Capítulo 21 - Mentiras sob mentiras
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@nia_escarlate
Acho que todos já foram embora, até mesmo Valentina que saiu furiosa, cuspindo fogo pelas narinas como se fosse um dragão acorrentado, e me disse: - Não diga nada, presidente. Eu ainda não acredito que ela está de birra e não quer falar comigo porque consegui o cargo com o meu esforço! Eu fiz tudo sozinha. Apenas com o apoio de Ananda e Fernanda.
Suspiro fundo e saio da minha sala com uma caixa na mão com todos os meus pertences. Eu preciso mesmo aliviar a pressão que estou sentindo. Desde que recebi a notícia, a felicidade não durou muito, Valentina praticamente não falou comigo e eu não estou falando com Bernardo.
Nunca achei que ter a presidência ia me trazer essa sensação inexplicável. Algo em mim dói. E dói muito. Vou até a sala da presidência, a porta está fechada então eu demoro um pouco pra abrir por está equilibrando a caixa. Quando eu abro vejo ele bebendo, provavelmente whisky, e observando a janela com a vista instigante que está hoje.
- Eu não sabia que estava aqui... Eu volto depois. - Eu digo virando de costas.
- Antonella! - Ele chama, estrondoso e firme. - Fica. Afinal a sala é sua, presidente. - Ele diz e bebe o líquido inteiro do copo. - Eu sou o intruso aqui, não é? - Ele pergunta rindo e se vira pra mim.
Sua aparência é branda diferente da sua voz. Da última vez que eu o vi assim eu ouvi coisas que me destruíram emocionalmente e não quero que hoje seja o dia de levar porrada como saco de pancadas. Deixo a caixa numa mesa preta que tem bem do lado da porta.
- Tal mãe, tal filho. - Eu concluo forçando uma risada. - Bernardo eu não...
- Cala a boca. - Ele diz alto me interrompendo duramente. - Você conseguiu Antonella! Finalmente conseguiu. Coloca um sorriso nesse rosto, a pobre coitada não cai bem em você. - Ele diz virando para sua mesa e enchendo o copo novamente.
- Não estou fingindo nada. - Eu digo com calma e intrigada por ele me ler com tanta facilidade. - Eu não estou totalmente feliz, algo está me incomodando. - Eu sou sincera e ele me encara.
- Deixa eu adivinhar o que está te incomodando. - Ele diz rodando a mesa e ficando na minha frente. - Talvez seja porque você mentiu e enganou a mim e a Valentina. Ou talvez seja porque você percebeu que não dá a mínima importância pros sentimentos alheios. Ou talvez Antonella, sua fome de ambição e sua prepotência te impessam de enxergar outras coisas que não seja seu umbigo! - Ele diz furioso ficando tão próximo que eu sinto o cheiro de sua pele que camufla o cheiro da bebida.
- Você acha que pode falar assim comigo depois de tudo que me fez? Que hipocrisia Bernardo. - Eu digo e ele rir.
- Desculpa chefinha. Não devo nem aumentar o tom de voz pra você. Você vai me humilhar também como fez com aquela mulher? Se eu continuar não atingindo a porra das expectativas falhas que você coloca em mim vai me chutar também? - Ele pergunta e bebe todo o líquido de novo e taca o copo longe, que quebra na outra parede.
Eu fecho os olhos tão forte que sinto as lágrimas caírem. Não consigo soltar a respiração, uma estranheza percorre todo o meu corpo, a sensação de medo me abraça e eu só consigo lembrar de Fábio. De toda a crueldade que ele fez comigo quando estava sob o efeito do álcool.
- Eu não queria nada disso Antonella. Eu não voltei do lugar onde eu fiquei nove anos pra sentar na porra dessa cadeira e comandar essa empresa que não é minha. Eu nunca quis isso, eu nunca pedi por isso e aqui estamos. - Ele diz alto, e eu solto a respiração bem devagar. - Você não precisava competir comigo, não precisa ser tão baixa, não precisava humilhar ninguém pra chegar nessa cadeira. Eu não estou aqui pra isso. Mas eu te agradeço, foi até bom você tirar isso de mim, agora eu posso focar no meu objetivo que não se resume a essa empresa. Parabéns Antonella, você conseguiu. - Ele diz e passa por mim.
Meu peito arde, abro os olhos e minha vista está turva, minhas mãos tremem e eu olho pro teto para controlar minhas lágrimas. Bernardo é... igual a Fábio. E eu cogitei algo, eu criei algo com uma pessoa assim.
Eu me viro e vou atrás dele, ele está clicando fortemente o botão do elevador, resmungando e xingando para o metal como se fosse alguém. Eu pego a cadeira da recepção que é de rodinhas e vou empurrando até a sua direção e quando chego perto eu forço para ele sentar.
- Você está muito alterado pra dirigir. Eu não ligo para a sua vida, mas a do próximo que você pode ferir sim. - Eu digo e ele rir.
- Você não liga pra ninguém Antonella. Você já permitiu que alguém entrasse por debaixo dessa muralha que você ergueu em sua volta? - Ele pergunta enquanto eu vou empurrando a cadeira pra sala novamente.
- Sim e ele foi embora. - Eu digo lembrando de Gabriel. - E eu te dei uma abertura que foi fechada quando você estava com a língua na boca da sua noiva. - Eu digo rindo de deboche e ele trava os pés e se levanta.
- Sabe qual é o pior de tudo? Foi deitar na minha cama e sentir o seu cheiro e você não está lá. - Ele diz me encarando. - E ela não é a minha noiva. - Ele diz de cara fechada.
- Me poupe com essa sua lábia de cafajeste. Você não me deve explicação nenhuma. Já me deu o suficiente e se não se lembra eu te dei um tapa. - Eu digo e ele rir.
- Um belo tapa. - Ele diz alisando o maxilar.
O elevador abre e nós olhando na direção dele. Uma mulher loira e alta sai de dentro dele que veste uma calça jeans e uma blusa rosa. Ela procura alguém e seus olhos azuis cravam em nós que vem andando em nossa direção segurando firme a bolsa grande e marrom.
- Oi. Boa tarde estou procurando a Valentina. - Ela diz assim que para em nossa frente.
- Valentina não está. - Bernardo diz e eu o empurro na cadeira.
Ele cai sentado e confuso, eu chego bem perto da mulher e ela força um sorriso simpático. Não gosto dessa mulher, me parece falsa... ou artificial.
- E você quem é? E porque está aqui procurando a Valentina? - Eu pergunto a loira que tenta suavizar as expressões preocupadas.
- Sou Ellen Fagundes. - Ela diz estendendo a mão e eu continuo a encara-la. - O detetive Diogo me mandou aqui e procurar Valentina e o filho dela Bernardo. - Ela diz e tenta disfarça o constrangimento e passa a mão na calça.
- Detetive Diogo? Por que um...
- Deixa que eu resolvo, Antonella. - Bernardo diz se levantando e ficando na minha frente. - Porque não vai arrumar sua sala? - Ele sugere e eu o empurro pro lado para continuar a encarar a mulher que me lembra alguém.
- Você não manda em mim. - Eu digo a Bernardo. - Por que um detetive te mandou procurar Valentina e Bernardo? - Eu pergunto confusa.
- Espera aqui um pouquinho. - Ele diz a mulher e me puxa pelo braço.
- Eu não vou sair até ela me responder Bernardo! Até parece que... - Eu fico calada e tiro o meu braço da mão de Bernardo. - Você sabe quem é ela não é? Você também sabe o porquê dela vim aqui e sabe também porque a Valentina contratou um detetive. - Eu digo e fico tentando juntar as peças que pra mim não encaixa.
- Antonella calma...
- O que você é da Valentina? - Eu pergunto a Ellen.
- Eu não quero arrumar confusão... não vim atrapalhar ninguém e...
- FALA LOGO! - Eu grito.
- Sou filha! Eu sou a filha de Valentina. - Ela diz rápido.
Eu sinto um zumbido, parece que minha audição falhou ou... Essa mulher aqui na minha frente é a filha de Valentina. Ela... Ela mentiu pra mim todos esses anos, e porquê? Pra quê? Eu não consigo entender.
- Antonella. - Bernardo me chama.
- VOCÊ SABIA QUE TINHA UMA IRMÃ? E porque não me contou? Por que ela não me contou? Eu não...
Eu me calo. Parece que uma bomba estourou na minha cabeça. Sinto meu peito arder, de medo, de raiva. Eu encaro bem Bernardo e solto um sorriso.
- E você tentando me dizer que eu não ligo pros sentimentos alheios. Você nunca mais vai me dar um sermão enquanto tem um poço bem fundos de mentiras. - Eu digo e vou até a minha sala pegar a minha bolsa.
- Onde você vai? - Ele pergunta me parando bem na porta.
- Vá se foder! - Eu digo o empurrando e nem consigo encarar a mulher loira, apenas passo por ela e clico no botão do elevador e não demora nem dois segundos e eu entro nele.
Ele se fecha, e a última coisa que eu vi foi a cara nervosa e irritada de Bernardo. Desço até o estacionamento e vou até onde estacionei o meu carro. Respiro fundo enquanto pego a chave na bolsa e abro a porta ligando o carro depois que coloquei o cinto de segurança e vou até a casa de Valentina.
Meia hora depois eu bato a porta do carro bem forte na vaga onde me pertence desde que cheguei aqui. Subo as pequenas escadas da frente e abro a porta bem rápido a batendo logo após e subo as escadas praticamente correndo.
Abro a porta de Valentina e ela me encara confusa. Ela estava conversando com um homem alto, moreno e forte.
- Sai daqui. - Eu mando pro cara e ele faz cara de confuso. - EU MANDEI SAIR! - Eu grito e ele olha pra Valentina que apenas concorda com a cabeça.
Ele passa por mim, não antes de olhar bem os meus olhos e tomar um espanto como se me conhecesse. Quando ouço a porta bater eu encaro bem firme Valentina que não diz uma palavra se quer.
-Não tem nada pra me falar? - Eu pergunto andando até ela.
- Você que chegou aqui como um furacão. Me diga o que eu devo falar. - Ela diz com a voz calma, porém o som que sua mão faz repetidas vezes sobre a mesa diz que ela está bem nervosa.
- Quando ia me contar? - Eu pergunto e ela desvia o olhar para a varanda.
- Não sei do que está falando. - Ela diz e eu puxo a cadeira dela a fazendo me olhar.
- Quantos anos ela tem? - Eu pergunto e ela me olha nos olhos.
- Vai fazer vinte e cinco em outubro. - Ela solta e eu seguro firme o topo da cadeira.
- Ela tem a mesma idade que eu. - Eu afirmo e ela concorda. - Por que ela apareceu só agora? - Eu pergunto e ela se remexe na cadeira e respira fundo.
- Ela apareceu? - Ela pergunta e tenta mudar de expressão.
- VOCÊ ACHA QUE EU SOU TÃO BURRA ASSIM? - Eu pergunto e solto a cadeira passando a mão trêmula pelo cabelo.
- Antonella...
- Como você pode mentir pra mim? COMO VOCÊ PODE CONTINUAR MENTINDO PRA MIM? - Eu pergunto a interrompendo e a encaro bem.
Ela se levanta e se aproxima de mim, eu recuo um passo, querendo distância dela.
- Eu posso explicar tudo se você ficar calma. - Ela diz com a voz suave.
- VOCÊ É UMA MENTIROSA. - Eu digo e sinto lágrimas me bombardearem tão forte que dói o meu peito. - Por que você me adotou? - Eu pergunto olhando em seus olhos.
- Antonella eu... Eu não acho que isso seja assunto pra agora. - Ela diz e eu rio.
- Uma vez em toda a sua vida, me diz a verdade. SÓ PRECISO QUE SEJA SINCERA COMIGO. - Eu digo e ela fecha os olhos e os abre segundos depois.
- Eu... Eu... Eu conheci a sua mãe. - Ela diz bem devagar. - Eu fui numa reunião com as mulheres do condômino e tinha um bolo magnífico. Perguntei onde foi comprado e me deram um cartão com o nome e o telefone de Antônia. - Ela continua a falar e se senta. - Eu liguei e ela foi tão simpática e acabamos nos falando bastante por telefone por causa das encomendas que eu passei a fazer. Quando descobri que ela morreu e tinha uma filha de quinze anos, eu resolvi saber como você estava e... e vi você naquela situação. - Ela diz e me sinto iludida e enganada.
Não sei mais em quem acreditar. No que é verdade ou não. Isso está me enlouquecendo.
- Bernardo foi embora por causa dessa tal irmã? Você não deixou ele voltar, ignorou ele todos esses anos por que ele sabia da verdade que você me escondeu. - Eu digo e ela se levanta.
- Antonella a gente pode conversar, encaixar tudo em seu lugar...
- Não encosta em mim. Eu não reconheço mais você... Pra mim você é uma farsa total. - Eu digo e saio do quarto, descendo as escadas praticamente correndo enquanto ela me grita.
- Antonella por favor...
- Vai pro inferno! - Eu grito de volta e dou de cara com a loira.
- Antonella. - Bernardo me chama. Ele está bem atrás da menina.
- Vocês Martínez não prestam! Eu odeio todos vocês. Todos. - Eu digo olhando pra loira que está assustada.
- Você também é uma Martínez, Antonella. - Valentina diz e eu a encaro.
- Eu sou adotada. Não carrego o nome, não carrego as mentiras. Não sei como vocês dormem a noite. - Eu digo e passo pela Ellen e Bernardo.
- Você está muito nervosa pra dirigir...
- Vá cuida da tua irmã e me deixa em paz. - Eu digo e fecho a porta do carro.
Ele bate no vidro, pedindo pra eu sair do carro. Eu ligo o veículo e arranco com ele dali, indo pro único lugar que eu posso liberar toda essa raiva que não cabe mais em mim.
Estaciono de qualquer jeito, não sei quanto tempo eu levei pra chegar até aqui. Bato a porta do carro a trancando e entro no cemitério. Ando chorando até onde Antônia está enterrada.
Me apoio na árvore que fica bem próximo e grito. Grito como se minha vida estivesse dependendo disso, grito alto para aliviar a pressão do meu pulmão para receber oxigênio, grito forte pro meu coração continuar batendo forte.
Eu sou uma sobrevivente. Eu sobrevivi a morte de Antônia, sobrevivi as surras de Fábio, sobrevivi depois que Gabriel Davis foi embora e espero sobreviver agora com o tanto de mentiras que Valentina me conta.
Eu sou uma sobrevivente e vou sobreviver a isso.
Não revisado.
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