Capítulo 15
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Shawn Mendes
Point of view
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Eu gostava daquilo, era uma ótima sensação ficar com Camila, digo, estar com ela, perto dela. Nunca me senti tão feliz por fazer alguém sorrir, como amigo.
Pelo menos, posso dizer agora que tenho amigos de verdade, e não amigos comprados por eu ter um nome conhecido. E Camila me via como eu era de verdade, mesmo não sabendo quem eu era de fato. Aquilo era estranho, mas ela confiava em mim e eu acho que posso contar qualquer coisa para ela, e não me sentir estranho, mas não posso dizer quem eu sou. Isso era tão confuso, tanto quanto meus sentimentos por ela.
Quer dizer, concordamos que seríamos amigos e não nos beijaríamos mais, como fizemos antes. Prometemos que não iríamos mais forçar algo que não era pra dar certo. Mas me pergunto, será que não mesmo? Será que estamos apenas nos enganando dizendo que somos apenas amigos?
- E então, um centavo pelos seus pensamentos? - A voz dela ecoa na lanchonete vazia. Meu coração dispara e meus pensamentos se esvaem assim que seus olhos encontram com os meus e seu rosto fica tão próximo do meu que posso sentir nossas respirações se misturarem, e aquilo era tão familiar.
- Eu não estava pensando em nada. - Digo me afastando e tentando recuperar a consciência que eu perdi por minutos só por estar tão perto dela. Sim, era ótimo estar perto dela, mas me doía estar tão próximo dela e não poder fazer o que meu coração pedia.
- Não minta para mim. Vamos me diga. - Ela insiste, geralmente isso me tiraria do sério, mas com Camila as coisas eram diferentes, eu me sentia diferente. E acho que poderia contar qualquer coisa para ela e tudo ficaria bem.
- Eu estava pensando, é tão bom poder sentir que posso contar qualquer coisa para você, sem me sentir um estranho. - Digo, não era mentira, era verdade e tudo o que eu tenho pensado era isso. Eu podia ser eu mesmo com ela.
- Então me conta a coisa mais bizarra que você já fez. - Ela pergunta, apoiando os cotovelos no balcão e o rosto entre suas mãos. Camila Cabello era a coisa mais preciosa desse mundo estando curiosa, mas todos sabíamos que deixar essa garota curiosa por muito tempo poderia gerar alguns problemas, do tipo ela se afastar até você contar pra ela o que você iria contar. Eu não me arriscava.
- Fingir ser uma pessoa que eu não era, pra que não me encontrassem, ou melhor, para que o meu pai não me encontrasse. - As palavras fogem dos meus lábios e assim avisto novamente o rosto de Camila surpreso, deduzo que não foi uma boa ideia ser tão sincero. - Acho que não era isso o que você queria.
- Não, na verdade é bem bizarro. Eu, não sei, estava esperando algo como joguei lixo no apartamento do vizinho no dia das bruxas. - Ela comenta se afastando do balcão. - Mas, me parece que você tem alguns problemas familiares, certo?
- É, com o meu pai, em especial. Nunca nos demos bem e nem me lembro a última vez que tivemos um jantar em família em que a sobremesa não acabou em vidros quebrados. - Digo como se fosse uma piada, com uma risada abafando, lágrimas? Desde quando me sinto emocional ao ponto de chorar falando da minha família. Era trágico, repetitivo e talvez dramático demais, mas, de qualquer forma, era novidade estar evitando um choro. - Meu pai é um controlador de merda e quer que eu siga uma vida que eu não tenho vontade nenhuma de seguir, a dele. Ele quer que eu seja como ele, quer dizer o famoso ''tal pai, tal filho'' em reuniões de família. Sabe aquelas cenas de filmes em que o cara não consegue decidir nada na vida sem a interferência constante do pai? Essa é minha vida. Ela foi totalmente planejada ao desespero, depois do desaparecimento do meu irmão mais novo, e eu não consegui nem viver o luto, ou seja lá o que eu deveria ter feito.
- Eu sinto muito, eu não queria ser intrometida. - Ela se desculpa segurando a barra do seu avental branco e o olhando como se fosse a última coisa no mundo. E mesmo com a falta de luz do lugar, e apenas algumas luminárias acessas, eu ainda podia ver suas bochechas ficarem vermelhas.
- Não se preocupe, como eu disse, sinto que posso te contar qualquer coisa. - Digo me aproximando e segurando suas duas mãos nas minhas, geladas. Sim, posso te contar qualquer coisa menos que meu nome de verdade é Shawn Mendes e eu estou mentindo para você desde o dia em que nos conhecemos.
- Então me conta. - Ela diz me puxando para uma das mesas do canto da lanchonete, tendo toda a vista para a rua. - Por que seu pai não deixa você seguir seu próprio caminho?
- Porque eu sou o único que pode cuidar do grande empresa dele quando ele partir dessa para outra, além de que, eles fazem de tudo para manter uma visão de família perfeita. Sendo que, ele e minha mãe não dormem no mesmo quarto juntos desde que minha irmã mais nova nasceu. De princípio, eu sempre achei que Aali não os deixavam dormir, mas então ela cresceu e ganhou seu próprio quarto na casa, como a minha mãe. - Uma pausa, silenciosa e contínua. Ela olhava para mim concentrada, parecendo que não queria perder nenhuma palavra do que eu falava. Sua expressão era de pena, era evidente. - O que quero dizer, é que meu pai gosta de estar no controle e as aparências são tudo o que importa para ele, além do dinheiro. Agora, eu não devia estar aqui, em Miami trabalhando em uma lanchonete, provavelmente eu estaria em um dormitório dividindo um quarto com um estranho em Oxford.
- Uau, Oxford, ein. Então você é dos inteligentes. - Ela diz surpresa em um tom levemente irônico.
- Então, é justamente isso que estou tentando dizer, economia não é minha praia, e eu nunca iria entrar em Oxford se não fosse meu pai e seus contatos, e é justamente por isso que me sinto sufocado e irado quando estou perto de casa ou em Londres. Aquele país não é da Rainha Elizabeth é do meu pai. - Completo. Eu e minha incrível boca de novo, eu sempre falo demais e eu deveria saber onde eu começo e onde está na hora de parar.
- E qual é sua praia? - Ela pergunta e a olho curioso. Ela não notou que acabei de contar pra ela indiretamente que eu não sou quem eu digo que sou e que meu pai é um poderoso e imbecil homem. Talvez ela só quisesse mudar de assunto no final das contas, e tenho que admitir, eu também queria parar de me sentir desconfortável ao sempre repetir a minha história ''triste'' de vida.
- A música, claro. - Respondo e ela sorri. Além de você, quero completar minha fala, mas isso colocaria tudo o que tentamos construir nas últimas semanas a perder. Então, logo eu entendo o que ela está tentando fazer, e aceito de braços abertos. Ela quer me fazer sorrir, e acho que quer me ver solto das correntes que ainda me prendiam.
- Então canta alguma coisa, o palco é todo seu. - Ela diz apontando para o palco atrás de mim, o microfone estava ali e o violão também, apenas nós dois depois do expediente e eu poderia abrir meu coração para Camila por meio de uma música.
- Tentador. - Comento antes de pegar o violão e começar a dedilhar algumas notas. - Eu tenho trabalhado nessa música a algumas semanas. Eu a chamo de Imagination.
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