Capítulo 3
Cheguei perto, e vi que a casa parecia estar em ruinas já há anos, com um cômodo
quase intacto, pinturas na parede, eram desenhos meios infantis mas a comunicação
era clara, e parecia ser ela, segurando as mãos de dois adultos, que cada ao seu tempo
desapareceu, em outra parede estava ela e mais uma mulher, e na outra, parecia uma
pintura recente estava ela com um coração quebrado nas palmas das mãos e a sua
frente um homem com martelo em mão a quem entregara seu coração quebrando
ainda mais seus pedaços já partidos, eu senti agonia.
Um policial chegou perto e disse que eu tinha que me afastar, e que teria que
responder a um inquérito.
O que você é para Srta. Russuel? Eu lembro que esta foi à primeira pergunta feita a
mim, e lembro também de ter respondido com orgulho que era seu amigo e algo mais,
o policial disse que lamentava, mas ela havia cometido suicídio, não imaginas o que
senti ao receber a informação, meu coração doía como se tivesse sido alvejado, doía
demais, não consegui segurar, caiu uma lágrima, e depois outra, e outras mais...
O policial deu-me um papel amassado, e disse que eu era a única pessoa que ela tinha
e então deveria ficar com aquilo, não entendi corretamente o que disse o policial e
então perguntei pelos seus pais, sua família. O policial riu-se e disse ter pensado que
eu era seu amigo, levantou-se e saiu.
Parecia uma carta, que eu decidi ler quando chegasse a casa. E quando cheguei me
sentindo culpado do seu suicídio, entrei no meu quarto e trinquei a porta. Peguei no
papel amassado e comecei a ler:
“Se alguém um dia encontrar essa carta, eu espero, realmente peço que seja entregue
ao Samuel Arthur.
Samuel, eu sei que você nunca me conheceu, nunca me entendeu, apesar das horas
que a gente passava juntos conversando, sorrindo, sendo apenas felizes, você nunca
percebeu, eu lamento ter feito o que fiz, mas, senti que estou realmente só neste
mundo, vasto, frio e cruel, senti que não tinha mais sentido pra viver, e até porque não
tem sentido de viver sem alguém para quem viver alguém com quem viver, e isso eu
pensava que tinha, mas percebi que não tenho nada, pela última vez.
Quando por uma doença respiratória o meu pai morreu, fiquei apenas com a minha
mãe que não parava de reclamar o fato de estarmos sozinhas, sofrendo, sem o papai
não tínhamos nada, eu era pequena e ainda tinha esperanças de um dia viver de
verdade, só que um dia, eu e minha mãe não tínhamos comida, estávamos sem comer
já há três dias, não aparecia nenhum emprego mesquinho, para pelo menos comprar
suprimentos, então ela decidiu roubar a casa de um nobre, mas através da fraqueza
ela foi pega, e a cidade toda a conheceu como uma ladra, naquele mesmo dia ela foi
torturada até morrer. Como não podia pagar pelos estragos que as pessoas fizeram ao
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executa-la, tiraram tudo de mim, a casa, e minha mãe, eu fiquei só no mundo, sem lar
e sem pais, não sei porquê mas ainda tinha esperança, porque com meu pai aprendi
que não importa o quanto a gente sofra, devemos sempre sorrir, que coisas boas virão,
sempre.
Mendiguei por meses, até uma jovem senhora me acolher, e me dar tudo, ela se
tornou minha mãe, meu mundo, mas oito meses depois em uma viagem para o
exterior, o dirigível onde viajava teve um acidente e todos naquele dirigível morreram.
Sua família queria receber todos os bens, mas seu testamento dizia que tudo ficaria
comigo, mas a família dela não queria aceitar isso, então um dia eles vieram até casa e
destruíram tudo e levaram o que foi possível, a casa ficou em ruinas e foi onde vivi
esse tempo todo.
Quando ela morreu eu havia perdido toda esperança de viver, até conhecer você,
Samuel Arthur, naquele dia em que você tropeçou e eu ajudei-te, eu vi que você era
como meu pai, isso me trouxe de novo esperanças para viver, no princípio foi difícil
lidar com o papai em miniatura, mas eu acabei gostando muito de você! Apesar de
sentir uma dor incontrolável eu também me sentia segura com você.
Até o dia que você proferiu aquelas palavras frente ao rio, para mim foram pedras,
facas, agulhas, sei lá, tudo o que causa dor, veio tudo no meu coração, não imaginas a
dor que eu senti, era insuportável, eu queria naquele exato momento deixar de existir,
deixar de sorrir, e nunca ter nascido, mas ainda tinha esperanças, até mesmo naquele
dia na escola, eu quis contar a minha história e levar até as ruinas onde eu vivi esse
tempo todo, mas você não deixou, foi muito doloroso te ouvir dizer que não me
querias voltar a ver. Também aqueles dias em sua casa, eu percebi realmente que eu
não mereço viver, e não posso insistir pra quem não quer nada, não se importa. Eu não
passo de um erro cósmico, não mereço mesmo ser sua amiga nem esposa. Adeus,
Samuel!”.
Você não imagina quantas vezes eu pensei em me matar, quantas vezes eu tentei tirar a minha
vida, quantas vezes, eu desejei arrancar meu coração... Nem Deus, nem o álcool podem me
ajudar, eu tentei, mas... ainda sinto, bem lá no fundo, eu sinto se enraizando por todo meu ser,
a dor, a culpa. Eu, eu sou um assassino, eu matei ela.
Estava tudo na minha frente, bastava apenas abrir os olhos e enxergar, que Adeline era um ser
solitário. Mas, eu não vi, e agora sinto que a cada dia a dor duplica... Não é por não ter
ferimentos físicos que significa que estou bem sabe, meu coração está se roendo por dentro, e
essa dor não vai passar, não vai acabar, até pelo menos eu... Morrer!
Minha vida acabou naquele dia, depois de ter lido aquela carta.
-Eu finalmente entendi o mistério que guardava com aquele sorriso... Aquele olhar
estava dizendo que precisava de alguém, para apoiar, alguém que a amasse e fizesse
que esquecesse, que... Deixasse sua vida por um instante... Quanto ela daria por isso?
Acho que eu não tenho essa resposta, e nunca terei. Cheguei tarde demais, e naquele
preciso momento eu também perdi minha vida. E aprendi que um sorrindo lindo, 14
esconde milhares de mágoas... Meu filho não perca mais tempo e vai atrás dessa
garota! Ela também é especial!
-Por isso nunca se casou! Avozinho! Não chore, por favor! Um dia você vai vê-la
novamente!
-Sim, pequeno Paulino, agora vai e não perca mais de vista o seu amor, pode lhe custar
à vida, não repita o que eu fiz!
-Falou vovó, eu vou e você para de chorar está?
FIM
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