• singularity •
#701714
Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - SP/Brasil
Pode ser nossa sépia hoje, com um pouco menos de verde e azul e mais doses de vermelho? Mal te conheço, e já me atrevo a chamar sua sépia de nossa.
Será que posso tomar essa liberdade ou estou sendo muito precipitada?
Vermelho é a cor do amor, eles dizem. Mas a nossa comédia romântica se inicia quando naquela noite, mesmo eu esperando o figurino vermelho, que era meu favorito, você me aparece com o verde. O que, adivinhe só, era o que eu menos gostava.
25 de maio de 2019 foi o dia em que eu vi meu amor por você se transformar e escorrer por meu rosto em forma de lágrimas. Não, não leve para o lado triste, querido. Esse foi o dia mais feliz que eu no auge da minha juventude já vivi e arrisco dizer que, naquele momento, a última coisa que eu prestei atenção foi a cor do tecido que você vestia. Até passei a achar que aquele tom combinava com você e me perguntei se o verde era um sinal para que continuássemos aquela história, e você decidiu trocar porque talvez eu entendesse o vermelho como indicativo para não avançar. Em contrapartida, agora é engraçado pensar que a camiseta que eu vestia no dia era de cor amarela. Nada mais significativo para demonstrar que eu estava em estado de atenção, meio sem saber se parava ou se caminhava até você.
Ou talvez isso tudo fosse só viagem da minha cabeça mesmo, porque nem sei se suas concepções de cor eram iguais as minhas já que nossas culturas são consideradas tão diferentes e cada lugar do mundo tem seu jeitinho único de entender aquelas três letrinhas. Talvez você tenha escolhido o verde porque queria relacionar ao Brasil. Ou só gostasse de verde mesmo.
Sei lá.
Acordei naquele colchonete no chão, que surpreendente era mais confortável do que eu esperava e encarei o teto. Não chovia, como prevíamos, e alguns raios de sol invadiam nosso apartamento por detrás das cortinas. Minha prima e seus amigos, depois de uma noite de luta com o sono devido às altas expectativas para o dia seguinte, além de suas respirações, sequer se moviam em suas respectivas camas. Diferente de mim que havia apagado de primeira na noite anterior, logo depois de fechar os olhos.
A realidade era que nunca me dei bem com viagens de avião, mesmo que fossem rápidas e de poucas horas, então o remédio de enjoo veio à calhar não somente para dar um jeito no rebuliço que acontecia em meu estômago, mas também para me fazer adormecer antes que minha cabeça começasse a trabalhar em tempo integral, o que era mais do que comum acontecer comigo durante a noite.
Talvez o rebuliço não tivesse sido por causa do pássaro de metal e sim graças a você, Taehyung.
Me lembrei do dia anterior e assim como da outra vez, paradoxalmente, você também estava naquele outro museu. Eu achei aquilo a coisa mais absurda que poderia acontecer, mas bem, lá estava você, dando mais credibilidade a minha teoria de que realmente era algum fugitivo de alguma representação do século XIX.
Mas você estar ali era tão absurdo quanto eu também estar ali. Porque era sexta, e sexta eu tinha estágio. E eu tinha prometido a minha chefe que iria repor as 4 horas daquele dia na semana seguinte, e talvez essa fosse a pior ideia que eu poderia ter já que era quando iniciava as semanas de provas. Mas pela Tarsila e por você, Taehyung, aquilo valia a pena.
Eu acho.
Diferente da outra vez, ali eu até teria a oportunidade de poder te observar com mais calma, porém você me percebeu no local antes mesmo de eu notar sua presença e sorriu quando me viu o encarar. Meu coração pareceu se transformar na própria Sapucaí em dia de desfile das campeãs. Eu só esperava que ele não levasse a brincadeira a sério e fizesse uma paradinha da bateria ali mesmo na sua frente.
Já estava tarde se fosse considerar o horário de funcionamento do MASP, a maioria das pessoas já tinham desistido de dedicar seu tempo a aquela exposição, mas eu estava ali porque talvez não tivesse outra oportunidade de voltar.
O segurança se aproximou e disse que eu teria que sair, porque estavam fechando a visitação. Meu coração doeu, porque eu não tinha visto nem metade das obras do segundo andar ainda. Mas você apareceu do outro lado, bem ao lado de "Passeio ao Crepúsculo", de Van Gogh, e disse, no seu próprio dialeto que eu achei irritantemente sexy, que tudo bem porque eu estava com você.
Me perguntei se eu teria como correr pelo museu — sem parecer alguém com sérios problemas — para ver de qual quadro você tinha escapado daquela vez e se havia vestígios de alguma tela rasgada. Mas não fiz nada daquilo porque o medo de derrubar aqueles cavaletes de vidro foi maior.
Seria um desrespeito, talvez um crime, eu conseguir a proeza de destruir as obras de Lina Bo Bardi apenas porque era curiosa.
Minha primeira reação àquela conversa um tanto quanto esquisita, misturando português, inglês e espanhol (?), entre vocês dois foi a de ficar meio irritada. Por que você podia ficar mais tempo ali e eu não? Aquela nem era sua residência, você vinha de outra coleção de objetos raros, certo? Julgo dizer que vi o momento em que ganhou vida, ou pelo menos, notei sua presença depois de aquilo acontecer.
Antes que abrisse a boca e passasse a despejar a minha indignação ao homem de uniforme, te vi vestir a máscara de tecido novamente tampando o rosto, e percebi que você parecia mais escondido do que da outra vez. Diferente de tons marrons, você usava preto da cabeça aos pés. Literalmente. Os sapatos, a boina, a armação dos óculos, a máscara, a camiseta, sobretudo, calças e sapatos. Tudo em você daquela vez era ausência de cor.
Entendi que na verdade, você só poderia visitar suas outras casas fora do horário comum, longe do olhar de outras pessoas. Porque você já era observado demais.
Entendi ali que não se tratava de você não querer ser notado, e sim porque você não podia ser notado.
E ali estava eu, prestes a arrumar uma confusão em um lugar público, o que iria rapidamente te tornar o centro das atenções tirando o foco de qualquer coisa viva e não viva existente ali.
Talvez aquela tenha sido a primeira vez que notei que você estar perto de mim fosse um pouco perigoso demais.
Porque eu sentia demais, vivia demais. Eu falava demais, agia demais.
Mas o fato de eu ser uma hipérbole ambulante não vem ao caso agora.
O segurança concordou com a cabeça em silêncio e se afastou, parecendo te reconhecer. Tive a sensação de que você estragou tudo outra vez, porque novamente eu não conseguia prestar atenção em mais nada que não fosse o seu sorriso, e entende que eu precisava dar um pouquinho de atenção às outras obras de arte também? Eu nem sabia se algum dia teria a chance de pisar novamente naquele chão e se elas ainda estariam ali.
Mas você ficou ali, parado ao meu lado, enquanto eu tentava direcionar minha atenção ao quadro de Van Gogh e fingir que você era apenas mais um visitante curioso dali. Mas você me disse que ele era o seu favorito, o Vincent. Eu lhe disse que a minha era Tarsila, e ela era o principal motivo da minha visita. Ver um Van Gogh ali estava sendo um ponto a mais para que aquela ida fosse tão memorável, mas meu coração bateu forte mesmo foi quando me deparei com as cores do Abaporu a poucos metros de mim.
E sim, eu chorei. Eram as pinceladas de Tarsila, poxa.
Seria mentira eu dizer que naquele momento eu não sabia quem você era.
Da outra vez, no dia de Joana, realmente eu não sabia. Mas de um dia para o outro, eu não entendi o porquê, seu rosto passou a aparecer em tudo quanto era telinha. Sendo ela de 5 ou 50 polegadas, lá estava você: Kim Taehyung.
No começo eu me assustei, mas depois entendi que na verdade, você era um dos idols que minha prima tanto gostava e tanto falava. Não me recordava dela ter o citado para mim em alguma das reuniões de família, talvez até tivesse, mas eu nunca entendia um "a" entre todos aqueles "bias", "ultimate", "soulmate" e um tal de "selca day" que me obrigava a fotografá-la e que segundo a mesma, era uma tradição entre os fãs.
E foi aí que me perguntei como aquele mundo podia ser tão pequeno assim. Como você, lá de outro continente, tinha aparecido aquele dia, e em mais esse, logo na minha frente. Eu até comecei a questionar minha sanidade mental naquele momento.
Eu tinha me negado até o último instante aquela loucura, eu não iria àquele show. Há uns anos eu não sabia uma música sequer, não sabia o nome dos integrantes, não sabia uma palavra em coreano. Eu não fazia ideia de que 7 pessoas poderiam ser tão importantes assim para mim e confesso que aquela sensação era nova e me assustava. Mas depois de ver Sofia chorando e suplicando aos pais para que deixassem que ela fosse, me ofereci como responsável. Pelo menos eu fingi que estava lá apenas para tomar conta dela, quando na verdade estava lá porque eu queria estar. Será que como nos filmes, eu tinha uma esperança de que você me veria lá do palco?
Que grande baboseira, Catarina.
E realmente você não me viu. Nem se seus óculos tivessem lentes telescópicas você me acharia naquela arquibancada, no meio de tantas pessoas, estratosfericamente apaixonadas por você. Quando eu entrei naquele avião, eu acreditava que seria apenas mais uma em que o coração batia forte quando notava qualquer indício da sua ilustre presença.
Eu, que sempre choro por tudo, achei que já tinha chorado o suficiente por você assistindo todos aqueles vídeos que eu engoli por dias seguidos quando associei o Kim do museu, ao Taehyung do Bangtan. Eu perdi as contas de quantas lágrimas perdi lendo todas aquelas teorias e todas aquelas homenagens entremeadas nas suas letras, mas lá estava eu, no meio de tantas outras pessoas desconhecidas dividindo aquele momento, por você.
Você acha que fiquei triste? Ou que me vi sendo apenas uma cabeça naquela multidão?
Não, não mesmo. Eu não era só mais uma naquela multidão. Eu era mais um coração que batia no ritmo da sua voz, mais um coração que estava ali por te amar.
E eu nunca me senti tão em casa como naquele dia. Eu nunca me senti tão amada por você como naquele dia.
E ali, levantei uma questão a mim mesma: o que eu entendia por amor?
Eu sabia que segundo os antigos gregos, eles eram 7, Philautia; Pragma; Ludus; Eros; Philia; Storge; Ágape; mas, pelo menos naquele momento, eu não soube qual deles eu deveria associar a você. Eu sabia sim que cada um deles tinha sua complexidade, mas quer saber? Talvez eu não precisasse escolher somente um. Talvez eu não quisesse resumir todo aquele sentimento em apenas um tipo de amar.
Porque o primeiro amor que você me ensinou ali, Taehyung, com toda a sua singularidade, foi o amor. Não me importava se o romântico, o platônico ou o universal. Porque eu não queria ali, ter que resumir aquele sentimento em apenas uma palavra. O que me importava era só o que eu sentia e não o que Platão ou Aristóteles disseram um tanto de anos antes de existir um mundo em que eu e você vivíamos . Porque quem entendia o que acontecia dentro de mim, era eu, somente eu, não os gregos antigos que não sabiam nada sobre o universo que era ser Catarina.
E me vendo imersa em meio a todo aquele mar de sentimentos, aqueles que não cabiam em apenas um vocábulo, eu apenas me deixei esvair em lágrimas.
Newton explicou que a cor tem origem da luz, e arrisco dizer que ele não deveria ter noção de que aquela frase faria muito mais sentido inserida em um show de kpop do que em qualquer outro lugar. Porque ali de cima, olhando todas aquelas luzes piscarem em cores análogas à sonoridade de cada música, você me fez, em meio a tantas outras coisas, reconhecer o sentido de pertencimento. Você me fez notar que eu fazia parte de algo, que eu era uma peça naquele, imenso, porém importante, quebra cabeças.
Eu cheguei ali, acreditando que eu já te amava o suficiente, mas no momento em que você começou a cantar e eu me entreguei de corpo, alma e mente em toda a singularidade que se tornou aquele estádio, naquela convergência de harmonias, vi que não. Eu ainda não te amava o suficiente, e talvez nunca vá amar, já que não vejo indícios de um limite dessa minha intensidade.
Eu te amo o necessário para aquele momento em que vivemos naquele dia e o bastante para esse agora que estamos vivendo.
E talvez não faça muito sentido eu colocar matemática aqui, mas eu aprendi que múltiplos de um número, são todos os que divididos por ele, tem como resultado um valor inteiro. E se realmente existem 7 tipos de amor, quero lhe deixar informado que talvez eu te insira na maioria deles, se não em todos, Taehyung. Porque eu te amarei o necessário enquanto durar esses nossos 7, 14, 21, 28 e todos os infinitos múltiplos de 7.
E sendo sincera, levando em conta aquele dia de maio e todos os outros que passamos juntos, se eu pegar o meu amor e dividir por esses 7, por vocês 7, ele vai continuar sendo inteiro. Inteiro para cada um de vocês, em cada uma das suas singularidades e mesmo em todos seus plurais.
7 parece realmente ser um número importante, não é, Taehyung?
Para mim, Catarina, é.
E acredito que para você, também.
#701714
notas
Tarsila do Amaral, foi uma pintora e desenhista brasileira e teve papel extremamente importante na arte moderna do Brasil. Por mim, eu falaria um dia inteiro sobre a trajetória dessa mulher no mundo das artes e eu sei que todo mundo aprende alguma coisinha dela na escola, mas sério, se você tiver interesse, dá uma pesquisadinha sobre o tanto de coisa incrível que ela fez/participou e o tanto de gente maravilhosa que ela conviveu. E levem em consideração, principalmente, o fato dela ter vivido em uma época que era tão difícil o empoderamento e reconhecimento feminino.
Lina Bo Bardi, arquiteta modernista ítalo-brasileira, é outra personalidade incrível e que eu fiz questão real de citar aqui. Lina além de uma multiprofissional incomparável, também se destacou em um momento em que nós mulheres tínhamos muito menos voz do que temos hoje. O edíficio onde está o MASP é um dos projetos mais conhecidos dela e pensem na importância que é um negócio daquele tamanho todo ter sido projeto de uma mulher na década de 50/60 e sendo inaugurado em plena ditadura militar? Pois é 💜
Vincent van Gogh, pintor holandês e referência nas artes. Não preciso explicar muito porque em um texto dedicado ao Taehyung, tem Van Gogh, né? Eu acho a história de vida dele muito forte e consigo entender completamente o encanto que o Taehyung tem em suas obras. Uma das minhas favoritas é Amendoeira em flor (1890). Acho que se existe uma frase que represente sépia ela foi dita por Van Gogh, e é:
"Penso que não há nada mais artístico do que amar verdadeiramente as pessoas.".
Platão e Aristóteles, filósofos gregos importantíssimos e que deixaram um legado a nós que chegamos depois. Cada um deles entende o amor de uma forma dentro dos 7 tipos que foram citados aqui. É um assunto que eu gosto muito, então queria registrar um pouquinho aqui também.
Isaac Newton, cientista, astrônomo 💜, filósofo e um monte de outras coisas. Sei que a gente vê muito dele na escola, mas me atentei a o citar aqui nesse capítulo não pelas leis da Inércia, mas sim pela explicação sobre cor/luz, que eu acho que super se encaixa em algumas coisas que aparecem em sépia. Foi ele quem descobriu o espectro visível, e sabe quantas cores ele tem? Sete. Se leu até aqui, já tem uma dica de um assunto que vai voltar a aparecer haha.
tá, Polly, mas por que o texto de hoje é tão importante assim?
Antes de tudo, obrigada ao meu anjinho, @Oktobrios, por ter me ajudado aqui nesse capítulo sendo beta. Obrigada de novo, hoje e sempre por tudo, Bê 💜.
Bem, nesse capítulo dá para ver que a autora que vos fala está bem nostálgica já que logo logo faz um aninho de Bangtan Sonyeondan em solo brasileiro, não é? haha, sépia seria atualizada no dia 25, mas além de eu estar com muita vontade de continuar, tiveram alguns fatores que me fizeram mudar de ideia. Um deles é que achei que a melhor maneira de comemorar meu aniversário neste ano seria compartilhando com vocês esse texto. Ele foi todo baseado na vinda dos meninos para cá (e ir ao show foi o melhor presente de aniversário que eu pude receber em 2019), então achei que faria super sentido atualizar aqui, hoje dia 9/05.
Então hoje, iniciando um novo ciclo, eu deixo aqui registrado meu muito obrigada por todo o amor que eu, Catarina, Taehyung e sépia temos recebido.
O que eu quero demais é que sépia cause a sensação do nosso olhar de fã para o Tae e eu tento ao máximo deixar a Catarina como uma pessoa que tem essa visão tão bonita dele e que muitas vezes não faz sentindo nenhum para alguém que não sente da mesma forma que nós. Eu quero que cada uma de vocês se sinta a Catarina.
Esse capítulo não é somente uma história do show ou de relação do ARMY/BTS, porque eu queria que várias histórias fossem contadas nele. Os contos são direcionados ao Taehyung por toda a relação dele com arte, mas quis falar um pouquinho do BTS também porque todos são igualmente importantes.
Eu espero que tenham gostado desse trechinho, ele é especial demais e eu estou mega feliz de compartilhar ele aqui, e principalmente no dia de hoje.
Mais um coisinha que eu me esqueci de falar antes, é que caso vocês tenham interesse em saber exatamente qual é a cor tema do capítulo, é só jogar o # com o código no Google. É só copiar e colar exatamente como tá lá que vocês vão descobrir a cor inspiração para as palavrinhas daquele trechinho.
Me empolguei falando, né? haha
Se cuidem, lavem as mãos e obrigada por todo o carinho que deixam aqui.
Beijos, Polly ♥
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