Um ato de coragem
“Estamos unidas nestes
tempos de mudança”
Gal Gadot (Frase) 📌
— Porque não contou pra gente, Lu? — Olívia perguntou, me encarando com uma expressão triste.
Nós estávamos sentadas em uma roda no piso gelado da quadra de basquete. Fazia alguns minutos que o treino das líderes havia acabado, mas eu, Olívia, Camille, Agnes, Katrina e Trevor ficamos conversando.
— Eu… — fiz uma pausa e olhei para meus tênis amarelos, fugindo dos olhares tristes das minhas amigas — não queria preocupar ninguém, eu estava bem — contei e suspirei.
— Como bem? — Camille questionou e eu a olhei.
— Eu tinha controle das coisas, eu consegui me afastar quando precisei, consegui deixar ele longe de mim — expliquei lembrando do modo que convivi com o senhor Collins até aquele momento.
— E o que mudou? — Agnes perguntou ganhando minha atenção e eu senti um nó na garganta.
— Talvez eu tenha cansado de fugir — expliquei e olhei para Katrina que estava ao lado da Camille: — Eu não sei se você conseguiu o que queria, mas eu pensei muito essa noite e tendo ou não uma solução, eu quero denunciar ele — desabafei olhando nos olhos castanhos da menina de cabelos platinados que logo sorriu.
— Fico feliz por isso, Luna — ela falou e deixei um sorriso escapar.
— Conta logo, Ka! — Trevor pediu e sua voz saiu um pouco alta pela sua animação.
Katrina revirou os olhos e fez uma careta ao encarar o irmão, que não se abalou em nenhum segundo e fez um sinal com as mãos para que ela falasse.
— Bom — a menina começou quando voltou a me olhar — lembra quando vocês foram lá em casa no dia da boate e meu pai estava tocando violino?
— Não — Agnes respondeu e as outras meninas começaram a tentar lembrar, mas pareciam não conseguir.
— Eu lembro — contei e Katrina sorriu satisfeita.
— Antes de mudarmos para cá, meu pai dava aula em uma faculdade — Katrina não desviou o olhar de mim parecendo esperar aquela luzinha acender sobre minha cabeça e assim que aconteceu e notei o que ela iria dizer a seguir, meu coração acelerou — Espero que não fique brava comigo Luna, mas eu tive que contar o que aconteceu para ele pensar na minha proposta — Katrina avisou e pareceu ficar envergonhada.
— Tudo bem — respondi e a observei, sentindo minha ansiedade aumentar.
— Alguém pode ser mais claro? — Agnes pediu um pouco impaciente.
— Aaaah! — Trevor se exaltou e levantou, dizendo que Katrina não sabia dar notícia boa — É o seguinte, meu pai foi professor de música em uma faculdade de Ottawa, mas parou de dar aulas quando saímos de lá. Nós contamos para ele a situação e ele disse que vai conversar com a diretora pra assumir a turma até o final do ano letivo, claro, se a Luna for até o final com isso — Trevor sorriu para mim de depois piscou — você não vai prejudicar nenhum aluno, sendo assim Luna, você pode gritar para os quatro ventos como aquele cara merece ser mandado pra…
— Trevor — Katrina falou em tom de aviso e o irmão parou, apertando os lábios um no outro.
— Vocês me entenderam — o garoto deu de ombros e voltou a sentar onde estava antes.
— Então, Luna, vamos lá? — Katrina falou me observando.
— Sim, eu só preciso esperar uma pessoa — assim que terminei de falar a porta que levava para a parte de trás do colégio se abriu e Noah entrou com Alec logo atrás dele.
— Ele sabia?! — irritada, Olívia levantou e cruzou os braços me olhando.
— Sabia do quê? — Noah perguntou parando atrás de mim. Fiz sinal negativo para que ela parasse e Ollie pareceu ficar confusa, mas logo recuou.
— Noah está aqui por outra coisa — avisei ao levantar e ficar ao lado dele.
Olívia não demorou a questionar o motivo, e eu acabei contando junto com Noah o que ele também iria fazer, foi engraçado e interessante ver como as situações eram iguais e diferentes ao mesmo tempo, de alguma forma, eram dois tipos de assédio, mas nessa situação, para os meninos era mais suportável.
🐈🐈🐈
Quando o sinal tocou, pedi para meus amigos irem para a sala, apenas eu e Noah fomos para a diretoria, a senhorita Torres ficou confusa quando nos viu entrar na sala dela, mas ouviu atentamente tudo que tínhamos para contar.
Noah falou primeiro, como havíamos combinado, e quando meu cunhado achou que havia acabado, eu falei que tinha mais uma coisa, ele escutou cada palavra que eu disse me encarando surpreso. Eu o olhei algumas vezes e jurava que o garoto havia esquecido como era piscar os olhos.
Aquilo não foi meu ato de coragem mais fácil, a cada palavra minha, eu sentia que iria levantar e dizer que era para esquecerem o que eu tinha dito e ir embora, mas me forcei a continuar até o final.
Depois de contar tudo, a diretora disse para permanecemos ali e na nossa frente, pediu para que sua secretária chamasse nossos pais. A mulher nos alertou que aquilo era muito grave e que se fosse mentira, teríamos problemas, mas não voltamos atrás.
— O Ethan sabe? — foi a primeira coisa que Noah falou quando ficamos sozinhos na sala. Suspirei e olhei para meus dedos me sentindo envergonhada.
— Mais ou menos — respondi em um sussurro.
— Como mais ou menos, Luna? — ele insistiu e ouvi o barulho da cadeira onde Noah estava sendo arrastada até mim. Respirei fundo, sentindo minha garganta fechar e minhas narinas arderem assim como meus olhos, encarei meu cunhado que ao ver que eu estava prestes a chorar, suspirou e me abraçou — Eu sinto muito.
Assim que meu pai chegou junto com Leonor e os pais do Noah, a diretora levou eles para sala. Confuso, papai puxou a cadeira para que a esposa sentasse e ficou ao lado dela, olhando para mim.
Quando a senhorita Torres contou sobre o que era aquela reunião, teve um breve momento de silêncio na sala. Anthony foi o primeiro a se manifestar perguntando se ele tinha ouvido certo o que a mulher vestida em um terninho cinza falou, e quando ela confirmou com a cabeça, papai me olhou e uma longa discussão entre eles começou na sala.
A diretora não deixou que meu pai ou os pais de Noah falassem com os professores, segundo ela, estavam todos com os ânimos exaltados e só iria piorar a situação, então ela pediu para que fôssemos para casa e no dia seguinte faria uma reunião para decidir o que seria feito. Meu pai não quis ouvi-lá no início, mas Leonor e Afonso não pararam de insistir, mas ele só pareceu ceder quando eu choraminguei que queria ir embora.
🐈🐈🐈
Na volta para casa, fiquei em silêncio. Não estava arrependida de ter falado, mas me sentia envergonhada pela situação e os olhares de pena não me ajudavam a lidar com aquilo com leveza.
Assim que papai estacionou o carro, sai com pressa e fui correndo para meu quarto e me tranquei, eu pensei em ficar lá o resto da noite, mas quando o barulho do choro da minha avó chegou até o cômodo, eu sabia que ela estava imaginando as piores cenas em sua cabeça, e foi só por isso que ignorei minha vergonha e desci para contar a eles que não havia chegado no ponto que amedrontou todos.
Perto da hora de dormir, recebi uma vídeo chamada dos meus amigos, a primeira a me chamar foi Olívia, depois Camille e Agnes entraram, em seguida Noah e por fim Ethan e Enzo, que souberam o que aconteceu pela minha avó que após nossa conversa, disse que eu não precisava me envergonha, que eu só merecia apoio e amor.
— Como você está? — Ethan perguntou visivelmente preocupado. O garoto dos olhos azuis estava ao lado de Enzo, com os cabelos molhados e usando seus óculos de leitura, meu namorado piscou devagar sem tirar sua atenção da tela. O garoto provavelmente havia acordado quando vovó ligou para ele.
— Eu estou bem, não precisam se preocupar — avisei e cada um deles fez uma expressão diferente e engraçada, eu sorri e inclinei a cabeça — Estou falando sério, eu estou bem.
— Se eu tivesse ai eu ia atrás desse cara quebrar a cara dele! — Enzo falou e logo as meninas concordaram com ele, enquanto Noah mexia em algo e Ethan me observava concentrado.
— Não se preocupe, papai estava quase fazendo isso hoje, não duvido que isso aconteça amanhã — contei, sentindo um frio subir por minha coluna ao imaginar como seria o encontro com todos eles no dia seguinte.
Ficamos mais alguns minutos conversando sobre coisas aleatórias, o que me fez bem, durante esse tempo consegui esquecer os problemas e rir com as palhaçadas e implicações entre meus amigos, até que vovó entrou em meu quarto e depois de ficar elogiando como Noah, Enzo e Ethan estavam bonitos, me pediu para encerrar a chamada e ir dormir.
— Amanhã será um dia longo — Abigail disse arrumando meu edredom para que eu deitasse. Sorri quando seu olhar encontrou o meu, assim que ela fez um sinal com a cabeça pulei na cama indo para debaixo do edredom amarelo.
— Não precisa ir amanhã no colégio, papai disse que resolve tudo — pedi, puxando o edredom na altura do meu nariz, sentindo o cheiro de jasmim do amaciante que vovó sempre comprava.
— Pois eu faço questão. — A mulher pegou Nacho no colo e fez carinho nele. — Quero olhar bem na cara desse homem antes de bater nele com meu guarda-chuva — ela brincou me fazendo rir, mas sinceramente, não duvidava que vovó estivesse planejando fazer isso, e que foi por esse motivo que papai insistiu tanto que ela não fosse.
Uma risada abafada pelo edredom escapou de mim e ela sorriu colocando meu gato sobre a cama, e então se aproximou e me deu um beijo na testa.
— Boa noite, estranha. Descanse — Abigail disse antes de se afastar e sair do quarto apagando a luz e me deixando apenas com o brilho da lua iluminando o quarto.
Foi assim que notei o display do meu celular acender sobre a escrivaninha e na ponta do pé fui até ele e quando peguei, voltei na mesma velocidade para debaixo do edredom me escondendo. Quando apertei o botão, vi que era uma mensagem do Ethan.
"Eu queria tanto estar do seu lado, não queria que passasse por isso."
Li a mensagem e sorri sentindo meu coração se apertar. Eu sabia que mesmo sem ter culpa, Ethan estava se sentindo um pouco responsável, porque já tinha visto a situação antes e não conseguiu interferir.
"Tudo bem e, por favor, não se sinta culpado ou algo parecido, você sempre me alertou e me protegeu, talvez se não tivesse feito, eu não teria notado e seria — excitei na última palavra, mas mandei — pior."
Ethan demorou alguns segundos para responder, que para mim, pareceram minutos, mas logo sua mensagem chegou.
"Só de pensar nessa possibilidade, me dá vontade de virar minha vida pelo avesso só para matar esse desgraçado!"
"Não diga isso, Quarterback, eu não conseguiria suportar a culpa e nem a saudades."
Depois dessa mensagem, fiquei feliz que meu namorado trocou de assunto instigando a conversa sobre o quanto ele estava fazendo para mim. Debaixo do edredom, com a luz da tela iluminando meu rosto, tentei não rir das mensagens provocativas do garoto que, mesmo longe, me deixou com as bochechas queimando de vergonha pelas coisas mais íntimas que conversamos. E só depois de duas horas, nos despedimos e eu dormi.
🐈🐈🐈
Na manhã seguinte, de frente ao espelho de corpo do meu quarto, penteava meu cabelo tentando imaginar como seria aquela manhã. Eu tinha conhecimento que havia feito a escolha certa, sabia que eu não era a pessoa errada nessa situação, mas meu ponto forte não era ser julgada pelas pessoas, e eu imaginava que isso iria acontecer, porque elas sempre julgam.
Talvez, espalhassem pelos corredores do colégio que eu estava contando uma mentira para prejudicar o professor, para ganhar atenção, ou até mesmo que eu tinha dado esperança ao homem, eu sentia minha respiração falhar a cada momento que pensava nessas possibilidades, mas não importava mais, eu iria até o fim.
— Está pronta? — meu pai perguntou parando no vão da porta. Olhei para ele e confirmei com a cabeça — Ótimo — O homem sorriu e encostou no batente de madeira branca — Trouxe reforços — assim que ele terminou, vi Olívia aparecer com um sorriso enorme e então correu até mim e me deu um abraço.
— Eu vim só pra você não se sentir sozinha, porque eu já sei que você é uma garota forte — ela sussurrou em meu ouvido me apertando e eu apreciei seu toque gentil e seu perfume doce.
No caminho, dentro do carro do meu pai, recebi várias mensagens dos meus amigos me dando apoio, Enzo e Ethan também me mandaram mensagem, o que me deixou mais certa de tudo, mas o que me incomodou foi que eu havia mandado uma mensagem para Noah quando acordei e, mesmo depois de duas horas, ele ainda não tinha me respondido, passou por minha cabeça que ele havia desistido.
Até perguntei à sua irmã se havia acontecido algo, mas Olívia me disse que quando o viu pela manhã, Noah estava bem.
Quando cheguei no colégio, segui com meus pais e meus avós até a secretaria, e fiquei satisfeita por não me sentir abalada quando vi o Sr. Collins entrar na sala, assim como não estremeci quando papai tentou bater nele, ou quando ele tentou convencer a todos que eu estava mentindo, eu permaneci serena e contei tudo novamente,
Depois de mim, Noah fez o mesmo e durante o tempo que os adultos discutiram o que aconteceria, meu cunhado me contou porque não respondeu minhas mensagens.
Segundo o garoto, a fofoca sobre ele e a senhora Sullivan já havia se espalhado pela escola, e alguns meninos do time ficaram implicando com ele, dizendo que Noah estava sendo burro ao falar da mulher, que o certo seria ele dar o que a "gostosa" da professora queria.
E nessa conversa acalorada que Noah teve com eles no vestiário, Noah quebrou o nariz de um dos meninos do time, e só assim eles entenderam que meu cunhado não estava brincando quando disse que se caso eles não fossem apoiar, era para ficarem calados. No fim, Noah contou se divertindo que todos passaram para o lado dele no mesmo segundo.
Como eu disse, a situação era diferente para meninas e meninos. Mas no fim do dia, fui para casa satisfeita com a demissão dos dois professores e claro, papai como o bom advogado que era, disse que aquilo não iria acabar ali.
🐈🐈🐈
Na manhã seguinte acordei com o toque do meu celular. No início achei que era o despertador, mas era a música de uma chamada, e quando notei, levantei da cama com pressa e quase caí no caminho até a minha escrivaninha.
Quando atendi, fiquei feliz em ouvir a voz do meu namorado do outro lado da linha. Depois de contar para ele na noite passada o que tinha acontecido com os professores, Ethan ficou satisfeito e disse que até tinha conversado com meu pai e que Anthony contou que estava disposto a ferrar com a vida dos dois professores, assim como os pais dos Marshall.
Eu me diverti com o modo que o garoto dos olhos azuis me distraiu com sua empolgação, ao comemorar a punição dos professores. Até o momento que cheguei na escola, tudo estava indo bem, mas ao estacionar meu carro no estacionamento e ver olhares diferentes do normal virem na minha direção, eu estremeci.
Assim que saí do carro Olívia me abraçou com força e sussurrou no meu ouvido:
— Não importa o que eles falarem, você é forte e não está errada.
— Todo mundo já sabe? — perguntei ao me afastar dela e Ollie afirmou com a cabeça — O que estão dizendo? — perguntei e ela exitou por alguns segundos.
— Há muitas opiniões, como sempre — minha amiga revirou os olhos e suspirou — o bom, é que tem gente do seu lado.
— E o ruim? — a interrompi ansiosa.
— Tem gente que acha que você mentiu — Olívia falou com o tom de voz fraca.
Na verdade, isso não me surpreendeu, muitos alunos e alunas que não tinham aula de música elogiavam o Sr. Collins por ser simpático com todos e por ser charmoso para alguns deles.
— Acho que consigo lidar com isso — suspirei e Olívia deu um sorriso triste — tem mais, não tem? — questionei e ela afirmou com um aceno.
— Tem umas pessoas sem noção dizendo que você deve ter provocado — minha amiga contou preocupada.
— O que? — falei sentindo meu coração acelerar, de todas as opções que cogitei, essa era a que menos estava preparada. — Ollie — choraminguei sentindo vontade de chorar. Eu odiava me sentir vulnerável e julgada.
— Fica tranquila, o importante é que nós sabemos a verdade e não importa o que disserem, nós estamos do seu lado, ok? — a loira falou e eu respirei fundo absorvendo cada palavra dela — Não abaixa a cabeça pra ninguém, tudo bem?
— Tá bom — respondi e mais uma vez observei os olhares sobre mim.
Novamente me vi em uma situação desconfortável, e que da última vez que isso aconteceu, eu simplesmente aceitei que estava errada e passei dias me fazendo de forte o tempo todo na frente de quem me criticava, mas ao chegar em casa, chorava até dormir. Da outra vez, fui julgada por causa de um garoto adolescente e imaturo, e agora, passaria pela mesma coisa graças a um homem sem caráter. Eu sabia que iria ser difícil, mas dessa vez estava decidida a agir diferente.
🐱🐱🐱
Olha só quem voltou! Sei que estou sendo jurada de morte (ou matando pessoas pela esperar) mas volto na cara de pau, porque sou dessas kkkkk
Insegurança pra escrever esse capítulo eu tive? Tive horrores, mas espero que tenham gostado, e as pessoas que se identificaram com a Luna, façam como ela, falem!
Nosso próximo capítulo vai ser eita atrás de vixii, se preparem!!!
Amo vocês e não esqueçam, estou sempre a disposição!!!
Até o próximo capítulo
meus amores 💛
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