximei dele.

— Obrigada, Drake... — falei, ainda sorrindo.

Ele deu um passo à frente, hesitante, e ajeitou o cachecol no meu pescoço, como se eu fosse uma criança. Seus dedos tocaram a lã com cuidado, e, por um momento, fiquei sem palavras ao perceber que era feito à mão.

O toque pessoal aqueceu meu coração. Com um sorriso terno, levei a mão ao cachecol e olhei para ele, mas Drake apenas acenou de leve, satisfeito com minha reação, e voltou a se sentar no sofá. Sempre discreto, mas sempre presente.

...

Mais tarde, quando Drake já tinha ido embora. Jack tinha se recolhido com a Jasmine, que já quase morando em casa. Terminei de limpar as coisas, e então, estava voltando para a sala quando ouvi meu avô falando com a Perséfone e o Levi.

— Ela está indo realizar seus sonhos, mas... — dizia vovô, com um suspiro. — Torço para que Emma encontre o amor, sabe? Que se case, que tenha alguém que cuide dela, assim como vocês cuidam um do outro com tanto carinho.

Ele fez uma pausa antes de continuar, a voz carregada de arrependimento:

— Desde o Ryan, ela nunca mais deixou ninguém se aproximar tanto... Talvez tenhamos cometido um erro ao permitirmos que ele ficasse tão perto dela, achando que, com o tempo, ela superaria o primeiro amor ao perceber que não seria correspondida. Afinal, ele era um bom rapaz, que nunca ultrapassou os limites...

Vovô suspirou mais uma vez e concluiu, com um pesar que apertou meu coração:

— Minha idade está chegando... Não vou estar aqui para sempre.

Minhas mãos se apertaram ao ouvir aquilo. Aparentemente, eu não conseguia mentir para ninguém e sorri, triste, mas sorri.

Não era fácil deixá-lo, deixar nenhum deles, mas sabia que precisava fazer isso, precisava sair do ninho. Desse ninho que todos me conheciam tão bem.

Depois que Perséfone e Levi foram para sua própria casa e meu avô se recolheu ao quarto, a casa finalmente voltou ao silêncio. O ar ainda parecia carregado de risadas e lembranças de todos que estiveram ali, mas agora só restava a quietude.

Com os olhos pesados e o coração cheio, fiquei parada no meio da sala por um momento, observando os detalhes ao meu redor. A mesa vazia. O cachecol de Drake, esperando para ser levado ao meu quarto, junto com o molho de itens de segurança pessoal. Tudo me lembrava do quanto eu era amada.

Suspirei e subi para o quarto, sentindo o peso da vida e da despedida.

O dia seguinte chegaria rápido demais. E, com ele, o momento de partir.

•••

O céu ainda estava tingido de tons suaves de azul quando saímos de casa em direção ao aeroporto. A viagem até lá foi marcada por um misto de silêncio, conversas distraídas e resmungos sobre o trânsito lento, que quase me fez perder o voo.

A despedida foi breve, mas cheia de abraços apertados, palavras de cuidado e desejos de boa sorte. Cada um me deu um último conselho, como se o simples fato de repetir aquelas palavras pudesse me proteger.

Já estava quase entrando na área de embarque quando ouvi meu nome sendo chamado. Jack estava vindo correndo até mim, ignorando as faixas de segurança, enquanto chamava minha atenção.

Preocupada, dei meia-volta e corri para ele. Quando o alcancei, ele me deu um abraço tão apertado que me fez reclamar e rir ao mesmo tempo.

— Isso não é um adeus... Que desespero, Jack! — exclamei, com um riso sem graça, enquanto apertava mais o abraço ao redor dele.

Ele riu e se afastou o suficiente para segurar a minha mão entre as dele, e antes que eu pudesse perguntar o que estava acontecendo, colocou algo nela.

— Eu sei, mas sentirei sua falta. Vivemos uma vida inteira juntos, sua feia... — admitiu, levando a mão à minha cabeça, os olhos brilhando. Ele sorriu, mas havia algo diferente em sua expressão, como se quisesse dizer muito mais do que as palavras permitiam.

— Você é meu irmão. Viveremos o resto das nossas vidas ligados, Jack, seu idiota — retruquei, tentando disfarçar a emoção enquanto olhava para o papel que ele havia colocado em minhas mãos. — E o que é isso?

— Algo que você quer muito, mas... — Ele começou, hesitando. Então balançou a cabeça, como se desistisse de explicar. — Bom, não importa. Apenas leia depois, pirralha.

Ele se virou antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, acenando de costas para mim enquanto caminhava em direção a Jasmine, que estava parada com os outros, também acenando.

A curiosidade foi maior do que o bom senso de obedecer à aeromoça, que já me chamava para o embarque. Assim que desdobrei o papel, senti meu coração disparar. Meus olhos se arregalaram enquanto as palavras dançavam na folha e, de repente, o mundo ao meu redor parecia estar em câmera lenta.

"Eu descobri que ele está em Londres, com alguns contatos...

Na universidade para onde você vai.

Seja muito feliz, Emma.

O seu melhor irmão do mundo só poderá ser

completamente feliz quando você estiver bem.

Te amo.

J.F."


Um nó se formou na minha garganta e lágrimas quentes deslizaram pelo meu rosto sem controle.

Ergui o olhar em busca do Jack, e ele já tinha alcançado os demais que me fitavam de longe. Ele estava abraçando Jasmine, com aquele sorriso descarado, naquela expressão de quem não vale nada.

Quando percebeu que eu o estava encarando, ele fez questão de sorrir ainda mais, apontando dois dedos para os próprios olhos e, em seguida, para mim, como quem dizia: "Estou de olho."

Ri entre as lágrimas, balançando a cabeça em descrença.

E, com isso, virei as costas, segurei firme minha bagagem de mão e embarquei no avião, sentindo que meu coração estava um pouco mais leve... mas batendo mais forte do que nunca.

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