Capítulo 85 II - Hoje começa o seu inferno
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@nia_escarlate
Parecia que eu estava caindo. No mais fundo abismo que eu conhecia. No mais profundo buraco. Eu sentia uma dor tão monstruosa crescer pelo meu peito que me rasgava de dentro para fora. Não era verdade! Não podia ser verdade. Eu não podia acreditar que aquele absurdo era verdade.
Como acreditar no homem que mentiu para mim por tanto tempo? Como acreditar que a mulher loira a minha frente tinha feito algo assim? Valentina nunca seria a minha mãe, ela... me adotou, ela é apenas minha mãe adotiva, nada mais do que isso. Minha mãe é a Antônia, a mulher doce e gentil que eu amei a minha vida toda e não... ela. Ela não podia, ela não pode ser. Ela não é!
— Não, é mentira — eu chacoalhava minha cabeça de um lado para o outro em total negação. — É mentira... Diz que é mentira!
Os olhos azuis em total choque me observavam com uma tristeza profunda.
— Eu...
— Uma vez na sua vida de merda me diz a porra da verdade — eu fico cara a cara com a Valentina que observava os meus olhos e minha raiva dobrar de tamanho e força por segundo.
— Eu fiz o que era necessário.
Eu olhei bem para o seu rosto pálido. Havia lágrimas presas, mas elas não caiam e faziam com que seus olhos parecessem de vidro, artificial, falsos. Não sei porque isso me machucava, me atingia bem na boca do estômago fazendo-me querer colocar todo o café da manhã para fora.
— Necessário? — Felipe que estava bem atrás de mim zomba. — Necessário para quem Valentina?
— Me diz o que você fez Valentina? — James a virou para si novamente. — Me diz por favor que você não fez nenhuma loucura.
— Trocar bebês na maternidade para mim é uma grande loucura...
James da um soco certeiro no Felipe que cospe sangue rindo, eu me mantive travada como se cordas me imobilizassem.
— Isso, mostre quem você é para sua filha...
— Você sabia de algo assim e não me disse? — encarei bem o James.
— Ele não sabia de nada, fui tudo eu, sozinha — Valentina atrai a nossa atenção quando começa a falar. — Eu... fiz o necessário para te manter perto de pessoas que te amaram...
— Não venha com esse papo de mãe que quis salvar o filho, me conte a verdade e deixe que eu mesma julgue sua atitudes.
Ficou um silêncio entre nós, ninguém diz absolutamente nada. Todos se mantem calados e petrificados dentro do seu próprio espaço.
— Eu só tinha vinte e um anos — ela começou a falar olhando em meus olhos. — Gabriela tinha morrido quando eu tinha completado dezoito anos, e eu virei mãe do Bernardo. Era a minha redenção por ter feito outra escolha no meu passado. Com tudo isso veio a frieza de Breno, que simplesmente queria me expulsar da vida dele e de Bernardo e eu fiz o necessário para permanecer ao lado do meu filho. Depois de três anos de pura insatisfação dele eu não aguentei e me envolvi sexualmente com James. Foram longos meses até eu descobrir que estava grávida.
Ela respira fundo, fechando os olhos e cruza os braços para continuar falando.
— Minha primeira ideia foi abordar, eu não queria outro filho. Ainda mais que não fosse de Breno. Tentei me envolver com Breno, mas tudo que ele queria saber era daquela.... mulher. E não teve outro jeito a não ser abortar. Mas James me impediu, disse que cuidaria do bebê, que me ajudaria a cuidar e na época ele contou a Antônia para os dois me convencerem de deixar Breno e ficar com James e o bebê.
James se mexe inquieto e triste. É querendo ou não parte do seu passado também. Mas eu preciso saber, doa a quem doer, eu preciso saber que aconteceu.
— Breno tinha uma viagem de negócios e eu e ele havíamos brigado por causa do Bernardo. Ele não queria que eu ficasse com o menino aqui, mas Bernardo era ainda a única pessoa que eu aprendi a amar depois de tantos altos e baixos da minha vida. Ele acabou deixando, mas com a supervisão de Dafne, a irmã dele. Eu não podia deixar que ela descobrisse que eu estava grávida de James então eu comprei uma casa perto de Antônia e Fábio que estavam também esperando um bebê e uma coisa levou a outra.
Eu sentia tudo rodar, Valentina não dizia aquilo com frieza. Isso a machucava de verdade. Ela seca as lágrimas que cai rapidamente e abre um sorriso doce para mim.
— Foi uma gestação tão linda. Eu... nunca tinha sentindo tanto carinho e amor. Pela primeira vez em muito tempo eu sentia que eu era amada por outra pessoa novamente. Eu sentia que era amada pelo bebê — ela seca novamente as lágrimas e respira fundo. — A bolsa tinha rompido numa noite bem estrelada e fomos todos para o hospital, mas no caminho Antônia sentiu uma forte contração e estava sangrando...
Ela tampa a boca repreendendo os soluços e coloca a mão na barriga como se estivesse revivendo tudo aquilo novamente.
— Quando chegamos lá, foi tudo tão rápido, tão desesperador... Ela foi levada as pressas para a sala de cirurgia e eu para a sala de parto. Eu estava tão preocupada e ao mesmo tempo sentindo tanta dor...
— Mas não quis a anestesia — James completa com a maxilar travado. — Por que disse que queria sofrer, precisava sofrer.
— Eu queria sentir aquilo, queria o parto normal para me conectar ainda mais com o meu bebê. Mas Fábio apareceu angustiado que ainda não tinha nenhuma noticias de Antônia. James o levou para tomar um café enquanto não estava na hora. Eu sai do quarto e fui até a ala da cirurgia acompanhada da enfermeira que eu tinha pagado.
Ela para de falar e olha para James com um olhar de culpa, mas retorna a olhar para mim.
— O médico tinha acabado de falar que o bebê da Antônia tinha nascido, eu estava no corredor quando escutei. Mas... o bebê nasceu com um problema pulmonar e não resistiu ao parto, eles fizeram de tudo para salvar Antônia que quase morreu também. Eu fiquei desesperada, triste e completamente magoada. Ela estava com tanto medo de... morrer ou que seu bebê morresse... Ela disse para mim, apenas para mim que se mataria. E eu não aguentaria viver sem ela e ela sem o seu bebê. Então.... eu... fiz o necessário.
— Você deu a Virginia para Antônia? — James se altera gritando.
— O meu parto já estava acontecendo, os médicos que cuidaram de Antônia foram alarmados pelos meu grito de dor no corredor. E eu... paguei eles para trocarem os bebês. E eles trocaram. Trocaram a minha Virgínia pela Antonella...
Eu me afasto um pouco, sentia todo o lugar rodar, sentia também uma pressão forte no meu coração e minhas vistas escuras por segundos torturantes. Não. Não. Não. Isso não era verdade. Era mentira dela.
— Sua mentirosa...
James me segura forte me impedindo de avançar na Valentina que estava desabando em choro.
— Você sempre mentiu! Sempre mentiu! Como eu vou acreditar numa mentirosa como você...
— Quando eu ouvi a minha Virgínia chorando forte assim que nasceu eu chorei. Eu sabia que ela era saudável. Quando a enfermeira colocou ela no meu colo eu sentia o peso, o calor, a doçura que irradiava de um ser tão frágil e pequeno. Você era linda... era a coisa mais linda que eu já tinha visto em toda a minha vida. Você abriu os olhos e tocou a minha bochecha, tinha ficado tão calada de repente, me admirando da mesma forma que eu te admirava... Tinha os olhos do seu pai. A enfermeira ainda me perguntou se eu ia mesmo fazer aquilo e por dois segundos eu pensei em desistir, mas sabia que você não teria amor melhor do que de Antônia. Eu era uma pessoa egoísta, que nem queria filhos, que não suportava crianças que não fossem o Bernardo. E eu também o perderia, porque Breno tiraria ele de mim.
Eu encarei a mulher desestabilizada a minha frente e sentia tantos sentimentos negativos vindo de mim. E ainda custava em acreditar. Era muita loucura, era completamente doentio.
— Eu nunca poderia dar o que Antônia te deu.... Amor, felicidade, harmonia familiar... eu não conseguia amar ninguém além de mim mesma. Breno tinha me ameaçado que se ele descobrisse qualquer coisa sobre minha infidelidade ele tiraria a única pessoa que eu tinha amado... Eu tive que escolher entre você e Bernardo. Foi a coisa mais dolorosa de toda a minha vida. Uma mãe nunca deveria ter que escolher com qual dos seus filhos ia ficar. Eu me coloquei no papel mais racional possível e te entreguei a Antônia. Seu choro enquanto te tiraram dos meus braços foi meu pesadelo por muito tempo.
— A escolha não era sua! Você me envolveu num manto de mentiras porque não queria perder pessoas em sua vida, mas eu perdi! Eu perdi quem eu mais amava, eu apanhei, eu me fechei por anos!
— Mas nunca deixou de ama-la... — ela diz com um sorriso triste. — Quando eu busquei você, te adotei e te protegi por toda a sua adolescência você nunca me reconheceu como mãe. Eu não podia te quebrar mais uma vez, não podia deixar que algo que você acredita com todo o seu coração de uma hora para outra se tornasse mentira. Antônia foi e sempre será a sua mãe, Ella. E eu... sou só a mulher que lhe deu a vida e por um pouco de tempo te dei o necessário para sobreviver. Nada mais. Eu não sou nada mais...
— Eu que julgo isso! Deixe que eu julgue e faça as coisas por mim mesma...
— Só priorizei o que achava que era melhor para você. Só... quis te proteger de ter uma mãe como eu.
Ela se aproxima de mim e eu me afasto, ainda doía tanto toda essa verdade. Eu preferia mil vezes que fosse mentira, que foi tudo coisa da cabeça dela, mas pelos seus olhos... apenas uma vez em toda a sua vida tinha mostrado a verdade.
Ela era a minha mão biológica. A mulher loira com olhos imbatíveis e frios, com pose de quem levava o mundo na palma de suas mãos era a minha mãe. Era ela.
— Para mim não importa, eu ainda sou filha de Antônia. Goste você ou não. Queira você ou não, e é quem eu chamo de mãe. No amor e na dor sempre vai ser ela.
— Eu... entendo. Nunca esperei o contrário.
Ela se vira de costas para olhar James que estava completamente arrasado.
Eu fui mais uma das vítimas das manipulações e mentiras da Valentina. Aquilo só parecia o começo de toda confusão, só parecia ser o vislumbre de toda a confusão. Mas agora não me importava, eu queria apenas voltar para casa e ficar lá até nada mais doer.
— Não foi como eu esperava... Mas não vou desperdiçar o momento — Felipe diz me segurando firmemente pelo braço e eu ele aponta uma arma nas costas de Valentina.
Tudo que eu fiz, toda a minha reação não valeu de nada. Houve um disparo. Houve sangue. Houve uma vítima.
Felipe me puxou enquanto eu relutava e olhava para trás, para a pessoa que havia tomado o disparo. Mas ele me agarrava tão forte que simplesmente não adiantava eu lutar. Eu o empurei após morder sua mão.
— Sua vadia desgraçada!
Eu corro em direção a eles, mas outro disparo é feito. Eu olho para a minha perna, foi de raspão, mas ainda sim sangrava. Felipe logo me alcançou rindo.
— Vamos ficar um bom tempo juntos. Igual antigamente, como pai e filha. Se você não cooperar invés de atirar em James eu atiro em Ananda... É isso que você quer?
Ele segurava o meu rosto forte após bater com a arma na minha cabeça. Eu sentia minha cabeça latejando e aos poucos tudo ficou calado e escuro.
Não revisado.
Pobrezinha da nossa Ella, mas uma vez nas mãos de Felipe.
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