31 - CAPITULO VI
Drake me transformou em vampiro.
Esse é o nome atual de Bel-Sar-Uxur: Viktor Drake. Mas, naquela época era Vlad Stepes.
Eu estive morto por quase um dia. A dor da transformação é dilacerante. É como se uma enxurrada de água fervendo, começasse entrando pelas pontas dos pés e fosse preenchendo todo nosso corpo, cozinhando todos os nossos órgãos.
Eu sentia meu sangue saindo pelo pescoço e ondas, como águas fervendo, entrando pelos meus pés.
Passei um dia morto. Num limbo escuro. Não lembrava de nada quando acordei. Todos meus ossos estalaram quando tentei me levantar. Meus músculos pareciam que haviam sido moídos.
Meus olhos demoraram um pouco para ver a luz do dia, tipo um ajuste inicial... no início totalmente desfocado, para depois ficar totalmente límpido.
Eu conseguia ver literalmente todas as cores nas asas de uma mosca.
Mas, nada do que eu estava vivendo fazia me esquecer da doce Sophie.
Eu havia aceito ser transformado por um motivo, e o motivo era a vingança. Eu desejava mais do que tudo, matar todos que mataram minha esposa.
Porém, a vingança nunca tem o resultado esperado.
Digo, para quem se vinga, é como se segurássemos brasas vivas com nossas mãos... inevitavelmente seremos e ficaremos marcados pelo fogo da vingança.
O Conde mostrou-me o primeiro suspeito. Eu o perguntei como teria a certeza se era ele ou não, o Conde me respondeu que o sangue traz a verdade.
Logo, teria que beber do sangue do suposto assassino.
O Conde lembrou-me do frenesi.
A loucura que pode nos consumir por causa da ingestão desproporcional do sangue humano. E ele me avisou que nunca poderia ir até as últimas gotas...
Para os iniciantes, a dica sempre é parar quando o céu da boca não arde mais por causa da sede.
O outro aviso, é que as memórias de quem bebemos o sangue vem em total desconexo. Mas, sentimos as memórias como se fossem nossas e aí tem uma mistura de emoções que para o neófito é dançar na loucura alheia.
O Conde só me disse para visualizar as recentes. As antigas, me concentra-se no sabor do sangue.
E por último, lembrou-me novamente o que havia me dito na ponte. O que devo afirmar para você que não me importei em nenhum momento... até o final de tudo.
O homem mostrado pelo Conde era um trabalhador do porto. Ele tinha quase dois metros de altura, era branco igual o leite e corpulento.
Realmente o legista tinha razão quando disse que seriam dois mortos naquela noite. Eu não aguentaria a força da mão daquele cara.
Eu fui desordenado no ataque. Acho que o Conde sabia que teria que aprender sozinho. Ele só me falou nesse primeiro momento o essencial.
Eu pulei nas costas do gigante albino que tentou inutilmente se desvencilhar do meu ataque. A força dele era homérica, mas, de nada valia contra um vampiro, mesmo sendo um neófito.
Eu cravei meus dentes na jugular do gigante, que imediatamente caiu sobre os próprio joelhos.
Eu sugava o sangue dele com ânsia mortal. E foi aí que a viagem psicodélica começou.
Eu não fiz o que o Conde avisou. Eu não foquei no sangue... só via o imenso filme da vida do Atlas, esse era o nome dele: Atlas.
Tudo que ele havia feito. Todas as mulheres e homens que havia violentado durante sua vida.
Eu vi todas as cabeças que ele amassou contra os chãos das ruas de Londres.
Eu o vi nos velórios.
Eu senti o prazer dele ao assistir esses mesmos velórios. Eu sentia o prazer dele matando cada vida... e tive repulsa.
Foi aí que vi ele seguindo Sophie. Ele passou meses acompanhando a rotina da minha esposa.
Ele, viu eu e Sophie abraçados... meu Deus... ele nos viu... sim! Ele viu a gente se beijando e sorrindo... Atlas estava olhando para mim, sem que eu o tivesse visto... Atlas disse para si mesmo que logo-logo meu sorriso acabaria.
Há mais dois com ele, um tem sua imagem turva. O outro vejo nitidamente... ele se chama Douglas Torkey. Policial. Casado. Três filhos pequenos.
Eu gritei de dor, quando as lembranças mudam para o dia da morte de Sophie, ao mesmo tempo que escuto uma voz que me diz: "Seu tempo está acabando."
Não! Eu não conseguia sair das lembranças dele! Ele foi o primeiro! Meu Deus! Não! Eu escuto-o rasgando a roupa de Sophie.
Eu não conseguia deixar de ver o que ele estava fazendo com minha esposa.
Ele havia sido o primeiro.
Eu escuto ela me chamando...
"NÃO! PARE! POR FAVOR PARE!"
" SOCORRO!"
Vejo Atlas metendo a mão no rosto da Sophie e quebrando-lhe o maxilar inferior.
Senti meus olhos escurecerem. Eu me senti diabólico... algo muito ruim tomou conta de mim.
Eu escuto os gritos de Sophie pedindo para eles pararem.
Eu vejo o Douglas, mas, o outro não consigo enxerga-lo na escuridão do beco. As lembranças e a visão era do Atlas, não minha.
"Você tem que parar!"
— Eu não quero parar!
Foi o que gritei de volta. E foi aí que sentir uma força descomunal me separar do corpo do Atlas.
O Conde Vlad salvou novamente minha vida. Eu quase cheguei no limiar de sugar o sangue de um cadáver.
Temos que parar antes do coração da vítima parar. E se não fosse pelo meu pai, eu teria morrido agonizando.
Meus olhos pretos, iguais as mais densas trevas, olhavam para o cadáver de Atlas. Ele não havia sofrido o tanto que queria... e isso deixou-me com mais raiva. Ele não sofreu nada.
O próximo iria sofrer toda a minha ira.
Douglas, iria sofre por ele e por Atlas.
O Conde, estava logo atrás, me vendo ajoelhado enquanto arrancava o coração do Atlas para comer.
O sangue tem que ser corrente, fluido... mas a carne tem que ser fresca.
Isso mesmo
Carne Fresca.
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