Capítulo 10
= Camila =
🕡 18h30.
- Então é agora que podemos conversar?- perguntei, sentando-me cuidadosamente na areia de forma a sujar-me o menos possível.
- Sim.- respondeu Layla, simplesmente.
Estávamos ali as três. Roxanne estava esticada ao comprido na areia, indiferente ao facto de esta entrar por tudo quanto é sítio. Layla estava de pé, o olhar fixo no horizonte, o polegar a acariciar a tatuagem do infinito e borrando o minúsculo "G" que estava sempre lá. Estava um pôr do sol maravilhoso e por momentos fechei os olhos, absorvendo o pouco calor que este ainda emanava.
- Podem começar a perguntar.- informou a vampira, sentando-se.
- Porque é que puseram uma bomba na nossa escola?- perguntei, disparada.
- Não sei, não sou polícia.- respondeu ela, enrolando uma mecha de cabelo entre os dedos- Suspeito que foi propositado, talvez para apanhar o lobisomem...
- E foi.- afirmou Roxanne, a fitar o céu- A bomba foi posta para desviar as atenções de Alex e matá-lo.
- Porquê uma bomba? Não faz sentido, podiam tê-lo matado quando estava sozinho.
- E porquê matar Alex?- perguntou Layla.
A lobisomem manteve-se calada e eu exasperei-me:
- Explica lá Roxanne!
- Eu não sei!- exclamou ela, mordendo o lábio- Mas estava atrás de Alex ou pelo menos estava atrás de lobisomens.- ela suspirou- Eu já vi isto acontecer. Quero dizer, reconheci os cortes que cobriam Alex após a explosão. Não foi a bomba que o pôs daquela maneira.
- Claro que não, foi os cortes nos pulsos, não é à toa que à pessoas que quando querem suicidar-se cortam os pulsos.- disse eu, a rapariga que adora ver séries como o CSI ou Anatomia de Grey.
- Há quatro meses, os meus pais foram assassinados.- contou ela, abruptamente- O método do assassino foi precisamente o mesmo: um corte em cada pulso e outro no braço esquerdo.
- Porquê o do braço esquerdo?- perguntei em voz alta, tentando raciocinar.
- Não sei mas garanto-vos que os cortes são exatamente iguais.- disse Roxanne- O que também é estranho, porque não estou a ver como alguém faz cortes tão precisos e iguais.
- E achas que foi atrás de Alex? Propositadamente?- perguntei, torcendo o nariz com a hipótese- Não havia maneira de garantir que ele lá estaria. Se o assassino usou uma bomba-relógio, não pode ter querido apenas matar Alex.
- Foi uma distração.- disse Layla pela primeira vez, mais pálida que o costume e a esfregar a tatuagem freneticamente- Mesmo que ele lá não estivesse, toda a gente estaria suficientemente distraída para o assassino apanhar qualquer lobisomem que quisesse, acreditando que era esse o objetivo.
- O corte no braço esquerdo é que é estranho...- comentei, pensativa.
- Quando os teus pais morreram, fizeram-lhe uma autópsia?- perguntou Layla, sem se importar ou reparar na expressão triste da lobisomem.
- Não, não fizeram.
- Não??- olhei para ela, incrédula- Mas como é que...
- Os meus pais foram encontrados aqui, em Melvin.- abri a boca, completamente em estado de choque- Na floresta. Como não queríamos confusões com a polícia, conseguimos abafar o caso recorrendo a contactos lá na polícia. Não se fez autópsia nenhuma, não houve jornalistas a aproveitarem-se da dor dos outros para ganhar dinheiro e o funeral foi uma cerimónia exclusivamente de membros da corte.- finalizou ela, enxugando as lágrimas.
- Vieste para cá à procura do assassino.- afirmou Layla, ao que a outra anuiu.
- Tinha que o fazer.
Por alguns momentos, nenhuma de nós falou. Eu pensava em como raio é que eu tinha ido parar aquela situação: havia um assassino à solta e eu estava ali a fazer o trabalho da polícia com uma lobisomem que não gostava de mim e com uma vampira com quem eu gostava de implicar, tudo porque eu precisava de saber alguma coisa sobre o mundo sobrenatural e saber como controlar a magia, visto que a minha mãe era incapaz de me ensinar.
- Porque é que protegeste o humano?- perguntou Roxanne a Layla, olhando-a com um misto de dúvida e admiração.
- Eu posso ser uma vampira mas não sou uma assassina.- respondeu a loira- E também não sou como os outros vampiros.- rapidamente contou-nos sobre a sua escolha do sangue e do quanto isso a tornava diferente dos outros vampiros- Protegi aquele rapaz porque eu sabia que ele era o único que podia não sobreviver à explosão. Eu, vocês as duas, Alex e a ruivinha...
- Sasha.- interrompeu Roxanne.
-... Somos seres sobrenaturais e, mais depressa ou mais devagar, acabamos por curar as nossas feridas.- continuou a vampira, ignorando-a- Ele não. E, por mais que me custasse, não ia deixá-lo morrer.
- Há uma coisa que não compreendi sobre ti, Layla. Tu és uma Goodwing, a família original de vampiros- repeti as palavras dela, ver se não perdia o raciocínio- O teu coração bate, podes respirar, tens de beber sangue para viver, tens força e velocidade de vampira e os teus sentido são apuradíssimos.- parei para tomar o fôlego- Então e és imortal ou não?
Ela fez uma careta, visivelmente desagradada com a minha pergunta.
- Ainda não.- respondeu- É bastante complicado de explicar e uma coisa muito natural. Na nossa família, a imortalidade é um processo que o nosso corpo sofre numa altura qualquer da nossa vida. Não é premeditado. Simplesmente um dia acontece, há um dia que olhamos para o espelho e vemos que temos a mesma aparência que tínhamos há dois ou vinte anos atrás.- esboçou um sorriso amargo- Para ser honesta, essa é outra das coisas que não me agrada muito em ser vampira.
Compreendi como ela se sentia. Eu também não quereria. Ver Vicky envelhecer enquanto eu permanecia na mesma? Ver todos os que conheço morrerem e eu não? Era uma perspetiva verdadeiramente horrível.
- Falemos de outra coisa.- pedi eu- Como é que me vão ajudar?
- Ajudar?- Roxanne olhou ora para mim ora para Layla, confusa.
- Não tens mais dúvidas sobre o mundo sobrenatural?- perguntou a loira, fingindo não reparar na cara da lobisomem.
- Por enquanto não. Eu vou aprendendo aos poucos. Suponho que não consiga aprender tudo de uma vez.
- Nem de longe nem de perto.- a vampira riu-se e eu esbocei um sorriso, ainda triste por saber que a minha mãe me mantivera sem saber a realidade durante tanto tempo.
- Ajudar em quê?- perguntou Roxanne outra vez, os dentes cerrados.
- Camila, onde fica a floresta de Melvin?- perguntou Layla, inocentemente.
- Não...- sussurrou Roxanne, horrorizada.
- Fica no lado oposto a este. Para lá chegarmos temos de ir até à estrada principal, apanhar um autocarro e chegamos à fronteira entre Melvin e o resto do mundo.- respondi, sem perceber o porquê da pergunta- A floresta, ou a mata como nós os locais chamamos, fica aí.
- Não dá para ir a pé?- perguntou a vampira, torcendo o nariz- Não gosto muito de andar de transportes mas também não gosto de ir a pé, prefiro correr.
- Não gosto de correr e não, não dá para ir a pé.- cortei a onda dela, o que a fez amuar.
- Então teletransporta-nos.
- ' Tás maluca?!- exclamei- Eu não consigo mexer um alfinete sem causar um terramoto quanto mais!
- Não queres a minha ajuda?- refilou ela- Então tens de confiar em mim!
- LAYLA!
O grito de Roxanne ecoou pela praia vazia. Olhei para ela e Layla fez o mesmo, de sobrolho franzido. A lobisomem estava muito pálida e tremia, de frio ou de fúria, não conseguia perceber. Tinha-se levantado um vento frio que me causava arrepios e esperei que fosse por isso que ela tremia.
- O que foi?- perguntou Layla, um pouco ríspida.
- Eu não vou ajudar ninguém, muito menos se isso significar regressar àquele lugar.- apontou para nós e eu percebi que não ela provavelmente não sentia o frio, de tão furiosa que estava- E NÃO VÃO SER VOCÊS QUE ME VÃO OBRIGAR!!
- Tens a certeza?- olhei para Layla, que sorria, expondo os caninos aguçados; olhou para mim, com um brilho no olhar- Trata de teletransportar-nos o mais depressa possível.- cerrou os punhos- Eu vou distraí-la.
- O...o quê?!- gaguejei mas já Layla se atirava a Roxanne- Layla, eu não sei fazer isto!- lamuriei-me, completamente em pânico.
Calei-me imediatamente ao ver Layla ser atirada para longe e um grande lobo negro focar o olhar esverdeado na minha pessoa.
Merda.
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