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O imediato em comando, o tenente Zander, ironizou a afirmação da capitã Foz, referente aos 'homenzinhos verdes':

— Joyce, isso é um estereótipo bem antiquado. Marcianos, nem em Marte.

A pilota da nave brincou:

— E o que você esperava, vulcanos? As orelhas nem são pontiagudas. — E fazendo a saudação usada por Spock, disse: — "Vida longa e próspera".

A capitã Foz, contudo, retomou sua habitual postura de seriedade:

— 'Senhorxs', vamos nos concentrar. Estamos no quarto planeta em órbita de Alpha "A" e nos deparamos com um cenário que lembra a Terra, como explicar isso?

Zander nem imaginava. Lançando um olhar para a pilota, a intrépida Vega, e depois volvendo a cabeça na direção do compenetrado Atticus, notou que ambos também estavam desorientados. Foz dirigiu-se ao biofísico da nave:

— Sr. Atticus, já tem os dados sobre a atmosfera do planeta?

— Sim.

— Respirável?

— De forma sofrível, eu diria. Atmosfera com oxigênio em 18,5%, abaixo do mínimo, e nitrogênio acima do máximo, perto de 80%. Presença de dióxido de enxofre, mas sem qualquer traço significativo de dióxidos e monóxidos de carbono ou hidrocarbonetos...¹

— Enxofre? Então chegamos no inferno? — ironizou Vega. — Agora me diga, sem presença de carbono... Será que os veículos daqui só usam combustível limpo?

Atticus especulou:

— É bem provável. Os níveis são baixíssimos, o que parece indicar a utilização de energia limpa e renovável, quem sabe elétrica, mas, mesmo assim, soa-me estranho esse aparente desequilíbrio entre oxigênio e gás carbônico.

— Alguma teoria, Sr. Atticus?

Ele fixou o olhar na capitã:

— Desconheço a população do planeta, tampouco sei a quantidade de florestas que há. Na Terra, mesmo que tivéssemos eliminado toda a queima de combustível, ainda assim o ciclo biológico do carbono existiria em maior equilíbrio que aqui, em função da respiração e da fotossíntese. De qualquer modo, para nós o ar aí fora é quase comparável ao de uma cidade terrestre com mais de 3500 metros de altitude.

— Por exemplo, La Paz? — sugeriu Vega. — Xi, Vai faltar ar, minha gente. Já estive lá e quase morri. Será que eles têm chá de coca?

O biofísico consultou uma vez mais seu computador de mão:

— Ah, sobre a análise de microrganismos nocivos: nenhuma presença, a priori, de bactérias e vírus prejudiciais ao ser humano, mas não posso dizer o mesmo de fungos. Desses, não temos ainda análises.

A capitã seguiu com a sabatina:

— Pressão atmosférica?

— Também a que teríamos ao nível de La Paz.

— Umidade relativa do ar?

— Inacreditavelmente zero!

Foz assustou-se:

— O que, Sr. Atticus? Não tem umidade?

— Não!

— Então não tem água no planeta...

— Provavelmente não.

— Mas há oxigênio na atmosfera...

— Sim, mas nem sinal de hidrogênio. Sem hidrogênio, sem água. Antes eu falei em desconhecer as florestas, mas sem água elas talvez nem existam, não como as conhecemos. Bem, vamos ver o que a sonda que enviamos ao outro lado do orbe nos trará de informações.

Foz previa maus bocados:

— Podemos dizer então que não será muito confortável lá fora...

Atticus sorriu, o que era raro:

— Nem um pouco, principalmente por causa da temperatura. Na casa dos 50 graus, respiraríamos por uns quinze minutos e morreríamos logo em seguida. Sem umidade nossas vias aéreas e pulmões ressecariam.

— Ou seja, Atticus — intrometeu-se Zander —, tá um calor medonho, a umidade é zero e o oxigênio é pouco. Não deve haver plantas e esse povo aí não respira igual a nós. Só isso já mostra que esse pessoal, embora parecido conosco, possui inegavelmente outro tipo de constituição física. Note, estão sob dois sóis de rachar e nos aguardam sair como se estivessem na sombra de um guarda-sol.

— Se são dois sóis, agora fiquei na dúvida: é guarda-sol ou guarda-sóis... — obtemperou Vega, sempre humorada. Um olhar enviesado da capitã, porém, sugeria-lhe deixar as piadas para outra hora.

Sobre os dois sóis, Zander naturalmente fazia menção às duas estrelas de Alpha Centauri. Enquanto vistas da Terra, Alpha A e Alpha B (embora também houvesse Próxima Centauri ou Alpha C). Em Exo-4 — que era o nome dado para aquele mundo, havia a insolação das estrelas A e B, por isso os dois sóis.

"Quando o segundo sol chegar para realinhar as órbitas dos planetas, derrubando com assombro exemplar o que os astrônomos diriam se tratar de um outro cometa"², cantarolou mentalmente Vega.

— E o que você recomenda, Atticus? — indagou Foz.

— Recomendo usar os trajes espaciais e só sair à noite. Pelas características desérticas da região, acredito que a temperatura tenderá a cair bastante depois de escurecer, e o frio será menos prejudicial do que o calor.

Lina, a chefe de segurança argumentou:

— Já eu recomendaria acionar imediatamente a interface. Já nos viram e podem resolver atacar.

Com a interface dimensional ativada, a nave ficaria oculta noutra dimensão, sendo impossível vê-la ou atingi-la, mas era um processo lento e de muito risco, que não fora suficientemente testado na Terra.

O tenente Zander discordou:

— A interface, além de perigosa, requer o mínimo de dez minutos e já houve casos de naves que se desintegraram.

— Teríamos que decolar o quanto antes.

— Decolar como, Vega, se descemos justamente para consertar a propulsão? — disse Foz, dirigindo-se ao responsável pelas comunicações: — Alguma notícia da Tiro 1?

— Ainda não, capitã — respondeu o jovem Rael. — Há qualquer tipo de interferência eletromagnética e por isso não estou conseguindo contato.

A nave Tiro Estelar dividia-se em duas seções, Tiro 1 e Tiro 2. Desacopladas, a primeira seção dirigira-se ao terceiro planeta, enquanto que a segunda fora obrigada a descer ali, antes mesmo de uma investigação mais detalhada.

— Tente todas as frequências.

— Estou tentando, sem sucesso.

Havia uma atmosfera incômoda no ar, decisões urgentes precisavam ser tomadas, mas qualquer ação demandaria tempo, tanto para a interface, quanto para a decolagem.

— Ah, não!, agora é que estamos realmente fritos! — desconsolou-se Vega, colocando as mãos nas têmporas. — A artilharia chegou!

Pela janela panorâmica frontal da nave foi possível ver enormes veículos equipados com canhões, verdadeiros tanques de guerra, a deslizarem sob o árido descampado. Posicionavam-se agora atrás das viaturas, de maneira estratégica, alinhando-se aos quatro pontos cardeais.

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¹Constituição da atmosfera terrestre:
Oxigênio (O₂): entre 19,5% e 23,5% (ideal 21%);
Nitrogênio (N₂): entre 75% e 79% (ideal 78%);
Gás carbônico (CO₂): inferior a 0,5% (ideal 0,03%);
Hidrocarboneto: inferior a 5 mg/m³;
Monóxido de carbono (CO): inferior a 10 ppm.

²Versos da música de Nando Reis.