Parte três - final
Jungkook observou o enorme castelo enquanto caminhava com seu alfa ao lado até ele. Nunca sentiu-se confortável com tudo aquilo, mas também não deixara de aproveitar o que lhe era ofertado.
Poderia ser um ômega poderoso e amargurado por toda uma vida, sem preocupar-se. Não tinha muitas opções, afinal.
Entretanto, conhecer Taehyung fez toda a sua linha de raciocínio mudar. Pela primeira vez desejou ser um simples alguém vivendo uma vida normal, sem todas aquelas prensas.
Sabia que seus pais tentavam lhe dar o máximo de liberdade possível, mas o que fizera por todos aqueles anos ali? Não podia comer besteiras; não podia fazer besteiras. Aprendia regras e mais regras, tinha aulas cultas em casa, ensinamentos para seu futuro reinado. Em certos momentos, desejava fugir. Era realmente aquela a sua vida?
Viveu escondido, porque era um herdeiro real. Não podia se divertir com os outros alunos, porque ninguém o conhecia de verdade, impossibilitados de adentrar sua bolha pessoal.
O único a qual deixou foi Taehyung, e sabia que havia um motivo para aquilo. Sua alma gêmea. Não podia evitar desejar estar próximo dele, e sentir sempre uma tristeza apertar no seu coração com força quando ia para casa, deixando Taehyung.
E agora, mais do que nunca, desejava fugir. Fugir com Taehyung. Seu alfa. Ligado por si pelo destino e por uma marca.
Pôde ver dois guardas reais contra o portão gigantesco da frente, fechado. Pela manhã nenhum daqueles dois - portão ou guardas - impedira sua saída, visto que todos podiam sair e entrar. Mas agora era diferente.
Chegou em frente a eles, suspirando baixo. Uma breve análise foi feita sobre si, e logo o enorme portão foi aberto. Mas assim que entrou, as espadas foram apontadas para Taehyung.
— Majestade — Taehyung o chamou, fazendo Jungkook rir e se virar por vê-lo com as mãos para cima, rendido.
— Deixem-o — ordenou, observando os guardas guardarem as espadas. Esperou que ele ficasse ao seu lado e logo estavam caminhando pelo enorme salão, chamando a atenção do rei e rainha sentados no trono real, com um homem ao lado deles.
Franziu o nariz em uma careta, olhando para Taehyung.
Então este é o seu futuro pretendente, Taehyung pensou intencionalmente, tentando fazer Jungkook ler seus pensamentos em um pedido mudo. Era uma parte interessante da marca. Poderiam ler os pensamentos um do outro, mas apenas quando permitiam a "invasão" da mente. Caso contrário, não conseguiriam. Viu Jungkook olhá-lo de canto, observando um sorriso pequeno dele. Espelhou o ato.
Pelo visto, Jungkook pensou. Fique aqui, eu irei falar com eles. Observou Taehyung assentir, o nervosismo dele deixando-o nervoso também.
Subiu os degraus com calma, fitando o alfa perto dos pais curva-se minimamente, em respeito. Ignorou.
— Estou de volta — respondeu. Seus pais já haviam notado a marca. Seu futuro pretendente também. Engoliu em seco.
— Quem é o alfa? Consigo sentir o cheiro forte dele em você — sua mãe foi a primeira a falar. Ela observava Taehyung com atenção, o que deixava Jungkook ainda mais inquieto.
— Meu-
Sentiu a presença da irmã tomar o salão, e olhou para ela no topo da escada dourada, vendo-a fazer o mesmo. Aihara, uma alfa. Sua irmã mais nova. Ela sorriu ladino para si, descendo os degraus com calma. Suspirou pesado, vendo a mais nova parar a sua frente.
— Irmãozinho — ela disse com um sorriso grande nos lábios. Sorriu pequeno.
— Oi, Aihara. Dormiu bem? — perguntou, sentindo o cheiro mais forte da irmã. Era engraçado como ela tentava intimidá-lo com a presença. Desde que ela se descobrira alfa, quando completara os dezesseis anos, vivia fazendo aquilo com todos. Podia sentir o frio percorrer o corpo, mas nada além. Ela ainda era nova, e não conseguia causar um efeito considerável.
— É claro. Mas quando acordei, não senti você em casa — ela respondeu baixo, deixando o sorriso desfazer-se aos poucos. Seus pais continuavam em silêncio, acostumados. — E acho que entendi o porquê.
— Eu posso explicar.
— O que pretende dizer? "Eu dormi com aquele alfa". Certo, isso parece justificar muito coisa — Aihara disse sem emoção, passando por si e descendo os degraus com calma.
Virou-se, observando ela chegar ao chão do salão, indo na direção de Taehyung. Seus pés vacilaram por um momento, e acabou por se ver descendo os degraus também. A voz de seu pai o chamando de volta foi ignorada.
Não se deixe levar, ela é persuasiva, pensou, tentando fazer Taehyung olhá-lo. Conseguiu êxito. Apenas ignore-a.
Taehyung assentiu levemente, vendo a alfa parar em sua frente. Sentiu a presença dela, e sorriu de canto, porque não lhe fazia nem mesmo cócegas.
— Então você é um plebeu — ela disse, encarando-o intensamente. Taehyung franziu o cenho — Sinto o cheiro do meu irmão impregnado em você. Mãe, isso está correto? Jungkook descumpriu seu papel completamente. E esse alfa? Merecia uma boa punição por isso — disse alto, a tempo de virar e ver Jungkook ao lado do alfa.
— Aihara, por favor. Me ajude — Jungkook pediu, vendo a mais nova olhá-lo rapidamente. Ela sorriu pequeno.
— O que ganho com isso, Irmãozinho?
— Pode me pedir o que quiser.
— Hum... — Aihara olhou para Taehyung, depois para si. — Tudo bem.
Jungkook suspirou, observando a mais nova subir os degraus novamente, afastando-se.
— Jungkook, eu não estou entendendo...
— Aihara gosta de manipular as pessoas. Se desse corda, ela o faria desistir de mim — disse, com um sorriso triste.
— Eu não faria isso — respondeu convicto.
— Acredite, ela é realmente boa nisso — disse baixo. — Acho que ela vai me ajudar a convencê-los agora.
Aproximou-se rapidamente, beijando-o de forma rápida. Seguiu a irmã.
— Ele está marcado. E o alfa é aquele no meio do salão — Aihara disse assim que o irmão a alcançou. — Ele é um plebeu.
— Jungkook, eu não acredito! — sua mãe levantou-se do trono real, olhando-o. — Mande-o vir aqui, agora!
Jungkook engoliu em seco, olhando para trás. Suba, pediu baixo, vendo Taehyung fazê-lo. Quando o alfa ficou ao seu lado, sentiu os dedos de Taehyung tocarem nos seus, e acabou por entrelaçá-los.
— Até que ele é bonito, você não acha? — Aihara provocou o futuro pretendente do irmão, vendo-o assentir a contragosto. — Se importa de ir embora?
— Mas e...
— Esqueça. Ele já está marcado. Não vai ficar com você. Apenas suma.
Uma ordem que foi obedecida rapidamente, e logo o alfa havia ido embora do salão. Seus pais nem mesmo notaram, muito menos o casal a sua frente.
— Não permitirei tal afronta, Jungkook — seu pai iniciou, olhando para Taehyung. — E você, como ousa manchar o meu filho?!
— Pai, olha pra cara do maninho, acha mesmo que o alfa o obrigou a algo? Seu filho que deve ter ido atrás.
— Aihara! — seu pai a repreendeu.
— É a verdade, não é? — olhou para Jungkook, vendo as bochechas do irmão corarem terrivelmente. — Eu sabia — sorriu. — Enfim, pai, mãe, maninho... e você...?
— Taehyung — o alfa respondeu, observando Aihara assentir.
— Então, está claro que estão ligados um ao outro agora, não podem punir o filho de vocês por isso — Aihara iniciou, com a típica voz mansa. — Deixem-o ir. Está tudo bem.
— Mas, querida, o reino... — sua mãe tentou dizer, recebendo um olhar da filha.
— Não podem ficar com ele por mais dois anos? Logo será minha maioridade, e então eu assumo o trono. — ela disse, cheia de convicção. Jungkook não deixou de suspirar aliviado.
— Mas não podemos mais...
— Deixem eu assumir o trono temporariamente então. Aihara pode ficar ao meu lado, e pode tomar o lugar quando chegar a maioridade. — Jungkook tentou, olhando para a irmã. Ela não parecia ter nada contra.
Seus pais pareciam pensativos. Olharam para Taehyung, fitando-o dos pés à cabeça. Suspiraram.
— Ele até que é bonito — sua mãe disse, subindo pelos degraus da escada dourada para o próprio quarto. — Muito bonito.
Seu pai observou-a subir, olhando para Taehyung.
— Você ao menos é um alfa puro? — Taehyung assentiu, vendo o mais velho suspirar. — Ah, façam o que quiser. Estou velho demais.
O rei subiu também, seguindo a esposa, e logo os três estavam sozinhos.
— Obrigado por isso — Jungkook disse baixo para a irmã, sentindo o corpo ser abraçado por Taehyung em seguida. O beijo início lento, a felicidade adornando-os.
Aihara deu de ombros, voltando para o próprio quarto pelas escadas douradas. Jungkook se afastou do beijo, sorrindo abertamente.
— Conseguimos — murmurou, a mão gentil acariciando suas madeixas. Taehyung deixou um beijo sobre sua testa, e logo, sobre a marca em seu pescoço. Jungkook suspirou, a sensação gostosa tomando seu corpo. — Meu alfa.
Taehyung sorriu, voltando a beijá-lo. Separou-se, segurando a cintura do mais novo.
— Meu ômega.
[...]
Poucos dias se passaram. Jungkook estava sentado sobre a grama fresca do jardim do castelo, sorrindo abertamente para a imagem a sua frente. A bandeja pequena com seus doces favoritos o faziam companhia.
Aihara estava treinando como controlar sua presença e voz alfa.
Podia vê-la feliz, escutando atentamente o que Taehyung lhe dizia. Ah sim, aquele fora seu pedido. A ajuda de um alfa para que pudesse aprender tudo mais rápido. E com êxito. Jungkook podia sentir os pelos arrepiados algumas vezes, nas tentativas da mais nova.
Passaram bons minutos ali, Jungkook terminando seus doces até que Aihara decidiu descansar. Taehyung concordou, parando ao lado do ômega.
— E então? — Jungkook perguntou, sentindo o beijo gentil ser depositado em seus lábios quando Taehyung ficou ao seu lado. Deixou a bandeja de lado, dando total atenção ao mais velho.
— Ela será uma alfa bem forte — disse, olhando para o mais novo. — Mas é muito mimada, como você.
— Não sou mimado — fez um bico, vendo Taehyung sorrir. — Idiota!
— Aí! — Taehyung resmungou pelo tapa em seu braço. — Sua mão é pesada, sabia?
— Ainda bem que sim.
— Hyung! — Taehyung virou-se, olhando para o irmão mais novo. Viu ele se aproximando, e enquanto isso, voltou sua atenção para Jungkook.
— Você podia me chamar assim.
— Assim como?
— Hyung.
Jungkook riu com humor.
— Vai sonhando.
Jihoon se aproximou dos dois, sendo perseguido pelos olhos atentos de Aihara. O cheiro adocicado presente nos ômegas adentrou suas narinas, chamando sua atenção.
— Queria sair com uns amigos hoje. Tudo bem? — disse para o irmão, ouvindo o riso fraco da garota ao lado deles.
— O bebêzinho resolveu sair sozinho — provocou, vendo o outro olhá-la com indignação.
— Quem é você?
— Aihara. Sua futura rainha — sorriu graciosa, levantando-se do gramado. Os dois se olharam. — Você já poderia começar se curvando em respeito.
Jihoon cruzou os braços, um sorriso desafiante nos lábios.
— Vai sonhando.
— Essa ladainha eu já conheço — Taehyung murmurou para o ômega ao lado, sentindo o coração aquecer com a risada dele. — Vamos pra casa?
— E eles? — olhou para os dois que ainda se alfinetavam, em dúvida.
— Eles já estão bem gradinhos para sermos babá deles — brincou, levantando-se e oferecendo a mão para o mais novo fazer o mesmo. — Vamos fazer muito amor hoje.
— Você é um safado — riu da própria frase, observando as mãos unidas. Sentiu a calmaria adorná-lo. Estava onde deveria estar. — Aihara! — chamou a mais nova, vendo-a olhá-lo com dúvida. — Cuide das coisas por mim!
— Você não pode me deixar sozinha nisso, Jungkook! — ela reclamou, porém longe demais para realmente ser ouvida.
Taehyung acenou para o irmão, vendo-o retesar. Ah, aquilo seria ótimo. Seu irmão era um ômega, e havia descoberto isso há poucos dias atrás, quando completou os dezesseis anos.
Queria só ver onde daria.
Sentiu o aperto em sua mão se intensificar, e suspirou, satisfeito. Portanto que tivesse Jungkook ao lado, então todo o resto se tornava detalhes.
Jungkook olhou de soslaio para o mais velho, sorrindo pequeno. Voltou sua atenção para o céu claro, tão azul e bonito.
Seu dia ficava mais bonito com Taehyung. Seu dia ficaria muito bonito por muitos e muitos dias pela frente.
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