Capítulo 59 - Meu coração não está quentinho
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@nia_escarlate
Ressaca.
Filha da puta!
Era tudo que eu conseguia pensar sem que minha mente explodisse. Eu me sento na cama, levando a mão na cabeça, sentindo tudo doer. Eu me levanto, mas volto a sentar quando flash daquela noite surgem na minha mente.
Bebida. Muita bebida.
Dança. Muita dança.
Bernardo...
- Puta merda. - Eu resmungo baixinho e pego meu celular vendo que horas são.
Sábado. 11:40 Am
Eu respiro fundo, e volto a levantar. Abro a cortina, ouvindo o barulho do metal tão alto que paro de fazer aquele movimento, deixando apenas uma fresta com os raios solares passar por ali. Eu praticamente me arrasto dali, porém mais flash surgem na minha mente, deixando toda a minha vista escura. Eu me sendo ali no chão mesmo, perto da janela e deixo as recordações de ontem dominarem o meu corpo.
Bernardo. Muito Bernardo.
Ele estava tão gostoso ontem, e eu dei em cima dele descaradamente. Eu mantenho os olhos fechados para tentar me recordar de mais alguma coisa.
Masturbação. Muita masturbação.
Também não é para menos, o golpe do Bernardo foi baixo e ele sabia exatamente o que fazer e o que dizer. Eu lembro que cheguei e fui com a sede ao pote, ficando completamente relaxada enquanto me tocava e lembrava do som da sua voz, do seu corpo, do seu sorriso, de tudo que é bom, e até mesmo de ruim me fez me masturbar como uma louca.
- Antonella, já está acordada? - A voz de Ananda chega até mim tão alta que eu taco uma almofada nela, acertando a parede ao seu lado e ela abre um sorriso.- Ressaca?
- Da pior espécie. - Eu resmungo baixinho e ela caminha devagar até a mim e se senta ao meu lado.
- Do jeito que bebeu também... - Ananda diz baixo, apenas por respeito a minha ressaca. - Agnes quer ir a um lugar hoje...
- Não tenho condições de sair hoje, sinto muito por ela. - Eu digo e encaro os olhos redondos e claros de Ananda que sorrir.
- Eu imaginei. - Ela diz ainda sorrindo. - Eu vou levar ela para um tour. Ela insistiu demais e ao menos terei companhia nova invés das meninas do trabalho.
- Fico te devendo essa...
- Não precisa. Descansa, aproveita que estará sozinha. - Ela diz beijando a minha testa e eu abro um sorriso para ela.
- Obrigada.
Ela sai do quarto bem quieta, e eu me arrasto até o banheiro para tomar um banho. Antes de sair, Ananda disse que preparou café da manhã para mim então assim que me enrolo na toalha após o banho eu sigo para a cozinha.
Antes mesmo de chegar na porta do quarto uma caixa cai de cima da prateleira do closet. Eu volto resmungando, porém quando vejo o que caiu meus olhos ficam cheios de lágrimas.
Eu me aproximo devagar dos diários de Antônia, os que Valentina me deu e respiro fundo. Eu não li todos, o último eu deixei de lado. Não tive coragem de ler porque era justamente porque era o diário que falava do Fábio e eu não tive estômago para ler.
Me agacho para pegar todos os diários, um por um, lembrando de cada palavra que Antônia escreveu ali. Sobre sua infância e metade de sua adolescência. Deixo por último o que era referente ao Fábio o deixando em cima da uma prateleira qualquer e erguendo a caixa para o lugar onde ela estava.
Eu pego o diário de capa dura marrom com pequenas flores bordada nele. Bem na capa diz que o diário pertence a Antônia, para caso perda, devolver no endereço que estava ali. O lugar é um pouco afastado do centro de Amarílis, daria até para localizar sua casa, mas não conseguia saber se eu aguentaria ver o lugar onde ela cresceu.
Eu coloco uma roupa simples, um vestido vermelho com flores bem pequenas por todo o tecido. O comprimento era até o meio das coxas, os ombros ficavam de fora e o decote era mínimo, não dava para ver muito dos meus seios. Era um vestido bem casual. Prendo o meu cabelo de forma bagunçada e desajeitada enquanto coloco o chinelo indo para a cozinha pegar o meu café da manhã.
Enquanto eu comia, eu não parava de pensar no diário. A minha curiosidade estava cada vez mais forte e usei isso como gatilho para pegar o diário e o abrir.
Antônia escrevia muito bem, ela disse em um dos diários que o sonho dela era ser jornalista e escrever colunas de jornal. Ela tinha o dom com as palavras, e escrevia de forma única e agradável.
Tudo fluía muito bem.
"Tudo o que eu conseguia pensar naquela hora que nossos olhos se encontraram foi o quanto ele era bonito. Seus olhos castanhos mel puxados para o verde eram lindos. Seu sorriso doce e cativante me fazia sorrir. Tudo nele era agradável e eu estava hipnotizada por ele.
Ele disse o quanto minha blusa era "maneira" foi exatamente o que ele disse e naquele mesmo dia eu dormi sorrindo, e nunca mais quis tirar aquela camisa.
Tínhamos apenas uma aula juntos, era justamente a matéria que eu mais dominava que era redação. Ele não ia bem nessa matéria então no trabalho eu implorei para a professora para me colocar com sua dupla. Como eu era uma excelente aluna ela deixou e ali passamos um bom tempo juntos.
Depois disso já tínhamos uma amizade intensa. Ele sabia de todos os meus segredos e eu os dele. Gostava de como ele me ouvia falar, de como ele não desviava a atenção de mim. De como ele era gentil e ainda me dava a resposta certa e coerente diante de todos os assuntos que conversávamos.
Ele era um garoto incrível.
Ao lado dele eu descobrir o amor. Não era como amor dos meus pais, não era como eu amava minhas três irmãs, era algo mais avassalador, diferente, e... bonito. Eu só sabia sorrir ao seu lado, queria dizer ou gritar para todos que eu estava apaixonada por um dos Alencastro. Pelo mais bonito dentre todos eles.
Minha irmã Gabriela me perguntou como era amar, o que eu sentia.
Eu sempre fui de falar muito, de explicar tudo o que eu sabia, mas aquela pergunta me pegou de surpresa. Eu demorei um tempo, um ano para ser mais exata para lhe responder.
Amar era ter seu coração quentinho.
E esse calor ninguém nunca iria apagar. Porque amor nunca se esquece, apenas evoluiu ou se preserva no passado, mas nunca se esquece. O sentimento é muito lindo para esquece-lo."
- Tá tudo bem?
Eu levanto o meu rosto para olhar Verônica que estava apoiada no batente da porta me avaliando com seus olhos.
- Está chorando?
Eu levo a mão ao rosto sentindo-o molhado. Eu seco as lágrimas com cuidado, não percebi que estava chorando.
- Estou bem. - Eu digo fechando o diário e me ajeitando na cadeira. - Como entrou aqui? - Eu a pergunto e ela dar uma risadinha.
- A porta estava aberta. Disse para Ananda que viria aqui. - Ela diz e eu encaro o relógio apenas para não olhar para Veronica.
- O que estava lendo? - Ela me pergunta, atraindo minha atenção ao puxar uma cadeira ao leu lado.
- Preciso de uma consulta agora. - Eu digo a ela que me encara, da cabeça aos pés descalços e balança a cabeça positivamente, concordando com minha atitude.
- Pode começar dizendo o que estava lendo? - Veronica pergunta agora com a postura mais ereta.
- O diário da minha mãe que fala sobre um homem... eu acho que é Fábio. Mas ela não diz o nome. - Eu digo angustiada alisando a capa do caderno em minhas mãos. - Ela diz que amar era está com o coração quentinho. - Eu digo abrindo um sorriso triste.
- Por que eu acho que não estamos falando de Antônia e Fábio...
- Porque não estamos falando dos meus pais. - Eu levanto da cadeira, sentindo o piso branco e gelado sob meus pés.
- É sobre Bernardo?
O silêncio respondeu por mim. Tudo a minha volta respondia por mim.
- Meu coração nunca esteve quentinho. - Eu a encaro, e respiro fundo para continuar a falar. - Tudo que se aquece primeiro quando olho para Bernardo é o meu corpo, minha carne arde por ele.
Chega a ser irônico dizer isso, mas talvez eu fui o empecilho para isso e agora sinto que estraguei tudo.
A minha voz chorosa me impede de continuar a falar. Eu me agacho ali no chão, segurando o meu corpo. Eu sabia da minha implicância com amor, mas todos os filmes, series e livros de romance diziam que isso acontecia assim que você olhasse para a pessoa.
Eu quando olho para Bernardo só consigo pensar em sexo. O mais gostoso sexo que já tive.
- Coloque para fora, Antonella. - Veronica diz agarrando o meu corpo. - Continue sendo sincera consigo mesma...
- Eu quero parar de ser um poço de impedimento da minha própria felicidade. - Eu encaro os seus olhos e respiro fundo para tentar me acalmar. - Eu quero mesmo ser feliz, Veronica.
- Um passo de cada vez, Antonella.
- E se demorar muito? - Eu a pergunto e ela me ajuda a me levantar e me leva para o sofá. - E se eu o perder por achar que somos mesmo só sexo. Relacionamentos evoluem né.
- Você estaria enganando ele e a si mesma, Antonella. - Ela diz e eu olho para a janela que mostra um tempo firme. - Você não pode se envolver com ele a espera de sentimento que talvez nunca tenha, é...
- Egoísmo, eu sei, mas... Ele é um homem incrível. Um excelente pai, atencioso, carismático...
- Você ainda não cuidou de si, Antonella. Não pode forçar ou exigir de si mesma algo que ainda não conheceu. Algo que ainda não se deu...
- Preciso ter paciência. - Eu repito para mim, tentando ao menos me acalmar.
- Você precisa deixar tudo isso para trás, - Verônica começa dizendo e eu a encaro. - Não prenda o Bernardo, deixe o livre para amar quem ele quiser. Viver uma vida saudável com quem ele quiser...
- Se ele quiser isso comigo? Não pode?
- No estado confuso que você está? Não, não pode. - Veronica diz e eu me levanto. - Ele é adulto, Antonella. Já é pai, tem uma empresa para gerir...
- Eu sei de tudo isso!
- Sabe mais ainda continua a dar esperanças a ele. Isso não está certo, Antonella.
Eu respiro fundo. Eu não quero mais ser egoísta, mas sinto que se eu o deixar ir agora, será definitivo e eu nunca o terei.
Eu o quero, demais, quero o amar, o proteger, o desejar sem amarras ou culpa... Por que isso precisa ser tão difícil e confuso?
- Vocês começaram de maneira errada, de maneira confusa. Você até alguns meses atrás o odiava. - Ela diz e eu fico de frente para a janela, encarando todo o movimento lá embaixo. - Isso foi enraizado em você. Valentina fomentou em você todo ódio, frustação e rancor que tinha de Bernardo em você. Foram nove anos, Antonella. Não há como esquecer tudo isso em poucos meses, uma parte de você carrega muita magoa pelo seu passado e ainda tem mais o que colocaram em seu colo. Por mais que não admita, alguma parte de você quer se afastar para conseguir esquecer tudo isso.
Eu abraço o meu corpo. Com Veronica eu sempre sentia que estava exposta, parecia que ela conseguia ler cada linha dos meus sentimentos e segredos.
- O que eu faço então? - Eu pergunto um pouco alto.
- Eu não posso te responder isso.
- Você sempre diz isso! - Eu engulo a raiva, fechando os olhos e respirando fundo. - Você não me ajuda quando diz que não pode me responder.
- Você precisa guiar a sua vida sem a opinião de terceiros.
- E você é o que? - Eu encaro o seu rosto que dança a sombra de um sorriso.
- Pense com carinho no que eu disse. - Ela diz se levantando.
- Eu odeio quando você sai assim...
- Isso sempre faz você achar a resposta certa, não é? - Veronica debocha e eu solto uma risadinha. - Consulta amanhã a tarde, não falte. - Ela diz saindo e eu me sento de costas para a janela.
Apoio minha cabeça nas minhas pernas e fico ali repassando toda a conversa com Veronica pensando: - Qual será meu próximo passo.
Não revisado.
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