• CAPÍTULO 09 •
"Um badboy de coração mole"
Malta - Memórias
JACK FLETCHER • 18 ANOS
Enquanto caminhávamos de volta para o carro, não pude deixar de observar os dois. A expressão de Ryan parecia muito mais suave quando estava perto dela, perguntando como tinha sido o dia, apesar das inconveniências. Já Emma, no entanto, permanecia em silêncio, como se sua boca estivesse colada. Eu sabia como minha irmã era: quando ficava chateada, não tinha santo que a fizesse falar!
Suspirei e desviei o olhar, já imaginando que aquele esforço do Ryan era uma perda de tempo. Mas, de soslaio, percebi que ele se inclinou um pouco, chegando mais a altura dela, com um sorriso de canto, insistindo em puxar assunto.
— Ah... Não vai falar comigo agora, pequena Emma? — provocou ele, num tom descontraído.
Para minha surpresa, Emma suspirou e deu um sorriso discreto, lançando um olhar para ele.
— Certo... Meu dia foi normal, Ryan — falou, enfim.
Eu parei por um segundo, completamente incrédulo. Ela estava falando com ele?! Que droga era essa? Emma nunca falava com ninguém em casa quando estava irritada! Ela só se fechava como um caramujo. E aí vem esse cara do nada e...
— E as matérias nas quais você tem dificuldade? — continuou Ryan, com um tom leve. — Quais eram mesmo... Oratória... — ele fez uma pausa, com um olhar fingindo dúvida, só para provocar — conseguiu absorver algo ou ainda vai precisar do "professor particular"?
Emma riu de leve e respondeu, desviando o olhar, claramente sem graça.
— Oratória, educação física e filosofia... ainda vou precisar de você.
Ryan riu baixinho em resposta.
Era estranho ver minha irmã assim, tão aberta com alguém que mal conhecia. Como irmão mais velho, eu até conseguia entender os métodos de Ryan de tentar relaxá-la, mas vê-la sendo receptiva desse jeito... mexia comigo, como se estivesse perdendo uma parte dela que sempre conheci. E eu não gostei nada disso.
Intervi, puxando Emma pelo ombro.
— Ah! Claro... nossa senhorita perfeita não pode falhar em nada — brinquei, interrompendo os dois. — Mas já que o Ryan tem que trabalhar daqui a duas horas, que tal eu ajudar vocês? Tenho uma ideia: vamos numa casa de jogos que conheço, onde você pode se exercitar dançando e cantando. Que tal, Emma?
Eu vi o rosto dela ficar branco como papel ao se virar abruptamente para mim. A ideia de dançar e cantar em público, ainda mais na frente do Ryan, claramente a deixava desesperada. Seu pânico estava praticamente escrito em luzes neon na testa, e eu adorava cada segundo disso.
— Jack, essa ideia é absurda! — ela retrucou, tentando se desvencilhar do meu aperto no ombro, como se de repente tivesse trinta anos de maturidade.
Para minha total surpresa, e desespero dela, Ryan interveio:
— Na verdade, acho que é uma boa ideia — disse ele, num tom encorajador. — Vai te ajudar a soltar um pouco a voz e a ignorar o que os outros pensam. A confiança para realizar seu sonho depende disso, Emma.
Ela olhou para ele, hesitante.
— Você acha mesmo que isso vai ajudar?
— Tenho certeza. Ninguém lá dança ou canta bem de verdade, mas é divertido. No mínimo, você só precisa relaxar e deixar rolar.
Ele abriu um sorriso, e Emma parecia quase convencida. Ah! Agora que o "princeso" falou, ela vai, né? Pensei, indignado.
— Engraçado... com ele você concorda, né? — interrompi, sem conter minha irritação, ao mesmo tempo em que me colocava entre os dois.
Ela me lançou um olhar de pura impaciência e revirou os olhos com um suspiro pesado.
— Ele me deu bons motivos para isso — retrucou, cruzando os braços e me encarando. — Você só queria me fazer passar vergonha. Admita, irmão idiota.
— E daí? Se o resultado é o mesmo? — falei, dando de ombros.
— Por essas e outras que você é um grande idiota, Jack Fletcher.
— Eu sou seu irmão. O que esperava de mim, pirralha?
— Seu...
Ryan, tentando intervir, estendeu a mão e tocou de leve no meu ombro e foi para o lado dela, o que me fez estreitar os olhos.
— Vocês dois... Parem. Vamos só nos divertir e tentar tornar isso um pouco mais proveitoso. O Jack tem razão, até certo ponto. Eu realmente tenho que ir trabalhar, e essa experiência pode ser de grande ajuda para você, Emma. Você sabe que seu irmão gosta de te provocar, não deixe isso subir a sua mente. E você, Jack... Tem dezoito anos, me ajude a te ajudar.
Ryan me lançou um olhar firme, que me lembrou o do meu avô. Talvez eu tivesse levado as provocações longe demais. Acho que estava levando para o pessoal a sensação de estar perdendo minha irmã.
— Ah... Certo. Vamos. — falei, enfiando a mão no bolso, tentando esconder meu desconforto. Mas em busca de tentar ser um bom irmão e "reparar" um pouco meu exagero, faço mais uma provocação que vai fazê-la tomar a decisão de ir definitiva — Mas... eu aposto duzentos dólares que você não vai conseguir. Vai morrer de vergonha e correr direto para debaixo da asa da "mamãe galinha", vulgo Ryan.
— Jack... Falei para ajudar... espera — Ryan murmurou, e ao aparentemente me entender, completou entre um riso contido e uma expressão incrédula. — Mamãe galinha?
— Eu vou o quê?! — indagou Emma, erguendo uma sobrancelha.
— Isso aí que você ouviu — desafiei, com um sorriso provocador, cruzando os braços e me fazendo de superior, mantendo minha postura alinhada para enfatizar o tamanho dela contra o meu. — Vai ter "medinho" e fugir.
Ela estreitou os olhos, a boca se fechando numa linha reta enquanto fechava a distância entre nós. Antes que eu percebesse, tentou me dar um soco no estômago. Entretanto, consegui segurar o golpe a tempo, agarrando sua mão.
— Opa! Tá bravinha? Acertei, né?
— Se prepare, Jack Fletcher. Esses duzentos dólares vão ser meus. É bom dizer adeus a eles! — falou irritada, enquanto meu sorriso só aumentava.
Esse era o lado da Emma que eu conhecia e que só eu provocava a ponto de aparecer. Uma parte da minha inquietação interna se acalmou. Aquele lado provocador e competitivo dela ainda estava ali. E, por enquanto, eu estava satisfeito com isso.
...
No final, fomos à casa de jogos e Emma não se acovardou. Cantou como se sua vida dependesse disso e dançou na máquina como se o mundo ao seu redor não existisse. Era bom vê-la assim, leve, esquecendo, mesmo que por um momento, tudo o que a deixava tensa. Enquanto isso, eu fazia o que precisava ser feito: observava de perto a interação dela com Ryan, atento a cada detalhe.
Ryan, não era um cara ruim. Ele era perigoso para qualquer coração feminino, isso era óbvio e eu não podia dizer que era sem motivos... Mesmo odiando isso. As garotas ao redor dele pareciam cair feito moscas. E Emma... bem, ela não era exceção. Minha irmã estava tendo sua primeira paixonite, e eu sabia que isso poderia acabar em coração partido, afinal, primeiro amor geralmente termina assim. E eu esperava que terminasse!
Apesar que ela estava perdendo os seus traços de criança e só por que fiquei os observando, pude perceber isso. Não éramos mais duas crianças órfãs ficando com o avô.
Mas, no geral, como eu disse, Ryan era um cara decente. Não havia nele nenhum olhar de segundas intenções, nada que me fizesse sentir que Emma estava em perigo. Ele parecia realmente comprometido em cuidar dela, mas ao seu modo... o modo de quem vê alguém especial, não como uma mulher. Ele queria proteger minha irmã, e eu conseguia ver isso. O que me fez questionar o seu passado. E Emma, esperta como era, cedo ou tarde entenderia a diferença do olhar que ele dava para ela e que não tinha chances. Se já não percebeu.
Claro que, daqui a alguns anos, as coisas poderiam mudar. Eu sabia que Emma cresceria, que talvez acabasse realmente apaixonada por ele, daquele jeito que não aceita "não" como resposta. E, quem sabe, Ryan poderia ver algo mais nela também. Nesse caso, eu estaria o esperando com um soco pronto, mas, por enquanto, o que existia entre eles era algo puro. Eles eram exatamente o que o outro precisava: ela trazia suavidade para ele, e ele dava a ela confiança e liberdade.
Pela primeira vez, me permiti relaxar, sabendo que, enquanto estivesse por perto, Ryan faria de tudo para manter Emma segura e feliz.
Mas, é claro, eu continuaria de olho neles. Afinal, ninguém pode acusar um irmão mais velho de abaixar a guarda, não é? Que culpa tenho? Sou um ótimo irmão. No final das contas, ela é minha irmãzinha... e é claro que vou garantir que ela fique bem.
O problema agora é só como explicar essa conclusão ao meu velho?
•••
EMMA FLETCHER • 14 ANOS
Depois que o tempo passou mais rápido do que eu gostaria, chegou a hora de Ryan ir para o trabalho. Jack e eu demos uma carona para ele de volta à universidade, onde ele havia deixado a moto. E, quando finalmente chegamos em casa, eu estava completamente relaxada, mas também exausta. Tudo o que eu queria era um banho e a minha cama. O dia tinha sido tão longo que nada mais parecia necessário para me deixar feliz...
Assim que subi para o meu quarto, deixando o vovô e o Jack lá embaixo, me lembrei dos duzentos dólares. Um sorriso travesso surgiu no meu rosto. Ele achava mesmo que eu ia esquecer de cobrar? Jamais, Jack. Jamais! Estava prestes a descer para esfregar a vitória na cara dele quando uma lembrança me fez parar e rir sozinha.
Meia hora antes, Jack tinha tomado o microfone da minha mão, todo confiante, dizendo que ia "mostrar como o mestre faz". Mas ele cantava tão mal, que o Ryan teve que pedir para ele parar, "pelo amor de Deus". E nem o próprio Ryan escapou: mesmo contra a vontade dele, acabamos fazendo-o cantar também. Afinal, como "veterano/tutor" tinha que ser o exemplo.
Ele escolheu uma música e a cantou com tranquilidade, e eu fiquei me perguntando se tinha alguma coisa nele que fosse menos do que perfeito.
Será que ele tinha defeitos? Queria saber...
Entretanto, a mente humana era sempre traiçoeira e a minha mente vagou de volta para a razão pela qual havíamos ido ao fliperama, e o meu sorriso apagou em menos de um segundo, com uma sensação de peso em meu peito. Engoli em seco e mordi o lábio, tentando deixar de lado as memórias tristes e me concentrar nos momentos felizes como a psicologia tinha me instruído nos últimos anos.
Então, decidida a não perder o clima leve, me virei para descer as escadas e foi quando ouvi a voz do Jack e do vovô conversando.
— Ele é um perigo, sim, mas para qualquer coração feminino, vô — disse Jack num tom meio contrariado. — Contudo, ele não vê a Emma como um homem vê uma mulher. Sinceramente, não dá nem para julgar ela por ter uma paixonite. O cara é quase "uma mamãe galinha" em relação a ela, ele a trata só como uma pessoa que quer proteger. Ele não tremeu nem vacilou em momento nenhum, e se o senhor visse como os dois são juntos, veria que dá para confiar nele.
— E o coração da Emma? — perguntou o vovô, numa voz mais baixa.
— Primeiros amores sempre terminam em coração partido, vô. Se não for por ele, será por outro, e o senhor sabe disso. Eu me conforto em saber que, se alguém for partir o coração dela, vai ser ele, sendo sincero sobre os sentimentos que ele não tem por ela ou ela mesma se dará conta disso com o tempo. De qualquer forma, ninguém vai fazer mal a ela, porque o Ryan é realmente um cara legal.
Ouvi meu avô suspirar, longo e pesado.
— Parece que ele te cativou também...
— Ele é bom com a pessoa mais importante da minha vida, velho... Mas vou continuar de olho neles — respondeu Jack, com firmeza.
— Você deveria dizer essas coisas para sua irmã, sabia?
— Sou muito mais legal sendo o cara mau.
— Moleque idiota, você não consegue ser mau nem para uma formiga... No máximo, só com você mesmo — provocou o vovô, e eu precisei segurar o riso, embora o sorriso já estivesse estampado no meu rosto desde que ouvi Jack me chamando de "a pessoa mais importante da vida dele".
Era estranho e um pouco dolorido perceber que até o Jack notava a minha atração por Ryan, e que, era um sentimento completamente unilateral. Mas, no fundo, eu sabia que era algo com o qual precisava lidar já que não queria me afastar dele.
Meu único receio era... será que algum dia a cena se repetiria? Só que no lugar do Thomas me segurando enquanto me via querendo ir embora. Fosse eu, agarrando o braço do Ryan? Mas afastei esse pensamento, deixando o futuro se cuidar sozinho, enquanto eu vivia o agora.
E como se o "agora" quisesse me enfatizar isso, ouvi o meu avô voltar a falar:
— Amanhã vou ligar para ele e ver quando ele pode começar a dar aula para a Emma — anunciou meu avô. — Mas se ele fizer qualquer coisa errada, Jack, você será o responsável.
— Vô, o senhor fala como se não tivesse gostado dele... Mas só o fato de não ter proibido a aproximação dele já diz muita coisa, sabia? Quem é o idiota aqui que não fala a verdade? — provocou Jack, e eu revirei os olhos, pensando que ele realmente não tinha um pingo de instinto de autopreservação.
Mas o vovô não negou. Meu coração se aqueceu ao perceber que, mesmo com as desconfianças, eles enxergavam em Ryan o mesmo que eu: alguém com um coração bom, cuja beleza ia muito além da aparência. Sentindo a alegria se espalhar pelo meu peito, dei meia-volta e voltei para o meu quarto, deixando para lá os duzentos dólares. Ganhei algo muito mais valioso.
•••
fiz uma playlist que to colocando mais musicas aos poucos no spotify olhem que fofa a capa que editei <3
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