Capítulo 6 - Vocês sempre estarão comigo
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Eu observava tudo ao meu redor como se tudo estivesse perdendo a cor. Enquanto eu ouvia baixos sons de choro, lamento e tristeza a ficha ia caindo que os meus pais morreram. Eles se foram... nunca mais os verei. Porque isso me atingia como ondas, onde o sentimento ia e vinha inundando o meu ser e depois esvaziando aos poucos.
Eu não conseguia compreender, quem faria mal aos meus pais, quem os machucaria. A polícia investigou e estão querendo associar a um simples assalto, mas aqueles caras não levaram nada da casa. Tudo que ficou para trás e não ficou no galpão, permaneceu intacto na casa. O que aqueles dois homens queriam com os meus pais?
Aquele sentimento de que eu poderia ter feito mais por eles está me torturando, me dilacerando a vida aos poucos, me atormentando de minuto em minuto. Eu estava apavorada por dentro, eu não durmo desde aquele fatídico dia. Minha mente sempre retornava para aquela cena dos dois presos à cadeira, com tanto sangue e machucados. Os pesadelos me atormentavam, ainda mais que, naquela mesma noite, ao contarmos para a mãe de Antônia ali mesmo no jantar, ela chamou a polícia, mas quando chegaram lá a casa estava em chamas.
Meus olhos não conseguiam deixar de ver o fogo queimando tudo, eu pensei nos meus pais, eles podiam ainda estar vivos, tinha essa possibilidade, ainda sim, eu fugi, preferi abandoná-los para me salvar. Eu fui tão fraca.
Caio de joelhos no chão e me desabo em lágrimas olhando as lápides de ambos à minha frente. Minha mente fervilhava em justificativas para aquilo ter acontecido, mas tudo que eu sentia era que a culpa era minha.
— Mamãe! Papai! Não me deixem sozinha! Por favor... eu juro ser melhor, ser a menina que vocês queriam tanto que eu fosse, eu... eu só os quero de volta. Estávamos finalmente como uma família de verdade, não é justo! Não é justo!
Eu sentia os olhares perfurarem a minha pele como se fossem facas bem afiadas, aquilo me feria profundamente, mas nada ia superar a dor que eu estava sentindo com a perda dos meus pais. Os olhares de pena direcionados a mim não eram nada comparado a não ter as únicas pessoas que importavam ao meu lado.
Eu não sei por quanto tempo eu fiquei ali, ajoelhada e chorando, quando eu sentei minhas pernas formigavam. Abaixei a cabeça passando as mãos trêmulas pelo meu rosto e depois pelos meus cabelos.
Uma garrafa de água aparece no meu campo de visão, olho para cima e vejo os olhos fundos de James. Ele se abaixa em minha direção em silêncio e abre a garrafa.
— Não preciso da sua pena...
— Que eu saiba isso aqui se chama água mineral — debocha ele com a voz calma.
Eu encaro seus olhos castanhos esverdeados, observei suas linhas de expressão procurando resquícios de pena, mas não achei nada. Tudo que estava ali era apenas o James que eu conhecia, que tanto me protegia que irritava. E era exatamente o que ele estava fazendo, me protegendo, cuidando de mim sempre.
Eu me levanto fechando os punhos não deixando de olhar bem para seus olhos.
— Por que está aqui? Em? Não finja que se importa! Vai embora!
— Eu os conhecia também, não se esqueça disso. Eles podem não ser meus pais e eu não estou sofrendo como você, mas ainda sim eu me importo, Valentina. E estou aqui porque eu quero estar ao seu lado, eu quero te ajudar e te proteger.
— E por que isso? Por que você quer tanto me proteger, eu não entendo!
— Eu também perdi a minha mãe, e sei como é perder quem gostamos. Não quero que se perca nessa nuvem escura da qual está cada vez mais perto. Não vou deixar isso acontecer com você.
— Só sai! Me deixa em paz! — eu o empurro e a garrafa de água cai no chão.
— Se quiser me bater, me xingar, me machucar... eu não me importo. Mas não vou deixar que fique sozinha. Entenda isso, você não está sozinha!
Eu começo a bater em seu peito, mesmo que eu quisesse bater em algo, eu não conseguia machucá-lo. Eu sabia que ele não tinha nada haver com a minha dor, ainda sim, eu estava batendo nele. Ele segura os meus pulsos me parando, ele me puxa para o seu corpo e me abraça forte.
— Pode chorar, Val, pode esvaziar todo o estoque, eu estou aqui como sempre.
Parecia que James estava alertando ao meu cérebro para todo aquele sentimento sair por meus olhos. Eu me agarrei ao seu corpo e soltei toda dor que eu estava sentindo naquele momento. Era doloroso demais, ainda mais sozinha, e era exatamente por isso que eu chorava.
Eu estava completamente sozinha sem ele.
Nunca mais ia ver meus pais, ouvir as vozes deles, sentir seus cheiros e olhar seus sorrisos. Eles tinham ido a pouco tempo e eu sentia como se estivesse nesse buraco escuro a anos.
Depois de um tempo não havia mais lágrimas para chorar, mas me mantive agarrada aos braços de James. Aquilo realmente me acalmou, algo que eu jamais imaginaria. Não imaginava que aquele sentimento de proteção dele fosse tão verdadeiro e intenso.
Suas mãos alisavam cuidadosamente minhas costas, aquilo me acalmava ainda mais. Era estranho se fosse analisar a situação minuciosamente, estava apenas eu e James no cemitério no final da tarde. Mas ainda sim eu me sentia bem estando ali com ele. Bem melhor do que eu estava, ainda doía e sempre ia doer, mas eu me sentia extremamente melhor.
— Conseguiu acalmá-la? — a voz doce de Antônia surgiu nos fazendo observá-la.
Ela estava com um vestido preto de mangas curtas, um tênis surrado e seu cabelo estava preso num rabo de cavalo alto. James e eu já estávamos sentados, um do lado do outro em silêncio. Não era perturbador, era confortável saber que o único som vinha das árvores que se moviam conforme ventava.
— Não sou um bicho que precisa ser acalmado — minha língua estalou no céu da boca.
— E você não precisa dar patada nas pessoas que estão ao seu lado — retrucou ela abrindo um sorriso. — Não é porque está triste que precisa bater nas pessoas.
Eu abro a boca para falar algo, mas não sai uma palavra sequer. Antônia tinha razão, eu não precisava me armar contra eles dois, já que são os únicos que estão ao meu lado nesse momento obscuro da minha vida. Até mesmo as pessoas que eu achava que estariam ao meu lado, não estão.
James levantou batendo a mão nas calças limpando-a. Eu encaro seu movimento e ele se vira para me observar.
— Vamos te dar um tempo para... se despedir — sua voz sai baixa.
Eu encaro os olhos de Antônia que já estavam molhados.
— Leve o tempo que precisar, estaremos esperando lá fora — ela incentivou balançando a cabeça.
Diante do meu silêncio eles se viram para a saída.
— Ei — os chamo. — Obrigada... por estarem aqui... comigo. Obrigada mesmo.
Eles não dizem nada, mas aqueles doces sorrisos consolavam a minha alma. Seus olhos... aqueles olhares eram tão aconchegantes e diferentes. Eles me lembravam dos meus pais, que independentemente do que eu falasse ou fizesse eles ainda estavam ali por mim, me apoiando e me protegendo.
Assim que eles somem, eu me viro para as lápides de cimento que tinham seus nomes bordados ali. Aquilo abria a minha ferida ainda mais, eu não sei mais o que faria, olhei para trás das lápides onde o sol sumia e os vi ali, sorrindo para mim.
— Eu... sou grata por terem cuidado de mim, me amado, e por ser filha de duas pessoas incrivelmente maravilhosas. Eu... não sei como vou lidar ou agir sem vocês aqui do meu lado, mas prometo tentar o meu melhor todos os dias para mantê-los onde quer que estejam, felizes e orgulhosos da mulher que vocês criaram, educaram e amaram. Eu daria tudo que tenho, faria o impossível para tê-los novamente em minha vida, trocaria tudo para que não tivessem que ir, mas infelizmente sei que não é possível isso e terei que crescer e viver com isso rasgando o meu peito. Eu os amo muito e sempre amarei vocês. Sempre carregarei vocês em meu coração e nas minhas memórias, as mais felizes e as tristes também, porque por vocês, vale a pena lembrar de cada detalhe. Tchau mamãe, tchau papai. Um dia iremos nos encontrar e caminhar para onde for felizes e unidos como a família que teríamos sido.
Eu deixo as duas flores em cima de cada túmulo deles e saio dali limpando as lágrimas. Haveria dias escuros daqui por diante, e eu teria que batalhar muito para sair deles, e eu sei que conseguiria, por eles, apenas por eles, valia a pena sangrar tentando. Eles eram tudo de mais valioso que eu tinha, e isso não iria mudar nunca.
Assim que saio do cemitério olho pros lados a procura de Antônia e James, vejo eles do outro lado conversando com um policial, eu me aproximo deles e o policial me observa.
— Meus sentimentos por sua perda — o policial alto e moreno diz. — Estou aqui para te encaminhar até sua família, que terá sua guarda...
— Ela não pode ficar na minha casa? — Antônia indaga.
— Achei que ela ficaria lá até a maioridade — James confuso coça a cabeça.
— Sinto muito. A família da senhorita pediu sua guarda na justiça, e como é ainda menor de idade não poderia ficar com estranhos.
— Eu não tenho família sem ser meus pais...
— A irmã de sua mãe, ela se mudou para a cidade assim que soube da morte deles. E prometeu cuidar de você...
— Eu nem a conheço, e tudo que sei é que ela também é uma estranha. Não posso mesmo ficar com a família da Antônia? — pergunto nervosa.
— Infelizmente não. Vamos, irei apresentá-las.
Antônia fica na minha frente como se estivesse me defendendo de uma arma.
— Nós vamos juntos — ela afirma firme. — Não sabemos quem são os culpados pelo que aconteceu com os pais da Valentina, não vamos deixá-la com qualquer um, sendo ou não da família dela!
Eu encaro James que estava ao meu lado e ele concorda com a cabeça também decidido. O policial olha para o meu rosto esperando uma posição minha.
— Eles podem ir, certo? Ao menos vê quem é essa minha tia. Me sinto mais segura ao lado deles.
O policial deu de ombros rendido pela insistência. Ele nos guia até a viatura e depois que todos entram ele segue para a casa dessa minha tia. Eu lembro vagamente da minha mãe falando sobre a família dela, mas nunca tive tanto contato. Tudo que minha mãe falava é que teve uma vida antes do meu pai bem turbulenta, que era bem pobre também e que tinha uma irmã mais velha que fugiu de casa para namorar um cara que minha avó não gostava e nunca mais teve notícias dela, nem mesmo depois da morte da vovó.
O caminho de terra que o policial estava tomando dava para a mesma parte da cidade que os Alencastro moravam, eu tinha vindo aqui no máximo duas vezes. Minha mãe tinha um preconceito com essa parte da cidade, mas obviamente não verbalizava isso. O carro para em frente a uma casa de madeira pintada de verde musgo, parecia que não estava habitada a alguns anos. Tinha uma caminhonete vermelha estacionada ali e algumas caixas espalhadas pela entrada.
Assim que eu desci do carro meu pé afunda na lama, eu vejo meu sapato se completamente sujo e me causa um nojo. James me ajuda a sair dali indo para a estradinha de terra que estava seca. Eu encaro o lugar, realmente precisava de uma séria reforma, mas as pessoas que estavam se mudando para ali pareciam não se importar com isso.
Minha mente pensava rapidamente no lugar que seria minha nova casa e aquilo já estava me batendo um desespero que foi erradicado quando as mãos quentes de Antônia e James se uniram às minhas em cada lado. Eu encarei seus olhares positivos e respirei fundo enfrentando isso.
Quando uma mulher com cabelos loiros bagunçados, uma blusa de flanela amarrotada vermelha com preta, uma blusa fina e branca por baixo, um jeans surrado e tênis velho aparece na porta eu vejo o buraco que eu estava me enfiando.
— Você é a Senhorita Adams? — o policial pergunta se aproximando da casa.
— Pode me chamar de Angel, senhor policial.
Aquele voz ativou todos os meus terrores internos, era como um alerta para sair correndo dali enquanto tinha tempo. E isso foi notado por eles dois que apertaram ainda mais minha mão.
— Onde minha sobrinha está?
Se pudesse me esconder nessa lama nojenta eu me escondia sem pensar duas vezes.
— Minha irmã teve três filhos? Eu disse que ia ficar só com a loira.
Eu reviro os meus olhos. A mulher não sabia nada sobre mim, como que queria ficar comigo?
— A do meio é a Valentina, os outros dois são amigos dela, James e Antônia...
— Não importa, o importante é que minha sobrinha está finalmente comigo.
— Eu quero ir embora... Por favor, não me deixem com essa mulher...
— Acho que você não tem escolha — James diz.
— Infelizmente não tem — Antônia lamenta.
A mulher se aproxima completamente sorridente e para na minha frente se debruçando para encarar meus olhos.
— Finalmente coloquei as mãos na grana... — ela sussurra para que somente nós três escutássemos. — Finalmente estarei com um pedaço da minha irmã sempre ao meu lado, venha aqui minha sobrinha linda — ela fala mais alto agora para o policial ouvir.
A mulher me agarra tão forte como se eu fosse sua galinha dos ovos de ouro, o que realmente nem parecia ser mentira o que me assustava ainda mais.
Se naquela época eu tivesse visto que minha tia Angel não era apenas excêntrica não teria sofrido tanto nas mãos dela. Ela não foi o que eu esperava, ela foi ainda pior, me entregando de bandeja aos inimigos e ainda me vendo sangrar na sua frente enquanto enlouquecia em cima do dinheiro dos meus pais.
Não revisado.
O que acham que Tia Angel aprontou com Valentina?
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