Capítulo 77 I - Sabia que me escondia algo
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@nia_escarlate
Eu encaro a chuva do escritório de Martina. Todos estavam ali, já haviam se passado um ano. Um ano que eu entrei aqui e decidi que seguiria o meu sonho. Parecia que tudo estava passando rápido e minha jornada na Itália tinha se acabado.
Passar esse tempo com Martina tinha me agregado muito experiência, eu não havia me encontrado no ramo da Moda ainda, mas sabia que era capaz de conquistar o meu espaço. Poderia levar o tempo que precisasse, mas eu iria.
— Que bom que dessa vez não houve atrasos.
Martina fecha a porta da sua sala e segue para sua cadeira. Eu não poderia descrever o que estava sentindo, não sabia se era felicidade ou tristeza, talvez eu só não soubesse ainda dizer adeus as pessoas que eu tanto gosto.
— Nos chamou aqui, e aqui estamos — Magnus foi o primeiro a falar, eu sentia magoa em sua voz.
— O que queria falar conosco? — as mãos de Angeline roçavam uma na outra, até ela estava nervosa.
— Bem, como sabem o curso aqui na Itália duraria apenas um ano e depois vocês quatro seguiriam para outro professor na França, Paris para ser mais exata.
Eu não sabia porque, mas não estava animada para ir. Algo ainda me prendia aqui e eu não fazia ideia do que era exatamente.
— Por que eu sinto que vem um, ''mas''? — a voz do Matteo surge ao fundo, até ele estava apreensivo.
Martina coloca os cotovelos apoiados na mesa de vidro e as mãos juntas em frente ao rosto só mostrava que o assunto era sério. Com o silêncio no ambiente conseguimos ouvir o seu salto alto branco bater no chão repetidamente.
— Não sei a maneira certa de falar algo assim...
— Só nos vale, estamos nervosos! — eu encaro seus olhos e ela suspira.
— O combinado que eu fiz com outro estilista seria mandar vocês após um ano, eu ensinaria a vocês como produzir, como aperfeiçoar a técnica dos desenhos, combinações de cores... basicamente tudo que precisariam para o próximo ano na França, e eu fiz isso, se duvidar ensinei muitas mais coisas a vocês.
Martina estava calma, mas tinha algo ali que era quase impossível perceber. Sua postura estava tensa, ela aparentava estar nervosa e com raiva. Só vimos ela assim no desfile do mês passado quando um dos professores dela estava assistindo e tudo nos bastidores estava dando errado. Aquele dia foi horrível, o desfile não ficou na qualidade exigida e Martina foi praticamente humilhada por seus superiores.
Claro que o quarteto da moda não deixaria Martina ser humilhada daquela forma e assumimos a culpa por ela, que teve que aplicar uma advertência no nosso currículo. Para isso se resolver precisávamos cada um montar roupas de estilos coerentes sobre as estações do ano. Isso ia nos prender na Itália por três meses.
Mas Martina pediu que fizemos outra coisa, até mais simples. Que participássemos de um outro desfile dela, com isso tínhamos que montar look da primavera com nossos estilos na marca dela. No começo eu achei que era algo oportunista da sua parte, mas depois vi que ela realmente queria salvar a nossa pele.
— Desde o dia que vocês pegaram a culpa na frente dos meus superiores eu venho pensado... Ninguém tinha feito nada disso por mim — ela solta um riso sarcástico e se levanta jogando o cabelo bem liso para trás. — Nenhum dos meus alunos tinha me ajudado daquela forma, era como se para eles eu não passava de uma pessoa ruim.
— Deve ser porque você é — todos olham para mim e eu me levanto encarando-a. — Desde que chegamos você só tem nos humilhado, quase arrancado o nosso couro em situações que poderia ter mais um pouco de compaixão. E antes que você diga que foi necessário para aprendermos, deveria rever seus métodos, você não precisa pisar na gente todo dia porque está difícil para você. Então sim, Martina, você se mostra ser uma pessoa ruim, mesmo que não seja de verdade.
Todos ficam calados, eu me jogo na cadeira sentindo o meu peito mais leve, até que dizer a verdade na cara das pessoas aliviava. Ela anda até a janela onde uma chuva impiedosa caia e batia nos vídeos.
— Eu tive que ser assim para não ser engolida por esses homens que acham que manda em alguma coisa. É uma defesa, mas eu reconheço que não deveria atacar de primeira. Vocês me ensinaram isso — ela encara nossos olhos, um a um. — E justamente por isso ter sido uma via de mão dupla que além de ensinar eu aprendi com vocês, eu não posso deixar que vão para estudar em Paris.
— Do está falando? — era a primeira vez que eu vi que Angeline tinha alteração na voz. — Isso não faz sentido, Martina, trabalhamos duro para chegar a merecer esse lugar. Ir para Paris aprender Moda com o estilista Kim é uma oportunidade de ouro.
Martina respirou fundo, e molhou os lábios antes de fazermos todos ficarem quietos com suas duras palavras.
— Joseph Kim é um assediador, machista sexistas mais tóxico que eu já conheci. Ele me ensinou que no mundo da moda ou você morde ou é mordido. E desde que fui mordida por ele aprendi que não posso confiar em ninguém. E eu... não posso deixar que vocês se sujeitem a coisas... absurda só porque ele garante que vocês vão ser famosos.
Eu queria me aproximar de Martina, a abraçar, mas apenas fechei os meus punhos de raiva. Até quando homens assim existiriam?
— Ele... assediou você? — Magnus pergunta com raiva.
— Não só a mim, todas as pessoas que passam pelo curso dele são assediadas. Ele não faz acepção de pessoas. Para ele se respira e demonstra talento tem que ser a próxima vítima dele. E eu não... vou deixar ele fazer isso com vocês. Não com vocês.
— E por que não com nós? — a confusão estava por todos os nossos rostos, mas a pergunta veio da boca de Matteo.
— Porque vocês são os únicos, desde que eu abri esse curso, que mostraram um talento bruto. Eu quero lapidar vocês para que cheguem onde querem — ela fica na nossa frente, apoiada de costas para sua mesa. — Angeline você quer fazer roupas para o público infantil sem sensualização. Para que eles deixem de ser explorados pela mídia.
Angeline sorri, ela disse isso no primeiro dia e Martina lembrava. Talvez Marina lembrasse de tudo que já dissermos.
— Magnus quer trazer a cultura punk outro estilo que não envolva só a cor preta. Umas combinações de tons escuros, correntes e branco — ela o encara, mesmo ela dizendo que ele nunca seria capaz, talvez foi porque não havia conhecido o seu talento. — Matteo quer focar na moda para transexuais. E você, Antonella, é um mistério e tanto, mas tenho certeza que quer abusar bastante da sensualidade sem ser vulgar para as mulheres.
Martina estava sorrindo grande e bonito. Ela nunca tinha sorrido para nós. Sempre de cara fechada e amarga. Mas agora ela parecia o sol, forte e brilhante.
— Eu conheço vocês mais do que qualquer estilista conseguiria. Porque eles não ligam para os sentimentos, nem para seus gostos ou mensagem que querem passar com o estilo de vocês. Eles só se importam em como vão ganhar dinheiro colocando vocês no mundo da moda para serem explorados e desistirem porque acham que não são capazes.
Ela faz uma pausa e sai de perto da mesa caminhando em nossa direção.
— Eu posso fazer vocês chegarem onde querem, com o talento e força.
— E você ganha algo com isso? — eu pergunto mesmo sobre o protesto dos outros.
— Vou poder fechar esse curso porque sei que já lancei os meus diamantes no mercado e que eles serão os mais valorizados. O que me dizem? Ficarão na Itália comigo rumo ao estrelado da moda?
Nos quatro nos entreolhamos, sabíamos que todos tinham a mesma opinião quanto a isso.
— Temos só uma condição...
— E qual seria? — eu sentia o nervosismo na voz dela, nem essas camadas de maquiagem cara escondiam.
— Quando vamos chutar a bunda daquele assediador? — minhas sobrancelhas se levantaram enquanto o meu sorriso se alargava igualmente dos outros.
Não seriamos o quarteto da moda atoa, e tínhamos que acabar com tudo isso e reinventar esse mundo. Martina abre um sorriso vitorioso só deixando claro que seria em breve.
Depois que nós despedimos após a reunião, cada um seguiu seu lado. Eu ia num restaurante que tinha li perto, mas algo me atrai a atenção. Eu observo ele conversando com um cara estranho, não parecia ser o tipo de pessoa que ele conversaria.
Me aproximo com cautela enquanto eles entram no restaurante. Eu entro junto com um grupo de estudantes e me escondo entre eles para não ser notada até chegar numa mesa onde eu podia ouvir tudo que eles falavam.
— Não acho que ela vá descobrir nada precisa relaxar, Gabriel — o homem misterioso diz a ele que fica calado. — Você escondeu isso dela por seis anos, acha que agora ela vai descobrir? Por quê?
— Ela está trabalhando com o James para pegar o maldito do Fábio. Se ele descobrir ele vai contar a ela sobre...
— Não precisa desse pânico todo. James só sabe as informações que damos a ele, nenhum dos dois vão descobrir a menos que um de nós diga — eu me mantinha calada apenas ouvindo a voz do homem que eu não conhecia.
— Isso já foi longe demais, eu já menti o suficiente para ela, ela merece saber...
— Se ela descobrir vai ser só um passo para o Fábio sair da suspeita e ter certeza. Você mesmo disse que eles estão juntos por causa da herança dela.
Eles estão falando de mim e dos diários? Mas quem é esse cara e porque ele sabe tanto sobre isso?
— Sua função , agente Gabriel, é protege-la. Sempre foi isso.
— Ela não precisa mais da minha proteção, ela sabe se virar sozinha.
— Você pode garantir isso para os superiores? Que Fábio não vai pegar esse dinheiro e fugir por aí para ir atrás de você sabe quem — a voz do homem estava mais baixa.
De quem eles estavam falando? Ir atrás de quem?
— Fábio nem suspeita que o irmão está vivo, isso vai se manter assim — eu controlo a minha impulsividade segurando minha bolsa firme diante das palavras de Gabriel.
— Como você acha que sua amada vai reagir quando descobrir...
— Ela não vai. Eu disse a ela que precisava de um tempo para lidar com o.... término.
— Pense pelo lado positivo, ao menos ela não vai descobrir que você mentiu para ela. Ela nunca te perdoaria.
— É, nunca — Gabriel diz devagar e suspira alto. — Ela nunca me perdoaria de ter escondido Antônia dela.
Minha cabeça roda, eu sinto todo o meu corpo ferver. Sentia uma vibração que impulsionava o meu corpo para cima e meus punhos estavam tão fechados que doía.
— Faz parte do trabalho. Fazemos coisas que nem sempre nos orgulhamos.
— Mas você nunca escondeu da mulher que ama a mãe que ela acha que está morta.
Eu me levanto da cadeira sentindo todo o ódio dominar o meu corpo. Eu encaro os seus olhos assustados e surpresos, ele se levanta da cadeira rápido na defensiva. Eu não conseguia dominar o que estava sentindo.
— Ella...
Sem pensar duas vezes eu ando em sua direção e acerto um soco bem em seu rosto, ele cai no chão e coloca a mão no nariz que estava sangrando. Alguém me segura por trás e eu me solto olhando em seus olhos.
— Eu sabia que estava escondendo alguma coisa de mim... eu te odeio, Gabriel. EU TE ODEIO.
Eu saio do restaurante desnorteada, sentindo como se o meu mundo tivesse caindo. Eu puxo o ar para respirar, mas eu não conseguia. Minha vista embaça enquanto eu vou passando pelo meio das pessoas.
Ela está mesmo viva? Mas como... como isso é possível?
Não revisado.
O que será que levou Gabriel a esconder Antônia?
Continua...
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