Capitulo 69 I ‐ Você no precisa entender, precisa sentir
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@nia_escarlate
Eu estava em frente a área vermelha. Bernardo estava ali, em coma. Minha mão estava no vidro que nos separavam, ele entrou na fila para a espera de doadores e Valentina estava usando o dinheiro que tinha para achar tudo com o dobro do tempo. Eu não tinha mais lágrimas e tão pouco tinha mais pena ou arrependimento. Tudo o que eu mais desejava era que ele se recuperasse, nem que fosse para dizer que me odiava. Eu só queria que ele ficasse bem.
Eu me sento na cadeira daquele mesmo corredor, esperando algo acontecer, ou qualquer notícia sobre o doador. Mas o que acontece é Gabriel sentando-se ao meu lado com uma garrafa de água, eu encaro os seus olhos, ele estava agora mais calmo do que há algumas horas atrás.
— Sempre cuidando de mim...
Era um tom de deboche, eu estava me controlando para não descontar qualquer frustação minha sobre ele. Ele não tinha culpa de nada, Gabriel não é o meu guarda costa, ele é um grande amigo e o homem que possivelmente eu ainda ame, então porque eu estava com tanta raiva dele? Porque eu simplesmente queria gritar com ele por ele não está lá?
— Eu farei sempre isso por você, Ella.
— Mas no momento não sou eu que estou numa cama de hospital morrendo.
Minha língua chegava a bater no céu da minha boca de tão venenosa que eu estava sendo. Eu respiro fundo e olho bem os seus olhos azuis, ele me encara também, bem de perto, e coloca uma mexa do meu cabelo atrás da minha orelha e acaricia a minha bochecha machucada.
— Não suporto ver você assim...
— Infelizmente vai ver por algumas semanas, daqui a pouco sara.
— Tenho medo que algo que esteja sangrando não pare de sangrar nunca.
Eu pego sua mão, unindo na minha e colocando por cima do seu colo. Quando foi que tudo isso começou a ganhar força? Quando foi que o toque dele me deixou tão quente?
— Estou com muitos curativos, nada vai sangrar mais.
Ele faz um gesto seguido por um suspiro, toca o meu tórax, mas não me olha por está de olhos fechados. Eu olho para onde ele está tocando, o lado esquerdo do meu corpo reage, meu coração da uma breve sacudida e eu balanço a cabeça negativamente.
— Você não lida bem com perdas, — Ele começa, como se estivesse falando com uma amiga de muitos anos, — Você nunca lidou bem com perdas, eu não sei... como vai ficar quando ele morrer.
— Se...! — Eu tiro a sua mão bruscamente da minha pele, e o encaro com raiva. — Se ele morrer... o que não vai acontecer, Gabriel, não vai!
Eu me levanto ajeitando o meu cabelo nervosamente, eu olho novamente para a sala onde ele está, nada de visitas, apenas as pessoas da sua família que se resume a Valentina já que Téo está com Sabrine.
— Ele tem horas de vida saudável. Se não ganhar um fígado daqui a 12 horas ele morre, Antonella, estou sendo realista.
— Você está sendo maldoso! — Eu me viro para encara-lo que está de pé. — Por que está me dizendo tanta crueldade? Desde que chegou nesse hospital você está... estranho.
— Você que está estranha, Antonella.
A voz dele se altera e eu me afasto um pouco.
— Eu não consigo entender porque está agindo dessa forma tão estranha. — Eu digo com cautela, olhando para o seu rosto para tentar capitar algo, mas não consigo lê-lo bem.
— Eu estou preocupado que se esse cara morrer você fique do jeito que eu te encontrei a horas atrás — ele diz agora com a voz mais abalada. — Você estava longe, tão longe que eu não pude te puxar de volta, — ele coloca a mão no peito como se estivesse sufocado, eu olho para os seus olhos e eles estavam cheios, quase transbordando de tristeza. — Eu sempre... sempre, Ella, consegui te puxar de volta.
Eu parei para entender, talvez agora fizesse mais sentindo. Gabriel não estava com ciúmes ou sendo egoísta e cruel de propósito. Ele estava com medo. Eu nunca tinha o visto com medo antes, medo de me perder para o vazio da minha mente.
— Gabs...
— Eu te prometi uma vez que eu nunca mais ia deixar você cair nessa escuridão, e agora... — Ele limpa os olhos com o dorso da mão. — Eu não consigo.
— Gabs, — Eu seguro as suas duas mãos fortemente e abro um sorriso — Você não me deve mais nada. — Eu olho bem os seus olhos claros e cheios. — Esquece essas pequenas promessas, essa pessoa a quem você prometeu todas essas coisas não existe mais. Eu te agradeço por ser o meu mundo, o meu suporte e minha sombra quando era necessário, mas agora eu consigo cuidar de mim mesma. Mesmo que não acredite, e mesmo que eu realmente não consiga, eu me viro. Isso não é mais a sua obrigação. — Eu o abraço forte, colocando meus braços por volta do seu pescoço e o aperto trazendo-o para perto. — Você não precisa ser mais o meu chão, eu aprendi finalmente a voar...
Eu sussurro em seu ouvido, ele solta uma risada entre o choro e me abraça ainda mais. Eu sentia a sua frustação e seu sentimento de impotência, eu me sentia do mesmo jeito por Bernardo. Eu não conseguia fazer nada, mesmo ele precisando tanto.
Isso que me deixou presa a ele por tanto tempo? Minha fraqueza, minha impotência. Eu chorava tão alto a ponto dele sentir a milhões de quilômetros de mim? Eu errei em dizer que eu estava presa a Gabriel, eu estava ligada. Desde que ele me salvou do Fábio tem sido o meu chão, o meu mundo e eu me liguei a ele de um jeito que nunca tinha se quer cogitado fazer com alguém, foi natural e espontâneo.
Mas isso era egoísmo meu, isso era porque eu temo ficar sozinha e infeliz pelas minhas escolhas. Eu as cavo fundo, e empurro todos os possíveis problemas para serem resolvidos depois, sendo que era as vezes dizer era questão de dizer não ou sim.
— Eu amo você.
Ele sussurra me agarrando mais forte. Eu coloco minha bochecha em seu ombro e vejo Bernardo dali. Tudo me doía, me doía ter que escolher entre eles dois porque eu era egoísta e isso machucou Bernardo. Isso o fez se machucar a ponto de quase morrer.
Eu não podia mais deixar que Bernardo fizesse mais isso por mim. Ele estava colocando a própria segurança atrás da minha vida. Mas ele tem muito a perder e eu só trago negatividade para ele.
Antônia dizia que amar é deixar ir, eu sou orgulhosa e egoísta demais para deixar alguém ir embora da minha vida. Mas ele se arriscou por mim, ele tomou um tiro para me salvar, ele arriscou tudo e corre o risco de morrer...
Como Téo ficaria? Como Valentina ficaria...
Ele é o pilar de duas pessoas. E nisso eu não posso colocar o meu egoísmo, ele não pode pensar primeiro em mim, isso não é uma relação saudável. Ele é pai, sua prioridade tem que ser Téo e não minha droga de vida.
— Eu não posso dizer a mesma coisa, eu não vou mentir para você. — Eu me separo de Gabriel e seco suas lágrimas. — Eu o amo, Gabriel. Eu não achei que isso aconteceria, isso nasceu de forma incontrolável. E pode ser apenas coisa da minha cabeça por ele ter me salvado, por ter me proprocionado sensações quando minha vida estava sem graça. Porém eu me sinto perdida com ele deitado naquela cama. Eu não... achei que conseguiria amar alguém novamente, ou alguém que não fosse você. Mas eu amo.
— Eu sei que ama. E sei que você também está dividida...
— Mas eu não quero que ele se machuque por mim, você disse o certo, se eu o perder eu me perco também. Eu... não posso o perder, e isso significa...
— Que você vai embora?
Eu olho para lá novamente, eu caminho até o vidro, e coloco minha mão ali.
— O que o Téo faria sem ele?
Eu respiro fundo para a lágrima não cair.
— Eu me sinto tão culpada... Ele não deveria ter feito isso, porque isso me fez ama-lo ainda mais.
— Eu não posso te ajudar com isso por está envolvido, Ella. Se eu dizer algo agora, será o melhor para mim e não para vocês. Mas...
Eu olho para ele, e ele abre um sorriso e pega a minha mão colocando na direção do seu coração.
— Eu o salvo.
— Você...
— Eu doou o meu fígado para o Bernardo. Mas não é por ele, é por você. Eu vou o salvar por você.
Eu abro a boca, mas nenhuma palavra sai dela, eu pisco várias vezes, com isso caindo algumas lágrimas. Eu estava chocada, e tudo dentro de mim vibrava, mas eu sabia que era errado.
— Você não pode fazer isso.
Ele se aproxima de mim, segura meu rosto com suas mãos grandes e me faz encarar seus olhos brilhosos.
— Você precisa entender que amar você faz com que façamos loucuras, — ele diz abrindo um sorriso. — Você não precisa entender, só precisa sentir. Amar faz com que você queira fazer tudo pela pessoa. Não controlamos isso. Então não se sinta culpada. Do mesmo jeito que eu entrei na sua frente para que Fábio não te machucasse, Bernardo também fez. Preciso reconhecer que não esperava isso dele, mas fico feliz que ele tenha feito porque também quis cuidar de você.
Eu fecho os meus olhos quando os seus lábios encostam na minha testa. Ele se separa de mim depois de alguns segundos, coloca as mãos no bolso da calça e sorrir para mim.
— Ella?
— Hum?
— Eu já tinha aceitado doar pro Bernardo desde que você disse que o amava horas atrás. Eu vim aqui apenas para te comunicar e também ver se era realmente isso.
Ele vira as costas e vai andando, eu encaro suas costas confusa.
— Se era realmente isso o que? — Eu grito e ele vira em minha direção, mas continua andando com o sorriso mais brincalhão do mundo.
— Se você também o amava tanto quanto me ama.
Ele some pelo corredor e eu me viro para o vidro sem entender muito bem eles dois. Mas abro um sorriso, porque eu sabia que também faria isso por eles. Eu entraria na frente deles para evitar que eles morressem, não porque eles já fizeram isso por mim e sim porque eu os amo e talvez Gabriel esteja certo. Preciso sentir e não entender.
E eu sinto, que eu amo eles dois.
De forma, jeito e desejo diferente.
Eles dois formam duas Antonella's dentro de mim, duas metades de só um coração e dois desejos completamente diferente.
— Droga, — Eu abro um sorriso vendo o meu reflexo no vidro. — É, Antonella, você está ferrada.
Não revisado.
Continua...
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